sexta-feira, 31 de julho de 2015

WELSPUN COMMISSIONS 52-MW SOLAR POWER PLANT IN INDIA

India

SCHENEIDER ELECTRIC AND SAFT PARTNER ON CORSICAN SOLAR-ENERGY STORAGE PROJECT

Corsican

PACE FINANCE OPENING DOORS FOR C&I SOLAR IN CALIFORNIA

California

NEM NUNCA

O que lhe fora dizer,pobre da senhora,que ela quereria esquecer o que ele lhe fora lembrar. Coisas sujeitas a acontecer quando se põem à conversa duas pessoas que não sabiam uma da outra.
Tinham tocado ao de leve em diferentes assuntos. Um muito sério. Elas começam,mas nunca se sabe quando acabam. Um centro cultural,um auditório,uma biblioteca,mesmo ali em frente,livros,autores.
E aqui,nos autores tropeçaram,ou,melhor,tropeçou ele. Um deles só fora perfilhado na véspera do seu casamento. O que ele foi dizer. No caso dela,nem na véspera,nem nunca. Naquele dia tão importante para ela,não tivera a presença do seu pai.
As lágrimas espreitaram,mas rapidamente recolheram. Não ficara ressentida,certamente,pois,à despedida,dissera que tinha tido muito gosto.

VOLTA AO MUNDO

O carro avariara. Fiquem aqui,que eu vou procurar quem nos acuda.
Aqui,era uma estrada de lá passar um,uma vez por outra. Já estava cansado,quando alguém lhe deu um número de telefone. Pode ser que atenda. Estava com sorte. São só uns minutos. Vá ter com a família.
Era um homem de uns cinquenta anos. Viera de táxi,o seu táxi. Já se vai ver. Viu e deu logo com a mazela. Fiquem aqui,que ainda hoje hão-de chegar a casa. É só ir à minha oficina. Veio e pôs o carro a andar. Como ficou agora,vai ter carro para fazer a volta ao mundo.
Era também um homem muito conversador,cheio de certezas,de convicções. Um ateu consumado,de grandes bigodes.
Então,quanto é? Lá disse quanto era. Mas isso não é nada,nem dá para a gasolina. E os gastos na oficina,e os clientes que perdeu? Contas eram contas e a dele era aquela,uma simples lembrança.

DE MÃOS DADAS

Calhara naquele dia mais uma visita. Uma visita prolongada,a compensar uma comprida ausência. Há que tempos não estavam juntos e que saudades já sentiam. O visitado até desesperara,pois estava para ali abandonado,sem um carinho. Era isso bem visível em todo o seu desleixado corpo,um corpo incapaz de se mover. A barba dera em crescer muito e por aquele andar ainda lhe chegaria aos pés. Quanto ao resto,nem vale a pena referi-lo. Uma lástima,uma ruína.
Do visitante,pouco há a dizer. Ainda se mexia,como claramente mostrava o estar ali. Mas aquele adiar da visita era prova evidente de que as coisas também não estavam famosas para ele. De resto,sabia que o amigo só podia esperar da sua parte compaixão. E isto era-lhe muito penoso,o que ajudava a explicar a larga separação.
Estavam os dois velhos,muito velhos mesmo. Parecia,até,um milagre o terem conseguido chegar tão longe. Talvez a causa estivesse na grande amizade que os ligava . Quereriam deixar este mundo juntos. E assim,um dia,quem sabe,uma voragem forte os enlace e os leve por esses espaços além,de mãos dadas.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

FORESTS : TREE RINGS TRACK CLIMATE TRADE-OFFS

Forests

NASA LAUNCHES MISSION TO GREENLAND

Greenland

TROPICAL PROTECTION

Palm-oil industry

A VIDA EM CAUSA

Como bem se sabe,sem água não se pode viver. Pois em certa terra,a água que lá usavam vinha de uma outra ao lado. Queria isto dizer,que a gente daquela terra andava sempre muito ralada,e com toda a razão. É que,um dia,sem aviso prévio,a água podia ser-lhes cortada. A tal terra ao lado era muito bem capaz disso, e de muito mais. O que seria dela então?
Tinha,assim,de se precaver,e quanto antes,que a terra ao lado não era de confiança. Não tomou ela as medidas necessárias,mas antes uma outra muito sua amiga. A intervenção foi rápida,que não havia tempo a perder,visto estar em causa a vida.

ÁGUA PESADA

Quando os dois se encontravam era quase certo um deles lembrar-se do que lhe tinha acontecido com um professor. Vê lá tu que estive em riscos de não passar só por não saber o que era água pesada. E hoje, já sabes? Não. E lá lhe era explicado,uma vez mais,que água era aquela.
Quer dizer,ele lembrava-se sempre de uma coisa acontecida muito lá para trás no tempo,que ele de todo esquecera,mas que,pelos vistos,o afetara muito,mas não havia meio de se lembrar de uma outra ocorrida quase na véspera.

MUDANÇAS NAS PAISAGENS

Decorrem apenas alguns anos,mas os suficientes,às vezes,para se darem grandes mudanças nas paisagens. Não é de admirar,pois,que não se veja num sítio o que muitos séculos antes lá esteve. Aconteceu isso,ou por obra da natureza,ou por obra do homem,ou por obra de ambos.
Oh patrão,olhe o que eu encontrei quando andava lá a lavrar. A aiveca tropeçou nisto,veja lá. E foi o começo do renascer de uma vila romana. Lá estavam as divisórias de muitos compartimentos,dos senhores e dos servidores,os recintos dos banhos e dos lazeres,as condutas de água. Não faltava,também,o lugar de culto,não muito afastado.
Não muito longe dali,sobre material de decomposição da rocha,pela humidade,pela ação de agentes biológicos vários,pelas variações de temperatura,depositara-se um manto de areia e de cascalho, de duas ou três dezenas de centímetros de espessura,naquela ocasião,sinal de que por ali tinha andado água a rodos,durante larga temporada,lá bastante para trás no tempo.E isso,muitos quilómetros para cá da linha de costa. Uma coisa destas,teria ocorrido muitíssimo antes da tal vila desaparecida.

ÁGUA NA BOCA

Ali,naquela modesta pensão de aldeia,não se passava fome,diga-se a verdade. A variedade é que não era o seu forte. Sopas de pão,por sinal um rico pão,vindo da padaria,mesmo ali ao lado,carne de porco,ovos,bacalhau,e pouco mais. É para fazer crescer água na boca. Pois é. O pior era a teimosia da ementa. Não havia outra. Verdes,o que era isso? Batatas,só quando o rei fazia anos. Para quê,se ovos não faltavam. Quer dizer,proteínas,em vez de hidratos de carbono. Mas ali,naqueles recuados tempos,e naquele buraco,para ali perdido,no fim do mundo,sabia-se lá dessas químicas,dessas modernices. O essencial era encher o vazio do que quer que fosse. De resto,sem,talvez,o saber, os tais hidratos estavam bem representados pelo rico pão. Não seria preciso outro. Que não se davam nada mal com tal regime,estava ali o médico para o confirmar. Se não se tivesse lembrado de fazer outra coisa,estava bem arranjado. Tinha a sala quase sempre às moscas. Há realmente estrangeiros muito exigentes.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CAPE DE VERD ISLANDS - CHARLES DARWIN

ST. JAGO-CAPE DE VERD ISLANDS.
JAN. 16TH, 1832.—The neighbourhood of Porto Praya, viewed from the sea, wears a desolate aspect. The volcanic fire of past ages, and the scorching heat of a tropical sun, have in most places rendered the soil sterile and unfit for vegetation. The country rises in successive steps of table land, interspersed with some truncate conical hills, and the horizon is bounded by an irregular chain of more lofty mountains. The scene, as beheld through the hazy atmosphere of this climate, is one of great interest; if, indeed, a person, fresh from the sea, and who has just walked, for the first time, in a grove of cocoa-nut trees, can be a judge of any thing but his own happiness. The island would generally be considered as very uninteresting; but to any one accustomed only to an English landscape, the novel...


From the Complete Work of Charles Darwin Online

ANTENNA MOLECULE DRIVES SOLAR HYDROGEN GENERATION

Energy source

TERCEIRO EMPREGO

Valia-lhe ser novo ainda. De manhã e à tarde,fazia pela vida num emprego,à noite,esgravatava noutro. Tinha de ser,pois havia lá em casa duas crianças sempre a pedir mais.
Andava,naquela tarde,muito ralado,pelo que teve de desabafar. Sabe,não esperava a notícia que dias antes recebera. Naquele ano,não iria ter o subsídio de férias numa das ocupações,aliás,a mais rendosa. Na outra,talvez viesse a receber,pelo menos,não tinham ainda dito nada em contrário.
Por este andar,estava a ver que era obrigado a procurar um terceiro emprego,pois as crianças não queriam saber de desgraças. O que lhe valia era ele ser pau para toda a obra,e estar ali ainda cheio de muito para dar.

A MAIOR FORTUNA DO MUNDO

O senhor era pai e tinha um filho deficiente profundo. A senhora era mãe e coubera-lhe igual sorte. Não seriam muito diferentes os seus sofrimentos,ao contrário do comportamento em público.
O senhor era um revoltado. Estava-lhe na cara e nos modos,apsar de tantos anos volvidos. Era ferida que sangrava sempre. Porque lhe havia de ter calhado a ele?,era o seu repetido queixume.
A senhora nem parecia estar passando por tal transe. Toda ela era comunicação,toda ela eram sorrisos. Resignara-se,não havia dúvida. Teria,talvez,compensações de vulto. É que parecia nadar em dinheiro. Às vezes,até o mostrava.
Era de crer que ao senhor,pelo que se tinha visto ao longo de anos,uma abundância assim pouco lhe adiantaria,ou nada. Nem que fosse,talvez,a maior fortuna do mundo.

GATO

Comera em diversos locais,ao sabor do nível da bolsa,na esperança de algum milagre,na fuga às intoxicações. Ainda sentia o travo do arroz e do feijão bolorentos,do óleo ultrarancificado,da manteiga feita de banha de porco,do peixe ardido,dos empadões misteriosos. Passara por pensões deste e daquele,por refeitórios,por cantinas. Estas,as de pior lembrança,especialmente a primeira. Acabara de desembarcar. Que saudades já dos cuidados da mamã. Nunca mais esquecera aquela dobrada com feijão,de presença tão repetida e de confeção tão requintada. Eram bem visíveis os buracos no feijão e o odor sugeria carne em adiantado estado de putrefação. O concessionário,com ar de prosperidade,deambulava,descontraído,a recolher os elogios. A segunda, ou terceira,já se não recorda bem,também deixara saudades. À sexta-feira,davam coelho. Devia ser gato.

MÃE EMIGRANTE

O menino,nos braços da mãe,olhava para a objetiva e talvez,também,para a câmara e a jornalista. Era um menino que começara mal. Um dos rins já se fora e o outro,se não lhe acudissem a tempo,teria o mesmo destino.
A mãe era uma emigrante. Tentara empregar-se,mas o filho atrapalhava-a. Uma creche ou uma ama vinham mesmo a calhar. Era bom de dizer,era. E o dinheiro onde estava?
Ela era uma moça bonita. Seria fácil obtê-lo,não havia dúvida alguma.Isto de haver homem e mulher é um sarilho,dos grandes,desde que o mundo é mundo. Coisas que dão que pensar a alguns velhos.
E o dinheiro? E aqui,dos seus olhos de jovem linda,jorraram lágrimas grossas,que se derramaram ali à volta,inundando tudo,câmara incluída.
Seria para ajudar,para que se encontrasse outro caminho,que a câmara ali estava,certamente. Pode ser que o tivesse conseguido,quem sabe? Tal feito,renderia para muito tempo,de modo a compensar tanto desastre que aquele ecrã tem produzido.

terça-feira, 28 de julho de 2015

CRISTÓVÃO COLOMBO - BIOGRAFIA

Cristóvão Colombo

ALBRECHT DURER'S RHINOCEROS,A DRAWING AND WOODCUT

Rhinoceros

O PROGRAMA

Deu-lhe para ali. À mesa não falava. Falem vocês,que eu tenho mais que fazer. É que ele cuidava muito da sua memória. Já a tinha boa,mas queria melhorá-la,pondo em ação um método que delineara. E desse método faziam parte as refeições. Para cada uma,trazia um tema para rememorar,um tema de história,de geografia,coisas assim. E lá se entretinha com ele,enquanto os outros conversavam. Fazia parte do programa um diário,e assim não se deitava enquanto não registasse o que lhe ficara do dia. Devia ser muito,pois levava bem uma hora a escrever.
Poderia alguém pensar que dali não viria nada de jeito,mas muito se enganaria. Sempre que dava conta em público dos seus trabalhos,depreendia-se que ele não tinha estado a tratar da memória em vão. Certa vez,os que puderam resistir,tiveram de o ouvir dissertar sobre a sua especialidade por mais de duas horas,ficando-se ainda com a certeza de que o saco não esvaziara.

