terça-feira, 30 de junho de 2015

SOLAR POWER FOR ALL :WE WANT A SOLAR POWERED EUROPE !

Solar power

SOLAR COSTS WII FALL ANOTHER 40 % IN TWO YEARS

Solar costs

'SOLAR IS THE FUTURE OF WORLD ENERGY'

World energy

A MODOS QUE MORTAL

Apetecia chamar-lhe nomes,nomes feios. Ali submetidos,atentos e obrigados,suspensos daquelas follhinhas,como estava escrito algures,daquelas folhinhas volantes. Mas seria isso uma injustiça das grandes,uma injustiça sem nome,de bradar mesmo aos céus,pois a culpa,se a havia,não era deles, certamente.
E logo eles,coitados,que mal ganhavam para as magras sopas,quando trabalhavam,e mal continuavam a ganhar,quando se dava o render do posto do fazer pela vida. Talvez lhes tivessem dito que ali e acolá o podiam fazer de graça,escusavam de os ir comprar. Nalguns desses sítios havia ainda livros e outras amenidades mais,pelo que passariam lá uns momentos bem passados. Livros? O que era isso? Sim, tinham ouvido falar,mas isso era para doutores. E passavam de largo.
Mas voltando às folhinhas. O que é que lhes adiantava lê-las? A eles,nada,porque na mesma ficavam ou pior. Mas adiantava,sim,a outrem. Parecia tudo isto um plano bem urdido,um plano inconfessável.
E saberiam eles,coitados,a distância que separava as suas pobres rendas das dos que eles idolatravam,desses,e não só? Sabendo e não reagindo,era isso sinal evidente de que o plano era um muito bem concebido. Seria a mente a visada,um golpe a modos que mortal.

ENCONTRO ESTRAGADO

Passara já por ela,mas não a reconhecera. Olhara-a,mas fora como se o fizesse pela primeira vez. Não acontecera assim com o irmão,com quem conversara demoradamente.
A certa altura,ela abordou-o. Não te lembras de mim,não sabes quem sou eu? E fitava-o com um ar muito triste. Ele fez um esforço,a ver se descobria quem estava ali na sua frente,tão interessada em que ele se recordasse. Quem seria? Passou um mau bocado,cheio de mágoa por prolongar aquela embaraçosa situação. Então ela não se conteve. Sou a Júlia,estou assim tão mudada? E disse-o com uma certa aspereza.
Pois claro que és a Júlia,mas isto sem grande convicção. Sabes,passou tanto tempo,mais de trinta anos não foi? E depois,esta minha cabeça já não é o que era dantes. Desculpa lá.
Coisas que se dizem,para compor. É que não havia meio de ele associar aquela pessoa que ali estava com a imagem que guardava dela. Tinha encolhido,mirrado,e a cara não mostrava qualquer sinal da beleza de outrora. Ela dava conta do seu embaraço e isso mais a contrariava. Estava decididamente o encontro estragado. Nem ela,nem ele tiveram culpa do sucedido,mas não havia mais nada a fazer.

O INIMIGO

Aquilo tem a sua graça,mesmo muita graça. Mal vê o inimigo,não importa a distância,manobra dextramente para evitar um mau encontro. Todos os refúgios lhe servem. É o que lhe fica mais à mão. O supermercado,uma barbearia,o posto do totoloto,uma ourivesaria,uma agência bancária,uma loja do que quer que seja,o passeio do outro lado. Só não entra no cemitério,pois fica longe.O inimigo percebe e colabora. E chega até a admirá-lo. É que as inflexões,as fintas,são repentinas,meteóricas,em todos os ângulos. Merecia um prémio,ou mais.Ele julgará,talvez,que o inimigo não dá conta,por ir lá muito entretido com as suas fantasias,pois,das poucas vezes em que é apanhado de surpresa,é como fosse este o melhor dos mundos. E não é,como se sabe,ele incluído,certamente. Mas lá se vai fazendo de conta,parecendo não haver volta a dar-lhe.Como se poderia pensar,ele não é,porém,dos que não gostam de ter, de vez em quando, a sua conversa. Só que apenas sobre certas coisas,de sicrano,de beltrano,da bola e assim por diante. Até se põe,gostosamente,a jeito.E o inimigo não está para isso.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

GLOBAL OFFSHORE WIND 2015

Offshore wind

STATUS AND CHALLENGES ,GEOTHERMAL ENERGY CAPACITY BUILDING IN AFRICA

Geothermal energy

GLOBAL TRENDS IN RENEWABLE ENERGY INVESTMENT 2015

Renewable energy

O MESMO DISCO

O trabalho arrastava-se,pelo que dava ocasião a alguma conversa. Mas por onde quer que se começasse,era certo e sabido que se acabava por esbarrar nas suas vidas. Quase não importava a idade.
Então senhor Joaquim, tem ido muitas vezes à cidade? Mas que pergunta. Que ia eu lá fazer? O que há aqui na terra já me chega. As coisas lá não são mais baratas.
Não é disso que se trata. Se tem lá ido passear,ver as vistas? Que me interessa a mim isso? Não ficaria mais rico,antes pelo contrário. O dinheiro não me sobeja para luxos. As poucas vezes que por lá andei,foi por necessidade. Na primeira,por causa das sortes. Mas essa já lá vai há um ror de tempo,e dela pouco me lembro. Depois,foram algumas doenças. Tive de ir ao hospital visitar familiares e amigos. A que lá me levou mais vezes foi a doença do meu pai,que Deus já lá tem. Uma operação obrigou a um internamemto demorado. Para lá chegar,tinha de atravessar muitas ruas,mas, se quer que lhe diga ,achei-as todas iguais.
Para além disto,vinham as preocupações quanto ao futuro Que seria deles quando já não pudessem trabalhar? Ralava-os a magreza das reformas que iriam receber. Como é que nos iremos arranjar,se agora é o que se sabe? Os achaques rondam-nos,e quando lá chegarmos estarão bem instalados. Quem nos pagará os remédios?
O disco era quase sempre o mesmo. De alguma coisa se havia de falar ,e eram as
suas vidas o que eles melhor conheciam.

O ANFITRIÃO

Foi como que um tratamento de choque a curta passagem por aquela casa de hóspedes. De arrasar. Se lá permanecesse,era capaz de não ter saído de lá vivo. O dono dela,um cinquentão,de ar espetral,raramente punha a cabeça de fora. Quem geria o barco era a mulher e a cunhada,que estavam bem uma para a outra. Pareciam gémeas,pelo menos,nos comportamentos,um tanto ou quanto livres,para quem vinha da aldeia. Quanto à roupa,cada qual se arranjasse,que lavandarias,daquelas de uso individual,com introdução de moedinhas,não faltavam. Era uma em cada esquina.
Não era aquilo uma Arca de Noé,mas quase. A variedade era de se ficar encantado,desde uma velhinha que não tinha para onde ir,até representantes disto e daquilo,passando por estudantes dos mais diversos cantos.
As duas irmãs tinham um certo fraquinho por dois estudantes,com os quais conversavam um tanto familiarmente. Um deles era de tal qualidade,que um casal teve de levantar voo,antes do tempo previsto,sob pena de o marido perder a cabeça. O outro ameaçava quem não encobrisse a sua condição de casado e pai de filhos. Não se cansava de dizer mal da comida,mas não passava daqui. Era o seu jeito,e talvez lá do sítio de onde viera. Depois,onde é que ele iria arranjar uma arca assim?
Ainda ficou esclarecido o porquê das pantufas,portas a dentro,do anfitrião. É que o gelo,lá fora, era tanto,que temia estatelar-se logo que pusesse o pezinho na rua. Passaria uma boa parte do tempo na cama. Elas que trabalhassem.

MUITO AGRADECIDOS

Ora,para que é que havia de se estar a ralar? Se não fosse ele a aproveitar,não demoraria logo outro a fazê-lo,que aquilo estava mesmo a pedi-las.
A ignorância que ia por lá era muita,do que ele não tinha culpa. Quer dizer,
aquela era mesm uma vinha à espera que a vindimassem,pois era uma pena que a uva se estivesse a estragar.
Coitados,para ali abandonados,como que entregues a si mesmos,sem saberem ler e escrever,e com meia dúzia de litros de vinho ainda por vender.
Então,aparecia ele. Reunia todos aqueles quase nadas e fazia figura de grande produtor. O pago não era por aí além,que ele também tinha as suas despesas. E os coitados ficavam-lhe ainda muito agradecidos,pois doutra maneira tinham de dar o vinho ou deitá-lo fora.

domingo, 28 de junho de 2015

IMPACTS OF OCEAN ALBEDO ALTERATION ON ARCTIC SEA ICE RESTORATION AND NORTHERN HEMISPHERE CLIMATE

Ocean albedo alteration

FAO DIRECTOR-GENERAL WELCOMES PAPAL ENCYCLICAL

Climate change

2nd INTERNATIONAL CONFERENCE ON GLOBAL FOOD SECURITY

Food security

CHEIROS MAUS

Durante meses,andou por ali grande azáfama. Movimentaram-se terras,arrasaram-se casas,ergueram-se outras,removeu-se lixo,atapetaram com relva largos espaços,plantaram-se árvores e arbustos,desenharam-se canteiros de flores,instalou-se um moderno sistema de rega gota a gota,colocaram-se assentos,implantou-se vário equipamento de "health club",traçaram-se ruas,lembraram-se das crianças e,acima de tudo,rasgou-se um amplo leito para as águas passarem à vontade.
Veio,finalmente,o grande dia. Nascera mais um recinto onde as gentes podiam ir colher saúde. Por ali podiam circular,correr,saltar,brincar,e,mais do que tudo,respirar um ar mais salubre do que o que tinham lá em casa.
A relva,as árvores,os arbustos,as flores se encarregariam disso. Pois é,o pior são os imprevistos,ou lá o que é. É que as águas que se escapavam pelo amplo leito e por baixo de uma elegante ponte estavam inquinadas,e delas soltavam-se uns cheiros maus.

NADA FEITO

Isto de ser homem ou mulher tem muito que se lhe diga. Se fossem os homens todos iguais e as mulheres também,talvez se pudesse dar um jeito. Mas como muito bem se vê,há grandes diferenças na inteligência,na esperteza,na instrução,na saúde,na vontade,na beleza,no berço,um sem número de armas de combate.
Numa guerra destas,a vitória está mesmo à vista. Com algumas exceções,os primeiros lugares são ocupados pelos que dispõem de melhor arsenal,aliás,como nas outras guerras. Tudo corre razoavelmente,quando os lugares abaixo não ficam muito distantes. Mas o panorama tolda-se quando é preciso usar binóculo para se verem uns aos outros. Surgem,assim,às vezes,revoltas. Uma ou outra consegue triunfar,mas por pouco tempo,porque os homens,e as mulheres,embora diferentes,são também iguais. E mais tarde ou mais cedo,volta tudo à mesma,porque o que acabou por vigorar foi o tão conhecido tira-te tu daí para eu ir para lá. Agora,é a minha vez. E assim,nada feito.

NECESSIDADE VITAL

O rapazinho corria,corria,atrás do automóvel. Lá dentro,os dois irmãozitos com os pais adoptivos. A distância era cada vez maior. Lá viu que não conseguia apanhá-lo. Parou. E ali ficou,muito direito,numa grande triteza. Uma estátua de desalento.
O pai morrera e a mãe abandonara-os. Com esta separação,sentir-se-ia,irremediavelmente,só. Assim,se consideraria,mesmo quando lhe arranjaram,também,uma família.Parecia nada lhe faltar,mas um irreprimível desassossego o atormentava.
Só tranquilizaria quando se desse o reencontro com os irmãos. De nada valeram,nem o aconchego do lar que o recebera,nem o ter constituído família.
Esse reeencontro tão desejado transformarara-se numa necessidade vital. Parecia isto trazer uma mensagem. O amplexo que acabou por selar o reencontro dos três irmãos poderia ser a imagem de um abraço universal,apaziguador e salvador. Para ele ter lugar seria essencial dispensar muita comodidade e muito egoísmo.

sábado, 27 de junho de 2015

SATELLITE IMAGERY TO SOON ENABLE LARGE-SCALE MONITORING OF ASIA'S RICE AREAS

Asia rice areas

ARCTIC SEA ICE REACHES LOWEST MAXIMUM EXTENT ON RECORD

Arctic sea ice

A BODY OF EVIDENCE : WHAT CLIMATE CHANGE IMPLIES FOR GLOBAL FOOD SECURITY AND TRADE

Climate change

ESTÍMULO DA NATUREZA

Ainda não era bem a Primavera,mas sim uma sua boa imitação dela,assim como uma espécie de arauto a anunciá-la,que ela estaria prestes. O que tinha acontecido naqueles últimos dias era bem uma amostra do que estaria para vir,muito à semelhança do que sucedera no passado,sem uma interrupção,como alguém se tivesse comprometido a uma tarefa,e que era,nem mais,nem menos,um autêntico festival da Natureza,incansavelmente a renovar-se,como programado.
A paisagem,aqui e ali,já dava um ar da sua nova graça. E eram as amendoeiras e outras prunóideas em plena floração,pintando-se de branco ou róseo,e eram as acácias a desdobrar já o seu amarelo. E eram as rolas que já se estavam a fazer ouvir,depois de sacudirem a frialdade que as tolhera. E eram as meninas a começar a aligeirarem-se e eram os meninos que as não deixavam sossegadas.
Ainda bem que a nova primavera estava para vir,a primavera das promessas a cumprir. Talvez nessa onda de novidade,de algum modo já conhecida,viesse forte inspiração a certas cabeças,que estariam também à espera desse estímulo da natureza para darem fruto que merecesse a pena.

