sábado, 31 de outubro de 2015

ALENTEJO II - PORTUGAL

Alentejo

MOSAICO II - CONIMBRIGA

Conimbriga

QUINTA DA REGALEIRA II - SINTRA

Quinta da Regaleira

O SEU PAPEL

Uma folha seca desprendera-se da árvore e jazia no chão. A outras já acontecera o mesmo,que o chão bem o mostrava. Mas a chuva caíra,abundante,já alguns dias,pelo que a queda das folhas não seria de a terra estar seca.
Chegara,simplesmente,a vez das folhas se desprenderem das árvores,depois de terem cumprido o seu papel,por sinal,um papel essencial. Não deviam estar,tristes,pois,as folhas por no chão se verem. Tinham cumprido o que lhes estava destinado,era isso o que importava. Outro destino as aguardava,num perpétuo mudar de forma.

ERA ASSIM

Aquela latrina de loja em centro histórico de cidade,há uns largos anos,não passava de um acanhado cubículo. O que lá se via não destoava. Um buraco,fragmentos retangulares de jornal,espetados num arame ferrugento e,nos fundos,um recetáculo triangular para os receber.
Quando os recortes se aproximavam do teto,vinha pessoal especializado. Traziam grandes sacas de linhagem. E,sem luvas,vá de as encher,calcando.
Um pouco mais adiante,no tempo,a latrina de um terceiro andar de rua nobre,de urbe ainda mais nobre,era um buraco na parede de uma sala,onde se passava roupa a ferro. Lá morava um diretor de escola,com uma filha que se entretinha o santo dia a massacrar o piano.
Avançando,mas apenas uns escassos anos,a latrina de uma pensão muito concorrida,em vila sede de concelho,era lá fora no quintal. Dois jarros dos grandes,a um canto,esperavam que os despejassem e os fossem encher. Era isso que cada um fazia,indo ao poço,ali ao lado. Fazia-se bicha disciplinada,de homens e de mulheres.
Ainda há quem se queixe,e com razão. Mas naqueles recuados tempos,pouca gente se queixaria. Era assim.

ROUPA DE FORA

A velhinha árvore acordou do seu aparente sono de meses. Para já,tem sido só um espreguiçar,o que se compreeende muito bem,dada a sua idade vetusta. Quer dizer,começou a vestir a sua nova camisa, uma nova peça de roupa de fora,que a de dentro,a camisola interior, está sempre a mudar.

O SEGURO MORREU DE VELHO

Aquele crocitar não enganava. Era sinal de mais um visitante daquele jardim. Já se tinham visto por ali gaivotas,pombos,melros,rolas ,pardais e outros que tais,mas corvo é que nunca.
Pois ali andava ele naquela manhã de sol. Ouvira-se,primeiro,a sua voz inconfundível. Devia estar próximo. E, de facto,não se fez esperar. Esteve uns segundos a descansar na relva,que o seguro morreu de velho. Depois,há asas para que vos quero. Uma árvore ramalhuda estava ali perto e foi para ela que apontou.
Mas donde teria vindo aquele corvo? Não tardou muito a saber-se. Era preciso ali alguém que desse ordens,pois aquele jardim já estava a ficar um tanto seco. E esse alguém apareceu a dá-las. Tinha ele um ar de chefe. Trazia,pelo menos,muitas chaves bem à vista. Seria um homem de muitas portas. E uma delas talvez fosse da porta onde morava o corvo.
O certo é que os dois deram mostras de se entenderem. Aquela árvore teria sido o ponto de encontro. Pareceu até que conversaram.

