O menino estava a dormir no colo da mãe. A tristeza dela,de olhar baixo,como que envergonhada. De quê? O seu menino era tão bonito. Seria por estar pobremente vestida,seria por ter o cabelo despenteado,seria por o seu rosto,ainda muito jovem,trazer já sinais de velhice?
Merecia melhor sorte o seu menino. Que seria dele? Aconchegara-o. Isso ainda podia fazer. Mas por quanto tempo?
O seu menino começara mal e era capaz de acabar pior. Se tivesse nascido homem,ele que se arranjasse. Mas era tão pequenino,tão frágil,tão sem defesa. Sabia protestar,mas seria quase sempre por ter fome de leite. Não conhecia ainda outras fomes. Se as conhecesse e soubesse que,muito provavelmente,não as satisfaria,que protestos não haveria de fazer? Teria de começar a resignar-se bem cedo,para mais tarde menos lhe custar.
Muitas lágrima,caladas ou barulhentas,ele iria verter. Ele e muitos meninos como ele. É que as fomes não cessam de aumentar,pois as necessidades multiplicam-se. Necessidades velhas e novas. Esperam-nos estas a cada esquina,como que agredindo-os.
Deveria ter estado a pensar em tudo isto e estaria apreensiva,apavorada. De repente,levantou-se e fugiu dali.
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