CRUCIAL META

O contínuo apareceu,humilde como sempre. Vinha dar os parabéns. Vendo bem,foi talvez a festa que melhor lhe soube. Vinha de um simples,que não queria nada em troca. Não se tinham queimado foguetes,como acontecia algures. Apenas um ou outro abraço. Também não houvera banquete. Quem o encomendaria? E aquele momento,votorioso para tantos,por ali se ficou. Não era mais de que outros já passados e que não tinham deixado rasto nem saudades. Não tinha,porém,de se queixar. Estava bem acompanhado,demasiado até. De resto,as festas são,de certo modo,um exagero,pois muitos não sabem o que isso seja. Apenas se lhes permite viver.
Já quase se estava esquecendo daquele passo tão esperado da sua vida,quando alguém o lembrou. Alguns meses,de fato,já tinham passado desde o corte daquela crucial meta. Uma nova via-se ao longe. Não importava,vamos ainda a tempo,dissera.
E os dois se reuniram a uma mesa. E os copos se tocaram. E ele desejou-lhe felicidades. Sentir-se-ia,talvez, em dívida, pelo lugar que passara a ocupar e que o outro,por uma casualidade,lhe tinha proporcionado. Merecia ele,portanto,alguma compensação. E ali estava a fazê-lo.
Foi capaz de ter sido isso. De qualquer maneira,nunca mais se esquecera daquele gesto,o único com algum ar de festa,a assinalar um marco importante do seu percurso.

PARA ONDE IREMOS?

Mais um incêndio em casa velha,casa prestes a desaparecer. Mas enquanto não leva sumiço,lá vai sendo resguardo de algumas famílias.
Pouco passava do meio-dia,de um dia 23 de Dezembro. Vieram os bombeiros e o trânsito foi condicionado,que a artéria é de intenso movimento. Àquela hora de um dia de trabalho,só lá se encontrava um casal,que veio para a rua dar largas ao seu desconsolo. E agora,dizia ela,levando as mãos à cabeça,para onde iremos? Para a apoquentar ainda mais,o seu cãozinho ,muito perturbado,não havia meio de tranquilizar.
A jovem lá acalmou. As coisas haviam de se recompor. Os bombeiros apagariam o fogo,e quando tudo aquilo serenasse,voltariam para a sua casinha. O buraco no telhado,que, entretanto,se fizera,viria a ser tapado,por causa das intempéries. Para a rua é que eles não quereriam ir viver. Teriam,porém,de manter,por algum tempo,as janelas bem abertas,para apressar a secagem,pois os bombeiros não tinham poupado água para dar conta dos focos das chamas.
Como era de prever,houve regresso ao doce lar no mesmo dia. Dava disso clara indicação uma janela iluminada. Para onde é que iriam?

sexta-feira, 26 de junho de 2015

CAS RESERACHERS CLONE HEAT TOLERANCE GENE FROM AFRICAN RICE VARIETY

Heat tolerance gene

K - STATE SCIENTITS DEVELOP HEAT TOLERANT WHEAT GENE

Heat tolerant

DISCOVERY OF BEANS THAT CAN BEAT THE HEAT COULD SAVE 'MEAT OF THE POOR' FROM GLOBAL WARMING

Meat of the poor

A CARTEIRA VOARA

Via-se bem que a senhora estava confusa,mesmo muito confusa. Não contaria que uma coisa daquelas lhe tivesse acontecido. A ela,uma senhora tão prestimosa,tão amiga de ajudar. Não havia peditório de rua a que ela se escusasse. Sempre pronta,sempre entre aqueles que se adiantavam. Seria,talvez,a primeira a oferecer-se.E era vê-la,de saquinho na mão,em pontos estratégicos,ao sol,à chuva. Não ficava ali passiva,não. Estimulava as dádivas,com palavras adequadas. Seria, certamente,a que conseguia as maiores colheitas.Pois tinham-lhe ido à mala. Distraira-se e a carteira voara. Como fora aquilo possível? Onde teria estado o seu anjo da guarda,que sempre a acompanhara? Tê-lo-iam apanhado também distraído,já que,nos dias que correm,até os melhores anjos são tentados?Feita quase estátua,estátua de perplexidade,assim esteve por largo tempo. Esperaria algum milagre.Talvez o larápio se arrependesse. Esperaria,atendendo ao bem que tinha feito,que a carteira lhe caísse do céu.

SAUDADES

Naquela manhã,o ajudante era outro. Teria aí uns trinta anos. Naquele local,tinham ficado restos da anterior inundação,formando pequenas lagoas. Muito perto de uma delas,construira-se uma casa, a sua casa. Era ali que as nuvens de mosquitos eram mais densas. Porque viveria ali naquele sítio,sozinho? E a resposta veio,uma resposta,de alguma maneira, inesperada,para aquele que o estava a ouvir. Julgava ele que não se gastasse ali de tal sentimento.Não quisera ir com os outros por se ter afeiçoado àquele local . Criara-se ali. Sentia falta dele. Saudades dos tempos de quando era menino,evocações do passado,já um tanto distante.

QUEM VÊ CARAS,,,

Era um homem de meia idade. A sua cara não inspirava simpatia. Teria contribuído para isso uma ou outra palavra grosseira que se lhe ouvira.Naquela altura,esperava um transporte. Tinha junto de si uma cadeira de rodas,onde se sentava uma mulher sem uma das pernas. Quando o elétrico chegou,os seus potentes braços facilmente deram conta do recado,içando cadeira e ocupante.Feito isto,sem ligar aos protestos de alguém que se estava sentindo muito incomodado com tal vizinhança,tratou de sentar a companheira num dos bancos. Imperturbável,veio desmanchar,com presteza, a cadeira,ficando na plataforma até vagar o lugar ao lado da mulher.E então,aconteceu o inesperado. Aquela cara, que parecia trancada, abriu-se em largos , meigos sorrisos. Aqueles olhos,que pareciam turvos,ficaram límpidos,brilhantes. A ternura dele comovia. É bem certo que quem vê caras não vê corações.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

PLANT DIVERSITY DECLINES IN THE DRY

Climate change

RISING COST OF CLIMATE INACTION

Warming

HOPE FROM THE POPE

 Climate change

CHEIA DE MEDO

Aquilo teve a sua graça. Lá estavam as pacaças quase no caminho. As avezinhas,suas vigilantes,bem o indicavam. Veio o barulho do costume,para as espantar,para sairem dali,pois perturbavam a tarefa. Não é agradável andar a trabalhar,com inimigos por perto. Elas deram conta e há pernas para que vos quero. E foram os ruídos do costume,ruídos confusos,desencontrados,vindos lá de dentro da floresta do capim alto,que ali o vale quase ressumava.
E,sem esperar,o que se vê? Uma pacaça tresmalhada,em fuga,na picada aberta. Estaria cheia de medo,a pobre da pacaça. De patas bem fletidas,quase rastejando,em jeito de não dar nas vistas. Ela lá saberia. Os homens,às vezes,traziam armas,e ela iria desta para melhor.
Naquele caso,não havia uma sequer,e ela lá foi em paz à sua vida. As outras não tinham perdido a cabeça,não saindo do seu esconderijo,que era imenso.

MELHOR TRILHO

Que história aquela,uma história do arco da velha,a de um filme. Para começar,é ir lá para a ponte onde a personagem principal se encontrava. O rio corria lá em baixo,sem saber o que quase iria acontecendo.
E ela,a personagem,hesitando,salto,não salto. Foi o que lhe valeu,dando tempo a que lá dos céus viesse um anjo demovê-lo de tamanho disparate. Não faças isso. Olha que se tu deixasses de viver,irias fazer muita falta lá na terra. Para o mostrar,todos viram,e ele também,as desgraças que se teriam evitado caso ele lá estivesse.
Acontecia ser ele,de facto,um achado,bom rapaz,sério,desprendido,devotado,simpático,enfim,um fulano às direitas. E se tudo,ou parte disso,lhe faltasse? Se fosse o contrário,se não passase de um qualquer,quase sem ponta por onde lhe pegar,na aparência,claro? Poderia ir desta para melhor,que ninguém se importaria,nem mesmo uma das muitas estrelas lá do céu?
Parecia aquilo dizer que a estrela só se dera àquele trabalho de vir por ali abaixo por se tratar de quem era. Sempre se encaminharia um para melhor trilho. E os outros,e tantos outros? Que se perdessem,sem um avisozinho.

EXPETATIVA

Em que dera uma semente de rícino que,como regra,estava destinada a dar um arbusto. Pois,a partir dela,formou-se,pode dizer-se, uma árvore disposta a mostrar do que é capaz. Teria caido a semente em terra de altíssima fertilidade? Nada disso. O chão que a recebeu não passa de uma mera calçada.
Então,como explicar tal prodígio? Muito simplesmente. É que o empedrado assenta em terra funda,sob a qual corre esgoto rico em azoto e outras coisas mais necessárias a um viver pujante.
E é assim,pujante,que se apresenta. Braceja para todos os lados e para cima,de uma maneira incontida. Quase se o vê crescer a cada segundo. O espaço em que se encontra já não tem mais lado,por estarem lá duas empenas de prédios. Só poderá,pois,o rícino trepar. Até onde o fará? É essa a expetativa. Tem ainda,pelo menos,dois ou três anos para mostrar o que vale.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

ROTHAMSTED RESEARCH PLAYS A PART IN SHAPING EUROPE'S SUSTAINABLE ENERGY FUTURE

Europe's sustainable energy future

LAUNCH OF RESEARCH PROGRAMME 'TOWARDS PRECISION FARMING 2.0'

Precision farming

THIS YEAR IS HEADED FOR THE HOTTEST ON RECORD,BY A LONG SHOT

Hottest  years

NOVEL PATHWAYS FOR FUELS AND LUBRICANTS FROM BIOMASS OPTIMIZED USING LIFE-CYCLE GREENHOUSE GAS ASSESSMENT

Greenhouse gas

DA CABEÇA AOS PÉS

Ia ali o homem muito preocupado. Não era para menos. Como é que se teria comportado, naquela medonha noite, a sua querida amendoeira? Fizera um vendaval dos diabos e o resultado estava bem à vista. O caminho encontrava-se juncado de folhas e de raminhos. A primavera ainda mal começara e a vegetação não ganhara vigor para altos feitos.Era esta amendoeira a única que restava de uma meia dúzia que em tempos ali fizera pela vida. Tinham ido desaparecendo a pouco e pouco,umas por doença,outras por capricho dos jardineiros. Enamorara-se dela e,sempre que por ela passava,gostava de a observar com detença,da cabeça aos pés.Teria ela suportado aquelas violentas vergastadas? Pois teve uma grande alegria. Estava ali sã que nem um pêro. Apenas uma ou outra folhinha voara. Ainda que para ali sozinha,soubera resistir à dura intempérie. Deve-lhe ter dado muito trabalho e muitas ralações,pois,naquele ano,os ramos quase que vergavam,a tanta novidade. Dava gosto vê-los. Bem encostadas umas às outras,as amendoinhas lá conseguiram escapar de uma queda,que seria fatal. Talvez por isso,parecia ao homem ouvir por ali cantares de grande vitória.

