quinta-feira, 18 de junho de 2015

O HOMEM DAS CAVERNAS

Era o nome que o distinguia,até entre os muitos outros que quase o imitavam. É que ele,muito raramente,saía lá do seu buraco,uma das galerias do metropolitano de grande urbe. Corria mundo o seu nome e o que isso significava,e crescia a curiosidade de saber o porquê da sua decisão.Certo dia,ou melhor,certa noite,por sinal uma noite quente de verão,em que apetece sair de casa e andar por aí a apanhar o fresquinho,um jornalista resolveu entrevistá-lo. Coitado,o que ele teve de andar,lá por baixo do chão, para o encontrar. Mas foi compensado,pois o homem das cavernas estava em maré de deitar tudo cá para fora.Então,o que o levou a escolher esta morada? A resposta foi rápida,e espanto dos espantos, dita como se ele fosse um doutor. Uma resposta franca,cheia de correção,de um intelectual,pode dizer-se. O homem das cavernas não parecia nada tonto,foi a conclusão a que o jornalista chegou.E o que ele respondeu pode ser concentrado em meia dúzia de palavras. De resto,as muitas palavras servem,quase sempre,para confundir. E foi o seguinte. Sabe,não suportei mais aquele viver. Aquilo é de vomitar. Pois passem por lá muito bem,muito mal,que é asssim mesmo,e deixem-me aqui sossegado,que eu cá me arranjarei. Daqui não saio. E se me quiserem tirar daqui só à força. Mas não desistirei,disso podem estar certos. Hei-de arranjar um buraco noutro sítio ou então cavarei um muito meu,em qualquer lugar,nem que seja no fim do mundo. Voltar lá para cima é que nunca mais.

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