A cabeça dela,a parte mais notada do seu compacto corpo,não era bem uma cabeça. Era,antes,uma composição,um cenário,produto da sua veia artística,revelada logo em menina.
Para se manifestar na sua força plena,como,aliás,era indispensável,precisava de tempo,muito tempo. É que ela tinha de atender a várias frentes,cada uma com a sua exigência própria,que bem conhecia. Eram os olhos grandes,nervosos,a boca larga,as faces gordinhas,as orelhas pequeninas,a testa ampla,a cabeleira farta.
Só quando se reproduzia,isto é,quando se achava tal como era na sua época áurea,de triunfos sem conta,é que se dignava entrar em palco. Com os anos a passarem-se,com muita mágoa dela,o que, às vezes,deixava escapar,por estar distraída,ia requerendo mais tempo para toda aquela trabalheira. Mas ela era uma rainha,assim se considerava,pelo que tinham de ter paciência e compreensão.
Era uma aparição fugidia. Tinha de ser assim,pois uma ligeira variação no termómetro,uma simples brisa,um leve bafo podia deitar tudo a perder. E isso é que não,seria como uma morte. E isso é que não, que ela estava destinada a ser eterna,o que ela sempre merecera,no seu entender,por razões que ela guardava,no segredo de si e de mais ninguém. Porque ela era única.
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