segunda-feira, 31 de agosto de 2015

VASCO DA GAMA - PORTUGUESE EXPLORER

Vasco da Gama

O FADO

José  Malhoa

O BURRO NÃO SABIA

Vivia em permanente desassossego aquela mãe. Bem gostava ela de ficar em casa,por índole e por ser fraquinha. Mas não podia ser. Como muitas,por esse mundo além,teve de arranjar um emprego e alguém que a ajudasse nos afazeres domésticos. O emprego era estável,ao contrário das auxiliares. De quando em quando,lá lhe fugiam.
Nestes transes,tinha de pôr pernas aos caminhos,acompanhada da prole. Um dia,depois de várias tentativas frustradas,entrou num incontido desespero. O filho mais velhinho deu conta e quis colaborar.
Passavam num descampado,à vista de um burro,que,pacientemente,tasquinhava erva rala. Olhe mãe,está ali um burro. Pode ser que ele saiba de alguma empregada.Vamos parar e perguntar-lhe. O burro não sabia,mas sabia o seu dono.

UM BINÓCULO

Fora ali que um certo desejo lhe tinha surgido. Fora ali,também,
que um outro homem se sentara a seu lado. Trouxera esse homem um binóculo. Tirara-o de um saco de plástico,um vulgar saco de compras. Tinha adquirido aquele brinquedo numa espécie de feira da ladra. E vinha experimentá-lo,o que, imediatamente,se pôs a fazer.
Não imagina como tem sido a minha vida,uma vida sem horizontes. Morei sempre em caves,umas melhores,outras piores. Foram sempre muito pobrezinhos,assim,os panoramas que os meus olhos viram. E chegou a altura de os enriquecer.
Ainda bem que comprei este binóculo. A velhota diz que eu endoidei,mas a mim não me importa. Estou a gostar do que vejo. Já me devia ter lembrado disto há mais tempo.
A conversa estava a agradar-lhe. Parecia uma revelação. Não tinha vivido em caves,como aquele,mas era,de algum modo,o que lhe tinha acontecido. E àquele estímulo,um desejo brotou nele. Havia de arranjar,também,um brinquedo,mas um muito melhor. Não iria a uma feira da ladra,embora,talvez,lá o encontrasse. De alguma coisa lhe teria servido o não ter vivido sempre em caves.
Não disse ao parceiro do lado qual era esse brinquedo,para não o entristecer. E,um dia,experimentou-o,e gostou muito do que viu.

O TRISTE FADO

Andam os dois pelas esquinas,a fazer pela vida e a fugir da autoridade. É que são,no seu negócio,dois desleais concorrentes do mercado,ali tão perto. Trata-se de um casal. Ele,um homem alto,aí de uns cinquenta anos,de ombros largos,de cabelo forte e basto,de ricas cores,de ar muito desembaraçado,da arriscada labuta,e não só. Ela,mais nova,talvez quarenta,com ar de que ele é quem manda. Trabalham separadamente,cada um no seu posto. Clientes não lhes faltam,que os preços são competitivos e a vida não está para esbanjamentos. Assim,ainda o fecho do mercado vem longe,já eles fecharam a loja. Há dias,foram vistos a conferir a caixa,que é como quem diz,a caixa dela,que a dele só a ele diz respeito,e a mais ninguém,nem à sua mãezinha. O que é que ela havia de fazer,se ele é o homem da sua vida? Nada,e bico calado,que aquela fortaleza,onde ela encontrou proteção,não é para brincadeiras. O triste fado,não resta dúvida.

SENHOR JOÃO

Tinha sido uma meia promoção. Começaram por lhe dar uma enxada. Depois,porque tirara a carta de condução,passaram-lhe para as mãos também um volante. Compreende-se,assim,que se sentisse defraudado. Mas não haviam de levar a melhor. E montou uma estratégia. Não precisava de cavar mais,estava-se mesmo a ver o que era. Umas vezes ,convencia,outras,tinha de suar mais um bocado. Mas não era homem de rancores,o senhor João. Um homem de paz. E o que ele sabia de motores e companhia? E o que ele sabia de culinária? Tudo à sua custa. Andou nisto uns tempos. E um dia,apeteceu-lhe mudar. Olha quem vai ali. Era o senhor João,na Praça do Giraldo,sobraçando duas melancias gigantes. Pousou-as ,para os abraços. Aquilo é que foram tempos. Nunca mais tivera outros assim. Que saudades.

DE MÃO DADA

Mal se reformara,fora-se-lhe a mulher. O resto da família tinha mais que fazer. Uma tristeza. Para afogar as mágoas e entreter os ócios,fizera-se consumidor de sessões musicais. Não falhava uma,quase se pode dizer. Saltava de uma para outra,num frenesim,olhando para o relógio,não fosse perder uma nota.
Mas a mulher perseguia-o. E era um carpir permanente. Amigos e conhecidos de qualquer data tinham de o animar. Parecia ser companhia para sempre,até ao último suspiro,mesmo até à eternidade.
E um dia,alguém o viu de mão dada com uma dama,assim como num namoro recente. Não quis acreditar,estaria sonhando. Deveria ser um familiar,uma irmã,talvez,seria a única explicação. Mas noutro dia,ficou tudo esclarecido.
Então,arranjou um cão para se defender dos larápios? É o cão da minha mulher. De tanto pensar nela,cheio de saudades,dera-se o milagre. Ela tinha ressuscitado e aproximava-se,ligeiramente.

domingo, 30 de agosto de 2015

O GRUPO DO LEÃO - COLUMBANO BORDALO PINHEIRO

O Grupo do Leão

EÇA DE QUEIRÓS - PORTUGUESE WRITER

Eça de Queirós

PALÁCIO DE QUELUZ - PORTUGAL

Palácio de Queluz

MICORRIZAS

A natureza é sábia. Uma prodigiosa amostra disso são as micorrizas,associações ideais de raízes e de fungos. Pelas raízes, os fungos recebem sintetizados,como hidratos de carbono,aminoácidos,e demais família orgânica. Pelas hifas dos fungos,chegam às raízes o que se encontra dissolvido na água,aumentando-lhes,assim, as suas próprias capacidades. Uma espécie de pagar a dívida.

OSSOS DO OFÍCIO

As nuvens de um pó vermelho,de composição bem diferente,teriam a mesma densidade,pois os seus efeitos tinham sido os mesmos. Quem apanhara com elas é que não parecia o mesmo. Ossos do ofício,que a uns dá para andar muito limpinhos,e a outros é o que se via e vê.
Vermelha era também a terra que as produzia. Mas enquanto numa,uns bichinhos maus que por lá faziam a sua vida eram negros,na outra eram pardos. Por serem maus,era de fugir deles para bem longe,ainda que nem sempre tivesse sido possível. Ossos do ofício,que a uns dá para ter vida sossegada,a outros dá para ter vida agitada.

PERPÉTUO MOVIMENTO

Aquilo era um frenesim. Sempre que aparecia, era com um ar açodado,de quem não tinha um minuto a perder,tanto mais com ninharias,coisas sem importância,lá do outro,era o que faltava,pois tinha mais que fazer,coisas de grande urgência,enfim,coisas lá dele,só dele.
A casa onde morava era dele,um casarão,de vários andares,e ele ocupava dois,um para a família,e outro só para ele,para as suas obras. Não se sabia o que ele por lá fazia. O que se sabia era que, em tempos muito recuados,não havia aparelho a precisar de concerto que se lhe levasse que não saísse das suas mãos como novo.
Naquela altura,não se lhe levando aparelhos doentes,ele,para se enteter,iria desarranjando os aparelhos que lá tinha,para os arranjar de seguida,num perpétuo movimento.

ALGUMA COISINHA

Finalmente,ali estava uma dia como se fosse já primavera,daquelas primaveras risonhas,cheias de sol e de promessas. Já não era sem tempo,que o que ficava para trás não deixava saudades. Estariam,assim, todos à espera dela ,ou de uma sua imitação,mesmo aqueles que, parece,pela vida que têm levado,vida dura,não têm tempo,nem disposição para dar conta dessas mudanças.
Pois ali se encontrava ele,desses da tal vida que não deixa ver o que muitos encanta,um dia de primavera,ainda que antecipado,a olhar para ela,como que extasiado,como que agradecendo o poder vê-la,senti-la. De pé,barrando o meio de porta de grande movimento,todo direito,muito sério,como diante de uma coisa muito séria,respeitoso. Já não era novo,o corpo era avantajado,
lembrando repastos bem regados. Tudo apontava para o contrário do que se estava a ver. Uma coisa assim tinha de ficar registada,ainda que toscamente,para se não preder de todo,para se salvar alguma coisinha.

PORTAS ABERTAS

Ele era um sim-senhor assumido. É que não se podia incomodar,por mor do coração. Concordava com todos,não fossem pensar que os quisesse contrariar. Era o que faltava. Longe dele uma tal coisa. E não se punha com evasivas,para não restarem dúvidas.
Depois,se assim não procedesse,receava ter neles uns inimigos. Poriam umas caras muito feias e deixariam,até,de lhe falar,cortando relações. E isso,nunca. Sendo ele um pobretana,precisava de se dar bem com todos,cobrindo o maior número possível de frentes,por onde,um dia ou mais,teria de enfrentar um ataque,daqueles de não se saber para onde se voltar. Sem amparos de valia,como havia ele de se livrar de alguma armadilha,que estão sempre a acontecer? Ainda há não muito tempo,lembrava-se muito bem,tivera de recorrer a uma senhora de grande influência para escapar duma,daquelas de fugir a sete pés,tendo para onde.
Tinha,assim,neste temor,neste sobressalto permanente,de manter o maior número de portas abertas,sobretudo,daquelas bem largas,onde se recolher sem hesitações,no caso de alguma borrasca intempestiva.
Com o coração,de facto,não se pode brincar. Se não se tratar bem dele,o fim chegará,quando menos se espera. Há,pois,que lhe dar paz,envolvê-lo em paz. Paz,sempre,de manhã à noite,sem descanso. Era muito ajuizado,sem dúvida,o seu proceder. Se todos fizessem assim,pobretanas ou não,dava-se um grande passo,um passo de gigante,para impedir que guerra germinasse.

sábado, 29 de agosto de 2015

PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA - LISBOA

Palácio Nacional da Ajuda

LUÍS DE CAMÕES - PORTUGUESE POET

Luís de Camões

FORÇAS DA NATUREZA

Uma princesa,lá,há muitos anos,uma rainha,cá,ainda há pouco,duas dignas representantes das suas estirpes.
Lá,colhia dendém,espalhado no chão. Que serenidade,que distinção. Serviam-na um rancho de crianças muito alegres. Eram as suas aias. Um rio de águas verdes e mansas corria a seus pés.
Cá,ela não trazia séquito. Mas em qualquer momento,em qualquer lugar,teria sempre quem a servisse solicitamente. Bastaria um aceno,bastaria que isso quisesse.
Tudo ali emudeceu. Foi uma adoração. Imperturbável,certa da sua realeza,olhava em redor, de modo ausente. Era uma suficiência,uma magestade.
Do seu trono,um vulgar assento,a um nível comum,dominava tudo e todos,naturalmente,sem um assomo de altivez. Levantou-se,quando lhe aprouve,saiu serenemente,magestosamente,deixando atrás de si um silêncio respeitador,reverente.
Duas forças da natureza. Altas,direitas,robustas,como colunas de palácio rico.

UMA PONTE

Os barcos têm sortilégio. As viagens,grandes ou pequenas,o rio,o lago,o mar. A água,entidade fundamental. A aventura,o sonho.

Tão bem que ali ficavan. Era uma travessia de uns curtos minutos apenas. Mas poucos resistiam a vir debruçar-se da amurada,a olhar para a água,na expetativa de algum peixinho,de alguma garrafa com mensagens,e também para cima,onde gaivotas cruzavam, e para a outra margem,portadora,talvez, de alguma surpresa.

Pois sumiram-se os barquinhos. Puseram ali próximo uma ponte. Mais uma. Tão inimigos que eles eram. E agora é o que se vê. E agora lá se foi o sonho. Uma sensaboria.

Mas voltemos às pontes. Em tempos de pragmatismo quase puro,de economia,por assim dizer,no fio da navalha,servem elas,pelo menos,para duplicar esforços,que bem necessário é.Pode também dizer-se que são pontes sinérgicas. E,assim,quanto mais melhor. Os dos sonhos que tenham,pois, paciência. Sonhem outros sonhos,que há sempre lugar para mais um. E não custa nada. Até podem ser rentáveis.

TERRA MANINHA

Ainda há bem pouco tempo,aquele terreno fora cultivado com esmero,desentranhando-se em batatas,cebolas,flores e outros mimos. Pois agora,está para ali desprezado,que é um aperto de alma. Apenas mostra vida quando lá se juntam meia dúzia de amigos para grandes patuscadas. Aquilo é gente só de grelhados,que os cheiros e os fumos disso dão conta. Depois dos repastos,vêm jogos de cartas intermináveis.
Devem estar à espera do bom dinheiro que,um dia,lhes há-de caber. O local é,sem dúvida,privilegiado. Pena é que a horta tivesse dado o triste pio. Depois,era uma horta de todo o ano,que água nunca lhe faltava,porque lá por baixo corre um rio que só uma grande desgraça porá a seco. Sempre era uma mancha verde a alegrar uma paisagem de cimento.
Com os milhares a acenarem,desinteressaram-se de tal ninharia. E assim,mais uma lavoura virou terra maninha.

