O casal vestia rigorosamente de negro e os rostos refletiam-no. Era de supor que grande tragédia os atingira . Talvez a morte de um filho. O ar à sua volta parecia gélido,ainda que se estivesse no verão. E isto,na rua,nas salas por onde passavam,à mesa. Não se lhes ouvia uma palavra. Caminhavam rigidamente ,como autómatos,correspondendo aos cumprimentos, inclinando ligeiramente as cabeças.
Aquele local não seria o mais indicado para eles,demasiadamente expostos aos olhares de estranhos,a maioria com ar de festa. Tinham direito,também,a uns dias de descanso,certamente,mas teria sido preferível que os gastassem noutro local,longe das vistas de tanta gente,pouco disposta a pensar em mágoas e, porventura,a presenciá-las. Haviam de perturbar alguns,que se sentiriam aliviados ao vê-los partir.
O que os teria levado a escolherem aquele lugar? Se calhar por saberem irem ali encontrar muita gente,onde a sua tristeza se diluiria. Mas poucos se atreveriam,pela demasiada exposição. Uma tristeza assim pedia recato.
A mesma contenção e recolhimento os acompanhou à partida. Transmitiam a impressão de não terem ali estado,tal a ausência que os envolvia. Teriam sido as suas almas,e não os corpos,que ali estiveram sentados,recostados,de olhos fixos num alvo que só elas viam.
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