A ÁRVORE É UMA LIÇÃO

Não há duas folha iguais. Não há dois ramos iguais. Não há duas raizes iguais. Mas folhas desiguais,ramos desiguais,raizes desiguais,conseguem conviver na mesma árvore,dando bons frutos. A árvore é uma lição.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DROUGHT SWAING OPINIONS ON GLOBAL WARMING

Global warming

THE GREAT ARCTIC EXPERIMENT

Arctic

CRADLE OF LIFE

Amazon rainforest

DAR E VENDER

O ar,como se sabe,é muito rico em azoto. Trata-se,porém, de um gás que não é utilizável,diretamente,pelas plantas.
Para isso acontecer,tem de ser este gás transformado,o que pode ser feito industrialmente,via amoníaco, óxido nítrico e cianamida cálcica,por ação dos relâmpagos, e por certas bactérias que há nos solos,as bactérias fixadoras de azoto atmosférico.
Pode dizer-se,pois,que estas bactérias,apesar de serem muito pequeninas,possuem energia para dar e vender. É caso para dizer,também,que os seres não se medem aos palmos.

CALIBRE GROSSO

Quando se pensava em egoísmo,pensava-se numa mão cheia de coisas mais,ainda que do mesmo terreno se não saísse. Apenas mais uma meia dúzia, para não abusar,e poupar não se sabia o quê,ainda que de egoísmo se tratasse.
Era o orgulho,o interesse,a vaidade,o narcisismo,a presunção,o vista grossa,o eu cá é que sei,mais ninguém,o sou o melhor,não há,o ver de cima,sem eles o mundo era zero,os outros não valem nada. Tanta coisa era obra. Como se podia armazenar tanta coisa em espaço tão pequeno? Seria uma questão de defesa,que à volta gravitavan "inimigos" sem conta? Talvez. E então,vá de se apetrechar,sobretudo,com armas de calibre grosso.

NADA A FAZER

Diante da precaridade da vida,a cada momento provada,eram inexplicáveis a vaidade,a presunção,a soberba,a pretensão,o convencimento,a importância,o olhar de cima. Mas não havia nada a fazer,que,acontecesse o que acontecesse,toda esta família,e demais parentes,continuariam a desfilar. Eram assim.

CABO TORMENTOSO

Fora mesmo coisa de velho. Então não é que a meta dos oitenta lhe estivera parecendo como um cabo tormentoso,sem o complemento de boa esperança? Andara muito apreensivo e interrogara-se a cada passo. Seria capaz de o dobrar,e assim acontecendo,o que esconderia ele?
O tempo lá foi correndo,como,aliás,sempre sucedera,sem ele,nem outro qualquer,ainda que muito bem parecido,pusesse para ali prego ou estopa,e num dia,um dia como muitos outros,quase sem tirar nem pôr,lá pisou o risco,um risco invisível. Os últimos segundos foram vividos em grande expetativa. Só faltam três,só faltam dois,só falta um. Pronto,já estava. Oitenta já ele contava,sem ninguém os poder anular.
Afinal,nada de especial ocorrera. Continuava vivo. O corpo parecia o mesmo. Sentia-se pelo menos,pensava ,e aqui já tinha as suas dúvidas,logo parecia existir. De qualquer modo,existindo ou não existindo,era isso de somenos,as mazelas que se tinham instalado,lá continuavam,dispostas a ficar. As preocupações também não se queriam ir embora. Tudo,ou quase tudo,mais bem dito,como dantes.
O que admirava era como só naquela altura lhe dera para andar naquele desassossego,que só lhe faria mal. Tantas metas que ele já tinha cortado,a bem dizer,um sem número delas,metas todas diferentes,é certo,mas também com um sem número de elementos comuns. Fora mesmo coisa de velho,estava bem à vista.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ENERGY STORAGE : POWER REVOLUTION