MONTES DE NOVIDADES

Pode dizer-se que eram os dois de extremos. Ou oito ou oitenta. Começaram pelo o oito,uma modesta pensão,de clientela muito variada. Entre os convivas,dois jogadores de futebol,que,por má sorte,tinham caído no clube errado. Deixaram de lhes pagar. O gerente mostrou compreensão,não lhes indicando a porta de saída. Os outros solidarizaram-se,pagando adiantado.
A pacatez do lugar era quebrada,às vezes. Um vendaval varria-o. Era gente da capital,de fala desatada e rica. Traziam montes de novidades e as suas agendas estavam carregadas de moradias. Indicavam preços,em jeito de intermediários. Aconselhavam e apontavam prioridades. Monopolizavam as atenções,deixando um rasto de sabedoria.
Por uma razão desconhecida,passaram para o oitenta. Os turistas,por vezes,rareavam. Assim,para dar saída à carne e ao peixe,aceitavam comensais a preço de saldo. A clientela era discreta,polida,sem altos nem baixos,parca de histórias.

MAIS PALHA

As meninas estavam interessadas em conhecer opiniões sobre aquela feira e não se importaram de abordar um sujeito que andava por ali a bisbilhotar. Que sujeito aquele,de sobretudo e com dois chapéus,um que trazia na cabeça e o outro,preparado para a chuva que andava a rondar. Chuva que ninguém mais temia,pelo que o tinham deixado em casa,se é que o tivessem.
Mas primeiro ,quiseram saber de onde é que tinha vindo,assim tão esquisito,e o que fazia? Lá foram esclarecidas e lá escreveram a sua opinião,o que levou mais tempo do que elas esperavam,por uma certa incompreensão de ambas as partes. É que o expressar dali não era bem o que ele conhecia e o que ele conhecia também o não conhecia lá muito bem.
Enfim,deu para se entenderem. Mas porque estiveram demasiado tempo no mesmo sítio,aconteceu o que era de esperar. Foi preciso ir buscar mais palha,porque ,com o calcar ,formara-se uma poça de água muito escura,de chuva passada,mas que a terra,uma terra muito negra, não retivera,pois tinha sido muita a caída antes.

A VIRAR MATAGAL

Fazia um nevoeiro de cortar à faca,pelo que se era obrigado a ir em passo de caracol. Como isso não bastasse, havia feira por perto. De repente,sem aviso prévio,surgiam ,da bruma, magotes de gente. O caminho parecia interminável.
Vai-se bem por aqui? Vai sim senhor,é sempre em frente,não tem que enganar. É já aí. Pois é. É que isto de distâncias tem que se lhe diga,é coisa muito relativa.E a terra não havia meio de aparecer.
Parecia que toda aquela gente se tinha combinado para dar informações erradas. Ou seria por não se terem explicado bem? É que,às vezes,as pessoas do campo não entendem as da cidade,e as da cidade não entendem as do campo.
Um dia,talvez isto acabe,não porque se acabe o campo,mas porque a gente que nele vivia o deixou. O que é forte pena,pois sem gente,o campo arrisca-se a virar matagal. E com tanta gente junta,a cidade como que morrerá. Mortes diferentes,está bem de ver,uma de míngua,a outra de fartura.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

RIBEIRO SANCHES

"Um dos maiores entre os"estrangeiros",nasceu em Penamacor,filho de um cristão-novo abastado daquela vila,em 1699,e morreu em 1782. Estudou medicina em Coimbra e Salamanca. Fugindo do ambiente mental do país,embarcou para Génova e daí para Inglaterra,onde estudou durante dois anos a medicina. Depois,foi aperfeiçoar-se com Boerhave em Leide. Em 1731 era recomendado por Boerhave para ir trabalhar na Rússia,onde reinava então a imperatriz Ana Ivanovna. Colocado em Moscóvia,ali depressa se prestigiou. Em 1735 era médico dos exércitos,função em que se manteve durante seis anos. No regresso,a imperatriz nomeou-o clínico do nobre corpo de cadetes. Mantinha então correspondência aturada com muitos sábios da Europa,sendo sócio correspondente da Academia das Ciências de Paris...."

ANTÓNIO SÉRGIO

PRESÉPIO DA MADRE DE DEUS - ANTÓNIO FERREIRA

António Ferreira

AS JARRAS DA ÍNDIA

"O que custa a largar na vida não é a esplêndida natureza,as grandes ideias,a luta ou as paixões - é o que fazemos todos os dias,é o hábito. Um médico meu conhecido do Porto,o dr.Frias,acabou com estas palavras: - E os meus doentes? que vai ser dos meus doentes? - Um pobre chefe de via e obras do caminho de ferro que eu conheci em Guimarães,só dizia: - A linha! tenham cautela com a linha! - E a mim,uma das coisas que me vai custar a deixar são os meus papéis. A vida leva-nos e aturde-nos. Lutamos. Debatemo-nos. Mas quando chegamos ao fim estamos todos docemente maníacos. O cúmulo é o caso acontecido com o Alfredo Guimarães,cuja vida se passou na constante preocupação do bricabraque e que na agonia recomendava ainda:- Olhem lá se esses homens quando descerem com o meu caixão vão partir as jarras da Índia que estão no patamar da escada."

RAUL BRANDÃO

NÃO TINHAM EMENDA

Para o que lhes havia de dar, pombos sem vergonha. Ali mesmo, na frente de qualquer um,desatavam num descarado e interminável namoro. Era aquilo um desaforo. Mas o que se havia de fazer?,se eles não tinham emenda. Depois,o sítio era cheio de encantos. Árvores,flores e relva em abundância. O espaço,amplo,e os horizontes,largos. De um lado,escoava-se um histórico rio,de outro, erguiam-se velhas pedras,que história rica evocavam. Nada mais era preciso para atrair caudais de gente vária. Muitos não reparariam naquelas aves despudoradas,mas uns parzinhos receberiam delas forte inspiração. E era vê-los a não poderem resistir àqueles feios exemplos. Mas o que se havia de fazer?,se eles não tinham emenda.

FRUTO DE ALMA

Que obra aquela que ali fora levantada. De rocha dura,o esforço de muitos braços fizera aquela monumental escadaria. Foram braços de homens que a História,
individualmente,não regista,mas que não esquece. Parte desse esforço,talvez a sua maior parte,terá sido fruto de alma,que o corpo,só,não daria conta de tal recado.

CESTO DOS PAPÉIS

Era uma senhora já reformada. Uma senhora que ainda tinha muito para dar. E deu,fora do seu país,passando um mês ali,outro mês acolá,por via das suas muitas amizades.
Num deles, teve uma grande surpresa. Olha o que eu estou a ler? Era a capa de um trabalho sobre uma matéria da sua especialidade. Ora vamos cá ver se esta gente sabe do que eu fiz. E qual não teria sido o seu espanto,ou outra coisa qualquer,que nem a mais leve referência lá vinha sobre o que ela tinha feito. E teria ficado triste,e teria atirado o trabalho para o cesto dos papéis.
Este atirar foi o que foi espalhado aos quatro ventos. Estava lá e vi,eu seja ceguinho. E não se cansava ele de o repetir. Afinal,o trabalho não valia nada. A mim cá me parecia. E fora preciso essa senhora vir lá de fora para dizer que o rei ia nu.
O calor que punha na denúncia era tal que alguém pensou que não fora a senhora que atirara,mas sim ele mesmo. E está-se mesmo a ver porquê.

COISAS DE LOUVAR

Daquela casa não saía coisa que prestasse. Era o que ele,durante anos e anos,fizera constar,aqui e ali,sempre que a oportunidade surgia ou mesmo sem ela. Tudo aquilo nada valia,só tendo um único destino,o caixote do lixo. Quer dizer,se ele,um dia,fosse escolhido para a orientar,havia de lhe dar uma grande volta,de maneira a pô-la a fazer coisas de jeito,a render cem por um. E esse dia chegou. Não interessa saber que novo e frutuoso rumo ele lhe deu. O que interessa saber é que, escasso tempo volvido,alguém se lembrou dele para fazer a história daquela casa velhinha,tornada sua,história essa que viria à estampa em livro notável. O mundo ficou suspenso. O que é que ele iria contar? Certamente a verdade,que ele ,incansavelmente,andara desnudando. Pois não aconteceu assim. É que havia outra verdade e essa foi a que ele,no tal notável livro,revelou. Aquela casa só tinha feito coisas boas,coisas de louvar,e o país devia estar-lhe eternamente agradecido.

domingo, 26 de julho de 2015

O PRESÉPIO BARROCO PORTUGUÊS

Presépio

FERMENTO DE RIQUEZA

Havia que lhe fazer justiça. A riqueza dele não fora ele que a obtivera,mas sim o pai,um homem com um faro muito apurado para o negócio. Parecia adivinhar onde poderia arranjar cem por um.
Quão diferente o filho era,quão diferente era ele. Negócio para ele era como um bicho de sete cabeças,de que tinha de fugir a sete pés. Era o que se chama um fulano sem jeito nenhum para o negócio,um desastre.
Com a riqueza do pai,ele, que era filho único,poderia ter ficado de papo para o ar toda a sua vida.
Pois não ficou. Era daqueles que teriam de ganhar o seu pão com o suor do seu rosto,o que,no seu caso,não foi uma mera figura de retórica.
E bem o ganhou,um ganho sofrido,por ter escolhido ocupação o mais desajustada ao seu corpo,um corpo pesado,um corpo dorido. E foi com esse corpo que ele andou por aqui,por ali,lá longe,por sítios quase sempre de muito calor.
Teria ele da riqueza o entendimento de que é ela o alvo,o objeto de muita gente,talvez da maioria. E que essa gente a procura teimosamente,tenazmente,e nela se quer instalar,para dela só sair à força. Caberá hoje a uns,amanhã a outros. Não será apenas um caso de sorte,
certamente,mas disso muito se aproximará. O certo é que os tais muitos a cortejam.
Não foi de estranhar,pois,que,um dia,fosse visto a aconselhar paciência a quem já a teria perdido, por não verem meio de sairem da pobreza em que tinham vivido por gerações. É que quase certo seria que naquela pobreza morasse fermento de riqueza. Havia que lhe fazer justiça.

BIFES

Parecia que o jovem iria ter um grave problema para resolver, quando lhe apetecesse almoçar. É que onde ele conseguira,com muita sorte,um estágio pago,não havia refeitório,nem se vislumbrava por ali perto uma taberna,quanto mais coisa melhor.
Trazer de casa não dava jeito,pois vivia num quarto. Mas ele continuava com sorte. É que trabalhava num laboratório. Cozer umas batatas e fritar um bife pouco diferia do que ele tinha de fazer. Esteve assim meses. Era para se cansar,mas quem corre por gosto não se cansa,muito em especial em começo de vida.
Os pobres dos bifes,às vezes,apanhavam grandes escaldões ou grandes molhas. Sucedia isso quando a camioneta,que o devia transportar,avariava. Então,tinha de recorrer ao comboio,que o não deixava à porta. Era obrigado,assim,a palmilhar uma boa distância,de início,junto à linha,depois ,por um baldio.
Mas qual seria a alternativa? Ainda se tinha de dar por muito feliz,pois podia comprar bifes,um luxo para muita gente.

EGYPT HOLDS TRIAL RUN ON SECOND SUEZ CANAL

Second Suez Canal

sábado, 25 de julho de 2015

TEIXEIRA LOPES - PORTUGUESE SCULPTOR

Teixeira Lopes

MARIALVA - PORTUGAL

Aldeia Histórica

FAZER FIGURA

Viera para a cidade ainda era ele um moço novo,mas tivera de ser, para alivar os pais,que não sabiam para onde se voltar. De início,passou tratos de polé,o que já não era novidade para ele. Com a ajuda deste e daquele,e também dalguma sorte,lá conseguiu ter loja sua.
De vez em quando,visitava a santa terrinha,não só para mostrar que já não era o labrego que de lá saíra,mas,sobretudo,para ver se uns quintais de que ele se enamorara ainda lá estavam. Um dia,deviam ser dele.
E assim foi acontecendo, a pouco e pouco. É que lá na cidade fazia vida de pobre,pois todas as poupanças reservava-as ele para lhes pôr a sua marca. E logo que chegava,postava-se num alto, para os poder ver a todos.
Certa vez,viram-no numa partida para férias. Ia a pé,pela avenida,levando uma grande mala, das antigas. A mulher caminhava à frente,um pouco mais leve. Podia ter chamado um táxi para os levar ao comboio,mas nem pensar nisso. Isso era para gente rica ou desgovernada.
Era lá,na santa terrinha,que ele tinha de mostrar quanto valia,não ali,na cidade. Ali,era para forrar,para passar mal. Para ,depois,ir lá gastar,à vista de todos. Era lá que estavam alguns da sua criação. Era lá que ele tinha de fazer figura.

EM CAMISA

A ambulância estava parada,impedindo o trânsito,e uma longa fila formara-se. A maca tivera de trepar dois andares. Todos compreenderam,pelo que nem uma busina se ouviu,ao contrário do que é costume. A vida urge e tem-se sempre coisas muito importantes a fazer,coisas inadiáveis. Quem seria ? Uma velhota,muito magrinha e muito branca. Vinha em camisa,coitada. Ora a minha vida. O preparo em que estou e toda esta gente a ver-me. Que vergonha. Até vieram alguns à janela. Olha quem é,a vizinha ali do segundo direito. A filha acompanhava-a. Não se mostrava muito aflita,mas isso seria para não perturbar mais a mãe. Vai ver que vão tratar bem de si. Pôr-se-á boa depressa,pois faz-me cá muita falta,por causa das crianças.