INQUIETA

A mãe tinha levado o filho ao jardim. A tarde estava amena,pelo que seria uma pena ele não poder respirar um melhor ar do que o lá de casa. Ali encontraria também meninos com quem pudesse brincar.
Um deles trouxera um brinquedo que ele nunca vira. Abeirou-se e lá ficaram os dois entretidos,
que o outro era de partilhar. Mas não esteve muito tempo,pois a mãe não gostara daquela intimidade. Olha que se está fazendo tarde.
Oh mãe,este menino tem um brinquedo tão giro. Deixa-me estar mais um pouco. Este é o meu pai e aquele é o teu. O meu? E ficou assim a modos que envergonhado.
A mãe insistiu. Temos de ir para casa. Mas a sua cara era triste,pois via que o seu filho tinha arranjado companhia. Davam a entender que ligavam bem. Dali não despegaria tão cedo,assim a mãe deixasse.
Mas ela estava inquieta. Temos de ir embora. Humilde,pediu desculpa. De quê? O filho apenas
quisera arranjar companheiro para conviver algum tempo. Estava deliciado com o brinquedo e tão contente com o novo amigo.

BOMBOS DE FESTA

Coitados,nasceram assim. Tímidos e de boa-fé,estão destinados a serem bombos de festa para aqueles que gostam de se divertir à custa de outros. As motivações destes nem sempre são claras. É provável que domine o quererem vingar-se de muitas frustações.As formas utilizadas variam. Uma das preferidas parece ser o zurzir em público,para o vexame e o gáudio serem maiores. Usam também maneiras encapotadas para atingir os alvos. Entre elas,figuram o fazer-se eco de opiniões alheias desprestigiosas,o de dar esperanças sem fundamento durante largos períodos e o pintar as coisas muito negras. Os desgraçados vêem-se sem saídas,tornando-se cada vez mais vulneráveis.As vitimas,em geral,não se podem furtar,porque o palco das cenas é o próprio lugar do seu único ganha-pão. Os algozes sabem disso e exploram essa dependência. Um dos modos de escapar ao martírio seria o de mudarem de poiso,mas a isso poucos se atrevem. Temem que fosse pior. Mas quando isso sucede,a fama que os acompanha propicia o engendrar de um novo abusador. Parece não poderem fugir a este triste detino,facilitando,até,às vezes,a exploração.Casos destes abundam. Em certo canto,deram brado três. Um deles,coitado,nunca se recompôs. Ainda fez uma tentativa desesperada para se libertar,emigrando para muito longe,mas nem aí o pouparam. Um outro elouqueceu de vez. O terceiro,não se sabe como não lhe aconteceu o mesmo,mas esteve quase à beira disso

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

JOSEFA DE ÓBIDOS - PORTUGUESE PAINTER

Josefa de Óbidos

WHY DO GERMANY'S ELECTRICITY KEEP FALLING ?

Electricity prices

SUNEDISON SOLAR FARM BEATS GAS WITH BIGGEST COLORADO PROJECT

Solar farm

INDIA TO HOLD BIDDING FOR 750 MEGAWATTS OF SOLAR PROJECTS

Solar projects

O CARTEIRO

Era um lugar cheio de evocações. O chão tremia com a passagem do comboio internacional. A dois passos, fluía o rio-fronteira,onde velas brancas cruzavam. À noite,chegavam sons de festas intermináveis. De tarde,vinha o carteiro,que lembrava o de Pablo Neruda.

DA MESMA MASSA

Dizem para aí que vão aumentar as rendas. A minha não pode crescer mais. Se isso acontecer,o que é que eu e a velha vamos comer? Se tivesse feito como outros,não me encontrava assim. E olha que tive à minha responsabilidade muita mercadoria. Pois até fiquei mal visto. Parecia ser eu sócio do patrão. Mas era o meu feitio. Cada qual é para o que nasce.
Pois fizeste mal. Não aproveitaste e vês os navios a passarem,que é o que ter resta e que podes fazer,pois basta-te chegar à janela,que o rio corre-te mesmo em frente. Se tivesse sido comigo,outro galo cantaria. Dá Deus nozes a quem não tem dentes,é o que é. Foste parvo,já te tenho dito isto um ror de vezes,pois andas para aí sempre na penúria. Quando chega a ocasião,tem-se de a agarrar. Ela até fica mal disposta,ofendida mesmo,e não mais repete a visita,quando encontra pela frente um tanso como tu.
Isso é tudo conversa fiada. Eu bem te conheço. Terias feito o mesmo que eu. Tu também não és desses,nunca foste. Andaste por lá embarcado uma parga de anos,e,afinal,onde está a tua riqueza? Sim,onde está? Somos os dois da mesma massa,sem tirar,nem pôr. Lá tem ido chegando e isso é que importa. Qualquer dia marchamos e podemos andar por lá,de cabeça bem levantada. Se calhar,vamos encontrar alguns que não esperávamos ver. Devem ter-se arrependido,a qualquer hora,mesmo na última,foi o que lhes valeu.

UMA VISITINHA

Era um maneirinho museu de um pequeno burgo,ali mesmo à ilharga do rio,com um respeitável acervo de achados de eras que não voltarão mais. Guardava-o, muito bem guardado e zelado, uma senhora de meia idade,que morava ali a dois passos. A sua velha mãe estava lá em casa,de cama, e era preciso,de vez em quando,fazer-lhe uma visitinha,para ver como ela ia,se estava a necessitar de aguma coisa.
Não se importam de ficar aqui em meu lugar? É um instante,que eu vou lá a correr,não me demoro nada. E ali se ficou,feitos guardiões de museu,aliás,com muito gosto,pois um dia,mais tarde,quem sabia?,seria elemento essencial de escolha,numa pretensão de emprego. Ficava altamente valorizada a folha de serviços,o que,nos tempos que correm,isso é muito importante,desde que,claro,os premiados não entrem pela porta do cavalo. Mas adiante.
Em vista de uma tal possilbilidade,de uma filha,por exemplo, dar uma saltada à sua casa,ali a dois passos,para estar uns momentos com a sua mãe velhinha,o que se perde para vir, a correr,meter-se em terras de tamanho sem fim,ficando a morar lá para o cabo do mundo. Mas é assim,por todos os lados,mesmo os ditos mais atrasados,e aí até mais. A urbe atrai. Parece ter sortilégio. É lá que acontecem coisas. E,depois,lá vem um Gedeão contar que a Luísa sobe a calçada

DE SOL A SOL

Era um espaço minúsculo,atravancado de fazendas e de fatos em diferentes estados de acabamento. Quase não cabia uma mosca. Mas dava jeito,pois o mestre era rápido a tirar as medidas e fazia apenas uma prova. Fornecia também lojas.
Devia tere um exército a trabalhar para ele,no sossego das suas casas. E quase não descansava. Só aos domingos,e mesmo assim era muito bem capaz de os gastar com uns biscates.
Estava no seu posto de sol a sol. Dizia ele que era por mor da velhice. Queria ter uma reforma que se visse. Mas se calhar não teve tempo para a gozar,pois era daqueles talhados para morrer no seu banco.Um moiro,dos das primeiras arrancadas.
Às vezes,andava muito preocupado,com medo do fisco. Querem-nos levar ainda mais?Tinham prometido que não carregavam nos impostos. Já um homem não podia amealhar,desabafava. Talvez por isso,por mor de uma velhice descansada,era vê-lo a correr para o banco,a depositar o cheque recebido segundos antes.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

ARCTIC SEA ICE COLLAPSE THREATENS

Arctic sea ice

FOOD PRODUCTION : CUT FOOD WASTE TO HELP FEED WORLD

Food production

WATER AND CLIMATE : RECOGNIZE ANTHROPOGENIC DROUGHT

Anthropogenic drought

MINNESOTA BOG STUDY TURNS UP THE HEAT ON PEAT

Global-warming

HOW CITIES CAN BEAT THE HEAT

Rising temperatures

CARBON DIOXIDE LEVELS PICK UP HIGH

Carbon dioxide

QUARTO OU QUINTO

O marido morrera,deixando-a muito bem amparada. Sem filhos e com saúde para dar e vender,iria ser o resto da sua já longa vida um agradável descanso. Acontecia,porém,ter ela um terrível medo dos ladrões. Sózinha é que não podia ficar. Assim,pôs-se à janela,guardadas as devidas conveniências . E é o que tem,repetidamente,feito. Já vai no quarto ou quinto,dando mostras de querer continuar. É que ela não há meio de perder o medo aos atrevidos larápios e eles,os companheiros,lá se têm perdido,não se sabe como. É um ar que lhes dá,mal tendo tempo de aquecer o lugar.
Há tempos,manhã cedo,apareceu ela muito afogueada. Aquilo eram uns calores dos diabos. Não sei o que tenho,parece que me falta o ar. Ainda me dá para aqui alguma coisa. Dá,dá,disse logo alguém,sem que ela ouvisse. Com a vida que levas não é para admirar.
Os sucessivos acasalamentos têm gerado,entretanto,sérias interrogações. Como será feito o recrutar,a escolha? Haverá para aí empresas especialializadas em fornecer parceiros ao domicílio? Como quer que seja,tirando os tais acessos abrasadores,parece não haver mal que lhe chegue. Está ali para durar e partilhar,que o rendimento dá bem para dois,desde que seja ela,claro,a determinar.

COM MEDO

Um caso talvez para pensar,um caso,pelo menos,para sorrir. Era lá longe,não no fim do mundo,mas longe,onde bichos maus faziam pela vida. E eram dois trabalhadores que andavam por lá tratando,também,da sua vida.
Um deles,que por lá andou uns escassos dias, não largou a carabina,o outro,que por lá andou uns longos quatro meses,não largou o canivete. Não consta,porém,que a carabina e o canivete, alguma vez, fossem postos à prova.
A carabina via-se bem,pois estava bem à vista,mas o canivete ia num bolso. Sabe-se lá,pensariam os bichos maus,o que ele traz lá escondido? E nem espreitavam,com medo.

RICA MINA

O senhor era muito rico,mas também muito modesto,no falar,no vestir,no comer. Aqui,no comer,cedia,porém,a tentações quanto à fruta. Como lá no refeitório onde almoçava não estavam para luxos,ele arranjou forma de os ter.
Quando vinha para o trabalho,onde era,alás,exemplar na dedicação,passava por um mercado ao ar livre. Ali tinha muito por onde escolher. Sem pressas,levava uma peça apenas,mas uma peça que se visse,pois no dia seguinte haveria mais.
Não a ingeria de qualquer maneira. Tinha de ser com muito açúcar. Para isso,munia-se de uns pacotinhos,que guardava na gaveta que lhe coubera.
Em que rica mina aquela gaveta se converteu. Não havia formiga nas redondezas que não tivesse dado logo com ela. Teriam,também,passado palavra. E aquilo eram carreiros vindos de todos os cantos.
Ele via o que se passava,mas mais porque era disso alertado. Era coisa que não o incomodaria. Talvez pensasse que o que dava para ele ,também devia dar para as formigas,coitadas delas. Tinham,igualmente,direito.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

AN INHIBITOR PERSISTENTLY DECREASE ENTERIC METHANE EMISSION FROM DAIRY COWS WITH NO NEGATIVE EFFECT ON MILK PRODUCTION

Enteric methane emission

MEASURING AND MITIGATING AGRICULTURAL GREENHOUSE GAS PRODUCTION IN THE US GREAT PLAINS,1870-2000

Agricultural greenhouse

21st CENTURY UNITED STATES EMISSIONS MITIGATION COULD INCREASE WATER STRESS MORE THAN THE CLIMATE CHANGE IT IS MITIGATING

Water stress

MAUS EXEMPLOS

Que mal lhes teriam feito as pobres árvores? E logo aquelas. Já contavam largos anos,é certo,

mas estavam ali ainda prontas para muitos mais,assim deixasse quem mandava nelas. E o bem que elas tinham feito? Davam ricas sombras,sem rivais à vista,sendo o regalo de muita gente,velhos e novos,quando por ali o calor era de rachar em dias de verão. E,depois,naqueles velhos tempos românticos,as noites,no aconchego da sua presença tutelar,eram ainda mais românticas. Para além disso,que já era muito,sem preço mesmo,era morada rica de um incontável número de famílias de pássaros.

Ali,porém,não havia respeito ,apontavam alguns,com ar carrancudo,o que era muito feio. Davam essas árvores muito maus exemplos. Já viram isto?,o que vai por aqui,está cada uma para seu lado,sem regra,sem disciplina,às vezes,em magotes,enfim,uma desordem intolerável. Isto, só de gente desordenada. Pois tem de se pôr aqui ordem,e sem tardar.

E certa manhã,uma manhã triste,um exército de serras,daquelas bem afiadas,entrou a decepar. Não ficou uma para amostra,a lembrar um passado perdido. Tal mortandade era de bradar aos céus,que não intervieram,que os céus tinham mais que fazer. Estavam bem arranjados os céus se tivessem de atender a todas as desgraças.

Aquilo foi um choro interminável. Choraram as pobres árvores,enquanto puderam,choraram também as suas almas. Choraram pássaros e passarinhos. Choraram alguns desses velhos tempos românticos. Mas ninguém acudiu,pois tinham mais que fazer,tinham as suas vidas trabalhosas.

Ora, árvores há muitas,é o que não falta. Depois,elas crescem,assim não lhes rareie o sustento,não lhes falte o sol,e também a água,que o CO2,um tijolo fundamental,talvez do que mais precisam,há para aí às carradas,já nem sabem mesmo o que se lhe há-de fazer.

