Se a senhora podia levar o seu cãozinho a dar um passeio higiénico naquele jardim,porque não poderia levar o seu cavalo? Não se sabe se ela assim pensou,o que se sabe,porque se viu,é que ela o levou lá.
Não é aquele jardim um qualquer jardim. Trata-se,antes,de uma espécie de sala de visitas de uma histórica urbe,rodeada de históricos monumentos. Um jardim cheio de flores,de sebes,de tapetes de relva,onde não se poupa água. É ele,pois,uma rica mesa para certos dentes,como os de um cavalo,tanto mais que os arruamentos por onde este circulava lhe chegavam a comida à boca.
Um cavalo em tal jardim era caso para causar espanto a muita gente,incluindo os turistas,que, naquela linda manhã, o enxameavam,e também os jardineiros.
Para além do espanto,não seria de estranhar que,pelo menos,os jardineiros se tivessem preocupado e,até,manifestado. Mas não,só se espantaram,como,aliás,se espantaram todos os que por ali andavam. Apenas um dos jardineiros torceu um pouco o nariz,por ter pensado,talvez, que o lindo animal podia lembrar-se de fazer ali as suas necessidades e seria mais um trabalho.
A senhora,dona, ou tratadora,não se sabe,era uma senhora muito bem composta,de capa traçada. E o cavalo,pode dizer-se,uma estampa. Teria tido bom passadio,pois não se lhe via uma costela. Eram tudo curvas. Teria também comido bem antes de ir para ali passear. Talvez por isso ou por ser um cavalo bem educado,apenas se limitou a abocar uma erva mais alta,que estava enodoando um canteiro. E mesmo esta não passou da porta ,talvez por a ter achado demasiado grosseira.
Desta vez,não houve estragos a lamentar. Mas é de temer pelo futuro do jardim,se a moda pegar e os jardineiros mantiverem a passividade tão claramente mostrada naquela aprazível manhã. É que com jardins e manhãs assim, não haverá muitos cavalos que resistam.
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