PROMESSA

O diretor tinha lá os seus gostos. E um deles era o seguinte. Os seus colaboradores,antes de publicarem os seus trabalhos,deviam apresentá-los em público,para serem discutidos. Quer dizer,fechavam as sessões com um debate. Para esse diretor,o ideal seria que não passasse uma semana sem uma sessão. Compreende-se. Era uma prova de que a sua casa estava bem viva.
Apresentar era simples,o pior era o resto. E está-se mesmo a ver porquê. É que há gente que se pela por ver os outros atrapalhados,pregando-lhes rasteiras. Ninguém gosta de ser rasteirado e,assim,as ofertas,às vezes ,escasseavam. Quando isso sucedia, era ele mesmo que dava o corpo ao manifesto,pois era homem de muitos recursos,era homem para muitas batalhas.
Mas o diretor insistia,batendo a todas as portas,mesmo àquelas que se tinham aberto de véspera. E foi o que aconteceu a um jovem. Ainda não tinha aquecido a lugar e lá estava o diretor a informá-lo do seu gosto. Tanto bateu,que o jovem não teve outro remédio,se não dizer que sim. Entre mortos e feridos,alguém há-de escapar.
Como era a primeira vez que se via em tais assados,achou que não lhe ficaria mal ler o que tinha a dizer. E lá escreveu o arrasoado. Mas não se veio a servir dele. Cumpriria uma promessa,que não é altura de revelar,caso dispensasse a cábula. E foi o que fez. Cumpriu-a.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

FOOD SECURITY

Food security

THE FIRST GM OILSEED CROP TO PRODUCE OILS OMEGA-3 FISH IN THE FIELD

Oils omega-3

OPENING UP INNOVATION IN PLANT SCIENCE

Innovation

A NEW CLIMATIC-SMART COMPANION CROPPING SYSTEM ALLOWS AFRICAN FARMERS TO SUBSTANTIALLY INCREASE THEIR YIELDS

African farmers

ESMOLA GORDA

A velhota não tinha quase nada de valor que valesse a pena,talvez a mobília do quarto e uma caixinha com meia dúzia de jóias,umas que trouxera quando casara e outras que o defunto marido lhe oferecera em ocasiões festivas. Ficara só na sua casinha. Apenas a filha velava por ela,visitando-a amiudadas vezes,e,a partir de certa altura, todos os dias. Acompanhara-a,também,nas vezes em que tivera de recorrer ao hospital,por via de operações. Parecia não ter mais ninguém. Mas não. Havia ainda um filho,o da sua predileção. Mas esse fora para paragens onde encontrara bons ventos. Sabia-se que engordara,de carnes e de dinheiro,ao qual se agarrara como uma lapa.
A filha lá ia ajudando a mãe,mas muito arrastadinha,pois tinha a sua vida. Causava admiração como conseguia dar conta de dois recados. A mãe via,preocupada,o que se estava passando,e,um dia,teve uma lembrança. Mostrou a caixinha a uma menina e esta logo se enamorou de tal tesouro. Ficaria com ela,e com mais isto e aquilo,e,em troca,fazia-lhe companhia. E assim aconteceu. Foi o que valeu à filha,se não teria ido mais depressa do que a mãe.
O filho,lá longe,ia sabendo novas,mas mais porque estava interessado noutras. Tanto a mãe como a irmã receavam maçá-lo,não fossem perturbar as suas digestões. De vez em quando,fazia uma visita,mas mais porque calhava,porque lhe ficava em caminho. Não podia estar muito tempo. Sabem,a minha vida. Da sua carteira recheada de notas,tinha prazer em as mostrar,lentamente as passando,tirava a mais pequenina,ostensivamente,como quem dava uma esmola gorda a uma pobre. A mãe nada dizia,porque ele era o seu mais que tudo. Beijar-lhe-ia as mãos,mesmo que vazias. Coitado,passara muito,e,agora,que encontrara o que sempre desejara,devia ser só para ele. Mães que têm um predileto. Tivera-lhe quase para morrer,mas lá o salvara. Fora mais um liame a prendê-la àquele filho muito querido.

QUE COISA BOA

Não cabia em si,de contente que estava. Via-se-lhe bem na cara,aberta num sorriso de deleite. Ser possuidora daquele brinquedo,ela que tão poucos,e muito modestos,teria tido quando era uma criança. Estar ali a andar e ao mesmo tempo poder conversar com este e com aquele. Parecia estar a chupar um caramelo gostoso,enquanto se ia dirigindo, pausadamente, para o trabalho.
Que coisa boa,que coisa boa,não se cansava ela de repetir. Nunca teria imaginado que,um dia,isso pudesse acontecer. Ali,em plena rua,chegavam-lhe notícias lá da sua terra distante.
Que coisa boa. Era caso para agradecer,não era? Concerteza,mas a quem? Não me pode dizer? Se morasse aqui perto,não me importava de lhe ir lá bater à porta. Estar aqui a ouvir a minha gente. Que coisa boa.
Nunca pensara nisso do agradecimento. Comprara aquele lindo brinquedo e,pronto,estava o assunto arrumado. Tinha mais em que pensar,ora se tinha. Mas uma vez que alguém o lembrara,achava isso mais do que justo.
Já se distanciara e ainda se podia ouvi-la. Que coisa boa,que coisa boa.

PRÉDIO ENTAIPADO

Não sossega o pobre velho. Para o que lhe havia de dar. Volta não volta,lá vem ele postar-se à beira do seu prédio,por certo de muita estimação,agora entaipado por via de um muito provável desmoronamento.

Foi a autoridade que teve de intervir,se não ainda lá morava gente. Obras não valeria a pena fazê-las e assim para ali está à espera. Aquele espaço,mais dia,menos ano,irá ter outro destino,que não o de construção,parece ser ponto assente. Quer isto dizer que é um espaço que vale muito pouco.
Como quer que seja,o dono não o larga. Ainda ontem lá passou umas horas a velá-lo. Para lhe custar menos,deita-se no banco abatido do seu,também,velho carro,como se estivesse em casa,e dorme. De vez em quando,desperta,talvez para dar mais uma mirada nostálgica ao friso de florinhas róseas,que põe uma nota romântica naquela fachada dos belos tempos.
Será isto que mais o cativa e que o faz visitar tão frequentemente?

quinta-feira, 23 de julho de 2015

CILMATE LAW : DUTCH DECISION RAISES BAR

Greenhouse-gas emissions

QUEST FOR CLIMATE- PROOF FARMS

Climate change

SUN'S HEAT COULD CUT FOSSIL-FUEL USE

Fossil-fuel

PREPARE FARMS FOR THE FUTURE

Agriculture

RONDA

O que é que se havia de fazer,se ele nascera já assim,um pacífico e também um fraquinho da tripa,e sabe-se lá mais de quê? Não deram com as mazelas,lá na inspeção,e o resultado foi ele ter de ir marcar passo. Mas o que eles teriam feito de melhor era tê-lo dado como incapaz.
E assim,lá no marcar passo,foi uma sucessão interminável de desastres. Dos primeiros,foi a ronda. Sabia lá ele bem o que isso era. Começara pela cavalariça. Um candieiro a petróleo dava uma luminosidade frouxa. Um pobre diabo dormitava,sentado num cesto de verga,um daqueles da vindima,virado . Acorda em sobressalto,ao ouvir o ranger das botas no empedrado . Levanta-se,ainda meio a dormir,e pôe-se,desajeitadamente,em sentido. Oiça lá,você gosta de dormir assim? Então,não era melhor estar ali deitado como os outros? Eram mais dois ou três,a ressonar. O rapaz mantinha-se mudo,certamente muito espantado,pelo que estava a ouvir. Bem,veja lá se tem juízo. Olhe que fica marreco.
Tinha muito ainda que andar. Três patamares,várias camaratas. As sentinelas no seu posto,bem alerta,pelo menos à passagem das botas,que faziam um barulho dos diabos,sobre as pedras e o saibro.
No outro dia,toda a minha gente sabia do sucedido.Mandara-se deitar um plantão à cavalariça. Foi um pratinho bem confecionado. Uma
risota pegada. O comandante,boa pessoa,compreensivo,considerou o caso na perspetiva geral e gozou também.

REGULAMENTO

Ele gostava de todas as sombras,menos de uma. São as exceções,uma fatalidade. E essa sombra,para ele,maldita,era a que alguém lhe fazia,quando acontecia atuarem no mesmo palco. Ficava gelado,o que muito o incomodava,o que não era de estranhar. Ninguém gosta de sombras assim. Pensou,então,não em livrar-se do causador de tal sombra,que isso seria demais,mas,simplesmente,da sombra má. Longe dele,consentia,mas ao pé,nem vê-lo. Como era homem de muitos recursos,sobretudo,de caco,não lhe foi muito difícil dar com uma airosa solução. Bastava alterar o regulamento,de maneira que o gerador da sombra que ele não suportava só pudesse figurar na assistência. E se de lá ainda tivesse artes para o sombrear,enfiava-se outra alteração no pobre regulamento,de modo a impedir-lhe a entrada. Já era embirrar demais com a sombra que o diabo do outro lhe fazia,pelo menos,era assim que se julgava. Mas tudo tem um fim. É que ele,como se referiu já,era homem de muitos recursos. E um homem assim tem de ser aproveitado para altos voos,o que aconteceu. Como o outro,coitado,era de voos cá por baixo,ficou o problema da sombra resolvido. Quem também veio a beneficiar foi o regulamento,que pôde,finalmente,dormir descansado

PREÇO DE SALDO

Nunca é tarde. Pois ali estava a demonstrá-lo um alegre conjunto em que predominavam os mais de setenta. Era a sua última refeição em comum,depois de duas semanas no Algarve,instalados em hotel de luxo,fazendo coisas jamais sonhadas. Fora muito bom terem-se lembrado dos "velhinhos",pois então,tanto mais por um preço de saldo. Só se fossem patetas é que eles recusariam uma pechincha daquelas,e isso é que eles não eram.
Estavam, naquela altura, atravancando mesas de almoçar. Calhou ficar-se ao lado de um dos contemplados. Em frente,sentava-se a esposa,mais convivente. Mostravam-se eufóricos e agradecidos. Não mais o esquecerei,não a benesse,bem entendido,mas ele. Terá sempre o meu voto. Vejam lá que foi a primeira vez que entrei num casino. Pois gostei muito,até dancei. O meu marido é que não,que não é dessas coisas. Na praia,até vesti um fato de banho,o que foi a primeira vez. E parece que me ficava bem,pelo menos foi o que disseram lá umas meninas que tomavam conta de nós.
O marido,de princípio,ouvia só,mas ,depois de um copito,lá disse das suas impressões. Sabem,a comida era boa,mas escassa. Estava,naquela altura,a recompor-se,comendo a dose dele e a da mulher,que fazia dieta,por causa da viagem. Sabem,fora uma vida de trabalhos,não dera para diversões. Tivemos sete filhos,vejam lá. Graças a Deus que se encontravam todos bem,na Alemanha,na França,no Canadá. Não se tinham de queixar muito,até estamos um bocado aliviados. Até já os fomos visitar,que eles assim quiseram,pagando tudo.
Mas uma coisa daquelas é que nunca tivera,sim senhor. Viajar,comer,dormir,divertir,por um dinheiro de quase nada. Se pudermos,viremos mais vezes. Deus o conserve por muitos anos,que homem como aquele é que nunca mais apanhamos.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

CLIMATE CHANGE : WHY THE TROPICAL POOR WIIL SUFFER MOST

Climate change

DRIVERS FOR THE RENAISSANCE OF COAL

Carbon emissions

CLIMATIC CONTROLS ON ECOSYSTEM RESILIENCE : POSTFIRE REGENERATION IN THE CAPE FLORISTIC REGION OF SOUTH AFRICA

Ecosystem resilience

EU NUNCA TIRO SENHA

A senhora está primeiro,chegou antes. A senhora não tirou senha? Eu nunca tiro senha.
Sabem,nascera lá no "monte",vivera lá no"monte",longe da vila,longe da escola. Depois,os trabalhos,a ida à fonte,coisas assim,para ajudar os pais. Depois,casara e viera para a cidade. Depois,os filhos,os trabalhos,a vida. Eu nunca tiro senha.

VINTE E UM ANOS

A moça sorria,encantada com a sua juventude. Que idade tem ela? Vinte e um,respondeu a mãe. Quem nos dera a nós,considerou a outra. E o tom vinha carregado de tristeza. Ainda era solteira com esses anos,e o tom continuou igual,talvez até mais triste. Saudades? Arrependimento?
A vida não lhe teria concretizado os sonhos. Os filhos,se calhar também os netos. Só canseiras. Se eu soubesse,quereriam transmitir os olhos magoados,a cara emagrecida,a cor pálida. Estaria convencida de que seria muito diferente? Igual,não desejaria,certamente,que fosse. Ilusões de quem não pára de sonhar. Mas o seu ar era de quem acabaria por trilhar as mesmas veredas,
nem melhores,nem piores. As mesmas. Não havia para onde fugir.
A casa lá está,e se for uma como deve ser andará com muita sorte. Os filhos aparecerão,com o cortejo obrigatório de gestos e passos de trabalho. As aflições com a saúde deles,o sustento,os estudos,de acordo com as posses,ou sabe-se lá mais de quê,permitirem. E depois,os namoros,as companhias,os empregos,talvez o casamento.
Onde se há-de ir arranjar o dinheiro? Um bom padrinho e uma boa madrinha é que vinham mesmo a calhar. Sempre podiam acudir em alturas decisivas,no encarreirar,que isto está difícil. E a seguir,mais um neto,ou dois,ou mais,que nunca se sabe.
Não sei para onde me hei-de voltar. Todos precisam de mim e eu que não posso. Ando para aqui cheinha de achaques e nem tempo tenho para ir ao médico. As horas que lá perderia e eu que não posso faltar aqui e ali,senão como é que eles se arranjariam? Não têm recursos para amas e muito menos para creches. Deus me vá dando saúde,para bem deles,que eu para mim já nada espero.
O sorriso não abandonara a cara da moça. Tinha o futuro à sua frente e vê-lo-ia cor de rosa. Para quê pensar em preocupações? Guardava-as para mais tarde. Quando viessem,logo se veria.