O PRINCEZINHO

Um verdadeiro palácio,a bem dizer,sobranceiro a rua nobre. Nada lhe faltava,nem mesmo o princezinho. A entrada era um luxo,como não podia deixar de ser. Portão largo,pátio amplo,
empedrado,cavalariça,recanto ajardinado,de vistosos jarros,escadaria de dois lanços,varandim. Depois,era um nunca mais acabar de quartos,alguns para visitas,como lhe competia,cozinha de convento,onde pontificava a Joana,salão nobre,para os repastos,e,sobretudo,um grande quintal,para os folguedos. Neste,presidia uma alta nespereira. Tinha cisterna,outra fonte de inquietações para a senhora,que o princezinho podia lá cair. A um lado,rasgava-se varanda a condizer,debruçada sobre outro palácio,onde reinava uma princezinha orfã,sempre triste, porque a mãe não se dava ao respeito.
Depois ainda,segiu-se o desterro,e lá se foi o palácio. Não ficaram na rua,que uma segunda casa,para lá do grande rio,estava livre para os receber.

UMA RUÍNA

A igreja,a bem dizer uma capelinha,era a única que havia lá na aldeia,uma lembrança dos bons velhos tempos. Para ali abandonada,naquele alto,talvez o de melhor vista lá da terra,seria uma ruína,uma meia dúzia de cacos,se não lhe acudissem.
O senhor João,que não era homem dessas coisas da religião,nem ele,nem o resto da família,encheu-se de brios,e deitou mãos à obra,não ele,claro,mas o seu dinheiro. Havia de ficar como nova,talvez até melhor do que alguma vez o tinha sido. E assim aconteceu. E fê-lo,sobretudo,em atenção à mulher,que, essa,ainda guardava uns restos do que aquilo fora. Mas onde isso já ia.
O senhor João,o tal das escapadelas à capital,o tal que depois contava lá no café as suas aventuras,aliás,com grande plateia,suspensa. Oh senhor João,se a sua mulher soubesse. Não tinha dúvida. Ela sabia muito bem que estava em primeiro lugar,a grande distância do segundo,se acaso o houvesse.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

THE PORTUGUESE IN THE UNITED STATES

Portuguese

ANTÓNIO VIEIRA - PORTUGUESE AUTHOR AND DIPLOMAT

António Vieira

CRÍTICAS

Ele nunca tivera jeito para jardins,mas em certo troço do seu percurso não teve outro remédio senão tomar conta de um. O patrão não era muito exigente e na altura não lhe apareceu outra saída melhor. Lá se desembaraçou como pôde,apelando a habilidades um tanto escondidas. Valeu-lhe,também,a ajuda de alguns colaboradores,um dos quais parecia ter nascido para tal função. Dava gosto ver o jardim,a ponto de o patrão lá levar,um dia,muita gente,que se desfez em elogios,à exceção de um má língua,que achou tudo aquilo já fora de moda,já ultrapassado. Enfim,ossos de qualquer ofício. O que é preciso é uma pessoa não se deixar abalar com as críticas e,se for caso disso,aproveitar delas alguma coisa. Passado pouco tempo,ele viu a vida do jardim andar para trás. É que,quase sem aviso prévio,o patrão levou-lhe o auxiliar principal. E levou-lhe,pela simples razão de os jardins lhe terem subido à cabeça. Havia de arranjar um outro,em local mais apropriado,segundo o seu entender. E como daquela arte quase nada percebia,lá pensou que o melhor era ter a seu lado alguém para aquilo nascido. Serviu essa perda para ele fazer uma grande reforma no seu jardim. A coisa foi a tal ponto que acabou com a jardinagem. Para isso,deve ter cotribuído a tal crítica,de que nunca se esquecera,vindo de quem viera.

QUANTIDADE E QUALIDADE

Parece poder dizer-se que são muitos mais os que se preocupam com a quantidade dos alimentos do que com a sua qualidade,e que a preocupação com a qualidade é própria de quem tem a "barriga cheia",não esperando,um dia,tê-la "vazia".

JOGOS DE CARTAS

Não passava o entretém de um simples jogo de cartas,para matar tempo. Mas já não era a primeira vez em que ele era dera sinais evidentes de má disposição ,quando perdia. Pelos vistos,acima do entretém,tinha nele mais uma ocasião para mostrar que era o melhor,tal como noutros desempenhos. Até ali queria ser o primeiro. Objetivamente,nada lucrava,que era a feijões,mas seria mais uma confirmação da sua superioridade em toda a linha. Não podiam restar dúvidas. Fazia isto lembrar o que se passava noutros palcos. A alternância de desenlaces,quaisquer que eles fossem,não parecia do agrado de muita gente. O hoje eu,amanhã tu,estava longe de ser a disposição de muitos. Só se sentiam bem,permanecendo lá no topo. Custavas-lhes,como de coisa essencial se tratasse,serem segundos,e muito menos terceiros ou quartos. Mesmo que os da frente não os molestassem ou,até, acariciassem. Era simplesmente a posição, o que interessava a alguns,sem cuidar daí tirar algum proveito. O mal era quando se associava a cobiça. Podiam tornar-se perigosos,quando não mais queriam deixar os lugares. Criavam-se,então,tensões,com efeitos desagradáveis para todos. A alternância parecia, assim,com cobiça ou sem ela,um excelente remédio para as aliviar. Aos jogos de cartas,ou outros,podia aplicar-se também esta panaceia. Mas o ideal, seria existirem jogadores imbatíveis,sem mácula,dispostos a perder de vez em quando. Quando entendessem,continuando sempre sem mácula,estariam senhores do jogo.

O MELHOR DO MUNDO

A inocência das crianças,o seu olhar,os seus gestos,a sua graça. A paz que que evocam,a ternura que geram,a pedagogia que exercem. Eram merecedoras de uma estátua,ou mais,uma a cada esquina. Razão têm os que as consideram o melhor do mundo.
Nada para elas é demasiado. O amor dos pais está garantido. Mas o amor nem sempre chega,como muito bem se sabe,para lhes dar aquilo de que elas necessitam. Tem de ser ajudado. E é uma tristeza quando essa ajuda não vem.
E têm sido tantas as tristezas. Umas mostradas,outras, a imaginação dispensa que as mostrem,a lei das emoções atenua-as a todas. É lá longe,em lugares perdidos,esquecidos.
Mas são crianças. Com fome. Pele e osso. Os seus olhos fitam. Cheios de espanto. Cheios de interrogações? Cheios de acusações? A quem apresentar a conta?

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

BARTOLOMEU DIAS - PORTUGUESE EXPLORER

Bartolomeu Dias

DID PORTUGUESE BEAT CAPTAIN COOK TO AUSTRALIA BY 250 YEARS?

Australia

FRIALDADE

Lá fora,estavam graus negativos,ai uns sete ou oito,e o quarto era uma água-furtada. Queria isto dizer que lá dentro seria um frigorífico se não houvesse lareira. Não havia. Em seu lugar,havia um calorífero,que funcionava com introdução de moedas. Não seria,portanto,um frigorífico se moedas não faltassem. Não faltavam,só que o sono dava em aparecer,e quem pagava era a cabeça que ficava de fora. Um turbante ou um barrete pouco adiantavam,pelo que,sempre que se acordava,lá se tinha de recorrer à pilha de moedas,ali mesmo ao lado. Era só deitar mão a uma e enfiá-la na ranhura. Também se dispunha de botija,para os pezinhos. Mas não era de fiar,pois,de vez em quando,lá derramava o conteúdo. Mas a frialade não se ficava por aqui. Saindo da toca,lá o esperava o gelado do chão da rua. Nunca se estatelou,vá-se lá saber porquê. Talvez aqui funcionasse um certo jeito para escapar às ratoeiras ou então, outra coisa qualquer. Tudo,afinal,vai do treino.

O RESTO É CONVERSA

A aula prática daquele dia dizia respeito à análise da composição de alguns adubos azotados. Estavam no laboratório aí uma dúzia de alunos.
Um deles,mostrara,desde o início,que se encontrava ali só porque não lhe apetecera ficar lá fora. Sempre se estava ali,também,mais quentinho. A sua cara era de riso,de gozo,de provocação.
Não está a gostar do assunto? Olhe que lhe pode vir a ser útil na sua vida profissional. A mim? Está muito enganado. E não só a mim.
A mim,o que me interessa,e a mais gente,é saber se os agricultores podem ou não podem comprar os adubos. O resto á coversa.

UMA CERTA FOICE

Não era um bocado de terra por aí além,é certo,mas muitos gostariam de a ter,para a amanhar,para tirar dela algum proveito. Como naquela altura estava,era gáudio,apenas,de,pelo menos,um valente burro,que não saberia para onde se virar. Não era caso para menos.´
É que tudo aquilo que se via era erva,erva alta,erva basta. Quase nem se dava pelo jerico,sumido naquele matagal tenrinho,que o solo era fértil e fundo. Que assim continuasse aquele eldorado,seria o que ele pediria ao dono da erva,se,acaso,ele por ali aparecesse. Mas isso não iria acontecer ,por causa de uma certa foice,só que não sabia.
E também não sabia que aquela terra andava em demanda já há um ror de tempo. Os herdeiros não havia meio de se entenderem. Era pena que o burrinho não tivesse sido informado. É que como as coisas estavam, ele iria ali ter alimento,e do melhor, para o resto da sua vida. Ele já andava gordo. Mas conhecendo o que o esperava,ainda engordaria mais.

domingo, 23 de agosto de 2015

RAÇA BOVINA BARROSÃ

Raça bovina barrosã

FESTIVAL MEDIEVAL DE ÓBIDOS

Festival Medieval de Óbidos

FEIRA NACIONAL DO CAVALO - GOLEGÃ

Feira Nacional do Cavalo

BANDEIRA DE PAZ

Logo lhe haviam de ter calhado fotografias com povoações. E,assim,não teve outro remédio se não assaltar quintais,fazer rasgões na vestimenta em arame farpado,afrontar o ladrar e a dentuça de cães de todas as raças,passar por intruso,aqui e ali,fartar-se de dar explicações do porquê de entrar em casa alheia. Pode dizer-se que teve muita sorte,pois podiam tê-lo tomado como salteador de estrada,e afrontá-lo de arma pronta para disparar. Deve-lhe ter valido o ter andado de bandeira de paz sempre hasteada,que era,afinal,o seu ar de não fazer mal a uma mosca. Só uma vez foi confrontado à má fé,o que não é nada mau,quando tanto caminho palmilhou. Uma mágoa,porém,carrega. É que podia ter perturbado a inspiração de um grande compositor. Era a ignorância. Sabia lá ele que naquela casa residia tal personalidade? As fotografias só davam conta do que estava à vista. Mas,talvez,daqui a algum tempo isso seja possível. Quem sabe?

ENTREVISTA

O velho ia a caminho de uma entrevista. Em casa,preparara-se devidamente para não fazer má figura diante do senhor e no trajeto foi recapitulando aquilo que lhe havia de dizer. Estava uma tarde muito quente. E,quando a ocasião chegou,foi um desatre dos grandes. Irra,que está de abrasar. Quase como numa passagem inesquecível,dum não menos inesquecível escrito,de um nunca esquecido escritor.
Mas rapidamente recuperou,de modo a compor o ramalhete,que tão mal começara a formar-se. É que se vinha desentranhando em historietas,nos últimos tempos,empurrado não sabia ele porque forças,e estava a ver que o veio não havia meio de secar. Era capaz de vir a entrar,assim,na eternidade. E voltou a reincidir,prestes a imitar um outro célebre cultor das letras. Lá achara que no paraíso seria,no seu rasteirinho caso,demais. Também a escrever,era,da sua humilde parte,um grande exagero. Quando muito,a descrever,assim,à maneira das redações,lá na escola,para o professor ver. É que não esquecera o reparo que uma outra estrela de muito brilho tinha feito diante de uns neófitos. Descrever é fácil,escrever é que é difícil.
O senhor ia ouvindo com bonomia. Mas que pretenderá este velho? Não lhe bastara gastar máquina e papel,para agora estar ali a palmar-lhe uns preciosos minutos do seu riquinho tempo. Mas tinha de o aturar,que remédio,pois com os velhos tem de se ter muita paciência. E poucos a têm,infelizmente. Esquecem-se de que, um dia,também serão velhos,e,nessa altura, acontecer-lhe-á o mesmo,o quererem ter ouvidos a ouvi-los,mas ouvidos atentos,não ouvidos distraídos.
Deixou-o,pois,falar à vontade,sem o interromper,assim como numa confissão,a despejar o saco. Podia ser que ele se cansasse depressa. E foi que sucedeu. O velho até se esqueceu da sua pretensão. Aquilo não tinha,afinal,passado de uma manifestação da necessidade de comunicar que o atormentava.