Energy storage

EMISSIONS ESTIMATES : MAKE RAW EMISSIONS DATA PUBLIC IN CHINA

Emissions

HOW TO MAKE THE MOST OF CARBON DIOXIDE

Carbon dioxide

BEFORE WE DROWN WE MAY DIE OF THIRST

Sea-level

ARCTIC SNOW IS NOT BECOMING DIRTIER

Arctic snow

POWER STRUGGLE

Renewables

LEVE BRISA

A maré vazia criava ali uma praia,que um esgoto se encarregava de acinzentar. Como era disto que estavam à espera,algumas famílias de pombos e de pardais não tardaram a virem sentar-se à mesa.
Havia que chegasse para todos e parece que muito sobejaria ,a atentar nos muitos pescadores que se perfilavam ao longo da muralha. Ali acudiria peixe que valesse a pena.
O dia era de primavera e corria uma leve brisa. Gaivotas faziam concorrência aos pescadores. Mal descortinavam um peixinho,picavam verticalmente à velocidade da luz,aproveitando para tomar banho.
Dali perto,vinham vozes. A brisa estava de feição. Eram dois a fazer coisas bem diferentes. Um,consertava redes. O outro,dava à língua. As aventuras em que estava metido,aventuras anunciadas aos quatro ventos. Mas não eram de mar.

CINZAS DE MUITAS ERAS

Como se sabe,quem diz petróleo,ou gás natural,ou carvão mineral,diz carbono aprisionado há milhões de anos,ou seja,carbono que, durante esse muito longo tempo,deixou de figurar no seu ciclo ativo,dormindo como que o sono dos justos. Permitiu isso,como é sabido também,uma boa parte do oxigénio que anda por aí.
Continuados sedimentos oceânicos,restos de vidas de todos os tamanhos,com acentuação dos microscópicos,estiveram na origem desses materiais fósseis. Tendo consciência disso,muito incomodados deverão estar os parentes atuais dessas vidas de épocas longínquas,quando algum derrame de petróleo se estiver a dar mesmo ali à sua vista. É que eles estarão a ver as cinzas dos seus muitos antepassados de muitas eras.

FORÇA E FRAGILIDADE

Aquela era uma força que parecia imparável. À volta da árvore,rebentos irrompiam cheios de viço,tapando o chão. As folhas eram largas,em forma de coração,e eram muito finas,quase transparentes,talvez pela febre de crescerem.
As hastes que suportavam as folhas eram esguias,mas lá se amparavam,fruto da união que reinava ali. As suas extremidades mostravam orgãos incipientes,que bem depressa se realizariam,como tudo o resto.
A força que ia por ali e a fragilidade também,tal como a força e a fragilidade de um começo de vida,de todas as vidas.

PALAVRAS

A pouco e pouco,uma perceção,cada vez mais certeza,se foi apoderando dele. Sentia-se cada vez mais ele,só ele,como um ilhéu,rodeado inteiramente por estranhos. Mais ainda, essa perceção não se confinava a ele apenas,estendia-se a todos,vendo-os a todos também como uns ilhéus.
Era uma perceção que se traduzia na realidade do EU e do TU,bem diferenciados,sendo uma pura ilusão a alma gémea,ou complementar. O EU limitava-se a usar o outro,qualquer que ele fosse,para satisfação pessoal,e mais nada. Sentia-se melhor com o outro,simplesmente.
Só convenções levavam a suportar desentendimentos inultrapassáveis,geradores de mal estar, que o Eu recusava,e o TU também. Dalgum modo,tanto o EU ,como o TU,usavam e deitavam fora,por já se estar a ferir a realidade de cada um,a suprema realidade.
Amor,amizade,não passavam,pois,de palavras. Eram sentimentos ilusórios,possíveis só com anjos,e anjos não eram o EU e o Tu,sujeitos a uma vida de luta,do salve-se quem puder,fazendo recurso a sabia-se lá que armas. Pobres dos fracos,que,para sobreviverem,têm,muitas vezes,de se submeterem,mostrando-se bonzinhos,em tentativa de amansar os fortes,de escaparem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