SINAIS REDENTORES

Era para ter pena dele. Sempre curvado,cabisbaixo,parecia arrastar um fardo desmesurado. Uma estátua de desalento. Dera em engordar e o ventre dava bem nas vistas,de tão projetado,quase a estoirar. Era isto,certamente,o resultado da vida que levava.
Tornara-se num devorador de telenovelas. Deitava-se tarde,para não perder uma sequer,e saía da cama já a manhã ia alta. Quase não se mexia.
Ainda lia,mas só jornais,à cata de sinais redentores. Eram eles,afinal,que o obrigavam a fazer algum exercício,mas um quase nada,pois bastava-lhe atravessar a rua para os comprar. Já lá ia o tempo em que eram deixados à porta de casa.
Belo tempo esse,de que tinha imensas saudades. Dava gosto viver,mas depois passara a ser uma sensaboria,um fastio. Ele não era um Creso,mas não estava nada mal. Os teres abundavam,aqui e ali. Alguns até tinham mudado de dono,mas muito valorizados.
Coisa muito estranha,pois,aquela do seu estar. Que mal seria o dele? E assim se manteve,sem nunca o revelar.

FALTA ESSENCIAL

Morreu o burrinho do tio João. Uma morte rápida,em poucos dias,quase uma morte súbita. Deixou de comer,deixou de beber. E,depois,os olhos dele,de tristes,pareciam chorar. Mas afinal,que morte o levou, assim tão de repente?
Morreu de saudades do tio João. Lá deve ter pensado que o tio João se desgostara dele,que o abandonara,pois deixara de lhe aparecer. Ele que se mostrara sempre tão seu amigo,de tal maneira que durante muitos anos não se largaram. Ele trasportava o tio João às courelas,ele ajudava-o a cultivá-las.
O tio João não o abandonara,só que se esqueceram de o informar. Adoecera, repentinamente, de doença ruim, e tivera de ir para o hospital. Aqui esteve uns dias,indo,depois,para uma casa amiga,onde passará,talvez,o resto dos seus dias.
O burrinho não ficou desamparado. Tratavam dele,como se fosse o tio João. Por esse lado, não tinha de se queixar. Só que não era o tio João,como ele estava acostumado. Só que deixara de o ver,de estar com ele. E isso fazer-lhe-ia muita falta,uma falta essencial. E porque era assim,seria melhor partir. E foi o que aconteceu.

terça-feira, 23 de junho de 2015

GRAÇA MORAIS - PORTUGUESE PAINTER

Graça Morais

CUSTÓDIA DE BELÉM - MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

Custódia de Belém

RUÍNAS ROMANAS DE TRÓIA - SETÚBAL

Ruínas romanas de Tróia

COMPANHEIRA FIEL

Estava ali uma rica sombra, naquele cantinho do jardim. Duas comadres estavam conversando.Eram isto e mais aquilo,em suma,não se podiam aturar. De vez em quando,lá escapava uma palavra mais rude,castigadora.
De repente,cai-lhes em cima uma pergunta,com a sua devida autorização. As senhoras sabem o nome daquele arbusto a desentranhar-se em flores róseas,que é um encanto? Não sabiam,mas foi remédio santo para as acalmar.
Uma delas lá foi à sua vida e a outra ainda ficou mais um bocado. Tinha ao colo a sua cadelinha de estimação,a sua companheira fiel. Também a tratava como trataria de uma filha,se a tivesse.
Só da última vez,foram setecentos euros. Mas estivera muito mal,coitadinha. Por isso,teve de estar uns dias lá no hospital.
Mas merece todos os sacrifícios,pois é muito minha amiga. Não me larga. Quando há tempos estive doente,não me saía da cama,a olhar para mim,como se fosse uma pessoa. A inteligência que ela tem.
Foi a minha sorte,foi o que me valeu. Não estaria ,agora,ali. Apercebeu-se do fogo que estava lavrando nas traseiras da minha casa de campo e apressou-se a avisar-me.
Levo-a também à praia,que é tempo dela. Ainda agora vim de lá. Nesta não é preciso mostrar os certificados das vacinas. Mas já mos têm pedido noutras.

NINHARIA ENVENENADA

Estivera tempos sem fim,uma eternidade,no primeiro degrau,no degrau de entrada. Ainda mal se instalara no segundo,a morte o levou. Coitado,não deve ter resistido à emoção,à angústia da arrastada espera,foi o que de mais certo aconteceu.
Um,que de tal desenlace acabara de saber,imediatamente recordara o seu caso. É que,quando encetava a caminhada,alguém,friamente,lhe vaticinou o que o esperava. Olhe que vai marcar passo anos a fio,as vias estão atravancadas. Se não aceitar, com ambas as mãos ,o que lhe estou a oferecer,uma dádiva como que caída do céu,já fica avisado do que tem pela frente.
E o que lhe era oferecido não passava de uma ninharia,mas uma ninharia que ia fazer muito jeito. Há sempre beneméritos a querer dar uma ajuda a precisados. Tinha esta ajuda,porém,um grave senão. É que podia ela estar envenenada. Dando o sim,arriscava-se,caso não agradasse,a ficar desamparado,a ficar em terra.
Muito jeito aquela ninharia iria fazer, para ele ter dado,não logo,mas uns segundos depois, o sim. Ela trazia,de facto,veneno. Foi uma sorte,ou outra coisa qualquer,o ele ter escapado. Mas o mais provável é ele não ser muito afetado pelas emoções.

INGRATIDÃO

Que alívio. Morrera o sujeito que lhe dera uma ajuda quase vital,uma coisa assim sem importância. É que ele temia que o outro fosse de cobrar,que uma vez por outra,ou mesmo,a cada passo,tal feito lhe estivesse a lembrar. O que lhe estava doendo muito,pois chegaria lá pelos seus próprio pés,sem ter necessidade de estar a dever favores,e muito menos àquele que,finalmente,se finara.
Podia,a partir desta tão desejada altura,dormir descansado ,para sempre,pois não mais se teria de preocupar com uma coisa destas,que o trazia muito amarfanhado. Que alívio. E assim,descansado,dormiu algum tempo. Mas, não se sabe porquê,desatou a pensar em que mais alguém podia saber do sucedido,uma vergonha,para ele e para a família. Podia ter sido segredado à mulher,a um filho,a um amigo,e até a um inimigo,sabe-se lá.
Apressou-se,por isso, a fazer um inventário de todas essas possibilidades e ficou alerta. É que só sossegaria de vez,quando os visse todos também no outro mundo. E esse dia veio.
Finalmente,chegara o momento em que podia ter sempre sonhos lindos. Pois é. O raio daquela memória que não havia meio de claudicar. É que o pobre,que,por acaso,estava,agora, rico,passou a ser massacrado com aquela sua mão estendida,lá muito para trás no tempo,gesto que acontece a tanta gente,má ou boa. Situação mais que intolerável,tão assim,que acabou por desejar a sua própria morte,que aquilo era um inferno. Mas a morte fê-lo esperar um ror de tempo,só para o castigar,por tanta ingratidão.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

PALÁCIO DE MATEUS - VILA REAL

Palácio de Mateus

RUÍNAS ROMANAS DE AMMAIA - MARVÃO

Ruínas romanas de Ammaia

MUSEU DOS BISCAINHOS - BRAGA

Museu dos Biscainhos

SACRIFÍCIOS

Coitada da senhora,precisava de desabafar. Aqueles dois que andavam por ali há uns tempos tinham cara de a ouvir e aproveitou.
A filha não havia meio de acabar o curso. Faltavam-lhe apenas duas cadeiras. Atrasara-se,pois era muito boa rapariga. Não era por ser sua filha,mas estava ali uma santa. Era incapaz de dizer não,pelo que ajudava meio mundo,ficando ela para trás.
Depois,arranjara uns trabalhinhos à noite. Tinham-lhe feito muito jeito,pois a mãe pouco a podia ajudar e ela estava numa idade muito exigente,como deviam compreender. Era ainda muito nova,precisava de se divertir.
Deus a ajudasse a acabar aquele curso bem depressa,que já não era sem tempo. Tantos sacrifícios meus e dela,sim,que a moça também não se tinha poupado.

A OUTRA BANDA

Lá se fora mais um. Já se não sabia o quantos tinham sido,tantos se tinham já sucedido. Só se sabia que fora mais um. Algumas razões se podiam avançar para isso,mas a mais determinante deveria ser a idade com que entravam de serviço,uma idade com poucas ou nenhumas surpresas. É que se encontravam mais para a banda de lá,a outra banda.
Ela estaria como eles,tendo em conta a idade,mas a banda de lá é que não queria nada com ela. Parecia essa banda ter receio de a lá ver. Estava ali,de facto,pode dizer-se,
para lavar e durar,sã que nem uma pera sem bicho.
Coitada da senhora,apsar de tudo,que se via obrigada,volta não volta,a conhecer ,muito de perto, nova cara. Mas o que é que ela havia de fazer mais se os ladrões não havia meio de se sumirem de vez,antes pelo contrário,visto haver por ali,mesmo à sua vista, cada vez mais?
Não tardará,pois,que ela se ponha,mais uma vez,à janela. Quem quer casar com a carochinha.... Mas sabendo da sua triste história,que muito triste ela é,sem dúvida,com que cara entrará o novo preferido de faxina? Querem ver que não vou passar desta noite,que esta noite é que vou saltar para a banda de lá?

SANTA ILUSÃO

Um curso é uma arma e não um talismã,como alguns julgavam. Santa ignorância. E ali estava o moço quase a terminar o tempo para a poder usar. Mas faltava ainda este quase ,que consumiria,pelo menos,mais um ano,a somar aos cinco da ordem.
Para a guerra que o esperava muito treino exigiam,mas pensava ele e pensavam alguns que a vitória estaria certa e que os despojos seriam de muito valor. Santa ignorância.
Não custou muito ao moço digerir a primeira desilusão. Já estava meio preparado,e era moço. É que o dinheiro que iria receber,o seu primeiro salário,mal dava para mandar cantar um cego. Fora,ainda assim,uma grande sorte,coisa para amigo. Lá estavam as folhas dos registos. Para o ter na mão,tivera de entrar em bicha ordeira com os seus pares,os jornaleiros lá da quinta. Um companheiro fora mais afortunado,pois ficara na categoria de boieiro,que requeria especalização.
Ali se encontrava,pois,o moço,naquele começo de vida,enfrentando uma situação previamente anunciada,mas em que não se acreditara. Santa ilusão.

domingo, 21 de junho de 2015

MENIR - PÓVOA E MEADAS,CASTELO DE VIDE

Menir

ÉVORA - PORTUGAL

Évora

COLUMBANO BORDALO PINHEIRO - PORTUGUESE PAINTER

Columbano Bordalo Pinheiro

QUE SAUDADES

Pois ela tinha muito para contar. Durante anos,acreditara no destino,que fora assim que a sua mãe lhe ensinara. Mas,depois de muito pensar,chegara à conclusão de que não devia ser bem assim. Ainda que houvesse uma certa sina,com força de vontade tudo se podia alterar. E o caso dela era bem uma prova disso. Divorciara-se e estivera para morrer,ou melhor,entrara em forte depressão. Mas, com muito querer ,vencera-a. Naquela altura,sentia-se dona de si. Havia,porém,algumas didiculdades. Não tinha emprego e ficara com uma filha. O pai atrasava-se ,às vezes ,com a prestação. Estava ali a ver se ele já fizera o depósito em falta,que bem precisada se encontrava. A filha andava com muitas exigências. O que lhe valia era a mãe,coitada,que vivia de uma boa pensão. Passava a maior parte do tempo com ela,embora tivesse a sua casinha. Estava também atravessando um mau bocado. O prédio ia ser demolido e queriam pô-la num quarto com uma vizinha ou então davam-lhe dinheiro. Não sabia o que fazer.Vinha mesmo a calhar o fim do mundo. Aproximava-se o ano dois mil. Uma vizinha,muito crente, afiançara-lhe que o fim chegaria por fases. Por onde iria começar era a sua grande preocupação. Tudo isto a fizera desinteressar de muitas coisas,como de eleições. Nunca votara. Eram todos os mesmos. Só votaria num que a empregasse. Dantes não havia nada disto. Que saudades. Ela estava ainda nova e podia ser que as viesse a matar.