FATAL DIA

Não pensava noutra coisa o diabo do moço. E assim,sempre que podia ,passava lá por casa para a ver. Mas fazia-o discretamente,de maneira que ninguém dava conta. De resto,ela era um bocado mais velha do que ele.
Esteve,assim, para morrer, quando a viu casada.Ela era realmente muito bonita e filha de pais com muitos teres. Fervilhavam os interessados. Escolheu um,um tanto a contragosto da família. O rapaz,de facto,não nadava em dinheiro,mas a menina só com aquele é que daria o nó. E foi o que aconteceu.
O romance não durou muito. Parece ter dominado aquela tendência,que nalguns mora,e que é o de bem depressa se saturarem da mercadoria. Uma espécie de usar e deitar fora. Para isso,deve ter contribuído o ele ter sido escolhido também pela fortuna. Ela batera-lhe à porta e ele não se fez tímido. Deslumbrado,não sabia para onde se virar. Tantas vezes o fez,que a mulher não teve outro remédio se não procurar esquecê-lo. Bem lhe terá custado,tanto mais que os tempos eram uns muito atrasados.
O mocito acompanhou-a,de longe,naquele transe. Entretanto amadurecera. E nunca mais a vira desde aquele fatal dia. Também não a visitara depois da separação. A desilusão fora tal que passara a aborrecê-la.

sábado, 22 de agosto de 2015

VASCO DA GAMA - PORTUGUESE EXPLORER

Vasco da Gama

MORAES - 'THE MAN OF TOKUSHIMA'

Wenceslau de Moraes

UM ENJEITADO

Pobre do sódio,parece um enjeitado. Havendo caminho livre,vai todo parar ao mar. É que a terra não o segura,ao contrário do que acontece com o potássio,o seu companheiro de algumas andanças.

TOME LÁ

Naquela vez,não dera resultado. Mas era necessário que noutra vez acontecesse. No chão,via-se um maço de notas,e perto estava um pobre a quem elas fariam muito jeito. Devem ser suas,tome lá. Ele,coitado,olhou para as notas como para uma aparição.Estiveram quase a ser dele. É que um desembaraçado,lestamente,interpôs-se. São minhas,deixeí-as cair.
Na próxima ocasião,será de outra maneira. Escolher-se-á uma altura em que ele esteja só,o que sucede algumas vezes,ainda que o local seja muito concorrido. Olhe,devem ser suas,tome lá. Passe bem.

TRIBUNAL

Havia um prazo a cumprir,e ele falhara por meia dúzia de dias. Bem,desta vez,escapa,mas olhe que se arriscava a ir a tribunal. A ouvir isto, estavam paredes revestidas de quadros,valendo milhares,ou milhões. A que um pobre se arrisca a ouvir.

DE OUTRO MUNDO

Dois jovens talentosos assentaram arraiais na mesma terra. Um,era um jovem de ideais roçando o altruismo,o outro,era o que se chama um pragmático. Nessa terra,para não variar,havia gente pobre,remediada e rica.
Os jovens ainda não tinham encontrado a alma gémea,mas estavam em boa ocasião de,mais uma vez,a procurar. Um,foi lá pelas alturas,o outro,escolheu patamares intermédios. Um,acabou por se submeter aos impulsos do coração,o outro,sem os excluir,juntou o útil ao agradável.
Do das alturas,não há que contar nada em especial,a não ser que foi por aí fora,como teria sonhado ou querido. Do outro,muitos guardam dele uma grande saudade,pois era o que se chama uma alma de outro mundo. Talvez porque assim fosse,deste partiu muito cedo.

CILADA

Lá num país distante,vivia um rei que não era má pessoa,mas com uma mania que desagradava a muitos . Era exigente. Queria que trabalhassem. Um grupinho,que se entretinha mais em brincadeiras do que com coisas sérias,não suportando tal querer,resolveu armar-lhe uma cilada.
O plano era simples. Montaram no seu gabinete um dispositivo de escuta. E com uma palavra ali e outra além, cozinharam uma montagem que indicava ser intenção do rei lesar o povo. Isto,afinal,não era mais do que a confirmação de antigas suspeitas. E eram tais coisas que constavam numa folhinha que chegou a todos os cantos do reino.
O tal grupinho tinha uma grande aceitação no povo,pois as suas brincadeiras entretinham-no agradavelmente. E aconteceu o que desejavam. O movimento de repúdio foi de tal ordem que o pobre do monarca teve de abdicar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

TEMPERATE FOREST HEALTH IN AN ERA OF EMERGING MEGADISTURBANCE

Forest health

FOREST HEALTH AND GLOBAL CHANGE

Healthy forests

FOREST HEALTH - SECOND ACT

Florests

FOREST HEALTH - THE NEW NORTH

Climate change

ESTÁS UM VELHO

Ele era assim. Quando falava com alguém mais baixo,encolhia-se,de modo a ficarem olhos nos olhos. Ele nunca dizia estás um velho,mas antes pareces um moço. Ele era assim,ao contrário de tantos.

DAS MAIS GORDAS

Não podia ficar melhor situada aquela escola,a dois passos do mercado,a três passos do jardim,e,sobretudo,a um passo de uma central de transporte de mercadorias,mais concretamente,de uma central de galeras que muares moviam.
Na ração das mulazinhas,pontificavam alfarrobas. Eram tulhas delas,a abarrotar. E toda aquela riqueza estava à disposição da garotada,que o dono das galeras gostava de partilhar. Ficavam os bolsos cheios,a mais não poder,das melhores,das mais gordas. As mulazinhas,ali mesmo à vista,não protestavam,pois sabiam que ainda restariam muitas.

UM DESCONSOLO

Mas que grande alteração se dera ali. Aquelas moradias tinham sido ocupadas,durante largos anos,por velhas senhoras carenciadas.Pois passaram,também,a contemplar mães solteiras. Eram outros os tempos.
Uma das velhotas,muito pesarosa,fizera as suas queixas. Que saudades tinha da paz perdida. As jovens não a respeitavam como devia ser. E,depois,passara a haver muito barulho. É que os rapazes não lhes largavam as portas. Um desconsolo,ficassem sabendo.
Coitadada dela. O marido abalara-lhe há muito e não tivera filhos. Desde a sua morte não abandonava o negro. Vivia para visitar a sua campa,ali a dois passos. Não falhava um dia,só quando os males não deixavam. A caridade encarregava-se de a alimentar e de a vestir.
E ali gastava o tempo naquele cubículo, mixto de quarto,de sala,de cozinha,de casa de banho e de capela. Quebravam esta quase clausura a tal visita e uma ou outra paragem por um banco de jardim,mesmo em frente,nas manhãs ou tardes de sol.
Já se tinha acostumado. Era a vida. Mas aquela vizinhança é que ela não esperava. Um desconsolo,ficassem sabendo.

AS MESMAS QUEZÍLIAS

A dona da casa tinha carradas de razões para desabafar,embora o fizesse com um hóspede. Este agradecia e quase estimulava,pois ,desta maneira, tinha frequentes aulas para melhorar o seu inglês. Arranjara,assim,uma professora de borla,ainda com a grande vantagem de não ter de ir apanhar mais frio,e mais chuva.
Pois claro que a senhora estava cheia de razões. O desabafar até lhe fazia bem. Ela ali feita escrava, a ter de arrumar quartos,havia mais dois hóspedes,fazer limpezas,confecionar refeições,e a cunhada,aquela rica peça,a flanar,só. Com a morte do marido ,ficara com uma boa pensão,que ela se encarregava de desbaratar em diversões e compras supérfluas.
Ele eram passeios,quase todos os dias,ele eram almoços ,em bons restaurantes,com as amigas,ele eram chapéus sempre à moda. E a água que ela esbanjava nos intermináveis banhos? Parecia ser ela uma menina. Mas quem pagava as contas era o marido,pois então. E ela havia de se ralar.
Postas as coisas nestes termos ,está-se mesmo a ver que as duas senhoras só por um muito mero acaso se cruzavam. Fugiam,positivamente, uma da outra,o que era facilitado pelo tamanho do "home". A cunhada refugiava-se no quarto,só de lá saindo para se lavar e ir às tais diversões e compras.
O hóspede já andava muito desconfiado,por outras cenas,noutros palcos. Afinal,parecia não ter saído da sua terra.É que viera encontrar as mesmas quezílias.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

CHINA'S CARBON EMISSIONS OVERESTINATED

Carbon emissions

BEEF FARMING BRINGS ON WARMING

Warming

ASIAN GLACIERS MAKE A HASTY RETREAT

Asian glaciers

O SEU PERIQUITO

Tão feliz que a senhora estava. Não fora uma moeda que ela tinha perdido e que acabara por encontrar,mas muito mais,fora o seu periquito,o seu único companheiro de há longos quatorze anos que voltara para a gaiola.

Julgara-o perdido para sempre. A porta da prisão abrira-se e o periquito aproveitara para ir dar uma volta de quase um dia. Tão ralada que ela ficara. Por onde andaria o seu amigo,com quem ela conversava tanto?

As voltas que ela dera à casa. Não escapou um canto. Espreitou por debaixo da cama mais de uma vez,revolveu os armários,e o seu periquito não dava sinal de si. Desceu e subiu a escada de serviço do prédio,e foi o mesmo que nada. Nem sombras do periquito. Bateu à porta dos vizinhos em vão.

Afinal,o seu periquito não tinha saído da casa. Fora dar com ele debaixo da mesa da cozinha. Tão feliz que ela estava,até pareceu ter remoçado. O que seria dela sem o seu companheiro e amigo de tantos anos? Mais valeria a morte.

A SUA TERRA

O que ali ía de desalento,de funda triteza. Um velho,a cavalo,de cabeça pendida,mulheres e crianças com caras de lágrimas,meia dúzia de outros velhos cobertos de farrapos.
Era o que restava de todo um clã. Os outros tinham lá ficado no campo da refrega. O que seria deles,assim tão fracos,tão desprotegidos? Para onde iriam,
se o inimigo lhes tinha ficado com a sua terra?
Um lago estava ali na sua frente. Estariam as águas desse lago à sua espera? Antes a morte,do que a sorte que os esperava.

MALDITA GUERRA

Não teria sido só aquele lago de muitos sonhos,que ali se desdobrava bem à
frente dela,que a levara a ter aquela triste lembrança. Teria contribuído mais o ser aquele com quem conversara de um país que o oeano banhava.
De um traiçoeiro submarino viera a morte para o seu muito jovem irmão. Nunca mais o vira. Ficara lá sepultado,em frente desse país. Maldita guerra.

TRISTEZA

O casal vestia rigorosamente de negro e os rostos refletiam-no. Era de supor que grande tragédia os atingira . Talvez a morte de um filho. O ar à sua volta parecia gélido,ainda que se estivesse no verão. E isto,na rua,nas salas por onde passavam,à mesa. Não se lhes ouvia uma palavra. Caminhavam rigidamente ,como autómatos,correspondendo aos cumprimentos, inclinando ligeiramente as cabeças.
Aquele local não seria o mais indicado para eles,demasiadamente expostos aos olhares de estranhos,a maioria com ar de festa. Tinham direito,também,a uns dias de descanso,certamente,mas teria sido preferível que os gastassem noutro local,longe das vistas de tanta gente,pouco disposta a pensar em mágoas e, porventura,a presenciá-las. Haviam de perturbar alguns,que se sentiriam aliviados ao vê-los partir.
O que os teria levado a escolherem aquele lugar? Se calhar por saberem irem ali encontrar muita gente,onde a sua tristeza se diluiria. Mas poucos se atreveriam,pela demasiada exposição. Uma tristeza assim pedia recato.
A mesma contenção e recolhimento os acompanhou à partida. Transmitiam a impressão de não terem ali estado,tal a ausência que os envolvia. Teriam sido as suas almas,e não os corpos,que ali estiveram sentados,recostados,de olhos fixos num alvo que só elas viam.

RISO DIABÓLICO

Um horror,o que podia ter acontecido. Fora aquele um caso para não mais esquecer. Quem é que iria esquecer uma coisa daquelas,sim,quem? O caso conta-se depressa.
Andavam os ânimos muito esquentados,pois não era coisa para menos. Estavam a ser meses e meses de nada se fazer de jeito,e a boa vida é má conselheira,toda a gente sabe disso. Pode levar a vícios,pode levar a ações que não lembrariam ao diabo mais diabo. E foi o que se passou naquela manhã do diabo,ou lá de quem era.
Se ele não se tivesse desviado,num ato de mágico,seria homem morto. Uma mão lançara com ganas uma pedra,daquelas com muitas arestas bem afiadas,a um alvo que era uma cabeça,ali a uns escassos dois,três metros.
A frialdade que passou por lá,de arripiar o mais encalorado,uma frialdade de morte.
Pois quem fizera tal lançamento pareceu ter ficado muito triste por não ter acertado,dando-lhe para rir,talvez para compensar,num riso diabólico.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

SYSTEMATIC REVIEW OF CURRENT EFFORTS TO QUANTIFY THE IMPACTS OF CLIMATE CHANGE ON UNDERNUTRITION

Undernutrition

TO PREVENT EARTHQUAKE TRIGGERING,PRESSURE CHANGES DUE TO CO2 INJECTION NEED TO BE LIMITED

CO2 injection

NEW STANFORD ENERGY SYSTEM CUTS GREENHOUSE GAS EMISSIONS 68 PER CENT AND FOSSIL FUEL 65 PER CENT

Greenhouse gas emissions

RECICLAR

Um termo com ar de novo,e uma velha prática da natureza. É,afinal,um voltar ao princípio,um regresso à terra,ao pó,às origens. A vida alimenta-se de si mesma,quer dizer,usa aquilo que a morte produz. Um caso exemplar é o das florestas,que se nutrem,em boa parte,do que das árvores se vai desprendendo,folhas,raminhos,raízes,exudados,lixiviados. Imitando-as,é o que fazem os incultos,os matos,que persistem à sua custa.

UM SACO

A velhinha ia a sair de casa,e o velhinho parou,para a deixar passar. Quer que lhe leve um saco? Oh,não,minha boa senhora,muito obrigado.