UM EURO E MEIO

Eram quatro horas da tarde,numa rua da cidade. Queria um euro e meio. Era uma adolescente,bem arranjadinha. Tinha quinze anos. Para um bilhete de autocarro.Então,a sua mãe? A minha mãe não... Então,o seu pai? Já não tenho pai. Tome lá. Eram dois euros. Mas isto... Obrigado,mesmo. Tinha quinze anos.

ONDAS DE DESDÉM

Parecia que aquilo não era com ela. Estava ali à mesa,acompanhando o marido numa visita à casa dos sogros,nada mais. Os velhotes alugavam quartos ,talvez para se sentirem menos sós.
Havia mais convivas. Entre eles,um dos hóspedes,vindo de país longínquo. Tratava-se do jantar de domingo. O repasto era ligeiro,um hábito consagrado,mas demorou,por via da conversa. Todos deram a sua contribuição,em grau maior ou menor, como é vulgar. Só uma exceção. Ela. Muito bem trajada,muito bem penteada,limitou-se a beber o seu chá e a mostrar-se. Dos seus olhos,muito bem compostos,jorravam ondas de desdém.
Porque se comportaria ela assim? Talvez para manifestar o seu desprezo pela mediania dos velhotes. Ela pertencia a outro estrato e nunca desceria ao ponto de franquear a sua porta a estranhos,e muito menos a estrangeiros. Encontrava-se ali, apenas porque se ligara, acidentalmente,àquele homem. Coisas que acontecem. Que ela merecia mais,muito mais.
Manteve-se muda e quase hirta durante todo o tempo de ali permanecer. Os da casa já a conheciam,pelo que não se sentiram incomodados. Mas era de a abanar,de a provocar. O de fora,ainda se tentou,mas a frieza daquela estátua intimidava. Pobre do consorte,que tivera um grande azar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

FEIRA DO RIBATEJO 2015

Feira do Ribatejo 2015

CASTELO NOVO - PORTUGAL

Castelo Novo

ANTAS-CAPELAS

Antas-Capelas

UTILIDADE DO LUGAR

Iam de mãos dadas ,ele e ela,como,alás,é frequente vê-los. Assim passaram uma porta larga. As caras sorriam. Estava ali um casal feliz.
A vida corria-lhes como eles desejavam. Ainda há pouco,uma meia dúzia de palmos de terra se convertera num pesado saco de notas,efeito da utilidade do lugar. Servira isso para elevar o monte que já existia.
À entrada,depararam com duas sentinelas,que ali têm permanecido tempos sem fim,pois nem pensar serem rendidas. Ora ali se encontravam dois ,que a seu modo,os têm sabido imitar. É que o chão onde se sentam,embora de pedra dura,lá se vai transformando em moedas. Pena é que não seja em notas,mas cada qual é para o que nasce.

UM REGALO

Era como que um outro "monte" aquele maneirinho cemitério,ali perdido no meio de montados e mais montados. Também tinha merecido cara lavada. Parecia,até, que a cal,azul e branca,fora lá posta de véspera. Assim se pintavam todos os "montes" ali em redor. E também estava lá num alto,mais próximo do céu,que ele ali representava.
Mas era mais feliz que os "montes" seus vizinhos,pelo menos naquela tarde de abrasar. É que lhe batia uma aragem leve,fresquinha,vinda de um tapete de água,que ali perto se estendia,quase à sua medida,de maneirinho que também era.
Muito raramente as suas portas se abririam. Por isso,como que para ali estava abandonado. Naquela altura,podia dizer-se,apenas as cigarras,formigas e outros que tais,tirando um ou outro nómada,lhe faziam companhia.
Viveria conformado o maneirinho cemitério. Não se esqueciam dele,pois,de vez em a quando,lá o vinham tratar,cuidando da sua roupa. Depois,tinha ali aquele tapete,quase a molhar-lhe os pés,um regalo em dias de sol de torrar,como naquela tarde.

SUIÇA

Ele vinha cheio de suas coisas,dos seus teres,e precisava de aliviar,sob pena de rebentar. E aliviou-se. Não sei se já vos tinha contado,mas eu tinha lá na terra um monte de courelas,herança dos meus velhos,mais precisamente quarenta e uma. Pois acabei de me desfazer de vinte. O resto irá com o tempo. Não tenho pressa,que o dinheiro que consegui agora,mais o que já tinha,dá- me para ir entretendo menos mal uma larga temporada.
O pior,sabem,é as coisas não melhorarem por cá,está isto muito mal. Nem apetece aqui viver,é um sufoco.Então,onde quererias tu passar o resto dos teus dias? Aonde é que haveria de ser? Na Suiça,claro. Qualquer dia,mudo-me para lá,é o mais certo.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

FESTA DAS FLORES - CAMPO MAIOR 2015

Festa das flores

CHEGA DE BOIS - VIEIRA DO MINHO

Chega de bois

FESTA DOS TABULEIROS - TOMAR

Festa dos Tabuleiros

MONTE DE RUÍNAS

A tristeza que ia por ali,por aquelas duas varandas debruçadas sobre tão aprazível mancha verde,uma ilha num mar de tijolo,ferro e cimento. Mal tinham nascido,já se lhes adivinhava o destino. Não iriam ter gente para delas usufuirem,ainda que gente era o que não faltava em seu redor. Mas não era isso que elas tinham sonhado,mas seria de sonhos que elas viveriam.
O tempo tem passado e por lá tem passado quem pouco se interessaria com o que elas um dia ofereceriam,livros e chá. Da sua passagem têm ficado marcas,que ,a acentuarem-se,não passará aquilo de um monte de ruínas.
O que teria faltado ali,o que teria primado ali? Talvez um estudo de mercado,talvez vontade de mostrar obra feita,talvez querer juntar o útil ao agradável. Uma mancha,afinal,numa mancha envolvente que a não merecia.

UM MONTE DE CINZA

Ele tinha estado lá,nesse mundo novo,para além de montanhas altas. Era uma terra de convívio feliz,de eterna juventude,onde não se ia desta para melhor,que melhor não havia.
Deslumbrara-o,de início,mas depois,vendo desenrolar aquela monotonia de vida,assaltara-o umas fortes saudades do seu mundo,do seu velhíssimo mundo,e não resistiu,a ele regressando.
Trouxera consigo uma companheira,que ele tinha desencaminhado,e que chegara lá muito antes,mas que se mantivera sempre jovem e bela. E assim se conservaria se lá tivesse permanecido. Mas ao contacto com aquele outro mundo,um mundo muito velho,já teria desaparecido,e foi o que aconteceu.
No sítio onde a tinha deixado,por uns momentos,só um monte de cinza se via.

FITAS

Necessitaram de encher um setor lá da praça de toiros e ele foi um dos premiados. Além de espetáculo de borla,ainda o gratificaram por umas palmas que,de vez em quando,teve de dar,ao mando de um apito estridente.
O espetáculo teve,também,cenas que ele nunca sonhara ver. Havia dois toiros,ou,melhor,um a valer,de se lhe tirar o chapéu,para a pega a sério,e o outro,uma pobre cabeça,que circulava em carris,onde o galã brilhou,como nunca tinha acontecido.
Mas o melhor estava guardado para o fim,um fim inesperado. O toiro a sério,talvez farto de andar ali às voltas,resolveu ir para casa,galgando a teia. E foi o bom e o bonito,e o salve-se quem puder. Os operadores não pensaram duas vezes. Primeiro,foram as máquinas,sem cerimónias,atiradas para a arena. Depois,foram eles. Um desastre,e dos grandes.
Tudo aquilo,para ele,parecia ter ficado por ali. Mas,a pouco e pouco,aquelas imagens foram fazendo o seu trabalho de sapa,sobretudo,aquela inolvidável pega simulada,e todo o monte de gente ali à volta,cada qual na sua função. É então assim que se fazem as fitas? E ele a julgar que tudo lá na tela se passava naturalmente,como na vida. E volvidas ainda muitas páginas,que o hábito é uma segunda natureza,aborreceu-as de vez,deixando de as ir ver.

domingo, 19 de julho de 2015

SINTONIA

Aquele fora um encontro de muito cogitar. Sem aviso prévio,uma chuva miudinha,de molha-tolos,fizera a sua aparição,apanhando alguns desprevenidos. Por ali havia árvores frondosas,que ofereciam suficiente proteção. Sob uma delas,chegara,primeiro,uma jovem de porte atlético,com um pequeno livro,cujas folhas não havia meio de pararem. Um velho,que escolhera o mesmo guarda-chuva,pensando que a moça estava a precisar de ajuda, decidiu intervir.
E aqui,aconteceu o inesperado. É que a moça nascera,e por lá andara alguns anos,numa cidade muito distante dali,precisamente em Newcastle upon Tyne,onde o velho, há um ror de tempo,estivera uns largos meses. Mas mais ainda. Ela residira muito perto do local onde o velho arranjara poiso.
Mas que tremenda coincidência,concordaram os dois. Ali devia ter havido mãozinha misteriosa. Há por aí muita coisa ainda desconhecida,talvez radiações,talvez tropismos vários,e sabe-se lá mais o quê. E ,sem querer,como que empurrado,o velho teria entrado em sintonia com a jovem,e,irresistivelmente,dela se aproximara. É esta a covição do velho. Da moça nada se sabe a este respeito,mas,o mais provável,é ela nunca mais ter ligado àquele encontro.
Pode, ainda ,acrescentar-se que o velho,num gesto de cavalheirinho,se prontificou a orientar a moça naquele local rico de memórias. Mas ela não esteve para aí virada. Ela,sozinha,se desembaraçaria,como,aliás,muitos dos seus fizeram por esse vasto mundo,tal como os do velho.

DE IGUAL PARA IGUAL

Já não aparecia por ali há muito tempo,e ele lá saberia porquê. Parecia era estar mais novo. O boné que,naquela altura, usava condizia com o seu aparente remoçamento, Alguma coisa de bom lhe teria acontecido.
Andaria ainda na sua vida,talvez de anos,uma vida de andarilho. Teria lá as suas casas certas,espalhadas por vários bairros,casas que lhe seriam mais ou menos fiéis. E assim,lá se iria governando,umas vezes melhor,outras pior,como, de resto,sucedia com todos,incluindo lá os das casas das portas a que ,pendularmente,batia,de acordo com um programa rigoroso.
Deixara de frequentar aquela rua,mas,naquele dia,lá se dispôs a percorrê-la de novo,mas só para passar por ela. E,naquele encontro,fizera um comprimento de conhecido de longa data,um comprimento amistoso,nada servil,como se a sua vida tivesse levado uma grande volta,uma volta para melhor,muito melhor.
Fora um comprimento assim como de igual para igual,como,alás,sempre tinha sido,só que, naquela altura, de uma maneira efetiva,a indicar que já não bateria à porta.

O TAL ABRAÇO

Há que tempos viviam de costas voltadas aqueles dois irmãos. E um deles adoecera gravemente,estando por um fio. Era altura,pois, do outro o ir visitar para o abraço da paz.
Centenas de quilómetros os separavam. Estava demasiado velho,mas ainda assim com algumas forças,embora fracas. Mas a vontade remove montanhas. Assim ela exista,e ele estava cheio dela.
Guardara lá para um canto um pequeno trator,quase tão velho como ele. Não o deitara fora,porque lhe tinha muita amizade. Ajudara-o muito,sempre fielmente,quando ambos eram novos. Ficara para ali,como,alás,outras coisas,de que não se quisera desfazer. Manias de velho. Seria premeditação?
Uma peça daqui,outra dali,mais um certo jeito para reparar velharias,para não entrar em despesas,e deu-se o milagre. O trator parecia ter ressuscitado. Para a estrada,que não havia tempo a perder,pois o irmão estava para lá,muito doente. Fez as suas despedidas,talvez as últimas.
Felizmente que grande parte do caminho era quase plano,o que facilitou a vida ao trator. Como era de imaginar,a viagem teve as suas complicações,mas com a ajuda deste e daquele,que a solidariedade não é uma palavra vã,lá foi engulindo milhas sem conta.
Finalmente,cortou a meta,chegando a tempo do tal abraço.

BEM TIRADOS

O velho tinha a sua graça e uma grande autoridade do alto dos seus noventa anos bem puxados. Ainda mal se lhe dizia uma coisa,uma qualquer,apanhava-se logo com uma correnteza de nãos bem tirados. Queria isso dizer que só ele é que sabia.
E olhem que ninguém me ensinou, rematava ele.