EM VÃO

Estava o moço em casa,no verão,cansado de não fazer nada,quando lhe bateram à porta. Era um amigo,com um táxi ali à espera. Despacha-te que temos de ir para longe. Voltamos ainda hoje.
O amigo fora sempre de entusiasmos repentinos,facilmente alimentados,ainda que metessem grandes despesas. Abalara-o, em tempos ,forte contrariedade,estando,até,internado,mas,
aparentemente,recompusera-se.
A viagem destinava-se a visitar alguém que ele muito estimava. Lá chegaram. Na terra havia festa e esse alguém era um dos promotores. A festa demorou e tiveram de ficar.
No regresso,tudo se complicou. O amigo,afinal,não se recompusera devidamente. A certa atura,de noite,aproveitando uma paragem,desapareceu. Ainda se procurou,mas em vão. Foi encontrado,dois dias depois,quase nu.

sábado, 20 de junho de 2015

GRUTA DO ESCOURAL - MONTEMOR-O-NOVO,PORTUGAL

Gruta do Escoural

MUSEU MACHADO DE CASTRO - COIMBRA

Museu Machado de Castro

THE LAST SUPPER - MUSEU DE ÉVORA

The 15th century portuguese painting

AJUDA VITAL

No entardecer da vida,dera-lhe para se recordar,a cada passo,de alguém que muito o ajudara e que já partira para não mais voltar.
Fora uma ajuda vital,a exigir um teimoso agradecimento. E naquele entardecer,sentia que não lhe agradecera bastante. Ele não esperaria agradecimentos,pois era daqueles que dão de graça porque de graça receberam.
Parecia-lhe,porém,estar em grande falta. E queria,naquela ponta final,não saldar a dívida,que a considerava enorme,para além das suas fracas capacidades,mas,ao menos,reduzi-la,ainda que num valor modesto. Não era para ali um ingrato,um esquecido da mão que o amparara.
E aquela repetida lembrança,ao mesmo tempo dolorosa e doce,seria uma forma,tosca forma,de mostrar o quanto lhe estava agradecido.

O CUMPRIMENT0

Eatava ali, na esplanada ,uma figura pública de há uns anos. Não mudara muito. O que mais se notava eram as bengalas a que se tinha de apoiar . Coisas da vida,a que nenhum se pode eximir. Um senhor,de bengalas ,também,sentado quase à sua beira,facilmente o descobriu. Pudera,pois só por uma forte razão teria falhado o seu programa semanal de largos anos. E agora,tinha-o mesmo ali,bem pertinho de si. Parecer-lhe-ia estar a sonhar. Mas não,era verdade. A vontade que eu tenho de o cumprimentar,disse ele à filha. Era uma grande alegria que me davas,se isso conseguisses. E a filha,sem regateios,a isso se dispôs. E foi bonito ver o fiel ouvinte,muito comovido,estar agora ali junto daquela figura pública,muito do seu agrado,que,gostosamente,lhe estava a receber o cumprimeto. O que diriam lá na terra quando isto soubessem? Haveria ele de muito crescer em consideração.

MUITO CUMPRIDOR

Lembrou-se ele, um dia,de fazer um certo escrito ,destinado a uma reunião fora de portas. O escrito lá foi feito e enviado. Passado tempo,recebeu resposta a dizer que o podia ir apresentar. Era altura,então,de arranjar dinheiro para as viagens,quantia,aliás,modesta,e de se munir da autorização de quem de direito,uma vez que as coisas tem de ser feitas como deve ser. No sítio A,de quem ele mais dependia,os cofres estavam vazios. Foi bater,então,à porta do sítio B,onde ele fazia uns biscates. B não se fez rogado. Dois ou três dias depois,tinha o cheque na mão. Parecia o caso resolvido. Forte engano. Acabou por não ir,simplesmente porque A não deixou. Em B,ficaram muito admirados quando ele lá foi devolver o cheque. Nunca tal coisa tinha acontecido. E ficaram a desconfiar muito dele. Os tempos estavam também muito toldados.Ainda lhe lembraram que metesse férias,mas ele era muito cumpridor.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

OBSERVING THE ATLANTIC MERIDIONAL OVERTURNING CIRCULATION YIELDS A DECADE OF INEVITABLE SURPRISES

Climate change

ARE YOU WATERING YOUR LAWN ?

Water

PUMPED UP TO RUMBLE

Earthquake

VERNIZ

Ficaram sós os dois,ele,mais velho,muito dado ao respeito,ela,uma senhora que ele muito respeitava,mas que,de vez em quando,não enjeitava uma brejeirice ligeira. Já não era a primeira vez que assim tinham ficado. E ele sempre muito respeitador.
Naquela manhã,antes de ficarem sós,tiveram a companhia de um casal jovem,ela,uma moça bonita,por sinal,prestes a ser mãe,e ele,de cabeça rapada.
Quando o casal desapareceu,a senhora não resistiu. Que pena,a moça merecia melhor. O cabelo sempre compõe. Mas ele,coitado,para disfarçar,usa a máquina zero. Via-se bem que já tinha voado.
O senhor muito dado ao respeito foi na onda. Não sei se conhece uma frase a propósito. E ela,suspensa. Querem ver,querem ver,que agora é que o verniz vai saltar? Mas muito se enganou. Não saiu o que ela esperava ouvir. É que nunca se vira um burro careca.

ABALO FORTE

Era bom,mas acabou-se. Demoliram há dias a sua querida barraca,a última de um punhado delas. Fora a sua casa durante muitos anos,mas,sobretudo,a sua base de trabalho,o seu armazém.
Far-lhe-ia um grande jeito,mesmo ali a dois passos do cruzamento onde fazia pela vida,vendendo flores.Teria metido empenhos para lá permanecer.
O abalo foi manifestamente forte,quase vital. Não parece a mesma. Ali deve haver outra coisa,uma coisa muito séria. Emagreceu,empalideceu,amoleceu. Ela já não é nova,longe disso,mas mostrava energias que causavam admiração.
Aquilo não deve ser só um caso de mudança de lar,aliás,para muito,muito melhor,pois teve direito a uma morada decente. Vêm-na rondar o local do seu antigo palácio,repetidamente cruzá-lo,pisá-lo,demorando-se.
Sentirá falta dos cheiros,dos sons. Sentirá falta das tábuas,das chapas,das pedras,do chão,da fossa. É capaz de sentir falta de outros inquilinos,que já fariam parte da família.

VIDEIRAS ESFOMEADAS

Tudo quanto vive precisa de comer,como bem se sabe. Neste tudo estão as plantas, como também é assaz conhecido. A videira é uma planta,não podendo fugir,pois, a essa coisa vital,que é o comer.
Ora o comer não é ação simples,é mesmo muito complexa,escusado será dizer. Para o que agora interessa,põe-se a variedade. E aqui, entra o azoto,o fósforo,o potássio,o cálcio,o magnésio,e mais uns tantos. E nestes tantos está o manganês,de que certas videiras estavam carentes,ainda que não se soubesse.
Pois foi desta carência que tratou um estágio. Mas para se chegar às doentes teve muito que se lhe diga. Para já, ficavam longe e só um ilustre professor sabia onde. Ele gostaria de lá ir indicar,mas não tinha transporte. Felizmente que houve alguém que cooperou,pondo um carro logo à disposição. E lá foi o ilustre professor levar o moço ao local do "crime". Lá chegados,nunca mais o moço esqueceu as suas palavras. Agora,é consigo.
Felizmente que apareceram mais ajudas. É que estavam em causa videiras esfomeadas. E perante isto,não houve porta a que ele batesse,de mão estendida,que dissesse não. O resto foi simples. Foi colher terra,foi colher folhas,e analisar. E viu-se logo o que ali estava a faltar. Era mesmo fome de manganês,claro como água límpida,até uma criança via ao olhar para certas chapas impressionadas. Chapas de que um outro ilustre senhor dispunha,sabendo trabalhar com elas,ensinando.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

FOSSIL FUELS : STAR ACADEMICS IN FAVOUR OF DIVESTMENT

Fóssil fuels

MITIGATION MEASURES : BEWARE CLIMATE NEO-SCEPTICISM

Climate

CLIMATE POLICY : STEPS TO CHINA'S CARBON PEAK

Climate policy

EMPURRÕES

Vinha o José no seu passo descansado,quando sofre um empurrão ,assim como que a dizer para andar mais depressa,que estava a empatar o trânsito. Era o João,que ele não conhecia de lado nenhum. Após a ultapassagem,o João ainda se voltou,pondo uma cara de muita censura,disposto a acrescentar mais alguma coisa,mas acabou por desistir.
Afinal o João não ia muito apressado,pois o seu passo era também de descanso,só que um pouco menos do que o do José. Qual teria sido,pois,o motivo do empurrão? Talvez se tivesse irritado com a barreira à sua frente,na figura do José. Quereria ter o caminho inteiramente livre de obstáculos,quaisquer que eles fossem. Fora assim que o tivera sempre.
O seu aspeto era de pessoa bem instalada, a viver de altos rendimentos,não como os do José,coitado dele,que andara sempre a fazer contas à vida. Coroava-o,também,uma lustrosa calva. A do José mostrava algumas reservas,ainda que fracas. Teriam contribuído elas para a irritação? Depois,o José era alto,e o João muito baixinho. Quando se encararam,o José olhara-o de cima para baixo,coisa que ele não suportaria,levando-o a desorientar-se. Teria sido o que valera ao José,senão o João puxaria dos seus muitos galões,e seria o diabo.
Como um miúdo,o José ainda quis dar alguma luta,procurando um reencontro. Mas pensando melhor,deixou-se ficar por ali,a remoer. Tantas empurrões que levara ao longo da sua longa vida,que já devia ser esse coisa para esquecer. Teria sido mais um,nada mais.

O HOMEM DAS CAVERNAS

Era o nome que o distinguia,até entre os muitos outros que quase o imitavam. É que ele,muito raramente,saía lá do seu buraco,uma das galerias do metropolitano de grande urbe. Corria mundo o seu nome e o que isso significava,e crescia a curiosidade de saber o porquê da sua decisão.Certo dia,ou melhor,certa noite,por sinal uma noite quente de verão,em que apetece sair de casa e andar por aí a apanhar o fresquinho,um jornalista resolveu entrevistá-lo. Coitado,o que ele teve de andar,lá por baixo do chão, para o encontrar. Mas foi compensado,pois o homem das cavernas estava em maré de deitar tudo cá para fora.Então,o que o levou a escolher esta morada? A resposta foi rápida,e espanto dos espantos, dita como se ele fosse um doutor. Uma resposta franca,cheia de correção,de um intelectual,pode dizer-se. O homem das cavernas não parecia nada tonto,foi a conclusão a que o jornalista chegou.E o que ele respondeu pode ser concentrado em meia dúzia de palavras. De resto,as muitas palavras servem,quase sempre,para confundir. E foi o seguinte. Sabe,não suportei mais aquele viver. Aquilo é de vomitar. Pois passem por lá muito bem,muito mal,que é asssim mesmo,e deixem-me aqui sossegado,que eu cá me arranjarei. Daqui não saio. E se me quiserem tirar daqui só à força. Mas não desistirei,disso podem estar certos. Hei-de arranjar um buraco noutro sítio ou então cavarei um muito meu,em qualquer lugar,nem que seja no fim do mundo. Voltar lá para cima é que nunca mais.

O VIL METAL

Eram atraídos como formigas ao açúcar. Ali havia dinheiro,mais do que noutros cantos,de maneira que as"formiguinhas" não demoraram a aparecer. Tinham passado palavra,ou nem isso,que o cheiro guiava-as. O dono do cofre exultava. Mexera-se,usara as suas influências,e ali estava o prémio. Pode dizer-se que era senhor de um estado dentro dum muito maior,mas este sem cheta. Sentia-se o mestre dos mestres,rodeado de quase uma dúzia de jovens promissores.
Foi,porém,sol de pouca dura.Por uma razão desconhecida,a fonte secou. Afinal,as "formiguinhas" tinham vindo ao engano. O mestre era de fibra e não desanimou. Convocou os pupilos e fez um apelo à sua generosidade de jovens. A fonte secara,sem ele contar,mas esperava que em breve voltasse ao que era antes. Esperava deles resistência às más horas e queria vê-los com disposição para continuar ali. Não seria por falta do vil metal que o fossem deixar. Agora é que ele ia ver quem eram os fortes.
O discurso fora patético,dirigido ao desinteresse,à abnegação,à entrega inteira a uma causa nobre,a da ciência. Ouviram-no todos com muita atenção e atreveu-se um a dizer de sua justiça. Apreciavam muito a sua confiança,mas havia uma questão muito importante,que estava a ser esquecida. É que,em primeiro lugar,está o viver,e para isso precisamos do que aqui deixou de haver. Não é o dinheiro essencial,mas sem ele nada feito. Depois de o voltar a ter,então filosafaremos. Não foi bem assim,mas para o que é serve muito bem. E ali terminou a sessão,indo cada um para seu poiso,pensar.
A pouco e pouco,porque os prognósticos não davam sintomas de melhoria breve,foram indo à sua vida. Fora uma pena aquela debandada,porque o barco era bonito e o comandante ilustre e simpático. O primeiro a dizer adeus parece ter sido o da sentença consagrada. Lá teria as suas fortes razões,maiores do que as dos outros. Mas estes não se fizeram esperar muito. Era sinal de que outros barcos estavam precisando de braços,tendo com que os manter.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

FINANCIAL COMPETITIVENESS OF ORGANIC AGRICULTURE ON A GLOBAL SCALE

Organic agriculture

SPATIAL PATTERNS OF AGRICULTURAL EXPANSION DETERMINE IMPACTS ON BIODIVERSITY AND CARBON STORAGE

Carbone storage

NATURAL CAPITAL AND ECOSYSTEM SERVICES INFORMING DECISIONS:FROM PROMISE TO PRACTICE

Poverty

DORMINHOCOS

Já é vontade de ir acordar, e pôr a trabalhar,quem estava a dormir,lá muito sossegado,nas profundezas,há anos sem conta. E ali,mesmo ao pé da porta,com tanto sol,com tanto vento,com tanta onda,com tanta maré,com tanta água,com tanto calor geotermal,á espera que deles se lembrem. Depois,para pôr a trabalhar quem estava dormindo,lá se vai gastando oxigénio que,pode dizer-se,deve a sua existência ao sono profundo dos dorminhocos.

