quarta-feira, 24 de junho de 2015

DA CABEÇA AOS PÉS

Ia ali o homem muito preocupado. Não era para menos. Como é que se teria comportado, naquela medonha noite, a sua querida amendoeira? Fizera um vendaval dos diabos e o resultado estava bem à vista. O caminho encontrava-se juncado de folhas e de raminhos. A primavera ainda mal começara e a vegetação não ganhara vigor para altos feitos.Era esta amendoeira a única que restava de uma meia dúzia que em tempos ali fizera pela vida. Tinham ido desaparecendo a pouco e pouco,umas por doença,outras por capricho dos jardineiros. Enamorara-se dela e,sempre que por ela passava,gostava de a observar com detença,da cabeça aos pés.Teria ela suportado aquelas violentas vergastadas? Pois teve uma grande alegria. Estava ali sã que nem um pêro. Apenas uma ou outra folhinha voara. Ainda que para ali sozinha,soubera resistir à dura intempérie. Deve-lhe ter dado muito trabalho e muitas ralações,pois,naquele ano,os ramos quase que vergavam,a tanta novidade. Dava gosto vê-los. Bem encostadas umas às outras,as amendoinhas lá conseguiram escapar de uma queda,que seria fatal. Talvez por isso,parecia ao homem ouvir por ali cantares de grande vitória.

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