O SEU MENINO

O trânsito estava parado devido a um atropelamento. Viria uma ambulância e o sinistrado seria levado ao hospital. Escaparia? Algures,uma mãe iria ao telefone. É para lhe comunicar que o seu filho está internado por causa de um acidente. Teve muita sorte,pois podia estar agora morto. Posso ir vê-lo? Com certeza,minha senhora. Enquanto se vestia à pressa,a pobre mãe ia rezando para que nada de muito grave tivesse sucedido ao seu menino. Se ele lhe morria? Era capaz de estar muito mal,só que não lhe tinham querido dizer,não fosse dar-lhe alguma coisa. Este autocarro pára tantas vezes. E eu que estou aqui tão preocupada. Desabafara com o passageiro que ia ao seu lado. Não esteja tão aflita. Vai ver que o encontra bem. O que é que ele havia de dizer? Deus o oiça. E lá ficou mais animada. Saiu do autocarro quase a correr. Queria ver o seu filho, sem demora. Lá estava,numa cama,meio adormecido com os sedativos,mas vivo graça a Deus. A Mãe do Céu a ouvira. Iria ficar bem depressa,confortara-a a enfermeira. Era jovem. Tranquilizou,mas ficou ali sentada, a olhar para ele,como tantas vezes fizera. Era o seu menino e sê-lo-ia sempre,mesmo quando casasse e tivesse filhos.

sábado, 18 de julho de 2015

MENIRES - PORTUGAL

Menires

LINHARES DA BEIRA - PORTUGAL

Linhares da Beira

SOARES DOS REIS - PORTUGUESE SCULPTOR

Soares dos Reis

FACA E QUEIJO NA MÃO

Ele não havia meio de subir um degrau. Do primeiro,o da entrada,não passava,ainda que os anos passassem. Estás aí muito bem,tomaram muitos,nestes difíceis tempos,pensaria alguém. Ainda devias estar agradecido.Não estaria,pois,sozinho,o que era verdade. Outros o acompanhavam. Mas isto não os consolava,nem a ele,nem aos outros,claro está.
E assim,já cansados de marcarem passo,alguns pensaram em assaltar o reduto. À primeira vista,parecia-lhes empresa fácil. É que estavam bem apetrechados,com armas sofisticadas. Um adiantou-se e teve sucesso,como era de esperar. Isto animou os outros,que decidiram fazer o mesmo em próxima ocasião.
Mas um,ainda o castelão admitiu,agora,mais,só por cima do seu cadáver. Estava numa situação privilegiada o castelão. É que tinha a faca e o queijo na mão.
Se ele tentasse,o tal que não havia meio de subir um degrau,e conseguisse lá entrar,abria-lhe logo uma porta da sua conveniência e de mais ninguém. Não soube ele isto por portas travessas,foi o próprio castelão que,secamente,o informou.
E,assim,teve ele de se resignar,na esperança de melhores dias,receita muito conhecida.

ERA O DIABO Â SOLTA

Era grande a farsa que lá se representava,sempre em cartaz,nem,a bem dizer,se conhecera outra. E o público correspondia generosamente,fielmente,pelo que a casa estava sempre cheia,rebentando pelas costuras,com gente em pé,enchendo os corredores,sentando-se no chão.
Não tinham conta os ludíbrios,os enganos. Era o faz de conta,era o simular,era o parece bem,era o esconder,era o mentir,era dar o dito por não dito,era o faltar à palavra dada,eram os favores,eram as cunhas,eram os amigos são para as ocasiões,era o a bem da nação,eram as razões de estado,era o comer gato por lebre,era o fantasiar,era o à volta cá te espero,era o está bem está,eram as falinhas mansas,era o bem prega frei Tomás,era o só por cima do meu cadáver,era o punha as mãos no fogo,era o ele,ou ela, lá capaz,eram os videirinhos,era o fazer-se muito santinho,ou santinha,era o eu cá nunca minto,sou muito verdadeiro,era o não há melhor,só de encomenda,era o vai muito bem servido,era o nem na farmácia,era a sorte que ele,ou ela,teve,era o assim também eu,era o dantes é que era bom,era o vede como eles se amam,era os que vendiam alma ao diabo,eram as punhaladas nas costas,era o diabo à solta,era o diabo em figura de gente.

MOÍDO DA VIDA

Não era a Luísa que tinha de subir a calçada,de António Gedeão. Era um operário que tinha de ir trabalhar lá para o fim do mundo,e,depois,regressar a casa,vindo do cabo do mundo. Regressar a casa é como quem diz,porque não passava ela de um acanhado quarto,onde dormia também o bébé. O que é que lhe havia de apetecer,após um dia de grandes canseiras? Repousar,certamente,mas,sobretudo,dormir,num sono interminável. Era bom de apetecer,era,só que o seu bébé não lho permitia. A fome,as dores,ou sabe-se lá mais o quê,faziam com que ele estivesse a interromper,vezes sem conta, o sono do pai. E uma noite,talvez uma noite em que lhe apetecesse dormir tempos sem fim,uma noite em que mais moído da vida se sentisse,perdeu a cabeça. Levantou-se,pegou num ferro e calou o filho para sempre. Sabia lá ele o que fazia. Terminaram ali aquelas canseiras. Iria ter muito tempo para recuperar, lá na cela que lhe destinaram.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

WORLDWIDE EVIDENCE OF A UNIMODAL RELATIONSHIP BETWEEN PRODUCTIVITY AND PLANT SPECIES RICHNESS

Productivity

IS BIODIVERSITY GOOD FOR YOUR HEALTH ?

Biodiversity

METRICS FOR LAND-SCARCE AGRICULTURE

Healthy foods

ESPERANÇA BALDADA

Entrara-se no tempo da sesta e o centro lá do burgo despovoara-se,quase sem se dar por isso. Um ou ou outro,muito apressado,quebrava aquele deserto. Aqui e ali,figuras até aí despercebidas,tornaram-se bem evidentes. Não teriam para onde ir,como os demais. Ficaram onde tinham permanecido,segregados,alheados. Alguns aguardariam,ansiosamente,aquele desafogo,para melhor tratarem da sua vida. É que por ali,por aquelas velhas ruas,havia recantos propícios a assaltos,facilitados pela escassez de ajudas.
Fora uma sorte grande terem eacapado naquela tarde. Apenas um casal de velhos contornava a velha catedral e ali perto, outros dois velhos dormitavam no aconchego de dois bancos,naquela altura,sem concorrência. Duas figuras encolhidas,dois suspeitos,tomavam conta do palco. Não se moviam,talvez concentrando as manhas para darem o golpe,que andariam muito necessitados. Seria uma brincadeira de criança.
Valeu,salvou,a aproximação de uma batina negra,ainda jovem. Ainda se pensou que abriria uma porta. Esperança baldada. Só lá para as cinco,o que queria dizer três horas de espera. Restava uma coisa a fazer e que era sair-se dali o mais depressa e encontrar refúgio onde houvesse gente de confiança.

NECESSIDADE

A estrada,ali,tinha,de um lado,o rio,e do outro,uma correnteza de casas,a maioria de rés-do-chão. Quase não havia passeio.
Chovera muito nos últimos dias,pelo que o rio corria em jeito de sair do leito,inundando a estrada,e entrando nas casas,o que já teria acontecido noutras ocasiões. Não seria novidade,pois, para a gente que ali costumava passar,e,sobretudo,que ali morava.
Estariam,naquela altura,as famílias muito raladas,em particular,os pais. As crianças é que não davam mostras de apoquentações,visto andarem por ali como numa festa.
Que ideia aquela de fazerem habitações mesmo ali à beiro do rio. E o que levava a gente que nelas vivia em escolherem tal poiso? Necessidade a quanto obrigas.

MINA DE OIRO

O senhor era muito rico,mas também muito trabalhador e muito fraterno. Certo dia,vá-se lá saber porquê,deu-lhe para servir a causa pública. E empregou-se.
Onde ele assentou arraiais,resultou o que era de esperar. Um rio caudaloso de realizações,que pediam meças cá e lá. Mas porque também era humilde,foi visto,algumas vezes,a desempenhar tarefas de carregador. E porque,às vezes,o dinheiro demorava,de bom grado o tirava do seu bolso.
Mas havia uma coisa que nada lhe agradava,e que era`o de se submeter ao horário clássico,das nove às cinco. E se lhe apetecesse estar até à meia-noite? E se não estivesse para se levantar às oito?
Fez então uma proposta. Cumpriria o tempo da lei ,ou mais,o que acontecera muitas vezes,mas queria entrar e sair quando lhe apetecesse. Isto,claro,depois de se ter observado o tal rio de feitos.
Pois levou com um redondo não. E assim,lá se desperdiçou uma mina de oiro.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

CHINA : POLLUTION HOTSPOTS TRACKED IN REAL TIME

Pollution hotspots

HUMANS ALTER DESERT ECOSYSTEM

Humans alter desert ecosystem

BEES SQUEEZED BY WARMING

Bees squeezed by warming

BLACK SEA WARMING CAUSED EXTREME RAIN

Black sea warming

A CARA É ALEGRE

Pouco mais de vinte anos ele terá. E,agora,no verão,de calções e de alpergatas,ainda parece ter menos. De momento,estará sozinho,não contando com dois grandes cães, lá no seu "palácio",que a companheira deixou de se ver,talvez por alguma doença ruim,que ela andava muito amarelinha.
Viverá de quê? Talvez de arrumar carros aqui e ali. A vida não lhe correrá nada mal,a atentar na sua cara ,que é alegre,risonha,e nas suas passadas ligeiras,decididas,enérgicas até. Desempenhará a contento lá as suas funções.
Ia hoje demanhã,um tanto já alta,algo apressado. De telemóvel em posição,ia falando alto,ali em plena rua,como que dando ordens. Terá ele sócios,mesmo até empregados? Os cães teriam ficado aferrolhados lá no "palácio" à espera dele ,para irem,quando regressasse, dar umas voltas.

TENTAÇÕES

O comboio ouvia-se já. A coragem abrandara e a disposição não era a mesma de há momentos. Tinha apenas vinte anos. A aproximação do fim amedronta,talvez até o mais santo.
Quando o encontro ia quase a dar-se,ainda fez uma tentativa desesperada para escapar. Não morreu,mas ficou sem um braço e sem uma perna,a lembrarem, para sempre, a intenção e o recuo.
Que seria dela agora? Não passava de uma deficiente,de um tropeço. Quem a quereria?
Na sua terra,vivia um jovem em crise. Ainda muito novo,adquirira posição de relevo em empresa prestigiada. O tentador a proveitou-se da situação,levando-o a abusar da confiança granjeada. Uma quantia avultada levou descaminho. Foi condenado e cumpriu a pena.
A sua eficácia não fora esquecida,bem como a falta grave. Readmitiram-no noutro posto,afastado de tentações. Via-se que andava inquieto. Não lhe bastava o perdão. Queria reconquistar a confiança antiga,que ele desbaratara em má hora. Sentia uma incontida necessidade de cometer um feito que removesse, de vez, a mancha que persistia,restituindo-lhe a imagem passada.
Procurou e julgou ter descobert,o. Casou-se com a infeliz arrependida.

OVOS SEM CASCA

O que o senhor Joaquim ganhava não lhe dava para o que ele queria gastar. Assim,logo que se reformou,montou negócio. Pôs a mulher,Dona Carminda,a cozinhar para meia dúzia de estudantes esfomeados. Ele encarregava-se das compras e servia à mesa. A mulher não lhe dera filhos,pelo que os substituíra por um cão,um cágado,um papagaio e algumas galinhas. O cão,um Serra da Estrela de respeito,só respeitava os donos. Os outros,eram todos inimigos. Foi uma sorte os estudantes escaparem. Não parava de rosnar. O cágado,coitado,mal sentia gente estranha,escondia-se debaixo dos móveis. Teria receio de ser molestado,o que, às vezes, acontecia. O papagaio tinha poiso na cozinha,mesmo junto à chaminé,ao lado do saco das borras. Era capaz,uma vez por outra,de condimentar os petiscos. Falava com a Dona Carminda. As galinhas ficavam na cave da chaminé. Mal se podiam mexer. Punham ovos sem casca. Havia,ainda,umas penduras,as melgas,de raça gigante. Deixavam marcas bem visíveis nos que lá viviam e lá passavam. Teriam alguma responsabilidade na tez rosada de Dona Carminda.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

INTEGRATED REACTIVE NITROGEN BUDGETS AND FUTURE TRENDS IN CHINA

Reactive nitrogen

REDESIGNING PHOTOSYNTHESIS TO SUSTAINABLY MEET GLOBAL FOOD AND BIOENERGY DEMAND

Photosynthesis

LOSE BIODIVERSITY,GAIN DISEASE

Biodiversity

GRANDE DESGOSTO

Uma coisa daquelas não devia ter acontecido É que ela conseguira,não interessa como,subir vários degraus enquanto o diabo esfregava um olho,tendo vindo ela lá dum poiso em que nem um degrau sequer havia,por via do chão de lá ser térreo.
E tendo assim trepado tanto,trepou-lhe a importância à cabeça,passando a sentir-se muito mal com a antiga companhia,desprezando-a mesmo,nem para ela olhando.
Tratar assim quem com ela tinha vivido em horas más para todos,horas de fraternidade na penúria,era um proceder muito reprovável,de causar grande desgosto a quem tal soubesse. Nem poderia olhar direito para ela.