TUDO DO MELHOR

Das mãos pendiam peças de vestuário feminino,de diversas cores,todas para o leve,que o tempo era de primavera. Havia mais montras,que aquela esquina era de grande movimento,talvez a melhor ali das redondezas.
Naquela altura,conversava-se,e era ela que se encontrava no uso da palavra. Pois fiquem sabendo que quando chegar aos trinta,de que não estaria longe,hei-de ter casa com tudo do melhor.
Quer dizer que o negócio prometia,que a procura ali era mesmo a valer,tocando a todos,mas talvez mais a ela,por ser ela a mais despachada. Uma filhita acompanhava-a,ainda não a colaborar,mas recebendo lições para a vida que a esperava,uma vida de negócio,sem intervalos.

ETERNA

A cabeça dela,a parte mais notada do seu compacto corpo,não era bem uma cabeça. Era,antes,uma composição,um cenário,produto da sua veia artística,revelada logo em menina.
Para se manifestar na sua força plena,como,aliás,era indispensável,precisava de tempo,muito tempo. É que ela tinha de atender a várias frentes,cada uma com a sua exigência própria,que bem conhecia. Eram os olhos grandes,nervosos,a boca larga,as faces gordinhas,as orelhas pequeninas,a testa ampla,a cabeleira farta.
Só quando se reproduzia,isto é,quando se achava tal como era na sua época áurea,de triunfos sem conta,é que se dignava entrar em palco. Com os anos a passarem-se,com muita mágoa dela,o que, às vezes,deixava escapar,por estar distraída,ia requerendo mais tempo para toda aquela trabalheira. Mas ela era uma rainha,assim se considerava,pelo que tinham de ter paciência e compreensão.
Era uma aparição fugidia. Tinha de ser assim,pois uma ligeira variação no termómetro,uma simples brisa,um leve bafo podia deitar tudo a perder. E isso é que não,seria como uma morte. E isso é que não, que ela estava destinada a ser eterna,o que ela sempre merecera,no seu entender,por razões que ela guardava,no segredo de si e de mais ninguém. Porque ela era única.

UM MENINO

Cola tudo,cola tudo. Era a sua mercadoria principal. De vez em quando,lá ficava mais leve. Só custa um euro. É garantido,está aí escrito. Podem confirmar. Eu não sei ler,mas foi o que me disseram.
Não sei ler,pois lá em casa tinha de ajudar,na guarda dos animais e nos trabalhos do campo.
Mas olhe que ainda vai a tempo. Está aí ainda um moço cheio de vida. Isso são favores.
Ao lado dele,descansavam duas muletas. Os dentes tinham voado. A carita é que era lisa,sem uma ruga,e mostrava boas cores. E os olhos eram vivos, bem dispostos. Parecia um menino.
Já não vale a pena,pois qualquer dia marcho,que isto deve estar por pouco. Já cá cantam setenta e tais. E depois,o que é que estou cá a fazer? Escusava de andar para aí a vender umas coisitas para me entreter e para acrescentar mais alguns patacos à pensão,que se vai num instante.
Além do cola tudo,também se viam na caixa pilhas e pensos rápidos. Daria o negócio para amparar.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

CATHERINE OF BRAGANZA

Catherine of Braganza

PORTUGUESE TRAINED COLUMBUS


"In the last decade of the fifteenth century, Christopher Columbus set out on a westerly course across the Atlantic Ocean searching for an alternative route to the Indies but inadvertently "discovered" a new continent. Although neither Portuguese-born nor sponsored, Columbus was Portuguese trained. He went to Lisbon in 1476 and remained there for several years, seeking the support of the Portuguese king and gathering nautical and geographic intelligence from the returning sailors. He married a Portuguese woman; obtained navigation charts and related information from his father-in-law, Bartholomew Perestrelo, who was the governor of the island of Porto Santo in Madeira; and was employed by João II as a navigator."


In The Portuguese Role in Exploring and Mapping the New World,Hispanic Division,Library of Congress

UM CERTO SINAL

Desenhando curvas harmoniosas,o rio ia-se aproximando do seu termo. Parecia um rio de paz,mas quanto enganava ele. É que as suas águas escondiam nas profundezas restos de muita tormenta,prontos para serem alguém. Só esperavam um certo sinal para o mostrarem.
Cada um sabe de si,e aquele rio não fugia à regra. E ele lá sabia porque corria,naquela altura,tão plàcidamente. Não é com vinagre que se apanham moscas,e ele jurara,solenemente,que havia de comer muitas,quaisquer que fossem o seu tamanho e estado,mosquinhas vivas,mosquinhas mortas,moscas adultas,moscardos e outros que tais.
Não era nada esquisito aquele rio. Tudo quanto viesse à rede era peixe. Nada de desperdiçar,que não se sabe como será o dia de amanhã. O seguro morreu de velho.
O que aquela harmonia,aquela paz escondiam. Só visto,como se havia de ver quando chegasse a hora. Tinha de ter paciência,conter-se. Ela havia de chegar.

CASA VULNERÁVEL

Necessidade a quanto obrigas. Era o que acontecia àquela boa senhora,que já merecia há muito ter alguém que a ajudasse na lida daquele casarão de rés-do-chão e primeiro andar. Mas isso ali era um luxo,só para gente muito rica,que não era o seu caso. Do marido não podia esperar muito,embora ele,às vezes,desse uma mãozinha. Já estava reformado,é certo,mas tinha lá os seus amigos,que não o dispensavam.
Para mais,vivendo ali sozinhos,em casa tão vulnerável,sobretudo,pelas traseiras,quáse um deserto de gente,tinham resolvido admitir hóspedes. É que podiam ser assaltados,e assim,tinham quem os ajudasse a enfrentar os larápios,pelo menos,à noite.
Depois,sempre eram uns dinheiritos que entravam,que bem precisados estavam,pois o cofre ficara quase vazio por terem de pagar as prestações da casa,de que,há pouco,se tinham livrado.
Fora um grande alívio,o que,a cada passo,mostravam. A casinha já era deles. Dera-lhes,talvez,mais energias,em particular a ela,que bem precisada estava pelo muito trabalho que tinha pela frente. O jeito que lhe fazia se pudesse ter ali uma empregada,como lá noutros países,em que era fácil arranjar uma. Mas paciência,não se podia ter tudo,e lá se conformava.

ALGUMAS MIGALHAS

Aquilo não era mais do que o resultado da lei da ação das massas,a da matéria atrai matéria numa relação direta das massas,quer dizer,mais massas,maior atração.
Coitados,quando neles se viam os bolsos vazios,quase ninguém se lhes chegava,como que repelidos. Ao contrário,quando os bolsos rebentavam pelas costuras,não havia cão nem gato que os deixasse sossegados,na esperança de algumas migalhas.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

'LOKI' MICROBES SCIENTISTS FOUND AT THE BOTTOM OF THE OCEAN ARE OUR LONG-LOST RELATIVES

'Loki' microbes

CLIMATE : ARCTIC SEA ICE MELT SPEEDS UP IN JULY

Arctic sea ice melt

GLOBAL RENEWABLE ENERGY ROUNDUP : CHINA,KENYA,TURKEY,INDIA SEEKING MORE RENEWABLES

More renewables

TEMERIDADE

Parecia aquele um interminável caminho atravessando um deserto. Nem um casebre,e muito menos uma casa,nem uma alma,só uma,ou outra ave de rapina cruzando os ares, ou uma,ou outra cabeça de gado tasquinhando erva rala,contidas por arame farpado. Aqui e ali,abismos de amedrontar roçavam as bermas. Uma desolação, e uma temeridade.

MUITA FALTA

Desde aquele amargo,inesquecível dia,ele nunca mais confiou em ninguém. Tão amigo seu o outro se tinha mostrado sempre. Teria razões para isso,mas para o caso tal não importava.
Pois o outro fora capaz,de peito bem descoberto,na praça pública,pode dizer-se,com o maior dos desembaraços,com todas as letras,letras bem desenhadas,
que todos puderam ler,tirar-lhe um rico pãozinho da boca.
Isso não se fazia nem ao pior inimigo,como era uso dizer-se,tanto mais que estava muito longe de lhe faltar a ele o pão,e ao outro aquele pãozinho não comido iria fazer muita falta.

ESTRATAGEMA

Quando já se tinham esquecido dele,lá aparece mais uma vez. Andará pelos vinte e poucos anos. Alguém cuidará dele. A cara não é de fome. Não veste e calça como um príncipe,mas não traz farrapos. Fala consigo,às vezes de alto.
Viverá de esmolas. Para as estimular,usa um estratagema,que se julgaria estar para além das suas capacidades. É que trata todos por doutor ou doutora. Ele lá saberá que assim fica com as carteiras mais prontas para se abrirem. Pelo menos,há testemunhas dispostas a afirmar que a artimanha resulta quase sempre.
Dificil é,de facto,resistir a tal tratamento. A maioria não quererá desmenti-lo,sobretudo,quando há gente por perto. E correspondem,não muito de acordo com tão alta categoria. Ele,também,não estará à espera de mais.

NADA PARA DEITAR FORA

Não,nunca passei por essa terra,mas sou de lá perto. Pois então vou-lhe contar uma história lá passada,há aí uns vinte e mais anos.
Deviam ser umas quatro da tarde de um dia muito quente de verão. Entrei numa espécie de bar e pedi uma água mineral e pão com queijo. Ao ver o queijo, perguntei se ali era costume comê-lo com casca,que era assim que ele estava lá entre o pão. Disseram que sim. Não era o melhor do queijo,mas não era nada para deitar fora.
Pois lá na minha terra,quando por lá andei,acontecia o mesmo. Era hábito lá da região,e não consta que tivesse alguém morrido por isso. Se o não comessem é que podia ter sido o diabo.

SEM VARIAÇÕES

Ele saltava de um assunto para outro com uma ligeireza sem vergonha,detendo-se,apenas,uns instantes em cada um,por mais fôlego não possuir. Cada um é para o que nasce,não é o que,às vezes,se diz? Parecia,pois,um saltareco,um gafanhoto pequenino,que ora poisa ali,ora poisa acolá. Havia mal algum nisso? Ele supunha que não,pois tinha a certeza de não se transformar em praga,ainda que,uma vez por outra,os saltarecos o façam. Esse jeito já vinha de longe. Irra,que você não se fixa,sempre a mudar de tema. Quem o disse,era muito diferente. Tinha corda para um só,mas mudava também. Você não tem feito outra coisa se não andar de um lado para outro. Com este ,não se calou. É certo,mas onde estivera cumprira a sua obrigação.
Um dia,deu-lhe para se contrariar,e também contrariar outros. Esteve mais de vinte anos a bater,aparentemente, na mesma tecla. Era o que parecia aos de fora. Porque quando se está dentro,as variações que se podem fazer. E ele fez algumas,mas não foram assim entendidas.
De tal maneira,que os comentários nasceram,mas estes,sim,sempre os mesmos,sem variações.

domingo, 16 de agosto de 2015

A MOSTRAR QUANTO VALIA

Não tinha sido seu professor, porque no ano em que o pudera ter andara ele lá por longe a mostrar quanto valia. O ex-aluno,uns anos mais tarde,ficou muito triste,por ele não o achar capaz de ir fazer trabalho de campo, lá longe também. Não se sabia qual o motivo da exclusão.
O tempo passou e o ex-aluno,por razões do seu emprego,teve de trabalhar durante um mês no laboratório do professor. Ocasião propícia,pois,para um esclarecimento. Coube este ao professor,que, expontaneamente, o deu. Está a ver como eu tinha razão. Você é homem de bata branca. Pois é. Só que o ex-aluno mudou de emprego,indo trabalhar para o campo.
E estava ele lá no campo,quando aparece o professor. Falaram,com certeza,como bons amigos,mas nem uma palavra sobre o passado. O que lá ia era para esquecer.
Mas ele não esqueceu. E um dia,o ex-aluno,já noutro emprego,este de laboratório,teve ensejo,novamente, de ir trabalhar no campo,lá longe. E era o professor a dizer a última palavra sobre quem devia ir. E o professor disse que sim.
O professor morreu. Mas a sua lembrança não. E o ex-aluno teve ocasião,e o proveito,de ver o rasto fundo da sua passagem,vinte anos antes,quando ele andara lá por longe a mostrar quanto valia.

SORRIU

Não sabia bem quantos anos tinham decorrido,mas talvez mais de vinte. Cruzava-se frequentes vezes com ela,no patamar,na rua,de dia,de noite. Cumprimentava-a,mas raras vezes correspondia. As negativas não o desanimavam,persistindo na mesma toada. Tratava-se,além do mais,de uma mãe de família.
Aquela cara nunca se abria num sorriso e os olhos não deixavam o chão. Parecia um caso perdido. Era assim,e era assim com todos. Devia ter os seus problemas e não havia meio de os ver resolvidos,era o entendimento geral.
Mas um dia,deu-se o milagre. A senhora sorriu e falou. Os dois elevadores estavam ali à disposição. Bastava usar um. Assim,tinha de parar a meio da viagem. Não importava. Parecia que tudo se tinha passado como estava acontecendo. O sorriso não a abandonou e que bem lhe ficava.

DE TRISTEZA

Fora um caso de muito pensar aquele de um homem, ainda novo, morrer, subitamente,dois ou três dias depois de ter sido distinguido pelo seu trabalho. Andaria já doente e as emoções teriam sido determinantes?
Alguém sugeriu que talvez tivesse morrido de tristeza. Não suportara tanta inveja,que,sem o querer,despertara.

