segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MAS AUTÊNTICOS

Depois,um deles,representando os que não abalaram,ficando presos à terra onde tinham nascido,ouviria a mulher continuamente,porque não fizeste como tantos? Eles é que tiveram juízo. Agora têm ali uma bela casa,bem mobilada,com tudo o que é preciso para uma vida boa,que eu já vi.
E nós? Sempre com os mesmos tarecos,a cair de velhos e de podres,a viver neste casebre,que deixa entrar o frio por todos os buracos. O que ganhaste tu com isso ? Sim,recordo-me bem,dizias que amavas muito esta terra,que a não querias abandonar,que ela precisava de ti,por isto,e mais aquilo,coisas que eu não entendia.
Agora,todos se riem de ti. Não passas de um Zé Ninguém,quase sem eira,nem beira. E o que é pior é que arrastaste contigo os teus filhos,que eu já pouco me importo. Só tenho é pena deles. De ti,não tenho,pois sei que continuas a pensar que tu é que tinhas razão.
És assim,e assim hás-de morrer. Não te devias ter casado. Quem tem ideias como as tuas não deve amarrar ninguém a si. Fica livre,para não se arrepender. E eu sei que tu já te arrependeste. Tu és bom,e não queres o mal para os outros,sobretudo para os teus. Mas tu podes pouco,e carregas com esse peso de não teres conseguido fazer nada de jeito por nós.
E ele,na figura de todos quantos tinham ficado,choraria. Porque não teriam abalado também? Mas teria sido uma fraqueza passageira. Ele é que tivera razão,ele e os outros que tinham ficado. Estavam pobres,era certo,mas autênticos. Os que tinham ido por esse mundo fora não se sabia o que eram. Tinham,simplesmente,deixado de ser,para apenas ter.

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