A velhota não tinha quase nada de valor que valesse a pena,talvez a mobília do quarto e uma caixinha com meia dúzia de jóias,umas que trouxera quando casara e outras que o defunto marido lhe oferecera em ocasiões festivas. Ficara só na sua casinha. Apenas a filha velava por ela,visitando-a amiudadas vezes,e,a partir de certa altura, todos os dias. Acompanhara-a,também,nas vezes em que tivera de recorrer ao hospital,por via de operações. Parecia não ter mais ninguém. Mas não. Havia ainda um filho,o da sua predileção. Mas esse fora para paragens onde encontrara bons ventos. Sabia-se que engordara,de carnes e de dinheiro,ao qual se agarrara como uma lapa.
A filha lá ia ajudando a mãe,mas muito arrastadinha,pois tinha a sua vida. Causava admiração como conseguia dar conta de dois recados. A mãe via,preocupada,o que se estava passando,e,um dia,teve uma lembrança. Mostrou a caixinha a uma menina e esta logo se enamorou de tal tesouro. Ficaria com ela,e com mais isto e aquilo,e,em troca,fazia-lhe companhia. E assim aconteceu. Foi o que valeu à filha,se não teria ido mais depressa do que a mãe.
O filho,lá longe,ia sabendo novas,mas mais porque estava interessado noutras. Tanto a mãe como a irmã receavam maçá-lo,não fossem perturbar as suas digestões. De vez em quando,fazia uma visita,mas mais porque calhava,porque lhe ficava em caminho. Não podia estar muito tempo. Sabem,a minha vida. Da sua carteira recheada de notas,tinha prazer em as mostrar,lentamente as passando,tirava a mais pequenina,ostensivamente,como quem dava uma esmola gorda a uma pobre. A mãe nada dizia,porque ele era o seu mais que tudo. Beijar-lhe-ia as mãos,mesmo que vazias. Coitado,passara muito,e,agora,que encontrara o que sempre desejara,devia ser só para ele. Mães que têm um predileto. Tivera-lhe quase para morrer,mas lá o salvara. Fora mais um liame a prendê-la àquele filho muito querido.
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