NÃO CUSTA NADA

O carro da biblioteca itinerante pára no largo lá da aldeia. Alguns,na maioria,velhos,vêm ver do que se trata. Parecia novidade. Então,o que é que aqui se vende? Nada disso. Aqui está um monte de livros que os senhores podem levar para casa. É só preencher um papelinho. Daqui a um mês,apareço,entregam os livros que leram e,depois,podem levar outros. Como vêem, é simples. E não custa nada.
Coisa boa,sim senhor. Um,muito desconfiado da fartura,quis saber de quem eram os livros,de onde lhe tinha vindo o dinheiro. E lá lhe explicaram.
Olha os espertos,eu cá me queria parecer. Toda a gente sabe que a esta terra ainda não chegou a eletricidade. Vale-nos o petróleo. De dia,andamos para aí a trabalhar onde calha,a mandriar pelas esquinas ou pelas tabernas. É só à noite,pois,que nos dá jeito ler,com a ajuda do candeeiro. É isso. O vosso ganho não pode ser outro. Passem,assim,muito bem,que negócios desses não me interessam.

A BONDADE

Chovia uma chuva miudinha e o chaparro vinha mesmo a calhar. E assim,três almas que andavam por ali vieram pedir-lhe proteção. Está-se aqui bem. Eu que o diga,que me tem servido muita vez. E a conversa veio. Então,pastor,qual é o seu ganho? Cinco escudos e de comer,não contando com o polvilhal. Vê aquele monte,lá ao longe,aquele com uma grande barra azul? Ali a soldada é maior. Aquilo é que é um patrão bom. Dá seis escudos,de comer e mais o resto,como eu disse. A bondade traduzida em dez tostões. Outros tempos.

NEM DE PROPÓSITO

Havendo tanta gente disponível,logo ele fora escolhido para o cargo de tesoureiro em três ocasiões. Ao todo,feitas as contas,foram oito longos anos a lidar com dinheiro.
Nem de propósito. É que se tratava de um pobretana. Parecia haver ali,pois, mão de mafarrico,a provocá-lo,a tentá-lo,sem desarmar, com todo o tempo do mundo. Mas não consta que se tivesse apropriado do que quer que fosse. Pelo menos,nunca se lhe viram os famigerados sinais exteriores de riqueza. Tivera,até,sempre uma vida muito encalacrada.
Era para ter ido ao cofre,em momentos de aflição. Ter-lhe-ia apetecido,com todos os diabos a incitá-lo? Sabe-se lá. Mas talvez um dia se saiba. Ora sopre aqui no tubinho. Olha o maroto,que esteve,algumas vezes,para enfiar a mão no monte das notas.
Mas porque é que o desgraçado aceitou? Era um serviço que alguém tinha de prestar,e como não lhe custava servir dissera sempre que sim. Há gente para tudo,por carolice,por exibição,por oportunismo,e sabe-se lá mais o quê. Há sempre alguém que não gosta de dizer não,por carolice,por exibição,por oportunismo,por...

sábado, 15 de agosto de 2015

O ESPAÇO E O LUGAR

O homem afadigava-se,mas mais nos fins de semana. Não se tratava só dos clientes,alguns muito exigentes,mas sobretudo dos empregados. Estes não eram de fiar,pelo que necessitava de ter muitos braços e muitos olhos para ter o serviço despachado como ele queria. Ia ficando velho. Já lhe escasseavam as energias para toda aquela azáfama. Depois,a paciência esgotara-se. Sempre a aturar caras novas,pois os aprendizes não se mostravam interessados em aprender. O que queriam era paródia. Ou os tinha de dispensar ou eles se encarregavam disso. E o homem começou a empreender. Isto assim não me convém. Qualquer dia fico-me para aqui. Pode ser que alguém se interesse pelo negócio,ou pelo espaço,que é meu,e me recompense com uma renda de jeito. O negóco não interessou,mas sim o espaço e o lugar,um lugar estratégico,que estavam mesmo bem um para o outro. E agora é vê-lo a rondar por ali,a admirar aquele volumoso caudal de gente,de dia e de noite,claro sinal de que tem garantida uma boa reforma.

UNS PATACOS

Que lugar aquele,que tempos aqueles. Deveria ser um lugar de trabalho,mas trabalho é que se não via. E isso por meses e meses,sem um sinalzinho de mudança.
Mas não era um lugar em que nada se fizesse,não,muito pelo contrário,e de largo espetro. Quer dizer,ali havia variedade. Conferia-se um livrinho com registos de empréstimos,a juros para inimigos,e tomava-se nota dos faltosos,com comentários em alta voz. Pensava-se na melhor maneira de outros tramar,sem excluir os vizinhos do lado. Narravam-se vitórias passadas,em que se correra altos riscos,voltando a elas minutos idos. Moía-se a cabeça,tentando descobrir um forma dali sair quanto antes. Prometia-se não regatear palmas lá em certo sítio para ajudar alguém a sobreviver. Tinha-se muita pena de outro alguém que dava sangue para ganhar mais uns patacos.

VERDES ANOS

A força daquele quadro. Uma mãe,muito jovem e muito magra,dava sinais de que estaria para muito breve mais um rebento. Um tanto inclinada,aconchegava no regaço o do meio,enquanto arrastava o mais velhinho com a mão livre.
Desajeitadamente,mostrou um saco de plástico,suspenso do braço que protegia o bebé,à menina da caixa do supermercado. Não poderiam ser compras por aí além,pois não se via ajuda. O marido andaria mourejando,provavelmente a pensar na mulher e nos filhos,que deixara sozinhos.
A cara era de resignação. Já se teria enchido dela,para melhor poder suportar a vida que lhe coubera. A coragem e a esperança não a teriam,também, ainda abandonado. Os seus verdes anos seriam garantia de algumas reservas de ambas. Com elas e a resignação,e com os filhos,lá se diluiu na multidão que enchia o vasto espaço comercial.

AS CASTANHAS

Praticavam o chamado venha a nós. Não seriam os únicos,nem seriam os últimos,pelo andar da carruagem. Mas eram especiais. Usavam métodos,ou técnicas,como se lhes queira chamar,lá muito deles.
Quando partiam para férias,nunca se esqueciam de levar uma rima de sacos de plástico na mala do carro. Pode dizer-se mesmo que lhes reservavam lugar nobre. É que eles iriam prestar-lhes um grande serviço. Para ser mais claro,iriam permitir-lhes reduzir ou até anular a despesa com a estadia.
De vez em quando,lá partiam eles em digressão,por aqui,por ali. Iam de olhos bem abertos,inspecionando a paisagem,como avaliadores experimentados. E quando as condições se proporcionavam,os sacos entravam em ação. Tudo o que viesse à rede era peixe. Mas tinham as suas preferências,cabendo o primeiro lugar às castanhas,seguindo-se as maçãs e as uvas.
É claro que no regresso,não era só a mala a contemplada. O carro tinha,porém,muito espaço livre,que gostosamente se deixava ocupar. Talvez fosse esta colheita o melhor das suas férias.

O MAIS DESEJADO

O Artista. Desenhava e pintava primorosamente,de maneira espontânea,sem escola. Um dom. Todo entregue à sua vocação,como que comandado por ela,não cuidava de mais nada. Não estudou,por horror aos livros. Não se empregou,por horror ao patrão. Ele era um artista,e,
portanto,a sociedade tinha obrigação de o sustentar. Alguns tinham disso alguma compreensão,pelo que lhe faziam encomendas. Era,sobretudo,pelo retrato que mais o procuravam.
Era alto,elegante,e uma cabeleira farta,ondulada,a puxar para o loiro,coroava-o. Julgava-se,de resto,um Adónis,adorado pelas mulheres. Tudo isto se conjugava para ele gostar de fazer vida de grande senhor. Mas,coitado dele,teve de refrear muito este seu jeito. Havia,porém,uns dias em que ele,de alguma maneira,o podia praticar. Tratava-se dos dias de pagamento das encomendas. Esbanjava nessas ocasiões. Escolhia a melhor pastelaria e banqueteava-se. O lugar em que se sentava ficava por detrás da montra a abarrotar de coisas boas. E assim,dizia ele,que,naqueles dias,era o homem mais desejado lá da terra.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

GLOBAL WARMING : NATIONAL GEOGRAPHIC MAP SHOWS 'STRIKING' RETREAT OF ARCTIC ICE SHEET

Global warming

GLOBAL WARMING INCREASES 'FOOD SHOCKS' THREAT

Global warming

TARGETED INCREASE OF A NATURALLY OCCURRING SUGAR IMPROVES THE YIELD OF DROUGHT AFFECTED CORN

Drought

HAS THERE BEEN A HIATUS ?

Climate change

THE LITTLEST FARMLANDS

Agriculture

O SEU FAROL

Parecia ter o rei na barriga,sempre com um ar muito sério,muito importante. Fora isto e mais aquilo. Deus,Pátria e Família tinha sido a permanente divisa da sua longa vida,desde os seus primórdios,desde que começara a sentir-se como gente. Dera-se muito bem com ela. Assim fizessem todos.
Servira a Pátria com a maior das entregas,sem regatear sacrifícios,sem hesitações,na linha da frente,de peito descoberto,zelando continuamente pela integridade e interesses dela. Fora isso reconhecido e devidamente compensado. Considerava-se um homem satisfeito,realizado.
Estava ali,naquela altura,a gozar dos rendimentos,mas sem esquecer,um segundo sequer,o lema que sempre o norteara,o seu farol. A Pátria dispensara-o,talvez a muito custo,mas ele mantinha-se-lhe fiel. Continuava servindo-a,através da Família e de Deus. Cuidava da mulher como se tratasse de uma flor muito delicada. Cuidava de Deus como se fosse um Seu ministro.
Contava,assim,figurar,um dia,entre os eleitos,bem na linha da frente.

POR GESTOS

O lugar vagara,um lugar de chefia,pelo que era preciso arranjar um outro timoneiro. Não demorou muito a encontrá-lo. Ele aceitou como quem aceita uma rosa,sem ligar aos espinhos. Não seria a melhor escolha,mas ele havia de se desembaraçar. Era homem para isso e muito mais.
Lá conduziu o barco,sem meter muita água. O tempo também colaborou,quase sempre muito bonançoso. Teve sorte em não aparecerem tempestades. Mas se acaso tivessem vindo,era capaz de se livrar delas,como já tinha mostrado noutras circunstâncias.
Mas foi um caso de muito pensar. É que para aquele lugar,era preciso saber chinês,e ele nem uma palavrinha sabia. E um dia,alguém,malevolamente,fez-lhe notar essa fundamental peça. Mas ele não se atrapalhou. É que ele sabia comunicar por gestos.

ESCUSADAS

O velho não pode sair à rua,que é logo assaltado. Calhou,naquela altura,ser uma moça,aí de uns vinte anos,com cara de fome e de voz de um outro mundo,de um mundo vazio. Precisava de um euro e meio,para tomar o comboio. Veja lá se tem aí. Já teria tentado,que a avenida era comprida,mas ,naquela escaldante noite, o movimento era do lá vai um. Vamos lá ver se tenho aqui o que quer. É um euro e meio? Sim,é um euro e meio. Veja lá. O velho já não via lá muito bem e levou tempo a procurar. Ela esperava,submissa,com todo o tempo do mundo. O velho lá deu com as moedas,depois de muito rebuscar. Ela aceitou-as,sem uma palavra. Também eram escusadas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

RESOURCES : PARTNER CROP PLANTS WITH SOLAR FACILITIES

Solar energy

CAN RANDOMIZED TRIALS ELIMINATE GLOBAL POVERTY?

Global poverty

MILLENNIUM VILLAGES PROJECT LAUNCHES RETROSPECTIVE ANALYSIS

Anti-poverty programme

MATA-BORRÃO

As refeições do menino mereciam ser registadas. O espetáculo começava antes. Tenho fome,alertava ele. E logo que os odores dos petiscos lhe chegavam,desatava a salivar. Já posso ir lavar as mãos? Corria para o seu lugar,ficando na expetativa.

Comia a grandes garfadas. Dizia ele que no colégio fazia o mesmo. Era sempre o primeiro a acabar. Começava cedo a querer ficar à frente,tal como muitos meninos,certamente. Eu sou o mais forte,eu sou o mais alto,as miúdas não me largam,tenho sete namoradas, um sem número de posições de vanguarda.

De vez em quando,repousava,a mastigar mais demoradamente. Estava arranjando espaço no seu estomagozinho. Aproveitava esses intervalos para beijar a avozinha,numa mão,num braço,reconhecido por tão ricos pitéus. Os olhos também denunciavam o bem-estar que sentia com aquelas pançadas. Marchava,depois,a sopa,que achava sempre muito boa. E a expressão de agrado era prova evidente da excelência da confeção. A cena terminava com a fruta de que mais gostava,uma pera ou uma laranja.

As digestões eram rápidas,apsar do trabalho a mais que daria aos sucos enzimáticos,em vista da escassa fragmentação dos alimentos. Assim,ainda não tinha passado uma hora,avisava que a fome tinha voltado. Às vezes,esquecia-se dela,mas isso porque os bonecos animados lá da televisão falavam mais alto. Que rica vida a deste menino.

Virá a lembrar-se dela quando crescer,quando outros interesses o tomarem,interesses absorventes,que a vida é assim,esquecida de muito passado,que ela é um mata-borrão?