À SUA SORTE

Pobres daquelas folhas,tal o desassossego em que tinham mergulhado. As árvores já não precisavam delas,talvez por terem os celeiros cheios,e estavam a largá-las,deixando-as cair em piso alcatroado. Mas não aqueciam lugar,pois vinha o vento que as levava pelo ar ou as arrastava,roçando pelo áspero chão.
Era um vento inconstante,pelo que não sabiam as pobres folhas onde ficar,
andando num virote interminável,como ondas do mar.
A que destino tão triste as tinham votado,findo o seu prazo de validade. Não o mereciam,elas,e todas as outras de anos atrás, que tanto tinham valido. Se não tivessem sido elas,as árvores não teriam crescido,não teriam florido,não teriam dado fruto,teriam morrido mal tinham posto a cabeça de fora. E era assim que lhes retribuíam,abandonando-as à sua sorte. Afinal,tinham-se,ingratamente,servido delas.

RECEBERA DE GRAÇA

Ninguém o teria encarregado do sermão,mas ele era um homem consequente. Um homem,não de palavras,que as levam o vento,mas de atos,atos generosos,que o vento levar não pode. Andou nisto anos a fio. Afinal,um homem que estava ao serviço de outros. Quem dele precisava, não punha os pés ao caminho para o encontrar. Ele se encarregava disso. Como que os cheirava. Também não precisava de lâmpada,pois,bastava-lhe dar um passo para esbarrar com um carente. E foram muitos os passos que ele deu nesse propósito,sem se enfadar.Depois,era daqueles que dava com a esquerda sem a direita o saber. Não contava,porém,com os indiscretos. E,sem ele querer,ecos dalguns passos seus faziam-se ouvir,como os que ocorriam a altas horas da noite,para prestar cuidados de enfermagem a quem só de graça os podia ter. Do seu bolso,pagava tudo,as deslocações e os medicamentos. Não se pense que nadava em dinheiro,pois muito se enganaria. É que ele seria,também, capaz de fazer milagres. Era dos tais,dos santos desconhecidos,que não estão nos altares. Porque recebera de graça,de graça dava,seria o seu entendimento.

terça-feira, 16 de junho de 2015

SANTUÁRIO DA PENINHA - SINTRA

Santuário da Peninha

PARQUE NATURAL DA SERRA DA ESTRELA - PORTUGAL

Parque Natural da Serra da Estrela

CROMELEQUES DOS ALMENDRES - ÉVORA,PORTUGAL

Cromeleques dos Almendres

FUNDILHOS

Era um homem alto,bem parecido. O basto cabelo negro,ondulado,não lhe caía pelas costas largas,mas coroava-o,à maneira romana. Alguém o recordara em três alturas marcantes do seu florido percurso.
Na sequência,primeiro,em moço,alta noite,sentado num banco de laboratório,analisando. Já perdera muito tempo,pelo que tinha de compensar. Exigências da vida que escolhera,para a qual,aliás,estava fadado.
Depois,um pouco lá mais para diante,dirigia-se, em bicicleta,um tanto esmagada ao peso de quem lá ia,ao encontro da sua cadeira de edil. As calças,via-se bem,tinham sido reforçadas por uns fundilhos de todo o tamanho.
Para remate,poucos anos volvidos,chegou a vez de trocar a cadeira por um cadeirão. Era o que mais se apropriava à sua imponente figura. Ali,os fundilhos não ficavam bem. De resto,nunca se esclareceu porque os mostrara naquela vez. Mas uma razão devia ter havido,e uma razão de monta. Mas qual?

CARRO DE ASSALTO

Era uma senhora algo esquisita. Já de idade avançada,dera-lhe,talvez na ideia de avivar o rosto,para vincar a negro as sobrancelhas e pintar-se de cores acobreadas. A voz era forte. Trazia um chapéu de cores garridas e de formato estranho. Caminhava com a cabeça um tanto inclinada,simulando uma investida permanente. Parecia um carro de assalto.
Andava,por vezes,acompanhada. Pobre da companhia,que era levada a reboque. Quando se abeirava de um balcão,qualquer que ele fosse,fazia-o com grande aparato. Os outros temiam-na,deixando que ela fosse logo atendida. Livrar-se o mais depressa de uma fonte de sarilhos seria o unânime entendimento.
Estava ali para durar. O tronco era robusto,a passada firme,bem batida. Continuaria por muito tempo a circular por essas ruas,espantando os pardais que ela fosse encontrando.

BOM SAMARITANO

Era uma pena o senhor ficar para tio. A ele pouco lhe importaria ,pois a sua vida era uma vida cheia. Desdobrava-se em tantas atividades que pouco tempo e disposição lhe sobravam para cuidar de si. Mas os amigos preocupavam-se. Não estava velho,mas continuando assim já seria tarde,pensavam eles. E vai daí,procuraram-lhe noiva a condizer. Não foi preciso ir muito longe.
E assim começou uma relação. Naquela altura,a menina tinha de ter a companhia permanente da mãezinha. O que haviam de dizer? Para mais,ela era filha única e muito rica. Os encontros foram,pois,sempre a três.
Não se sabe bem o que verdadeiramente aconteceu. Mas os que o conheciam melhor previram logo que aquilo não iria durar muito. O senhor fora sempre muito independente. A dar o passo,seria com uma e não com duas. E parecia que se tinha de se sujeitar ao segundo cenário. Assim,não. Passem por cá muito bem.
Alguns comentaram que ele não soubera aproveitar,juntando o útil ao agradável. Mas ele não era desses. E assim se manteve,continuando na sua senda de bom samaritano,distribuidor de dádivas inúmeras. Constou que mal ele largou o tesouro,alguém,menos exigente,tomou logo posição,não fosse haver arrependimento.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

COUDELARIA DE ALTER - PORTUGAL

Coudelaria de Alter

CAVALO LUSITANO - PORTUGAL

Cavalo Lusitano

CÃO CASTRO LABOREIRO

Castro Laboreiro

NEM À MINHA CRIADA

Uma ofensa tamanha não a tolerava. Atrevida. Não se sabia qual teria sido,nem valeria a pena ter dela conhecimento. Deveria ter sido grossa coisa,para aquela senhora,muito bem composta,como para uma festa,estar para ali com tão sentido desabafo. Não admito isto nem à minha criada. E aqui,na criada,apurou todo o seu altíssimo ressentimento. Não querem lá ver?
Tal não admissão estava claramente traduzido em todo o seu augusto corpo,desde as pontas dos seus finos pés até às pontas dos seus bastos cabelos. Pés elegantemente acondicionados e cabelos de negro pintados,mas de raízes assaz indisdiscretas,qual gato escondido com rabo de fora. Viam-se-lhe também rugas,que o disfarce,àquele destempero,abrira fendas. Era o que faltava. E toda ela se agitava,a ponto de um botão do seu legítimo casaco de peles,que a manhã ia fria,sair da casa,acompanhando-a naquele despautério.
A pobre da empregada,uma moça simpática,de cabelo loiro natural,aguentava,firme. Ainda há dias o patrão lhe dissera que os clientes têm sempre razão,e muito mais uma da qualidade daquela senhora,que,no comprar,não era nada acanhada. Não podia meter todos no mesmo saco. Para aquela senhora,tinha de ter um saco reservado,muito,muito especial,pois ela nem à sua criada admitia uma coisa daquelas.

SERVIDÃO

Isto vai acabar. É tempo de lhe arranjar um passe e um telemóvel. Condoera-se a rica filha da pobre mãe. E estava,ali,em plena rua,a manifestar o seu louvável propósito.
Era uma mocinha toda de negro vestida,à moda,de cigarro na mão,em pose. A mãe,muito gorda,ouvia-a,de cabeça baixa. Seria do pesado fardo que ela carregava,de filhos e já de netos. De vez em quando,tinha de sair,mas só para fazer compras lá para a casa.
E aquela linda filha,queria aliviar-lhe a servidão. Estaria a moça,pois,cheia de boas intenções. Mas não era de prever que o passe viesse a ter muito uso. Dar-lhe-ia,quando muito,alguma consolação possuí-lo. Se quisesse podia utilizá-lo,mas só isso,que ela,lá em casa,não saberá para onde se virar.
Quanto ao telemóvel,esse,sim,vinha mesmo a calhar,pois o telefone estaria quase sempre ocupado.

BONITO COMO UM PRÍNCIPE

A cama de nascimento não tinha sido de palha,mas há volta havia muita. O vento soprava forte e frio e as frinchas deixavam entrar algum. Melhor assim. O menino começava cedo a suportar as intempéries,enrijando-o. E mais ainda. Por aquelas bandas ,tinha passado,em tempos muito lá para trás,gente desses países estranhos do Norte,fixando-se ou deixando descendência. Eram correntes,pois,os cabelos de oiro vivo e os olhos do azul do céu. E foi assim que ele veio,bonito como um príncipe.
Com o correr dos anos,a beleza e a fortaleza aprimoraram-se. Faltava ali a riqueza. Bem tentou. A subida não foi por aí além,como desejava,mas não se podia queixar muito. De forte imaginação e de fácil convívio,frutos,certamente,da tal provável ascendência,conseguiu entrar em altos meios. Isso o compensou e não perdia ocasião para o mostrar. E era de estarrecer o estendal de nomes ilustres,da melhor nata. Desfiava conversas onde a intimidade definia a situação.
De vez em quando,procuravam fazê-lo descer,mas não havia meio de se conseguir. Ou desandava,ou retomava o fio da meada rica. Só nas alturas é que se sentia bem. O ar era mais puro e as vistas mais agradáveis.

domingo, 14 de junho de 2015

BIBLIOTECA DE ARTE - FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN,LISBOA

ART LIBRARY

JOSEFA DE ÓBIDOS - MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA,LISBOA

Josefa de Óbidos

UM TALENTO

A mulher tinha de se livrar da cozinha e das fraldas. Era uma escravatura. Ela já conseguira e procurava contagiar outras. A meia dúzia de amigas não lhe chegava. Queria mais. E a ocasião chegara.
Apareceu em comícios,defendendo,com vigor,as suas ideias. Recebeu muitos aplausos e muitos convites. Um talento assim não se podia desperdiçar.
De repente,sumiu-se. Não mais foi vista nos locais onde tanto brilhara. Ninguém sabia dela. Gerou-se,naturalmente,uma séria preocupação e uma funda tristeza,sobretudo,nos que tinham lutado a seu lado.
Alguém a vira à janela do seu andar,uns dias antes,numa ruidosa tarde. De fronte,estendia-se uma zona abarracada,com dezenas de anos. E umas três ou quatro das que lá viviam,fartas de tudo aquilo,vieram dizer basta,mesmo junto ao seu prédio.
Queriam uma casa como devia ser. Já não podiam mais com as madeiras,com as placas,com as pedras,para aquilo não voar a um vento mais forte,com as fossas,com as ratazanas. E olhavam para aqueles andares tão jeitosos.
Uma delas não se contivera,sabe-se lá porquê. Cabe-me,agora,a vez. Podíamos trocar por uns tempos. Eu ia para aí e emprestava o meu palácio. Tinha sido isto um mero desabafo.
Mas a talentosa teria pensado que se tratava de uma ameaça e que ela era a visada. E,apavarorada,teria desaparecido.