COMO UM CARACOL

De vagar se vai ao longe. E ali ele,um homem de meia idade,muito magro,apoiado numa bengala,muito de vagar,como um caracol,muito tolhido,muito hirto,feito quase estátua,rumo não se sabia aonde. O que ele demorou para lá chegar,mas ia determinado.
Afinal,era uma caixa de multibanco. Mas para isso,teve ainda de subir uma meia dúzia de degraus,o que fez como tinha feito antes,muito devagarinho. E lá frente à caixa tudo se transformou,apenas com um senão. Retirou o que pediu como um qualquer,talvez até mais rápidamente,que aquilo,a bem dizer,foi chegar e andar. O senão, coitado, foi ele ter deixado cair a bengala. O tempo que ele demorou a apanhá-la.
Desceu os degraus muito lentamente,ainda mais lentamente,talvez com receio de cair,e lá regressou pelo mesmo caminho,sempre muito lentamente,como um caracol,muito hirto. Onde iria ele? Foi fazer o que todos têm de fazer para se manterem vivos,que é comer.

CHINELAS

Era uma figura triste. Magro,pálido,sempre vestido de negro. Humilde,desfazia-se em mesuras . De que teria ele escapado ou que dificuldades quereria ele vencer?
Tão diferente outro era. Respirava confiança e parecia capaz de grandes feitos. Houve quem apostasse nele. Pois foi uma pura perda. Pena é,não se sabe quantas vezes,que se queira subir acima das chinelas,quando a coisa,está na cara,não dá para mais.

UMA OUTRA VIDA

Tivera sorte o senhor Manuel. Quando novo,trabalhara para este e para aquele,que para ele não tinha onde. Foram tarefas de campo,as mais variadas,que ele não podia escolher. Era o que calhava. Até subira socalcos,e mais socalcos,levando nos seus ombros pesados cestos com uvas,que foi o que mais lhe custara.
Um dia,veio por aí abaixo,á aventura. E poisou em sítio certo. Não demorou muito a trabalhar por conta própria,em artes de pintura de paredes de casas.
Andou anos nisso. De vez em quando,vai de visita aos lugares da juventude,mas só para os rever, que ele não é para vaidades.
Os ares que lá respira já são muito outros,que aquilo mudou muito,mas o grande rio é quase o mesmo,bem como os terraços por onde andou a subir e a descer,e a sonhar com uma outra vida.

terça-feira, 14 de julho de 2015

LIMPO NEGÓCIO

O mosto amuava, pois as uvas tinham açúcar para dar e vender. Quer dizer,as leveduras,com tanto álcool,deixavam de poder fazer o seu trabalho. E assim,vá de lançar nas lagaradas almudes e almudes de água. Que rico negócio esse,o de transformar água em vinho. Só que era limpo o negócio.

FIEL AMIGO

O vinho,o seu fiel amigo,não o larga. Ele também corresponde,nunca o rejeitando. Bate-lhe à porta,mal desperta,e não se esquece dele ao deitar.
Alegra-lhe o coração esta teimosa,nunca esmorecida,fidelidade. Ainda há dias o mostrou,abraçando e beijando,efusivamente,em plena rua,uma velhota,que,pelos vistos,não se fez esquiva. E canta,canta muito,ainda que em surdina,para não incomodar.
Aquece-o também. Não teme,pois,os frios.Qualquer buraquito lhe serve para pernoitar. Vai mudando,sabe-se lá porquê. E conserva-o,que anda nisto há muitos anos.

RICO VINHO

Eram dois homens altos,a tirar para o seco,aí de uns quarenta anos,de cabelo muito louro. Tinham vindo lá de terras da velha Albion. Estavam naquela altura,já lá vão uns bons anos, bem no interior alentejano. Trouxera-os o serem eles técnicos especializados em certo tipo de maquinaria,que uma nova fábrica iria utilizar.
Por lá andavam,desde manhã cedo,que o tempo,muito quente,assim aconselhava,regressando a casa,a pensão lá da vila,pela tardinha. Nunca se lhes vira comer do que quer que fosse,mas de beber é que sim.
A sorte que eles tiveram,ali instalados em pleno centro de uma região produtora de um rico vinho. Lá para os seus botões devem ter dito o mesmo. Que sorte tivémos nós. Pena era não ficarem ali para sempre,mas não podia ser. Nunca teriam sonhado com um paraíso daqueles. Seriam capazes de lá ter voltado,em tempo de férias,para matar sede e saudades.
Como era de esperar,a bebida estava primeiro,mas também em segundo e em terceiro. Deve dizer-se,porém,em abono da verdade,que nunca foram vistos fazendo disparates. Teriam vindo já bem preparados,já que os líquidos da sua aprendizagem tinham muito mais graduação.

O FESTEJADO

A azáfama que tinha havido por ali para se encherem depósitos,tonéis,vasilhas. Ainda não era o vinho,mas,com o tempo,lá chegaria. A vindima chegara ao fim. Nos ares pairavam restos de aromas que se tinham escapado dos lagares.
Era o vinho que os sustentava,era o vinho a sua riqueza,merecia,por isso,que o festejassem. E ali estavam eles e elas a recriar os passos essenciais. Foi um cortejo de horas,pois muitas tinham gasto para dar esses passos.
Lá se explicava a poda,a cava,os outros amanhos culturais. Lá se mostravam os cestos repletos de novidade,as dornas,os lagares,as prensas,o laboratório. Lá desfilaram os braços necessários.
Os gestos indispensáveis todos os puderam ver. Os cantares é que mal se ouviram,que os tratores assim quiseram. Não faltaram as crianças,a apontar a continuidade da acção criadora.
A hora era de regozijo universal,pelo que os atores tiveram casa cheia.
E o vinho,o festejado,só recolheu,quando se viu sozinho.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

NEM O REI

Não é tanto o que dizem,mas mais como o dizem. É o ar que põem,é a voz que engrossa,que se doutoriza,é o peito que salienta. E,depois,às vezes,não vem nada a propósito. É ali metido à força.
Olhe que isto fica só aqui entre nós,como de segredo de estado se tratasse. E levou o dedo aos lábios grossos. Já reparou bem na minha cabeça,na forma dela,na cabeleira que a coroa? Não lhe lembra tudo isto alguém? É isso mesmo,sem tirar nem pôr. É o rei. Pois venho mesmo em linha reta dele,embora não pareça,um Zé Ninguém,que anda para aqui aos baldões. Coisas que acontecem.
Pois é como lhe digo. Aqui enfiado nesta casota,onde mal eu caibo,quem diria que eu tenho lá na terra um casarão de se lhe tirar o chepéu? Só quartos,são mais de vinte. E as salas? Aquilo não são salas,são salões. Querendo,dava lá festas. Nem o rei,que chegou a morar lá perto,tinha um palácio assim.
Coitados do pianista e do violoncelista,duas estrelas muito brilhantes. Mas ali,naquela altura,pareciam dois planetas despromovidos. Quase ninguém lhes ligara. Só a menina da receção estava ali para os atender. Ele conhecia muito bem essa casa,oh se conhecia. Ainda há dias lá brilhara,mas não com notas.
Estão a ver a categoria deste professor? Que um professor como deve ser deve também sair de uma aula sua a saber mais. Pois era o que lhe acontecia sempre ,quando andava por lá a iluminar o mundo. Não era de esperar,de facto, outra coisa de uma tal sumidade.
Oh mas isso não é nada. O meu filho,ou o meu neto,tanto faz,não é ele que vai a casa do professor de música,mas sim este que vai lá à nossa casa. E não é um professor qualquer,não. É um dos melhores,talvez mesmo o melhor deles todos. Incomodar-se o meu filho,ou o meu neto,tanto faz,era o que faltava.
Olhe que não é bem asssim. Eu também lá estava,e sei o que digo. Foi até por meu intermédio que ele lá se deslocou. Eu é que sei o que ele disse,então não havia de saber? Mas os outros acabaram por não saber o que ele dissera,por esta via contestatária.
O meu filho aceitou o lugar,mas só quando satisfizeram todas as suas exigências. Era pegar ou largar. Com quem eles julgavam que estavam a lidar?
Têm a quem sair todos os meus filhos,mas sobretudo ao avô,que não chegou ao topo,mas bem o merecia. Era um génio. Agora,os filhos deles,os meus netos,não queiram saber. Está-me cá a parecer que o génio do bisavô passou a morar neles.

MAIS UM FOGO

Ah,já sei de quem se trata,é o senhor Rui. Foi para um lar,deixou de vir aqui,uma sopinha de pobres. Afinal,confirmava-se a suspeita. O senhor Rui tivera de deixar o teto,uma casa abandonada,entaipada, que o abrigara por uns meses. É que um fogo,mais um,tinha-lhe consumido o telhado,liquidando-a,parece que de vez.
Quer dizer,era capaz de o senhor Rui estar agradecido ao fogo. Alguém se compadecera mais,desta vez,e dera-lhe um teto a valer. Os seus muitos anos também teriam ajudado.

DECEÇÃO

As vezes que o velho passara por aquele gradeamento da escola secundária. Viam-se redes,cestos,balisas,bolas,e,claro,moços e moças,em número variável,consoante a hora.Ao longo do gradeamento,estendia-se um estreito canteiro de chorão que se desentranhava em flores vermelhas,pequeninas. Um encanto para os olhos.
Mas naquela manhã,foram umas ervas entre o chorão que mais o atraíram. As folhas tinham a forma de coração e exibiam umas pequenas manchas que ofuscavam. Pareciam pérolas. Seria uma variedade nova? Alguém confirmaria. Mal arrancou uma planta,para amostra,lá se perderam as jóias. Eram,afinal,gotinhas de orvalho,que,a um ligeiro toque, se desfizeram. Foi uma deceção.
O chorão já sabia e ficou triste por o velho se ter deixado enganar. As suas florinhas vermelhas não mereciam que as tivessem trocado por uma ervinha embusteira.
Por ali andava o encarregado da segurança,que o velho já conhecia. E,irresistivelmente,contou-lhe o que acabara de suceder. O homem,coitado,atulhado de problemas, deve ter concluído que o velho não estava regulando bem da cabeça. Vinha isto,até, robustecer uma suspeita,de outras conversas.

UMA SUSPEITA

Os amigos são para as ocasiões e ele,um moço já conhecedor daqueles sítios,vinha mesmo a calhar. Ainda bem que me encontraste,pois sei de um quarto que acabou de vagar e que te vai servir muito bem.
Foi ver,gostou e instalou-se nesse mesmo dia. O contrato incluía pequeno-almoço. Havia mais quartos alugados e logo na primeira manhã teve lugar reunião geral.
Além dele,mais três airosas meninas,que fizeram questão de não faltarem,para conhecer o novo vizinho. Parecia serem estudantes,pois traziam pastas,numa das quais se via uma bata branca. Mas não eram. Ele percebeu o embuste,não era assim tão ingénuo,mas não se deu por achado,fazendo de conta.
A dona da casa fora abandonada pelo marido,que lhe deixara uma filha.Para sobreviver,alugava quartos. Devia tê-lo informado,mas não tivera coragem. Sabe,a vida está difícil,temos de fechar os olhos a coisas de que não gostamos. Compreendia que se quisesse ir embora e agradecia por lhe ter pago o mês,o que lhe dava muito arranjo.
Qual teria sido a intenção do amigo? Nunca se soube,mas ficou uma suspeita.

domingo, 12 de julho de 2015

GLÓRIA

Que tempos aqueles. Havendo fortuna e filhos,a fortuna ficava para o que tinha primeiro visto a luz do dia,ou da noite,tanto faz. Os outros que se fizessem à vida,que havia por lá muito para colher,assim se soubesse,se queriam ter vida melhor da que os esperava,vivendo às sopas do primogénito,que não seriam,aliás, nada para enjeitar.
E assim, lá partiam alguns à cata da tal vida melhor,com coisa que se visse,que valesse a pena. De boa cepa,donairosos,bem depressa se arranjavam. A normal via para isso era o manejo das armas,pois naqueles tempos,muito ao contrário dos que vieram depois,havia desentendimentos por tudo e por nada.
E assim,para que fortuna se não dividisse,fortuna se tinha de arranjar,desse por onde desse,ainda que para isso se tivesse de arriscar a vida,cobrindo-se de glória.

O SAPATEIRO

Não suba o sapateiro acima da chinela. E porque não? Quem quererá que uma tal subida não aconteça,e porquê? Conhecerá ele o sapateiro,quando o sapateiro não se conhece a si mesmo,não sabendo do que é capaz? Ou, simplesmente,sentindo-se incapaz de subir,ficaria doente vendo o sapateiro fazê-lo.

UM ETERNO RECOMEÇO

Há quem goste de começos,talvez para quebrar a monotonia da vida,quando instalada,em marcha de rotina. Lá terão as suas razões,de que eles são parte. E uma delas está bem á vista,e é a de verem a vida como um eterno recomeço. Pois não se morre,de algum modo,todos os dias,no sono? E a vida freme,a cada momento,em múltiplas transformações,como que renovando-se,num ser qualquer.
Depois,ou ao mesmo tempo,a natureza envolvente está ali sempre,bem próximo,a dar mostras de que quer continuar. E é o Sol que não se esquece da sua função,nascendo todos os dias,num teimoso recomeçar. E é a Primavera,portadora de promessas,que, persistentemente,as vem trazer. E é ver as plantas,erva,arbusto,árvore,numa perpétua renovação,mesmo sem os cuidados do homem. Elas lá nascem,lá crescem,lá se desenvolvem,lá passam o testemunho,tudo muito naturalmente. A vida nelas é um contínuo mudar,mudar de cara.
E mudar de cara é o que se passa com muitos,com todos,à semelhança do poeta,sem se deixar de ser,num eterno recomeço,a partir de si,de cada um. Não é de estranhar,pois,que haja quem diga que goste de começos,assumindo,afinal,a realidade de todos,que,a cada momento,de algum modo,vão renascendo.

