terça-feira, 9 de junho de 2015

POSTIÇO

Olhava para aquelas veigas,para aqueles campos de milho,para aqueles prados pontuados de vacas e de carneiros,para aquelas ramadas,para aquelas casas,para aquelas gentes. Apaziguavam,mas não extasiavam. E era assim,em êxtase,que deviam ser contemplados,como os tinham contemplado pintores,romancistas e poetas.
Os quadros lá estavam,mas um não sei quê de postiço os envolvia. Os rios corriam mansamente,os campos rescendiam,os pássaros orquestravam. Mas as gentes,oh as gentes,tinham-se urbanizado. De muito pouco valiam romarias,ranchos folclóricos,evocações.
Grande parte do passado fora-se irremediavelmente. A Miquelina divergia um quase nada do Conselheiro. As margens do Lima faziam lembrar as do Tejo. A estrada da Apúlia parecia a do Guincho.
Para o reaver,esse passado perdido,só recorrendo ao registo certo. Ou então,mais pobremente,simular,à maneira de Lisboa em Camisa.

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