COURAÇA INOXIDÁVEL

O homem é de fibra. Para alguma coisa lhe havia de ter servido o ele,há largos anos,quase nunca estar parado. Vê-se,na maior parte das vezes,sozinho,ainda que não seja bicho de mato. Mas não tem quem o acompanhe nas andanças
Pois lá ia ele no seu giro incerto,hoje para ali,amanhã para o lado oposto,mas sempre coisa para durar. Naquela manhã chuvosa,nada convidativa para se pôr a cabeça de fora,parecia que não se atreveria à passeata costumeira e que ficaria lá em casa ou na companhia de amigos,em qualquer baiuca.
A água não caía a cântaros,mas não era também uma de molha-tolos. Era assim uma chuvinha média,persistente. Pois lá ia ele ,de cabeça bem descoberta,recebendo-a como quem aceita um doce. Por ali não se via uma árvore e muito menos uma telha,mas isso a ele não apoquenta. Iria ficar ensopado,a escorrer,que o passeio,para lá e para cá,era de muitas centenas de metros.
Aquela pele já deve ser couraça,couraça inoxidável. Está ali capaz de resistir às piores invernias e aos maiores escaldões,e sabe-se lá mais o quê.

PELA PINTA

Estava uma soalheira manhã londrina,como há muito não acontecia,e aquele sossegado jardim,com muitos bancos,convidava a nele repousar.
Um homem circulava, pausadamente,como que a gozar dos rendimentos e daquela doce paz. Quando passava por um banco com gente,parava,fazendo uma vénia prolongada,respeitosa. Quase que levava a cabeça aos joelhos. Era um homem baixo,atarracado,de ar modesto,de tez morena.
Já se podia ter sentado,mas não se atrevera. Não encontrara o banco que mais lhe convinha. Mas,finalmente,lá o descobriu. Sentou-se numa ponta. Na outra,estava alguém que ele julgou,pela pinta,ser seu vizinho,quer dizer,vindo de uma terra ao pé da sua. Não se enganara.
E ali se puseram ,amistosamente, à conversa. Era de Gibraltar e tinha vindo a Londres tratar-se,beneficiando da generosidade do Serviço Nacional de Saúde. Sabe,é que eu tenho passaporte inglês. A insinuar que não era para ali um qualquer,como aquele com quem estava conversando.
Tinha escolhido,efetivamente,o banco certo. Nos outros,descansavam ingleses autênticos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

CONVERSION OF LOWLAND TROPICAL FORESTS TO TREE CASH CROP PLANTATIONS LOSES UP TO ONE-HALF OF STORED SOIL ORGANIC MATTER

Soil organic matter

DECADAL ACIDIFICATION IN THE WATER MASSES OF THE ATLANTIC OCEAN

Decadal acidification

DIVERGENT RESPONSES OF ATLANTIC COASTAL AND OCEANIC SYNECHOCOCCUS TO IRON LIMITATION

Iron limitation

MUITO ORGULHO NISSO

O mundo estava sem conserto era a conclusão a que se chegara depois de uma conversa casual com uma simples. Tinha a senhora sessenta e sete anos confessados. Estava ali à espera de uma amiga,e enquanto ela não vinha lá foi despejando o saco. Para já,podia ter declarado muito menos,que estava ali uma jovem ainda cheia de ideias,ideias bem teimosas,que elas custam muito a ganhar. Coitada dela,que nascera lá para a serra,comera o pão que o diabo amaçara,passara as passas do Algarve,ainda que não tivesse lá ido,fizera vezes sem conta das tripas coração,não estudara por razões mais que óbvias. Mas não estava triste por tudo isto,não senhor,sobretudo por causa dessa coisa de não ter estudos. Tinha até muito orgulho nisso,muita honra por não ter estudado. E aqui pusera-se muito nervosa,muito acalorada,de cara muito rosada. Teria sido uma sorte a amiga aproximar-se,senão teria havido desgraça. Mas antes disso, o que ela dissera era bem uma linda amostra do que por aí vai,do que ouvira,do que se dizia,sim, que era isso a pura verdade,e quem dissesse o contrário estivera a dormir,ou ,pior ainda,era dos tais que andam feitos lá com essa gente apontada a dedo,uns demónios. Está o mundo sem conserto,ainda que com muita honra,com muito orgulho,sim, que a mim não me enganam,que eu bem os conheço. Eu sei o que eles querem,mas a mim não me enganam.

TEMPOS DE PAZ

A ser verdade o que ele contava,um velhinho muito velho,naqueles antigos tempos,aquilo deveria ser um inferno. Eram tempos nada parecidos com os que se estavam vivendo,tempos de paz,de concórdia,de interajuda,de amparar,de compreender,de perdoar. Não se podia aplicar assim o conhecido quem sai aos seus não degenera. É que tinham degenerado mesmo muito,nem pareciam da mesma espécie. Não eram nada como os de lá de trás,gente muito conflituosa.
Por tudo e por nada,questionavam,zangavam-se,entravam em vias de facto,maltratando-se,guerreando-se,chegando a matarem-se. E diziam-se muito religiosos,e andavam sempre com o nome de Deus na boca,indo mesmo para as refregas invocando-O.
Depois,uns eram os senhores,outros não se sabia bem o que eram,eram assim uns paus mandados,prontos para todo o serviço. O que se sabia é que se fartavam de trabalhar,de sol a sol,e mesmo,quando calhava,pela noite dentro. Outros,ora outros,aquilo eram quase só festas,e caçadas,todos muito bem enfarpelados,cheirando muito bem.
Que ricos exemplos eles davam,esses bem paramentados. Aquele modo de vida era tão bom,lembrando paraíso,que não havia ninguém,desses de sol a sol,e mesmo de gente intermédia,que a não quisesse ter,fazendo tudo por isso,o que, às vezes acontecia,pois era tudo a mesma gente,sem tirar,nem pôr. Quem é que não quereria ter uma vida assim? Só um santo,e mesmo esse, coitado,muito ele deveria rogar a Deus para que afastasse dele o tentador.

DE ARRIPIAR

Será que há um gene do medo? Pelo que se lê,parece que sim. E não será de estranhar. Se há um princípio de conservação do indívíduo,um princípio imanente,necessitará ele de um gene. Virá este desde a criação ou derivará das vicissitudes da dura vida do homem primitivo. Os medos que encheriam aquelas cavernas,suscitados pelos mil perigos e pelos mil sustos. Perigos,para além dos sustos, dos muitos bichos maus,sustos,para além dos perigos,das tempestades,dos relâmpagos,dos raios,dos trovões. De arripiar.
Que fariam,nesses tempos da arrancada,para vencer os medos? Ficariam,talvez,lá para um canto,bem escondidos,muito quietinhos. Ainda não há muito tempo,alguém usou um muito usual expediente. Fazia o sinal da cruz e seria o que DEUS quisesse.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

FEIRA MEDIEVAL DE SANTA MARIA DA FEIRA 2015 - PORTUGAL

Santa Maria da Feira

MAROMBA VINE DISEASE IN PORTUGAL

Royal Botanic Gardens




DIAS CONTADOS

Em tempos lá muito de trás,havia um barco que estava a meter água por todos os lados,um barco que levava muita gente. Dessa gente,uns,em menor número,eram gordos,ou muito gordos,os outros,eram magros,ou muito magros. Os gordos,ou muito gordos, viviam bem,ou muito bem,os magros,ou muito magros,ao contrário,viviam mal,ou muito mal.Acontecia que o barco estava a meter água por causa dos gordos,ou muito gordos,pois pesavam demasiado. Para o barco deixar de meter água,estava-se mesmo a ver que os gordos,ou muito gordos,tinham de emagrecer.Sim senhor,vamos emagrecer,mas os magros,ou os muito magros, não devem querer engordar como nós. Mal os magros,ou os muito magros, tal ouviram,não se contiveram. Era o que faltava.É que nós também queríamos ser gordos,ou muito gordos,foi isso que sempre sonhámos. Não vamos nessa,também queremos engordar.Pobre barco,que tinha os dias contados.

UMAS VOLTINHAS

Um desastre não estava no programa,mas,às vezes,as coisas acontecem. Bastava um pequeno declive,uma pedrinha fora do lugar,uma ligeira saliência,e a caranguejola deixaria de cumprir a sua missão,sobretudo se a carga estivesse mal distribuída. E foi o que aconteceu.
Que ideia a de alugarem a carripana,altas horas da noite,para darem umas voltinhas. Ainda se fossem duas jovens,vá que não vá,mas não. Tratava-se,muito ao contrário,de uma senhora que teria mais de oitenta anos,e de uma outra que andaria pelos sessenta. Isto chegaria para causar apreensões.
Mas o mais grave residia na disparidade dos pesos. A velhota lembrava uma peninha,enquanto a companheira ultrapassaria bem os cem quilos. Sentadas lado a lado,o desastre ocorreria,mais tarde,ou mais cedo,como era de prever. Mas talvez se tivesse evitado se a velha senhora fosse ao colo.
Felizmente que não passou isto de um grande susto. A mais nova deve ter servido de almofada. Foi capaz de ter havido repetição,pois que,uma vez recompostas,lá continuaram nas voltinhas.
Afinal ,estavam copiando,à sua maneira,um outro atrevimento,também cheio de perigos,de que o local onde se encontravam era uma feliz lembrança.

VENTO DOMINANTE

A maldade que um vento dominante pode fazer. Em certo canto,o passar de carros e carretas em estrada de macadame calcário levantava nuvens de poeiras,que o vento se encarregava de ir depositar em vinhas. E o terreno,que era ácido,deixou de o ser,adoecendo as vinhas. Coisas que acontecem,sabendo-se porquê

INOCENTE PASTOR

Uma manhã,por sinal,uma muito fria,de bater o queixo,o velho pastor deu com uma ovelha que lhe pareceu não ser do seu redil. Os seus olhos,muito cansados,não lhe permitiam já lá ver muito bem. E passou por ela mais duas ou três vezes,como que a confirmar. E a certa altura ,não se conteve, e fez-lhe um inquérito. Quem era,de onde tinha vindo,onde morava? Devia ser ovelha,coitada,a precisar de amparo. Acabara de chegar e podia perder-se,que por ali havia montes de perigos. Muito em breve a iria visitar.
E uma noite,uma noite gelada,de ficar em casa,à lareira,o velho pastor lá apareceu,a cumprir o prometido. A sala estava cheia,pois ninguém se atrevia a pôr a cabeça de fora. Muito preocupado com aquela ovelha,não descansaria enquanto não descobrisse, entre toda aquela gente, o orientador certo para ela. E julgou ter descoberto. O moço tinha todos os requisitos para isso,no seu entender. O eleito concordou,com grande alegria do inocente pastor.
Aquilo foi uma risota pegada quando ele se retirou. Ficava bem entregue aquela ovelha. O moço era o conquistador mor lá do burgo e arredores.

CLIMATE CHANGE : AUSTRALIA SETS NEW EMISSIONS TARGET

Australia

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

TAPETES DE ARRAIOLOS - PORTUGAL

Tapetes de Arraiolos

FEIRA MEDIEVAL 2015 - GUIMARÃES

Feira Medieval

A PLACA

Não se lhe pode escapar,que a placa é bem visível,ali mesmo,na entrada,ocupando quase toda uma parede. As letras são de ouro vivo,como que gravadas a fogo. Fulano deu o chão,sicrano pagou a obra,por sinal,uma bonita obra.
De nada vale o não saber a direita o que a esquerda dá. Parece ter de ser assim,uma fatalidade, para que as ofertas surjam,para que se abram bem os cordões à bolsa. O anonimato não seduz. Tinha lá jeito ficar-se sem saber quem fora o mãos largas.
É isto muito triste e de grande ingratidão. Puderam dar porque muito receberam. Só isso,coisa de capital importância,seria suficiente para os trazer satisfeitos. Como que tinham sido os escolhidos de entre uma multidão de aparentes enjeitados. Ainda precisam de mais. Querem também o reverenciar de vizinhos e de outros lugares,tavez do mundo inteiro.

LIBERTAÇÃO

Aquilo alastrou como fogo em mato seco, de anos incontáveis,lá mesmo do início da arrancada. Nem era de esperar outra coisa,ou melhor,era de uma coisa dessas que se estaria à espera,de uma espera quase sem uma pontinha de esperança.
É que se falava de libertação,e libertos é que eles nunca se tinham sentido,nem saberiam o que isso era. Só sabiam é que tinham sido sempre escravos,como já tinham sido os seus pais,os seus avós,todos os avós lá de muito de trás.
Ignorantes de muita coisa,só conheciam uma espécie de libertação,que era a libertação de tanta carência em que tinham vivido,eles e os seus,lá de todos os de trás. Só tinham conhecido uma vida,uma vida de submissão,sempre sujeitos a este,e àquele,o que calhava,às suas vontades,aos seus desejos,aos seus prazeres,nos quais se podiam incluir as suas próprias e miseráveis vidas. Vidas em que nunca tinha surgido,e muito menos brilhado,essa palavra mágica, libertação.
Não admirava,pois,que essa palavra boa passasse de boca em boca,vencendo obstáculos de toda a odem,se derramasse por vales e montes,chegasse a todos os cantos,os mais escondidos. Quem é que lá haveria que não gostasse de ser liberto? Não haveria entre eles,essa imensa pobre gente,um sequer que recusasse. Não era de esperar outra coisa.

UM CICLONE

Então a Maria? Já não estava com a Maria. A Maria era fogo,só pensava em incendiar.

A Maria era também vida,vida incontida,vida a jorros. Um vendaval,uma tempestade a Maria.