A VIDA

Aquilo tinha a sua graça. Não visitavam um museu,não entravam numa biblioteca,que um e outra deveriam ter doença ruim,daquela que se pegava,que vinha pelo ar que se respirava. Mas havia um sitio onde não podiam faltar um dia sequer,vistoriando-o mais de uma vez,de manhã,à tarde,e à noitinha. Esse sítio era,nada mais,nada menos,o supermercado,pois então,uma espécie de repositório de coisas sagradas.
Não havia prateleira que escapasse,não havia preço que não fosse registado,não havia fruta que não fosse apalpada,por vezes,até,quando era caso disso,experimentada. Paravam,avaliavam,comparavam,refletiam,comentavam. A vida cada vez estava mais cara,não sabiam onde aquilo iria parar. Mas eles,felizmente,é que não paravam,que a vida,afinal,não estava assim tão mal como diziam,sobretudo quando comparada com a de tantos cantos do mundo,onde,aí,sim,é que as coisas estavam mesmo muito mal,tinham estado mesmo sempre assim muito mal,que era o que lhes valia,por já estarem bem acostumados a ela,a vida.

CANTAR DE GALO

Dizia ele, para quem estava disposto a ouvi-lo, que as gentes se podiam arrumar em dois conjuntos de muito diferente tamanho,um,minúsculo,e o outro,maiúsculo.
No minúsculo,procurava-se não descer do patamar cimeiro a que se tinham acostumado,o que,a acontecer,seria como que uma morte,e fazia-se até o que se podia para trepar ainda mais.
No maiúsculo,lá se iam conformando com a vida que levavam,mas sempre a sonhar com o dia em que podiam cantar de galo.

sábado, 11 de julho de 2015

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA - LISBOA

Museu Nacional de Arte Antiga

CAPELA DE SÃO JOÃO BAPTISTA - IGREJA DE SÃO ROQUE,LISBOA

Capela de São João Baptista

TUDO PERDIDO

O encontro a dois começou a ser como era norma,um encontro formal,mas acabou na maior das informalidades,cada um a dizer de sua justiça. Um deles,o mais velho,andaria aí pelos sessenta ou setenta, e o outro,talvez uns quarenta,não mais. Era a primeira vez que se viam.
A certa altura,quando já se estava em plena informalidade,desataram a falar de tudo e de mais alguma coisa. Falaram da vida,dos seus escolhos,falaram dos filhos,que o mais novo tinha,falaram do seu futuro,como se costuma dizer,como se fossem donos dele.
Pois é,o diabo da vida não há meio de encarreirar,disse o mais velho. É sempre a mesma luta,e cada vez mais feroz. É o salve-se quem puder,doa a quem doer. Não há volta a dar-lhe. Saem-se melhor os que dispuserem de melhores armas,sobretudo,de melhores apoios,melhores
padrinhos,como é corrente dizer-se. É a vida.
O mais novo não esperava nada ouvir o que estava ouvindo,vindo de quem era. Foi uma surpresa,e das grandes,uma surpresa reveladora. Aquilo devia estar mesmo muito mal. É que o senhor tinha muita experiência da vida,não por ele,mas por aqueles com quem ele convivia,e ele lá saberia que era mesmo assim.
E assim,seria caso para dizer que estava tudo perdido. Estaria para muitos,porventura uma grande maioria,lá pensaria o mais novo. Como é que ele iria proceder para que os filhos não se perdessem? Não iria fazer nada em especial,nem mais nem menos do que tinha feito até àquela altura. Deixaria correr as coisas como até ali,que elas seguissem o seu curso e fosse o que Deus quisesse. De resto,em boa verdade, não podia fazer mais nada,mais exatamente,não sabia fazer mais nada.

ATÉ UMA NOITE

Tivera uma vida simples,uma vida para sobreviver. Quando não pudesse mais,ou quando chegasse a tal hora,diria adeus,ainda que ninguém o escutasse. Fora uma vida como tantas outras,uma vida semeada de escolhos. Aparentava ter mais idade,o que não era para admirar. O mesmo se passava com muitas outras vidas.
Teriam sido esses escolhos os principais causadores do desgaste. Os esforços,tantas vezes,porventura,para além das suas fracas forças,tê-lo-iam posto assim,um tanto alheado,quase um autómato. Um ano,para ele,teriam sido dois,ou mais.
Depois,dera-lhe para andar duas ou três léguas duma assentada,só para se entreter,para passar uma parte do tempo que tinha para si. Podia tê-lo gasto noutros lazeres,como jogar às cartas horas intermináveis,ou conversar nas esquinas com os amigos,também tempos sem fim,mas disso não gostava.
Os anos foram ficando para trás,e ele lá se foi aguentando até um dia,ou,mais exato,até uma noite. Ainda a cama o recebeu para mais um sono,mas já não acordou,como era costume,um longo costume,apsar de tudo. Foram dar com ele a dormir para sempre. Teria acordado noutro mundo,onde já se encontravam muitos da sua geração,que se lhe tinham adiantado,talvez por terem labutado mais,ou não,talvez por terem palmilhado mais léguas,ou não,talvez por se terem entretido com cartas,ou não,talvez.

UMA VIDA

Coitado do moço,muito longe estava ele ainda das tricas deste mundo. Desconhecia ainda que boa parte da vida flui num mar,numa rede intrincada de interesses,nem sempre claros,mas que estão lá, nos momentos de decisões de todos os tamanhos.
Estava em causa a saúde mental de um colega. Necessitava ele de internamento imediato,um problema,naquela altura,muitas vezes de difícil solução. E era dessa espécie este internamento. Disseram ao moço que um seu professor podia facilmente resolvê-lo. Era amigo de um ministro muito influente. Com uma cartinha do professor na mão ,o ministro diria logo que sim. E foi o que aconteceu. O colega foi logo internado.
Pois desde aí,o moço passou a ter no professor como que um inimigo. Porque seria? Parece que devia ter sido o contrário. Tinha salvo uma vida,a vida de alguém que podia ter sido seu aluno,se não tivesse adoecido. E isso,porque o moço lhe batera à porta,uma porta muito importante. Tinha sido feito prova dessa importância,o que muito contribuira para melhor o considerarem.
Porque seria? Talvez o professor estivesse reservando a sua intervenção para outra finalidade,que,deste modo,ficara prejudicada.
Porque seria? Talvez porque o moço tinha aceitado um lugar de nomeação e isso fora muito feio.
Enfim,um sem número de suposições. Mas o que interessava,acima de tudo,afinal,é que o doente estava recuperando,porque fora imediatamente internado.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

HYDROLOGIC CONNECTIVITY CONSTRAINS PARTITIONING OF GLOBAL TERRESTRIAL WATER FLUXES

Water fluxes

SEA-LEVEL RISE DUE TO THE POLAR ICE-SHEET MASS LOSS DURING PAST WARM PERIODS

Sea-level rise

BUMBLEES AREN'T KEEPING UP WITH A WARMING PLANET

Climate change

UM INVENTO

Ele estava ali,naquele braço de rio,a ver se levava algum peixinho para casa,pois sempre daria jeito. Vinha sempre aos fins de semana,que noutros dias não podia ser por causa lá do trabalho.
Então,qual é o isco que usa? É desse lá de longe? Não,que idéia. Esse é muito caro,não sou de luxos. Uso um invento lá da minha mulher. Pode não acreditar,mas é verdade. Já lho mostro. Olhe,é esta nabiça lá da sopa e este tomate lá do guisado. Uma prova de que isto resulta está aqui neste cesto. Podiam estar cá três peixinhos,mas um era muito pequeno,pelo que o deitei ao rio.

CONVICÇÃO

Coitada dela,vivia de esmolas e morava na rua. À noite,recolhia-se num desvão de prédio. Trazia sempre consigo toda a sua fortuna,acondicionada em sacos de plástico. Um amigo fiel não a largava,um amigo engarrafado,de tinta cor. Pareciam sentinelas,as garrafas que ela depositava,mesmo ali ao alcance das mãos,sempre prontas a acudir-lhe.
Coitada dela,muito ela falava,talvez narrando,em ladainha,a sua triste vida. Dizia-se que era doutora,que tivera vida boa. E por ter sido assim,alguns tinham com ela atenções. E foi o que um dia se presenciou.
Eram dois que dela se abeiraram,movidos por um misto de compaixão e de respeito. Não eram eles doutores,mas um seu equivalente. Não se ouviu bem o que lhe disseram. Mas que se lhe dirigiram com toda a consideração,não restava a mínima dúvida. Muito chegados a ela,quase lhe tocando,merecia o quadro ficar registado,como ficou.
Deram-lhe umas moedas,que seria para qualquer coisa de comer,e não de beber,pois ela era incapaz de assim as gastar,como asseveraram. Ela,uma doutora,não faria uma coisa dessas. Nem repararam nas sentinelas,tal era a sua convicção.

NÃO SEJAM TROUXAS

Todo o mundo o devia conhecer, seria sua firme convicção. Tinham sido,de facto,numerosas as vezes em que a sua figura garbosa,não há longo tempo,fora vista por muitas plateias. A idade deixara marcas,era certo,mas ele ainda se sentiria pronto para todas as curvas.
Ali,naquele cruzamento de grande azáfama,à conversa com alguns amigos,a sua vista varria em redor,persistentemente,quase sem olhar para os companheiros.
O assunto que os juntara era banal. Trabalho à jorna. De vez em quando,ouvia-se a sua poderosa voz. Façam como eu. Só contrato gente reformada. Vêm por menos, e ainda ficam muito agradecidos por se lembrarem deles.
Partia,de novo, à aventura. A sua cabeça rodava à direita e à esquerda,qual catavento em dias de forte e vária aragem. Todo ele se empertigava,feito jovem,para melhor o mirarem.
Então,não me reconhecem? Olhem que estou aqui ainda muito capaz. Pois procedam como eu. Ficamos todos a ganhar. Não sejam trouxas

quinta-feira, 9 de julho de 2015

THE 24/7 SEARCH FOR KILLER QUAKES

Earthquakes

A GENE FOR BETTER AND LONG RICE

Better rice

AMAZON WILDLIFE HIT BY HYDROPOWER

Amazon

NOBRE CAUSA

Era uma biblioteca que virara a centro de explicações. A senhora que assim a convertera parecia ter toda a razão. É que aquela vasta sala passava a maior do tempo às moscas.Ia por lá um velho,de vez em quando,e pouco mais. E este pouco mais,por via,sobretudo, dos jornais ,que eram de graça.
Que pena,teria ela pensado. Que belo sítio para eu tratar da minha vida. Lá em casa era um desassossego. Os filhos estavam sempre a interrompê-la,a empregada fazia demasiado barulho, com as limpezas, os tachos e as panelas,a mãe não parava de a atormentar com os seus eternos queixumes.
E passou à ação. Era,porém,de admirar a complacência da bibliotecária. Teria ela participação nas receitas? Ou tratar-se-ia antes de uma estratégia em prol de uma nobre causa?
Talvez os jovens que ali iam se habituassem àquele espaço e mais tarde viessem a frequentá-lo ,assiduamente,mas na qualidade de leitores.
Estaria,também,a assegurar a sua enxada. É que acentuando-se o desinteresse,podia acontecer que,um dia, fechassem a porta para sempre.

UMA SENHORA

Viera muito novinha para aquela vida,pois lá em casa é que ela não podia ficar. As bocas eram muitas. Bem lhes custou, a ela e à mãe,o separarem-se. Aquilo foi uma choradeira de pôr a chorar também as pedras lá da casa e da calçada. Mas que se havia mais de fazer,se não se lhes abria outra saída? Aliviava o pesado fardo dos pobres pais e seria até capaz de mandar-lhes algum dinheiro. Não seria muito,mas faria jeito.
Serviu algumas senhoras,sempre na mira de forrar mais uns patacos,que as mesadas eram curtas,pela muita competição. Não fora só ela mais a mãe a carpirem,pois tiveram larga companhia. O dinheiro também não abundava em muitas famílias. Com o tempo,lá conseguiu enfiar no mealheiro o suficiente para o enxoval. Não era o que eles queriam,mas sempre dava para começar.
E um dia,quem é que ela havia de encontrar? Mas é o menino. Tão crescido que ele está,quase não o reconhecia. Gostava muito que viesse a minha casa. É mesmo ali. Pouco mais tinha do que um quarto,mas estava bem recheada. O prazer que ela colheu a mostrar o armário dos vestidos,a abarrotar. E a bateria de sapatos debaixo da cama? Ela era,também,naquela altura, uma senhora. Para que constasse.