UMA LEMBRANÇA

Quase tudo se vai transformando,não havendo volta a dar-lhe. É o progresso,ou lá o que lhe queiram chamar. E quem não estiver bem,mude-se. E quem não gostar,tem de passar a gostar,sob pena de lhe chamarem nomes feios.
O certo,no caso presente,é que um quintal,ali mesmo à vista de linha nobre de comboios,onde havia meia dúzia de figueiras,que davam figos de comer e chorar por mais,se foi para sempre. Andarão por lá ainda os aromas daquela novidade,tal a fartura. Enchiam-se cestos,não só dos lampos,os mais cobiçados,mas também dos vindimos. Fartavam-se deles a família do feitor,a vizinhança e ainda dava para os levar a certo mercado,onde eram disputados.
O transporte era quase do tipo porta à porta,por o elétrico disso se encarregar. Chegavam ainda frescos,pois a colheita era feita de madrugada.
Pois tudo isto é só uma lembrança. O quintal foi promovido. Está lá agora uma floresta de cimento. O mercado deixou de o ser,convertido que foi numa praça. O elétrico deve andar por aí,algures,repartido,ou então,dormirá num museu.

A ESCALDAR

Parecia estarem combinados. Ainda na véspera se tinham cruzado,pela vez primeira,e ali estavam ,de novo, frente a frente. O ar dele,coitado. Teria encontrado a porta fechada,e viria de barriga a pedir que a enchessem.
Numa primeira reação do outro,recebeu apenas uma saudação. Mas não demorou este a emendar. Saudações não matam a fome. Olhe lá,onde tem aí um bolso? Obrigado. O tom deste obrigado era de fazer chorar as pedras da calçada,naquele caso,mais exato,o asfalto a escaldar.
É claro que o gesto do outro ficara-se por ali,uma coisa avulsa. Momentos sem continuidade,de não resolução. E era disso que se precisava,que tarda,sem resposta capaz à vista.

sábado, 13 de junho de 2015

PEGADAS DE DINOSSÁURIOS - OURÉM,PORTUGAL

Pegadas de Dinossáurios

CITÂNIA DE BRITEIROS - GUIMARÃES,PORTUGAL

Citânia de Briteiros

CASA-MUSEU MEDEIROS E ALMEIDA - LISBOA

Casa-Museu Medeiros e Almeida

PRESA POR CORDÉIS

Por aquele processo é que ele nunca tinha circulado. Lembrava a expressão muitas vezes ouvida,a de ir presa por cordéis. É que naquele dia o carro conseguira vencer centenas de quilómetros com uma peça fundamental assim mantida lá no seu lugar. Aquilo era de se ter tirado patente de tal invento e de custear a deslocação do génio a um salão de novidades. Mas não calhou,que as atividades não consentiam tréguas. Mais uma vez,porém,ficara bem provado que a necessidade a muito obriga e que é ela uma das mães do engenho.

Rematou este caso uma série de outros dignos de registo. Tudo,afinal,para evitar andar a pé,que é muito cansativo. Não tiveram conta as ocasiões em que o jipe se vira em situações aflitivas. Saiu delas pelas mais diversas vias,pois na sucessão delas alguma havia de resultar. Quando se não via gente por perto,ou animais,como muares ou bois,ou melhor ainda,um trctor,as mãos tinham de sair dos bolsos e pegarem da enxada e do canivete,para cavarem e cortarem ramos ,de modo a dar às rodas apoios mais firmes.

Também,por vezes,o depósito ficava sem uma gota,lá onde bomba só muito longe. Mas não faltaram almas caridosas que se condoeram. E,em certa ocasião,houve mesmo que recorrer a uma modalidade nunca imaginada. Uma vala larga barrava o caminho. Mas ali à volta abundava capim alto. Foi só ceifá-lo e empilhá-lo. Quase um milagre,o jipe a caminhar sobre as águas. A água ressumava e o jipe balouçava,tal como barquinho em mar revolto.

AMIGO DA ONÇA

Toca o telefone. O Francisco vai atender. Daqui é o Jorge. Mas que grande surpresa. Há muitos anos que se não viam ou ouviam,por culpa,sobretudo,dos muito diversos trajetos das suas vidas. Não tens aparecido,mas sei que ainda te mexes. Sabes,não tem calhado,hoje,por uma razão,amanhã,por outra.O costume. Ainda há dias dias estivemos a falar de ti,eu e o João. Ele,às vezes,passa por cá,e vem sempre ver-me. Isto deveria significar que o João tinha uma grande apreço pelo Jorge.
Pouco tempo passado,toca,novamente,o telefone. O Francisco vai atender. Daqui é o João. Estive ontem com o Jorge. Olha lá,ele é de uma extração muito baixa,não é? A família dele era muito pobre,não era? Viviam lá numa espécie de barracão,uma coisa imunda,não viviam? E assim por diante. O desprezo que ia por ali,uma vala cheia.
Coitado do Jorge. Ele a pensar que tinha ali,no João,um amigo,e,afinal,não era era mais do que um amigo da onça.

ENCANTO OU DESENCANTO

Lá perdera a camioneta da carreira. E agora? Tinha de pôr pernas ao caminho,que elas estavam ali muito capazes de chegar onde queria ir. De resto,a tarde convidava,pois o calor não era muito e ao longo do caminho havia muita coisa para rever. Até devia agradecer o ter chegado tarde.
E então foi um desfilar de marcos que tinham sido o seu encanto,ou desencanto,anos atrás. Em primeiro lugar,uma vala que sangrava a lezíria. As aflições que ela dera quando das cheias. Era um rio a competir com um maior. Mas também nunca mais se esquecera de um verão. Fora lá que apanhara um dos maiores sustos da sua vida. Um matulão,abusando da sua força,fizera-o engulir água escusada. Fora ali,que ainda lá estavam as canas onde se refugiara,ou,pelo menos,o sítio delas.
Seguia-se,não muito longe,a casa da "guarda",onde estavam assinaladas as alturas das cheias de maior respeito. Dum lado e doutro,eram só vinhedos a perder de vista. As cepas pareciam árvores e a ramagem cobria o chão,aquele rico chão,dos nateiros que as inundações deixavam,uma riqueza que se desprendria das muitas encostas a montante.
Antes da Tapada,desenhava-se um túnel de amoreiras a que tantas vezes trepara,em larga companhia,à cata de folhas,mas também de mel,em que se desentranhavam os frutos. Já lhe chegava ali o cheiro do Tejo. Para o atravessar,esperava-o a comprida ponte,uma fonte de sobressaltos. É que não se estava livre de alguma inesperada passagem de toiros. Mas lá se encontravam,de onde em onde,uns resguardos para tranquilizar. No termo dela,podia dessedentar-se. A água era salobra,mas em dias de canícula não se enjeitava.
Faltava só uma encosta íngreme,por onde se chegava mais depressa ao destino. E fazia como tinham feito tantos,como os conquistadores do passado. Servia-se dum carreiro,talvez desses perdidos tempos,uma vereda estreita que teria muito para contar.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

CAN CLIMATE FEEL THE PRESSURE?

Climate

EARTHQUAKES INDUCED BY FLUID INJECTIONS

Eaethquakes

TOMORROW'S TABLE

Table

UM CANDELABRO

Estava chovendo. Era isso motivo de alegrias sem conta. É que há muito tempo já a água vinda lá do céu não dava um ar da sua especialísssima graça.
Estava chovendo e era de noite. Quem,naquele lugar,um lugar como outro qualquer,por isso mesmo,um digno representante de todos os lugares que a chuva estava contemplando,melhor manifestava o contentamento que em todos ia? Não havia a dúvida mínima de que era o rícino que se lembrara de vir habitar uma nesga de empedrado que havia por ali,meio escondido.
As suas numerosas e largas folhas molhadas reflectiam a luz de um timido candieiro com tal intensidade que parecia o rícino um candelabro de milhares de lâmpadas.

AREIAS MOVEDIÇAS

Oh senhor José dê aqui uma ajuda. O senhor José acudiu logo,estendendo o cabo da enxada. É que o outro estava em riscos de se sumir naquele chão arenoso,como que sugado. Entrara despreocupado na vinha,que por ali fora se espraiava,e de repente,ali vão as pernas por ali abaixo.
Como é que se iria pensar numa coisa daquelas,se a plantação tinha largos anos? Parecia estar-se em areias movediças. Talvez as chuvadas de dias atrás fossem a causa do que se passara. Uma surriba a grande profundidade,quando da instalação, também poderia ter colaborado. Não apareceu por ali quem o confirmasse.
Pouco tempo decorrido, houve repetição ,mas em local bem afastado do anterior. Tratava-se de terreno também ligeiro,alqueivado por ferro de abrir valas. Mais fundo não pudera ir porque estava lá a rocha a não deixar. Chuva de alagar também andara por ali. Não seria muito recomendável aquele sítio,mas não havia outro para o substituir. Nesta altura,foi o senhor Joaquim o salvador.
Não há duas sem três,como se costuma dizer. Assim,com areias movediças,não houve,mas não faltaram imitaçõe, demasiadas até. Ossos do ofício. Mas quem os não tem, se ofício tiver?

DO MESMO OFÍCIO

Não se sabe como tinha sucedido antes,mas naquela altura,era bem visível que faziam tudo para não se encontrarem,e,quando assim calhava,por ter de ser,ignoravam-se ostensivamente. Seria isto por se tratar de oficiais do mesmo ofício. Um,era um gigante,o outro,um delgadinho.O gigante,mal rompia o dia,saía da sua toca para repetir o peregrinar de sempre pelas ruas mais frequentadas lá da vila,em andanças de ida e volta,de passadas largas,pesadas. Parava aqui e ali,mas não se demorava,pois tinha mais que fazer.Como gostava muito de viajar e de fumar,mas não podia fazê-lo à sua custa,alguém tinha de colaborar. Para isso,contava com os visitantes,por os da terra já terem desistido de lhe sustentar os gostos. Era ele que fixava as quantias,de acordo com o seu destino. Para as viagens,retorno incluído,eram três euros,para um maço de tabaco,contentava-se com menos.De vez em quando,ia até à biblioteca,demorando-se lá uns curtos momentos na secção infantil. Os miúdos não o receavam,pois ele não fazia mal a uma mosca. Os visitantes é que não sabiam,o que lhe facilitava a vida.O delgadinho era também madrugador,andarilho e amigo de abordagens de estranhos,porque com os outros não valia a pena. Avançava para eles como uma seta,para um vigoroso aperto de mão. Qualquer moedita o satisfazia. A biblioteca não o interessava,fugindo dela a sete pés.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

THE RISE OF AFRICA'S SUPER VEGETABLES

Africa

THE COST OF NATIVE AND GM COTTON CROPS

GM cotton crops

TOUGH TARGETS

Climate accord

UMA TENTAÇÃO

Era um minúsculo baldio a prazo. Água era quanta se quisesse,de graça. O sol também não apresentaria conta. Seria uma falta imperdoável se esta riqueza não fosse aproveitada como devia ser.
E assim,lá nasceu mais uma horta e lá viveu enquanto deixaram,enquanto outros valores mais altos não se impuseram. Seria a horta pouco mais de uma dezena de pés de uma cultura estranha,para o sítio. As folhas eram gigantes,em forma de coração. O criador dela mal se via entre aqueles biombos.
Além de lhe matar algumas saudades lá da terra de onde viera,encontrava ali importante ajuda para viver. E quem atendesse aos elogios que ele tecia sobre as muitas qualidades do fruto daquela horta,não quereria outra coisa.
Passaria ali horas e até lá pernoitaria,que aquilo era uma tentação. Não se sabe,aproveitando um descuido,se a horta foi invadida. O que se sabe é que ela já lá não mora. É que outros valores acabaram por,de facto,se impor.

UM PAU MANDADO

O homem andava encantado. Era como se estivesse a viver nas suas sete quintas,o supremo deleite. É que estava a ter a confiança do patrão. Patrão é um modo de dizer,mas para o que é serve muito bem.
Dava-lhe a fazer uns biscates,pagava-lhe uns jantares,convidava-o a ir lá a casa,tinha com ele umas certas intimidades. Era assim quase como um tu cá,tu lá.
Era isto suficiente para ele se sentir participando na sua abundância,das suas aspirações. Nem via que não passava de um pau mandado. Para isto contribuía fortemente o ele ter estado sempre na mó de baixo,apanhando deste e daquele. Agora não sucedia assim, no seu entender,agora era coisa bem diferente. Se ele,até,a cada passo, lhe telefonava,tornado em seu homem de mão.
Andava,naquela altura,colaborando na concretização de um velho sonho do mandante. A coisa brevemente teria o seu termo,mas o mandante haveria de sempre se lembrar de quem com ele privara em tão querido momento.
E isto trazia-o nas nuvens,alheado de si. Era ,naquela altura ,um outro,precisamente aquele que
o estava utilizando.