Já não estava com a Maria. E a voz não fora de mágoa. Escapara de um ciclone.

MAS AUTÊNTICOS

Depois,um deles,representando os que não abalaram,ficando presos à terra onde tinham nascido,ouviria a mulher continuamente,porque não fizeste como tantos? Eles é que tiveram juízo. Agora têm ali uma bela casa,bem mobilada,com tudo o que é preciso para uma vida boa,que eu já vi.
E nós? Sempre com os mesmos tarecos,a cair de velhos e de podres,a viver neste casebre,que deixa entrar o frio por todos os buracos. O que ganhaste tu com isso ? Sim,recordo-me bem,dizias que amavas muito esta terra,que a não querias abandonar,que ela precisava de ti,por isto,e mais aquilo,coisas que eu não entendia.
Agora,todos se riem de ti. Não passas de um Zé Ninguém,quase sem eira,nem beira. E o que é pior é que arrastaste contigo os teus filhos,que eu já pouco me importo. Só tenho é pena deles. De ti,não tenho,pois sei que continuas a pensar que tu é que tinhas razão.
És assim,e assim hás-de morrer. Não te devias ter casado. Quem tem ideias como as tuas não deve amarrar ninguém a si. Fica livre,para não se arrepender. E eu sei que tu já te arrependeste. Tu és bom,e não queres o mal para os outros,sobretudo para os teus. Mas tu podes pouco,e carregas com esse peso de não teres conseguido fazer nada de jeito por nós.
E ele,na figura de todos quantos tinham ficado,choraria. Porque não teriam abalado também? Mas teria sido uma fraqueza passageira. Ele é que tivera razão,ele e os outros que tinham ficado. Estavam pobres,era certo,mas autênticos. Os que tinham ido por esse mundo fora não se sabia o que eram. Tinham,simplesmente,deixado de ser,para apenas ter.

ESCRAVA

O homem tinha andado lá pelo Oriente. Permanecera mais em certa ilha,onde não corria mel,mas petróleo. Não ficara rico,mas o que ganhara,mais o que conseguia aqui e ali,davam para amparar. Naquela altura,fazia serviço de segurança.
Passara horrores. Aquilo era mesmo um calor dos diabos,do inferno,se calhar. Valeram-lhe as interrupções para recompor. Viajara e divertira-se à grande. Podia dizer que dera para o resto da sua vida. Aquilo é que eram terras,de um homem se perder. E os olhos dele luziam,a recordar o passado.
E desse passado,entrou em cena uma mulher,mas uma mulher muito especial. Nunca sonhara. Até me cheguei a comover,quando eu não sou dessas fraquezas. Então não é que ela queria ser minha escrava. Não se importacva de me servir para toda a vida.
Não queria acreditar. Se me contassem,diria que era uma invenção. Mas podia jurar. Não nos havíamos de entender. Um ou dois dias,de vez em quando,vá que não vá,mas para toda a vida,nunca. Livra.

domingo, 9 de agosto de 2015

PALÁCIO DUCAL DE VILA VIÇOSA - PORTUGAL

Palácio Ducal

SOLAR DE MATEUS - VILA REAL

Solar de Mateus

PASSADIÇOS DO RIO PAIVA - PORTUGAL

Passadiços do Rio Paiva

A SUA FORTUNA

Mirradinha,baixinha,o cabelo branco de neve. Na mão,trazia duas notas de cinco euros, muito dobradinhas. Queria um bolo rei,dos mais pequenos. Mas eram todos para uma casa de família. Era capaz de não chegar a sua fortuna. Toda ela respirava apreensão, tristeza. A empregada condoeu-se. Quem seria capaz de a não imitar? Colocou um bolo rei na balança,como numa rotina. E a velhota lá foi,muito consolada,levando o seu bolo rei.

PARA APRENDER

Um dia,o padrinho contemplou o menino com uma fortuna,que lhe transtornou o juízo. Sem pedir conselho a ninguém,logo que apanhou a porta aberta,escapuliu-se,e ali vais ele,direitinho,quase a correr,ao encontro do balcão dos seus sonhos. Lá chegado,poisou nele,a custo,que o balcão era mais alto do que ele,a moeda que os seus bolsos jamais tinham visto.
Quando o senhor Maia o atendeu,apontou para um frasco com a sua paixão na altura,umas bolachinhas coroadas de estrelas de várias cores. O senhor Maia,resmungando,muito desconfiado,lá aviou a encomenda.
Com um pacote dos grandes em cada mão,bem encostados ao corpito,não se espalhassem as queridas bolachinhas pelo chão,voltou para casa,em triunfo. Foi isso sol de pouca dura,que a mãe não consentia esbanjamentos. O senhor Maia já esperava. Teve o menino de se contentar com um miserável pacotito. Para aprender.

EM DÍVIDA

Que memória a dele. Não haveria muitas assim. De invejar mesmo. E também,de vez em quando,de o provocar. Olha lá, tu não te sentes ,às vezes,em dívida? Uma memória dessas vale uma fortuna. A sorte que tu tiveste. Assim,sem mais nem menos,recebes um presente destes,um presente para toda a vida.
Não te ocorre,uma vez por outra,agradecer? A quem? A gente sabe que tu com Deus não queres nada. Mas tens o teu pai,a tua mãe. Agradecer a um ou a outro,ou aos dois. Eu agradecer a memória que fui eu que a fiz? A agradecer, era a mim,a mais ninguém. Era assim. Mas não era mau rapaz.

UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ

Ele fizera mal,muito mal,para a outra vez tinha de comprar. É que,afinal,fora uma esmola que dera,quando ela tinha mercadoria para vender. Ela aceitou,que remédio,pois aquele dinheiro dava-lhe muito jeito. Seria uma "fortuna".
Donde ela viera,a coisa estava feia,com cara de continuar não se sabia até quando,talvez até
nunca mais,que há coisas que se eternizam.Um irmão acompanhara-a. Lá,ficaram ainda mais dois,e também a mãe,que o pai abandonara-os. Uma desgraça nunca vem só.

CONTAS DE SACO

Vinham de grandes distâncias,à pata,e para lá chegar,ao mercado,tinham de vencer ladeira íngreme. Traziam, à cabeça,cestinhos de verga,cobertos com panos brancos. Branco era também o que lá dentro se encontrava. Queijinhos frescos,de cabra e de ovelha. Expunham-nos em sítio certo,reservado. A concorrência era grande,para gáudio do consumidor.
Não ganhariam para as solas,não contando com o estirão da caminhada,rematada com um final a trepar,com o tempo dela e o da venda. Contas de saco. Mesmo assim,valer-lhes-ia a pena. Sempre eram umas moeditas,uma fortuna. E,depois,talvez o mais importante,vinham até à cidade.

sábado, 8 de agosto de 2015

BIBLIOTECA DE ARTE - FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Fundação Calouste Gulbenkian

'MADE IN PORTUGAL' IS ON THE RISE

Portugal

OUTROS TEMPOS

Ainda acreditaram que tinham virado a proprietários,mas aquilo foi sol de pouca dura. Mesmo assim,estavam cheios de sorte,pois as rendas que lhes exigiram eram modestas,coisa para amigo. Não viessem herdeiros mais exigentes.
Eram aqueles hortejos umas ricas fontes de mimos. Ele era batata e cebola. Ele era fava e ervilha. Ele era tomate. Ele era frescura,que ali bem perto corria uma vala sempre cheia de água.
De velhos braços vinha toda aquela riqueza. Só pediriam que os deixassem andar ali até não poderem,o que não estaria longe. A vitalidade,as cores que ainda mostravam àquele entretém o deviam.
Mas quando já não pudessem,tudo aquilo morreria. Converter-se-ia em matagal. Que os novos não estavam para os imitar. Tinham outros passatempos,pois outros eram os tempos.

QUE QUERIA AQUELA GENTE ?

Estaria preocupado aquele povo. Não era para menos. Que queria aquela gente estranha que ultimamente dera em andar pelas suas terras? Gente que andara a visitá-la,gente que assinalara locais onde outra gente abrira covas fundas,gente que viera enfiar-se nelas,fazendo lá não se sabia o quê. O que viam é que eles lá se demoravam. Um dia,tinham de lhes perguntar.
E esse dia chegara. Talvez aquele que estava ali sozinho dentro de uma cova os esclarecesse,os tranquilizasse. Vieram em grupo numeroso,solenemente,com o chefe,um velho que parecia muito velho,de cabelo muito branco,a comandá-los.
Que queria aquela gente? Saiu da cova e foi ao seu encontro.Uns escassos metros os separavam. Teve tempo de pensar numa resposta que os havia de tranquilizar. Fiquem sabendo que um dia serão informados do que devem fazer para terem mais milho. Teriam entendido e ficado satisfeitos,pois mal o da cova acabou de falar,deram meia volta e foram lá para a sua vida.

OUTRO ILUMINADO

Eram quatro a opinar. Três,lá disseram da sua justiça,com simplicidade,como a dar a sua humilde contribuição para uma obra que se afigurava de alta complexidade. Chegou a vez de se ouvir o outro,que se guardara para o fim.
Podia ter feito o ponto da situação,à maneira de um professor,que talvez fosse ou desejasse ser,e acrescentar mais alguma coisa da sua ciência. Mas não.Tudo quanto escutara soara-lle a velho. O cerne da questão não tinha sido beliscado,nem de longe,nem de perto. Era isto mais uma confirmaçãode que só ele via claro,de que só dele viria a resposta certa.
Outro iluminado. Estaria convencido de que tinha uma missão a cumprir e de que a sua mensagem era única,inteiramente da sua lavra.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

BUILDING LAND WITH A RISING SEA

Rising sea

WATER SECURITY : GRAY OR GREEN ?

Water security

BOOM & BUST IN THE GREAT WHITE NORTH

As the ice rapidly recedes...

ERA O QUE FALTAVA

Tinha graça,tinha,se ele não pudesse andar como ele bem entendia,pentear-se como ele mais gostava,vestir-se como ele queria,adornar-se como lhe vinha à cabeça,fazer o que lhe dava mais gosto.
Pedira dinheiro a alguém para assim proceder? Não,podia prová-lo . Então,metessem-se lá com a sua vida que ele tinha a dele,niguém tinha nada com isso,era o que faltava. Têm carro? Pois também eu tenho,e de uma boa marca,como podiam ver,se estivessem interessados.
Dão esmolas aos pobrezinhos? Também eu dou,se calhar muito maiores do que a de muitos ,que dáo só umas moedinhas,quando podiam dar uma coisa que se visse. Estão casados? Também eu estou,e gosto muito da minha mulher,e da minha filha,que está ali quase uma mulher.
Ora metam-se lá com a sua vida,que eu tenho a minha,ninguém tem nada com issso,que eu não me meto com a dos outros,que,não sei porquê,quando me vêem,parece que viram um fantasma,pela cara que põem. Já uma pessoa não pode andar com quer? Era o que faltava.

ATÉ GOSTEI

Aos anos que ele ali morava,quase quarenta, naquela rua,uma rua comprida. Tinha-a percorrido vezes sem conta,como era de esperar,pois,felizmente,pernas não lhe faltavam,nem olhos para ver . Ver os prédios que a ladeavam,as lojas,os passeios,as árvores,enfim,uma grande parte do que à rua dizia respeito.
Então,não é que há dias deu de caras,pela vez primeira, com duas enfiadas de laranjeiras,uma, em cada passeio,laranjeiras esguias,de porte alto,carregadinhas de laranjas,com ar de estarem maduras? Deviam ser azedas,certamente,à semelhança do que contece em tantas outras ruas.
E quis certificar-se,o que lhe foi fácil,sem ter que ir colher uma,o que seria tarefa complicada,por
as laranjas estarem muito lá em cima,e talvez inconveniente,por razões óbvias. É que acabara de sair de sua casa,mesmo em frente de uma laranjeira,uma senhora com o seu cãozinho,para irem dar uma passeata. Desculpe,minha senhora,pode dizer-me se estas laranjas são azedas?
Olhe que não sei . Mas agora reparo. Ha por aqui mais,que estou a vê-las. Tem graça,nunca tinha dado conta. Mas devem ser,pois já teriam levado sumiço. E riu-se. Peço desculpa,mais uma vez,se importunei. Não importonou nada,até gostei.

NADA MAIS

Ele era rico,muito rico,tão rico que era caso para dizer que não sabia o que tinha,ainda que muito pouco se gozasse dessa riqueza. Mas o certo é que muito rico era,não querendo deixar de o ser,porque assim é que se sentiria bem.
Era também muito agarrado à crença de que viria cá,ao mundo em que lhe coubera vir,tantas vezes quantas as que fossem precisas para atingir o limite das perfeições,embora ele nunca dissesse que perfeições eram essas.
Porque era ele muito dado ao respeito,todos lhe respeitavam essa crença,mas,uma vez por outra,dois ou três lá lhe iam dizendo que o que ele devia fazer era aperfeiçoar-se de uma vez por todas,pois tinha só uma oportunidade para isso.
Ele,porém,teimava na sua crença,sabe-se lá porquê,talvez,também,por só se sentir bem assim,tal como com a sua muita riqueza. De resto,podia ele lá deixar perder uma crença destas,pois teria também a crença de que continuaria sempre muito rico,porque de outra maneira não teria graça nenhuma.
Mas o estranho era ele não estar disposto a gozar-se daquilo que tinha. Estaria só satisfeito por assim ser,ou melhor,por assim ter,nada mais.