MOEDAS E OLHARES

Eram dois velhos que viviam de esmolas bem diversas. Um, recolhia moedas, o outro, aceitava olhares. Tinham montado banca na mesma rua,uma rua movimentada,por ser vizinha de um mercado.
O das moedas era alto,esgalgado,de cara magra,ossuda,macilenta. Coxeava. Vinha de longe,em autocarro. Logo de manhã cedo,lá se instalava no seu posto,o poial de uma janela ,de que não pagava renda. Tinha a sua clientela fiel,com quem chegava a conversar demoradamente. Era visto,de quando em vez,a conferir a caixa. Fecharia a loja,quando já lhe chegava para o que ele queria.
O dos olhares,que se apoiava numa bengala, que parecia o tronco de uma árvore,era,ao contrário,baixo,encorpado,de carita redonda,rosada. Dava gosto olhar para ele. Lembrava um bebé rechonchudo. Este dispensava conversa. Para conversar,tinha a família,quando regressassem do trabalho. O seu poiso era também um poial,o poial de uma janela da sua cave. Não se sentiria bem,sozinho lá no buraco.
Estes dois velhos nunca foram vistos juntos. Não se deveriam entender.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A CENTURY OF SPRAWL IN THE UNITED STATES

A century of sprawl

OCEAN STOICHIOMETRY,GLOBAL CARBON, AND CLIMATE

Climate

UM OUTRO

Por vezes,parecia-lhe ter vivido várias vidas. E isso por ter passado momentos que ele apelidava de difíceis,momentos por assim dizer,de certo,um exagero,
últimos,extremos. Em todos eles,figurou um carro.
Num deles,de repente,num cruzamento,como se tratasse de uma aparição,viera ,da sua esquerda, um jipão,à velocidade quase da luz. Numa reação desesperada,tentou escapar ao embate,acelerando ao máximo. Tinha tudo cara de o ir fazer em vão,pois estava parado,aguardando luz verde. Ter-se-ia livrado por uma fração mínima de segundo. Ainda sentiu não sabia o quê,
talvez o roçar de uma pena,uma carícia.
Num outro,foi uma enxurrada diluviana o mau da fita. Uma ponte fazia parte do caminho. Talvez tivesse sido ela a sua sorte,pois teria atuado como
descarregador. Mas antes,teria havido conversão de carro em barco,tal a altura da água.
De todas as vezes,tudo levava a crer que,terminada a aventura,deixara de ser ele,para ser um outro.

IMAGINAR

Dominava-o o desejo de voltar atrás e imitar outros. E isso porquê? É que,podia dizer-se,não experimentara ainda o que quer que fosse. Tinha amadurecido,tarde demais. E assim,o que havia a fazer,para recuperar,de algum modo,o tempo perdido,era imaginar.
E lá partia ele à desfilada,metendo-se em aventuras sem conta. Via-se atuando em palcos nunca pisados. Às vezes,ficava de lado,a observar-se. Olha que não é bem assim. Talvez mais próximo,mais alto,mais lá longe. E alegrava-se com o que estava vendo, com o que estava sentindo,pela primeira vez.
Oh,se ele soubera. Mas não valia a pena carpir. Não sabia ele que o que se experimentara se fora de vez? É quase como não tivesse acontecido. Imaginando,até se pode alterar,talhando a seu belo prazer.
A riqueza de variantes e o gozo que daqui se pode colher. Quase se deseja não ter experimentado. É como viajar usando registos. Indo,poderá ser uma tristeza. É o calor,o frio,a sujidade,as más criações,a fealdade,o desconforto. Não teria valido a pena.
Ali sentado,passando as páginas ou desatando o pensamento,era excitante. Era ele a comandar,sem plano traçado. E faria isto,uma e mais vezes,as que quisesse,que os quadros não seriam os mesmos. Era tão bom imaginar.

ARREPENDIDO

Um escrito que andava perdido. Os anos que deve ter,pois o papel já está um bocado amarelo. Parece valer a pena dar conta dele. E é assim.
Conhecem algum oportunista? Não? Pois eu cá sei de um. É pouco,mas é o que se pôde arranjar. Um dia,apanhou-me a jeito. Sabe,temos,pelo menos,uma coisa em comum. Não gostamos do chefe. Vi bem a cena de há uns tempos. Aquilo não enganava. E eu, calado que nem um rato,porque os cheiro. Vá,vai falando. Acontece que o sujeito pregou-me uma partida,a mim e à minha mulher. Não se fazia uma patifaria daquelas. Foi um valente prejuízo,pode estar certo. Temos de o afastar. Já falei ali com uns tantos e gostaríamos que você se juntasse a nós. É simples. Amanhã,quando ele for a entrar,já nós lá estaremos. Daqui não passa.
Já acabou? Agora,falo eu. É certo que não morro de amores pelo chefe. Mas isso é comigo e com ele. As suas razões,você as terá. Quanto a acompanhá-lo,não estou para aí virado. Não disponho de autoridade para o que pretende e suponho que ela também não está consigo. As coisas estão a seguir o seu curso e devemos ter paciência. Não insistiu,nem valia a pena.
O chefe lá ficou e saiu quando teve de sair. O aliciador de ocasião é que seguiu um caminho estranho. Parecia que ia numa direção,mas de repente,sem qualquer aviso,inverteu a marcha. Um outro arrependido. E ganhou com isso,o esperto. Parecia ter cartão de livre trânsito.Entrava quando lhe apetecia e saía quando lhe calhava. Enfim,fenómenos. Que sentido de orientação certa gente possui. Em que escola terão andado ou serão autodidatas?

terça-feira, 7 de julho de 2015

PONTE IMPONENTE

Acabara de atravessar uma região de aspeto desolado. Os lugarejos por onde passara davam a ideia de que tinham entrado em longa e profunda soneca. E agora ali estava aquela imponente ponte a querer contar uma história diferente. Teria caído ali por capricho de alguém? Sabe-se lá.
Ao fundo,dominando o largo tabuleiro,erguia-se uma fortaleza brasonada de ar pesado,um tanto sinistro. Quantos não a teriam percorrido sob o olhar atento e duro de sucessivas guarnições nos velhos tempos de desconfianças mútuas?
Naquele momento,a paz reinava. Mas mesmo assim,um certo resíduo do passado morto permanecia. E assim,sem o querer,imaginava-se perseguido por incontáveis inimigos,a que escapara por estarem recolhidos devido à sagrada sesta. Mas ela estava a terminar e as atalaias despertariam,que a sesta era para todos.
Foi um alívio quando se viu seguro lá do outro lado.

APENAS A DORMIR

Não se cansam as árvores e abençoadas sejam por isso. O disco é o mesmo,mas não enfada. Coisa estranha,não é ? É outro o ornamento,é outra a floração,mas as diferenças quase se não notam. E apsar disso, encantam sempre. Chega a dar pena vê-las despirem-se a certa altura. Fica uma armação um tanto deselegante,triste,quase sem préstimo.
Afinal,não estavam mortas,apenas a dormir,a descansar,que aquilo fora uma azáfama durante meses,azáfama silenciosa,sem dar nas vistas. O próprio vento se alegrará. Era áspera a pele das árvores. Assim,com a nova follhagem,poderá circular sem se magoar. E a chuva não cairá ,também,desamparada,nas pedras,ou no asfalto. Saltará de ramo em ramo,de folha em folha,como numa brincadeira de criança.

O LOBO E A OVELHA

O lobo estava muito velho e achacado. Já não podia andar lá na sua vida como antigamente. Por sorte,tinha amealhado o suficiente para não trabalhar. Teria morrido de fome. De vez em quando,saía da sua toca para dar um passeio ou ir às compras. Acabara naquela altura de se abastecer e descansava um pouco,pois os sacos pesavam.
Quem é que havia de lhe aparecer? Uma ovelha,ainda ativa,mas um tanto gasta,com quem,em tempos,tivera um caso. Lembrava-se bem dela,mas ela não o reconheceu. A ovelha era muito comunicativa e deu-lhe para parar e pôr-se ali à conversa.
Então,já está reformado?,assim como que a insinuar que gostaria de estar como ele. Já lhe custaria a andar para ali de um lado para outro,a fazer pela vida. Pode-se saber com quem estou a falar? Olhe,sou o lobo que quase a ia comendo numa tarde de inverno,há muito tempo. Mas iso era coisa passada,de resto sem consequências de maior. Tinha sido,até,uma mera brincadeira,só para aquecer. Ele ia lá fazer-lhe mal.
Tão confiada ficou a ovelha que lhe ofereceu a casa. Se lhe calar um dia,terei muito gosto em o ter lá. Moro ali adiante,quase no topo,por causa das vistas. Não se sabe porquê,mas ao lobo nunca calhou passar por lá.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

ERA...

Era um sintoma de nostalgia dum futuro,de coisa desconhecida,que não havia meio de vir. Era um cansaço da rotina costumeira,do novo sempre velho. Era um desconforto pelo que tardava em aparecer à luz do dia. Era um entardecer sem esperança. Era uma tristeza por ter de partir de mãos vazias. Era o ter andado muito,sem ter saído do mesmo canto. Era uma espera defraudada,sabendo-se que tinha de ser assim. Era o ser rua,e ser,afinal,o mundo. Era como se o fim não precisasse do princípio. Era o crescer para ficar velho. Era o ter ficado melhor em casa,sentadinho no sofá. Era o novo feito máscara,para esconder o velho. Era o velho que não havia meio de dar lugar ao novo. Era a alegria da esperança,já com laivos de tristeza. Era...

UM CIGARRINHO

Ia haver festejo. Um,trazia uma garrafa de vinho tinto,ainda por encetar,e duas latas de cerveja vazias. O outro,com uma respeitável barba branca,estava na expetativa,como que sendo o festejado. Das latas,com golpes de navalha,o da garrafa fez dois copos. A rolha teve de tomar um banho. Quando a garrafa ia a meio,chegou a vez dum cigarrinho,que não era mais do que uma beata. Estava a vida difícil,pelo que se tinha de aproveitar o que outros já não queriam. É a vida.

domingo, 5 de julho de 2015

UM ANJINHO

Este rapazinho mexe comigo. Tinha a senhora razões de sobejo para isso. Mexia com ela e mexeria com muitos mais. Era um rapazinho carente. Vinha bem arranjadinho e trazia numa das mãos uma meia dúzia de pensos rápidos,a sua mercadoria. Precisava de trocá-la por umas moedas ou por qualquer outra coisa equivalente,um bolo,um pão,coisas assim. Mas não a impingia. Não quer hoje? Para outra vez calhará. E isso, num tom,com umas maneiras que comoviam. Tão novo ainda e já com toda a paciência do mundo. Naquela altura,uma manhã avançada,a necessidade não era como a de outras ocasiões. Já lhe tinham dado o suficiente para o pequeno-almoço. E sabe,o almoço também está prometido. Não ficasse,pois,preocupada,quereria ele que assim acontecesse. Um achado,este rapazinho. Fazia lembrar uma aparição. Seria ele um outro,um anjinho lá dos céus que andasse por aí. Não admirava,pois,que a senhora achasse que aquele rapazinho mexia com ela.

NÃO PODEMOS CONTINUAR ASSIM

O marido fora despedido. Do que se podia ouvir,era uma situação que se vinha arrastando demasiadamente. E ela já não a suportaria. Nós não podemos continuar assim. E foi assim,que ela,aparentando andar à volta dos trinta anos,lhe estava lembrando,pelo telemóvel. Já lhe teria dito isto noutras ocasiões,a sós,na intimidade,mas naquela tivera larga assistência.Vários companheiros de viagem tiveram oportunidade de a ouvir,que o tom era alto. O desespero em que ela estaria. Foi capaz até de nem ter dado conta,coitada dela, do espetáculo que proporcionara.Vê lá,fala com o senhor mais uma vez,tem paciência. Enche-te de coragem,diz-lhe que és meu marido,ele conhece-me,pode ser que reconsidere. Mas tens de insistir. Olha que nós não podemos continuar assim. E repetia,repetia. Metia dó. Depreendia-se que ele não se estaria esforçando. Estaria a contar com ela. Contaria que ela tivesse paciência.

A MARINHAGEM

A veemência que ia por ali. A verdade tinha de ser dita,de uma vez por todas,para que se fizesse a devida justiça,para que se apontassem os verdadeiros heróis. E era o que ele iria fazer,o que já não era sem tempo.
Pois não foram os capitães das caravelas que dobraram cabos,que afrontaram o desconhecido,que venceram medos,que descobriram,que lá aportaram,sujeitos a mil e um perigos. Nada disso. Foi precisamente como eu vou dizer. E aprumou-se,que a ocasião o pedia. Foram outros,e está-se mesmo a ver quem foram,escusava eu de estar para aqui a declará-lo,ainda que com muito prazer,que é disto que eu sei,como o tenho mostrado imensas vezes,com geral agrado,aliás.
Pois quem havia de ser? Uma caravela tem muito que se lhe diga. Uma caravela para ir por esses mares fora,por esses traiçoeiros mares, além do vento,que sem ele nada feito,precisa, como de pão para a boca,de braços muito fortes,de braços muito rudes,habituados a todas as canseiras,algumas quase sobrehumanas.
Onde estavam eles,esses braços heróicos? Nos capitães das caravelas? Uns dirão que sim,e lá terão as suas razões. Eu não lhes nego valor,seria o primeiro a afirmá-lo. Eram eles que comandavam,que tinham de ter pulso firme para manter a disciplina,que tinham de tomar decisões,algumas de grande risco. Mas,coitados,que seria deles,das caravelas,se não fosse a marinhagem? Estavam bem arranjados,eles e elas,talvez nem chegassem a partir,quanto mais lá chegarem.
Pois está-se mesmo a ver. Quem verdadeiramente foi por essas tenebrosas águas,infestadas de mostrengos,águas muitas vezes revoltas,alterosas,quem dobrou esses cabos horrendos,quem aportou a essas novas terras desconhecidas de muitos,quem lhes veio dar novas delas,foi essa brava marinhagem.Não sendo ela,quem é que havia de ser? E todo ele se empertigava,
se acalorava,muito certo da sua certeza.
Assim,é a ela,a essa marinhagem três vezes heróica ,que se deve prestar as maiores honras,pelos altíssimos feitos cometidos.