NATUREZAS VIVAS

Vinte e cinco anos a viver em Paris e nem uma só vez fora espreitar o Louvre lá por dentro. Tivera ele muito mais que fazer. Que lhe adiantaria ter dado esse passo? Seria um passo perdido,e ele não podia perder um sequer.
Dera muito bem conta do recado,sem ele e outros da mesma laia. Criara cinco filhos,todos bem encarreirados. E ainda sobejara para meia dúzia de prédios,que se podiam ver,dois,até,em Paris.
Lançara-se em boa hora à aventura. Moirejando dia e noie,que a maré é para aproveitar,não enjeitando qualquer serviço,acabou por chegar a mestre de obras. Nem os fins de semana escapavam.
Não havia tempo a perder. Só o indispensável,para comer e dormir. Mesmo ali a dois passos,havia coisas para visitar,que ele bem as via,mas ficaria para depois. Não iriam sumir-se.
Tinha mais em que se entreter,como cuidar do estômago e da roupa. Até arranjou um canto para plantar umas couves. Era,afinal,o seu Louvre,cheio de naturezas vivas. Ajudara-o a matar saudades da santa terrinha e a fome.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

CARBON CAPTURE JOURNAL

Carbon capture

AGROCHEMICAL CONTROL OF PLANT WATER USE USING ENGINEERED ABSCISIC ACID RECEPTORS

Drought tolerance

SCIENTISTS REPROGRAM PLANTS FOR DROUGHT TOLERANCE

Drought tolerance

COM INTENÇÕES

Ela teria uns quarenta anos. Então,está bom? Há muito tempo que o não via. Desgostou-se do médico? Era pessoa que lhe parecia nunca ter encontrado. Devia estar a confundi-lo com outro,era o mais certo. Não era caso invulgar. Havia ali,porém,qualquer coisa que o pusera alerta.
De onde é que a senhora me conhece?,assim a modos de ver o que ela pretenderia. É lá da clínica onde você costumava ir. Não me está a reconhecer? Estou assim tão mudada? Olhe que conversámos muitas vezes.
O senhor até engraçava muito comigo. Não se lembra? E eu que gostava tanto de falar consigo. É que me fazia muitos elogios. Que não havia outra como eu. Veja lá que até cheguei a pensar que você estava com intenções.
Ela tinha na mão um cigarro que acabara de acender. Olhe que o tabaco mata. Deitou logo o cigarro para o chão,talvez para ele ver que lhe seria obediente.
Desculpe,mas não posso estar mais tempo,tenho ali a velhota à espera.

GIGANTE AGRADECIDO

Coitado do homenzinho,coitado do pobre vendedor ambulante. Não havia cão nem gato que o não injuriasse,às vezes maltratando-o e até roubando-o. Mas, um dia,tudo mudou. Ai daquele que lhe tocasse ,que teria à perna um gigante,que ele,em boa hora,socorrera. Era um gigante que trazia toda a gente lá da terra em pânico,mas certa vez bebeu demais e foi um ver de te avias. Ficou numa lástima,feito num trapo,quase morto. Pois foi o vendedor de rua,aquele pobre diabo,que dele se abeirou,servindo de bom samaritano. O gigante era agradecido. E,logo que recuperou,arvorou-se em protetor do seu anjo da guarda. Este passou a pavonear-se lá na terra ,vingando-se dos maus tratos que lhe tinham infligido durante anos,certo de que a sua vida radicalmente mudara.

OS SIMPLES

Que aventuras podem acontecer a um simples,quando é apanhado pelas malhas apertadas de uma guerra. Depois de várias peripécias,algumas quase inacreditáveis,é feito prisioneiro e integrado numa numerosa leva de irmãos na desgraça. Vão ter sobre os seus pobres corpos,em particular braços e pernas,a pesada tarefa de abrir uma vala. Parecia uma vala de rega ou de enxugo,tanto faz. O esforço é penoso,mas não podem reclamar,que os guardas não estão ali para brincadeiras. De resto,se a obra se atrasar,as responsabilidades serão divididas por todos,mas mais por uns,é facil de adivinhar.
Os dias ali passados dão para muita coisa. Cansar,recordar a família,sem saber se está viva,pensar na miséria da vida,em como,de repente,um simplório ,que não fizera mal a ninguém ,se vê metido em tantos trabalhos e disparates,e também a habituar-se e até a orgulhar-se,veja-se lá.
A vala era larga,profunda,extensa. Lá de cima,os olhos perdiam-se no horizonte e a vala lá ia ter também. Que grande obra,sim senhor. Lá na minha aldeia,uma coisa destas dava um jeitão ,se viesse cheia de água,pois as terras agradecem serem molhadas, quando as sementeiras se estão a perder. Talvez eu aqui viesse aprender.
A minha mulher devia ficar satisfeita se isto visse,pois uma parte desta grande obra a mim se deve. Quando esta maldita guerra terminar,hei-de cá trazê-la. Ela olhará para mim e encher-se-á de orgulho.
Quase valera a pena tanta servidão. São assim os simples. Conseguem transformar o mal em bem.Mereciam,não resta dúvida,outro tratamento.

terça-feira, 9 de junho de 2015

TEMPLO DE DIANA,ÉVORA - PORTUGAL

Templo de Diana

TORRE DE CENTUM CELLAS,BELMONTE - PORTUGAL

Centim Cellas

CASTELO DE ALMOUROL,VILA NOVA DA BARQUINHA - PORTUGAL

Castelo de Almourol

UMA AJUDA

A velhota estava admirada. Como fala bem este senhor,que coisas bonitas ele está dizendo. É assim mesmo. Só assim é que o mundo se endireitaria. Que cada um visse num outro,qualquer que ele fosse,um irmão seu,e seria remédio santo,remédio para todo o sempre. Acabariam as mãos estendidas,as barrigas a dar horas tempos infindos. O senhor parecia um coração aberto,uns bolsos largos. Seria capaz de uma capa dar,se duas tivesse,seria capaz até de dar as duas. É assim mesmo,repetia a velhota.Tem toda a razão. O senhor lá foi à sua vida,vida de homem bem falante. Não andou muito. Meia dúzia de metros vencidos,quem é que o havia de abordar? Nem de propósito. Precisamente um pobre,um pobre daqueles que sempre o tinha sido,um pobre quase a despedir-se. Uma tosca muleta amparava-o. Queria uma ajuda,precisava muito dela. Então,de onde é que veio? Da ilha do Fogo. E uma moeda mudou de bolso. Uma moeda pequenina.

MANHÃ DE CIRCO

Lá estava ela com os seus inseparáveis sacos. São as suas malas,malas de senhora muito moderna,muito avançada. Ainda havia de ditar a moda,quem sabe?
Tinha na sua frente as tendas de dois grandes circos. O Natal estava quase à porta. Estaria sonhando,estaria recuando aos seus perdidos tempos,de quando teria sido uma menina feliz.
Ainda guardava desses belos tempos uns certos restos. Eram bem visíveis na sua compostura,algo cerimoniosa. As prendas que ela teria recebido. Uma ou outra vez, tê-la-iam levado ao circo,para ver os palhaços,os leões,os trapezistas,os elefantes.
Seria para melhor os rever que ela estaria ali. O tempo estava chuvoso,mas ela resistia. Havia de passar tudo em revista,com aquele bem vivo estímulo,ali mesmo a dois passos.
Fora uma pena não ter trazido resguardo capaz. Ficaria ali até ao fim da sessão. Ainda demorou mais una minutos,como que a despedir-se. Depois,aproveitando um intervalo,foi-se embora.
Os circos ainda ali iam permanecer mais umas semanas,pois estava-se nos começos de Dezembro. Teria muitas ocasiões para rever o espetáculo todo.

POSTIÇO

Olhava para aquelas veigas,para aqueles campos de milho,para aqueles prados pontuados de vacas e de carneiros,para aquelas ramadas,para aquelas casas,para aquelas gentes. Apaziguavam,mas não extasiavam. E era assim,em êxtase,que deviam ser contemplados,como os tinham contemplado pintores,romancistas e poetas.
Os quadros lá estavam,mas um não sei quê de postiço os envolvia. Os rios corriam mansamente,os campos rescendiam,os pássaros orquestravam. Mas as gentes,oh as gentes,tinham-se urbanizado. De muito pouco valiam romarias,ranchos folclóricos,evocações.
Grande parte do passado fora-se irremediavelmente. A Miquelina divergia um quase nada do Conselheiro. As margens do Lima faziam lembrar as do Tejo. A estrada da Apúlia parecia a do Guincho.
Para o reaver,esse passado perdido,só recorrendo ao registo certo. Ou então,mais pobremente,simular,à maneira de Lisboa em Camisa.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

CASTROS EM PORTUGAL

Castros

SALINAS DE AVEIRO - PORTUGAL

Salinas

SALINAS DE RIO MAIOR - PORTUGAL

Salinas

PALHAÇOS EM CIRCO

Macacos sem vergonha,emploleirados lá no topo das palmeiras altas. Aquilo eram pançadas e mais pançadas de dendém gostoso. À aproximação de gente,ora se escondiam por detrás das folhas largas,ora deitavam,descaradamente,as cabecitas de fora,em jeito de provocação,sem castigo.
É que eles sabiam,se calhar por terem ouvido,sabe-se lá,que havia ordens para não os molestarem. Reinava ali uma quase fraterna disposição,a de que aquela riqueza dava bem para todos. Não constou que alguém se atrevesse a infringi-la. De resto,podiam eles considerar-se como palhaços em circo. Pelo seu desempenho,mereciam bem aquilo que comiam.

UMA VISITA À POLÍCIA

Foram seis longos meses em Newcastle Upon Tyne,condado de Northumberland,Reino Unido,mais pròpriamente,no Departamento de Solos,da Escola de Agricultura,da Universidade.
Foram seis estirados meses,numa cidade onde o Consul Eça de Queirós passara cerca de quatro anos,numa cidade "penetrada dum frio húmido",de que ele deu conta numa carta ao seu "querido Ramalho".
Foram seis dilatados meses,das nove às cinco,num laboratório,a procurar saber mais coisas sobre o potássio dos solos,na perspetiva das plantas,em que se incluíram períodos largos num gabinete de constante temperatura,que esta,como se sabe,é fator importante.
Foram seis valiosos meses,que quase não estiveram para acontecer,por via de um zeloso funcionário de alfândega,nada disposto a deixar um qualquer ir viver à custa do erário público,mas que lá acabou,mercê duma carta,por abrir a porta, com a séria advertência de uma visita à polícia,mal lá chegasse.

PERIGOSO CLANDESTINO

Vinha só por uns meses e não estava usando uma via ilegal. Utilizava um avião da carreira e não um particular,e muito menos um qualquer processo a salto. Em bicha ordeira,lá se apresentou,com o passaporte na mão,ao porteiro. Devia estar o senhor com uma enorme vontade de conversar e aproveitou aquele intruso. O interrogatório parecia não ter fim. Queria saber,sobretudo,onde ele se alojaria,se trazia os bolsos com muitas libras,pois Sua Majestade a Rainha não estava nada disposta a manter vadios. Foram dadas explicações,mas o senhor não havia meio de se dar por satisfeito. Esteve o caso mal parado. A certa altura,deu mesmo a entender que estava disposto a não o deixar entrar.
Não sabendo mais o que mostrar,lá se lembrou de uma carta,que se julgava sem importância. Não se sabe o que é que o homem encontrou nela para mudar de disposição. Ainda bem,porque ali à volta já o olhavam ,desconfiados,julgando,talvez,ser ele um perigoso clandestino.
Finalmente,lá viu a porta aberta,mas com uma advertência. Logo que se instale,apresente-se à polícia. Foi o que fez,não fosse o diabo tecê-las. Mas esta desagradável experiência serviu-lhe para ele imaginar o que se deve passar por essas muitas fronteiras do mundo.

domingo, 7 de junho de 2015

CAIS DA RIBEIRA - PORTO

Cais da Ribeira

CHÃS D'ÉGUA,ARGANIL - PORTUGAL

Chãs d'Égua

PALÁCIO DE MONSERRATE - SINTRA

Palácio de Monserrate

APARIÇÃO

Andava o menino passeando no jardim,que a manhã estava para isso,sentado num carrinho conduzido pelos avós. Jardim é um modo de dizer,pois quase não vai além de uma estreita tira relvada. Mas é o melhor que há por ali.
O menino estava encantado com as flores,com os passarinhos,com o laguinho,onde meia dúzia de peixes vermelhos fazem pela vida. De repente,como numa aparição,entraram mais dois atores no palco. Nem mais,nem menos,um cavalo com o seu cavaleiro,a trote ligeiro. Assim chegaram,assim foram,vindo não sa sabia de onde.
Não se tratava de arauto de um circo que ali perto estivesse. De resto,o cavaleiro tinha assim o aspeto de alguém com coudelaria,muito bem paramentado,como para uma parada ou coisa parecida. A descontração do cavaleiro indicava,até,que ele andaria em terreno seu. Estaria aquele espaço destinado a outra função?
Como quer que seja,o menino divertiu-se muito,ao contrário dos avós,que entraram em pânico,o que não era para menos. É que a montada quase roçou o carrinho,de tão apertada a vereda é. Era de júbilo a sua carita,e ,enquanto os pôde ver,cavalo e cavaleiro,a sua mãozita não se cansou de os apontar.

