A ser verdade o que ele contava,um velhinho muito velho,naqueles antigos tempos,aquilo deveria ser um inferno. Eram tempos nada parecidos com os que se estavam vivendo,tempos de paz,de concórdia,de interajuda,de amparar,de compreender,de perdoar. Não se podia aplicar assim o conhecido quem sai aos seus não degenera. É que tinham degenerado mesmo muito,nem pareciam da mesma espécie. Não eram nada como os de lá de trás,gente muito conflituosa.
Por tudo e por nada,questionavam,zangavam-se,entravam em vias de facto,maltratando-se,guerreando-se,chegando a matarem-se. E diziam-se muito religiosos,e andavam sempre com o nome de Deus na boca,indo mesmo para as refregas invocando-O.
Depois,uns eram os senhores,outros não se sabia bem o que eram,eram assim uns paus mandados,prontos para todo o serviço. O que se sabia é que se fartavam de trabalhar,de sol a sol,e mesmo,quando calhava,pela noite dentro. Outros,ora outros,aquilo eram quase só festas,e caçadas,todos muito bem enfarpelados,cheirando muito bem.
Que ricos exemplos eles davam,esses bem paramentados. Aquele modo de vida era tão bom,lembrando paraíso,que não havia ninguém,desses de sol a sol,e mesmo de gente intermédia,que a não quisesse ter,fazendo tudo por isso,o que, às vezes acontecia,pois era tudo a mesma gente,sem tirar,nem pôr. Quem é que não quereria ter uma vida assim? Só um santo,e mesmo esse, coitado,muito ele deveria rogar a Deus para que afastasse dele o tentador.
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