UM CAVALO BEM EDUCADO

Se a senhora podia levar o seu cãozinho a dar um passeio higiénico naquele jardim,porque não poderia levar o seu cavalo? Não se sabe se ela assim pensou,o que se sabe,porque se viu,é que ela o levou lá.
Não é aquele jardim um qualquer jardim. Trata-se,antes,de uma espécie de sala de visitas de uma histórica urbe,rodeada de históricos monumentos. Um jardim cheio de flores,de sebes,de tapetes de relva,onde não se poupa água. É ele,pois,uma rica mesa para certos dentes,como os de um cavalo,tanto mais que os arruamentos por onde este circulava lhe chegavam a comida à boca.
Um cavalo em tal jardim era caso para causar espanto a muita gente,incluindo os turistas,que, naquela linda manhã, o enxameavam,e também os jardineiros.
Para além do espanto,não seria de estranhar que,pelo menos,os jardineiros se tivessem preocupado e,até,manifestado. Mas não,só se espantaram,como,aliás,se espantaram todos os que por ali andavam. Apenas um dos jardineiros torceu um pouco o nariz,por ter pensado,talvez, que o lindo animal podia lembrar-se de fazer ali as suas necessidades e seria mais um trabalho.
A senhora,dona, ou tratadora,não se sabe,era uma senhora muito bem composta,de capa traçada. E o cavalo,pode dizer-se,uma estampa. Teria tido bom passadio,pois não se lhe via uma costela. Eram tudo curvas. Teria também comido bem antes de ir para ali passear. Talvez por isso ou por ser um cavalo bem educado,apenas se limitou a abocar uma erva mais alta,que estava enodoando um canteiro. E mesmo esta não passou da porta ,talvez por a ter achado demasiado grosseira.
Desta vez,não houve estragos a lamentar. Mas é de temer pelo futuro do jardim,se a moda pegar e os jardineiros mantiverem a passividade tão claramente mostrada naquela aprazível manhã. É que com jardins e manhãs assim, não haverá muitos cavalos que resistam.

APREENSIVA E APAVORADA

O menino estava a dormir no colo da mãe. A tristeza dela,de olhar baixo,como que envergonhada. De quê? O seu menino era tão bonito. Seria por estar pobremente vestida,seria por ter o cabelo despenteado,seria por o seu rosto,ainda muito jovem,trazer já sinais de velhice?
Merecia melhor sorte o seu menino. Que seria dele? Aconchegara-o. Isso ainda podia fazer. Mas por quanto tempo?
O seu menino começara mal e era capaz de acabar pior. Se tivesse nascido homem,ele que se arranjasse. Mas era tão pequenino,tão frágil,tão sem defesa. Sabia protestar,mas seria quase sempre por ter fome de leite. Não conhecia ainda outras fomes. Se as conhecesse e soubesse que,muito provavelmente,não as satisfaria,que protestos não haveria de fazer? Teria de começar a resignar-se bem cedo,para mais tarde menos lhe custar.
Muitas lágrima,caladas ou barulhentas,ele iria verter. Ele e muitos meninos como ele. É que as fomes não cessam de aumentar,pois as necessidades multiplicam-se. Necessidades velhas e novas. Esperam-nos estas a cada esquina,como que agredindo-os.
Deveria ter estado a pensar em tudo isto e estaria apreensiva,apavorada. De repente,levantou-se e fugiu dali.

sábado, 6 de junho de 2015

AZULEJOS - AVEIRO,PORTUGAL

Tiles

GRUTAS DE MIRA DE AIRE - PORTUGAL

Mira de Aire caves

OS PESCADORES - RAUL BRANDÃO

Raul Brandão

OUTROS VOOS

Baixo,ativo,inteligente,olhos muito verdes. Ainda andou até ao terceiro ano do curso. O pior estava passado,mas aquela visita da irmã,a viver lá no outro lado do mar,foi uma tentação,não do diabo,mas do seu anjo da guarda.
O que estou eu para aqui a fazer?,depois de se inteirar do estado da carteira da irmã. E,quando a visita terminou,lá foram os dois. Não resistira ao apelo da árvore das patacas.
Ainda mal acabara de chegar,uma rica árvore veio ter com ele. Bastava agitá-la,que ela não se cansava de dar fruto,de fácil desprendimento. Não estava milionário,mas por aquele caminhar chegaria lá mais cedo do que ele alguma vez sonhara. Faltava,ali,para compor o ramalhete,uma companheira. Olhou à roda e não gostou do que viu.
E se eu fosse lá à santa terrinha? Não é tarde ,nem é cedo,parto já amanhã. A coisa foi rápida,que tempo é dinheiro. E num instante estava casado. Foram mais uns anos a acumular. Mas uma ideia passou a persegui-lo. Aquele curso fora interrompido. Era uma pena ter ficado assim. E se eu fosse lá acabá-lo? Veio e ficou engenheiro.
Ainda se empregou,mas por muito pouco tempo. Fora aquilo só para mostrar,a si,e,talvez a outros,que era capaz de outos voos.

NÃO VOU POR AÍ

Davam-se,apsar de idades um tanto afastadas,e das ocupações. Um,andava no liceu,o outro, era dono de uma loja. O ponto de cruzamento residia no gosto pelos romances.
O lojista lia muito,mastigando lentamente os enredos,de modo a não perder o mínimo fio das meadas. Pode dizer-se que os vivia,quase como fazendo parte deles,metendo-se na pele de uma ou outra personagem. Não se limitava a seguir as narrações. Raciocinava,criticava,opinava. Era isto estimulante,pois havia divergências,uma delas do tamanho de uma crença. Todos os sábados, fazia uma visita muito especial. Era metódico. A certa hora,avisava e convidava,sabendo,de antemão,a resposta. Não vou por aí,à maneira de Jose Régio. Discreto,não avançava comentários,ao contrário de muitos,que se desdobravam em argumentos e pormenores.

UM NOVO DIA

Andavam por ali muitas gaivotas,longe do mar,com tempo primaveril. Gostariam de águas com menos sal e daquela avenida ampla,um rio de dois países. Dando largas às suas energias,retemperadas pelo descanso da noite,era vê-las nas suas deambulações frenéticas,de lá para cá e de cá para lá,como numa brincadeira de crianças. Por vezes,fazia uma neblina,mas isso parecia não as perturbar. Davam mostras de serem imparciais,voando sensivelmente a meio da corrente. Não se sabe em que banda dormiriam,mas,pelo menos,naquelas evoluções matutinas mantinham uma certa equidistância. Havia outros navegantes naqueles ares,mas eram as gaivotas que dominavam. Parecia,às vezes,desistirem do vaivém lúdico,mas lá recomeçavam com redobrada determinação. Talvez fossem outras,entretendo-se a invadir espaço alheios. De qualquer maneira,aquilo seria também o seu contributo para festejar o começo de um novo dia.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

JARDIM BOTÂNICO DA AJUDA - LISBOA

Jardim Botânico da Ajuda

CENTRO DE ARTE MODERNA - FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Centro de Arte Moderna

PAULA REGO - PORTUGUESE PAINTER

Paula Rego

PROTESTOS

Com boa vontade,pode dizer-se que aquilo é um jardim. Há relva,há algumas árvores,há canteiros com flores,há meia dúzia de bancos,há três laguinhos. Mas, verdadeiramente,aquilo não é mais de que um caminho,de margens estreitas ajardinadas. Foi o que se pôde arranjar e muita sorte alguns velhos têm. É que,por ali,não existe melhor local para desenferrujar as velhas pernas,ouvindo as tagarelices dos pássaros,que,raramente,altercam muito.
Mas há dias,muito cedo,parecia ter acontecido coisa extraodinária. O chilrear era de ensurdecer. E isto em qualquer ponto das ajardinadas tiras. Parecia uma concentração. Teriam vindo de muitos outros lugares,talvez,até,de alguns distantes.
É que não havia uma árvore que tivesse escapado. O concerto era mais sonoro nas de folha persistente,de melhor proteção,que o tempo não ajudava,mas essas contam-se pelos dedos. Assim,as outras,as de folha caduca,também estavam guarnecidas,talvez com os que se tinham atrasado.
A que se teria devido uma coisa daquelas?,nunca vista,ou ouvida,mais corretamente,pelo menos,por ali. Alguém avançou uma explicação. Deviam ter querido dar o seu humilde contributo ao concerto de protestos que estava ocorrendo,da banda dos homens. Estariam ali a manifestar-se à sua maneira,simplesmente. Como quer que tivesse sido,o certo é que, à tarde ,voltara tudo à normalidade,como se nada de estranho tivesse sucedido. A maioria tinha regressado aos seus lugares costumados.

UMA FONTE DE PALAVRAS

De um lado,era terra de ninguém,do outro,era a rua,mais pomposamente,a avenida. A meio,estava o que por ali se chamava a alameda,uma pequena,ou grande floresta, para quem ela olhasse.
Tinha duas serventias esse arvoredo público. Junto à estrada,era logradoiro de crianças, nas suas brincadeiras intermináveis,lá para o interior,era palco de coisa mais séria,não sempre,mas repetidamente.
Era para lá que ia o Bernardo. O que ele,por entre as árvores,andava,para lá,para cá,gesticulando,falando de alto,como numa ágora,talvez para ser ouvido pelos pássaros,quem sabe?
Entender-se-ia com eles,que o Bernardo sabia muita coisa. Não se cansava naquele vaivém lúdico, continuado,teimoso,que de palavras ele muito gostava,quase que para elas vivendo. Era ele uma fonte de palavras,uma torrente de palavras,palavras dele,muito dele.

A ÁGORA

A senhora valia mais,muito mais,do que pesava. Já não era nova,mas estava ali cheia de vigor. Baixa,atarracada,de trunfa loira. Vinha toda revestida de cabedal negro ou coisa parecida e trazia um saco, negro também,de cabedal ou coisa a imitar.
Muito ela sabia de passes e de senhas. Um livro bem aberto. Quem recebia a lição,mal tinha tempo de pôr as suas dúvidas.Alguém,ali perto,admirado de tanto saber,não resistiu. A senhora estava mesmo bem para advogada ou deputada.O que ele foi dizer. A conversa já chegou à casa de banho? Ficou-lhe de emenda. Bico calado,pois,não fossem sair mais flores daquela boca. A dada altura,aquela de advogada ou deputada,que ficara armazenada,veio ao de cima. Deputada. Farta de exploradores estou eu,e outras no género. Um mimo.
Mas o que são as coisas. A senhora e esse alguém acabaram por sair na mesma paragem. Foi isto motivo para uma perseguição discreta. Tendo perdido,queria ver se recuperava uma parte.
A senhora dirigiu-se a uma estação de correios para um telefonema e ali se demorou uns largos minutos na função. De lá saída,passou rente ao perseguidor de ocasião,de telemóvel engatilhado. Ainda bem que você está em casa. Não se ouviu mais nada,mas continuou-se a ver o telemóvel a fazer o seu trabalho.
Para onde iria ela? Pois assentou arraiais num banco de jardim,um jardim muito especial,com um relvado de campo de futebol. Poisou o saco e veio atuar naquele largo espaço,naquela ágora,bem à medida dos seus dotes. Ali permaneceu,sempre movendo-se,para a frente,para trás,para os lados. O braço livre não parava de se agitar,para o alto,em círculo,para baixo. Esteve nisto,pelo menos,meia hora,que foi o tempo de que o perseguidor dispôs,por se estar fazendo tarde.
O perseguidor está convencido de que ela foi estimulada pelo elogio que lhe fizera,aliás,assim considerado por testemunhas,e que ela,aparentemente,não aceitara. Deve ter querido mostrar,talvez a ela,que ele,afinal,não exagerara.