LIANAS REDUCE CARBON ACCUMULATION AND STORAGE IN TROPICAL FORESTS

Lianas

GLOBAL ALTERATION OF OCEAN ECOSYSTEM FUNCTIONING DUE TO INCREASING HUMAN CO2 EMISSIONS

Human CO2 emissions

PROJECTIONS OF FUTURE METEOROLOGICAL DROUGHT AND WET PERIODS IN THE AMAZON

Drought

CATALOGUE OF ABRUPT SHIFTS IN INTERGOVERNAMENTAL PANEL OF CLIMATE CHANGE CLIMATE MODELS

Climate change

TAKING TIME TO CONSIDER THE CAUSES AND COSEQUENCES OF LARGE WILDFIRES

Wildfires

ENSINAMENTOS

É sabido,de há muito,que algumas terras agradecem,para certas culturas,que se lhes aplique,de vez em quando,calcário ou coisa equivalente. A quantidade não pode ser uma qualquer,mas há meios para a indicar. Não é isso do conhecimento de toda a gente,mas alguns têm obrigação de o saber.
Vem isto a propósito de um encontro do dono de uma herdade,um senhor de avançada idade, com um jovem que lhe andava a examinar os solos para efeitos de cartografia. O encontro foi amistoso,mas ,mesmo assim,o jovem passou um muito mau bocado,pois o senhor sabia demais.
Decorria,naquela altura,uma campanha,a nível nacional,para estimular,quando fosse caso disso,o emprego de calcário. E o ancião,do alto da sua muita sabedoria e experiência,aproveitou para descarregar,amavelmente, no moço,a sua muita estranheza.
Vocês sempre andam muito atrasados. Já faço isso há muitos anos,eu até tenho um aparelho que me diz quanto devo aplicar desse produto nas minhas terras. Como vê,não preciso de ensinamentos.

EXEMPLOS DE COLABORAÇÃO

Os líquenes e as micorrizas. Os líquenes,associações de fungos e de algas,verdes ou azuis. Os fungos,que não dispõem de clorofila,contribuem com água e nutrientes ditos minerais,as algas,com a parte orgânica. As micorrizas,associações de raízes e de fungos. Pelas raízes,os fungos recebem sintetizados,como hidratos de carbono. Pelas hifas dos fungos,chegam às raizes o que se encontra dissolvido na água,reforçando-as.

ATÉ CANTAVA

O fragor daquela nascente queria dizer alguma coisa de muito bom sobre o que se estava passando em demais lugares. Ainda há bem pouco tempo era só um tímido fio que dela brotava,embora isso quase apontasse para um milagre,tantos tinham sido os meses em que não viera do céu água que se visse. Apenas uns míseros borrifos,ali e acolá.
Mas naquela altura,não. Podia dizer-se que até cantava,e forte,pois se ouvia a sua voz ao longe. E era ver aquela água correndo por caleiras,dia e noite,sem descanso. Estava ali a fazer muita falta uma albufeira.
Queria dizer que o manancial que lhe dava vida se revitalizara. Queria dizer que a terra em seu redor ,e ,porventura,de afastados sítios,que o sitema de vasos comunicantes é uma realidade,se saturara,dispensando água que estava a mais,e que seria muita.
Tendo água caído em abundância por muitas bandas,não seria muito ousado pensar que coisa similar estivesse ocorrendo nelas. E que muitas nascentes tivessem readquirido a sua função,alimentando ribeiros e estes rios.
Parecia ser este regresso a uma vida plena,depois de tanto tempo de angústia e de perdas vultosas,um caso para ser noticiado com júbilo. Mas não,casos destes pouco interessavam.

SEM AVISO PRÉVIO

Era uma vasta área,quase plana. Quer dizer,a água que lá caísse,só podia sair dali,a
bem dizer,na vertical. E assim,quando chovia demais,as plantas que por lá faziam pela vida,uma boa parte das vezes,searas de trigo,viam-se e desejavam-se para respirar,mostrando cara muito amarelinha.Em terreno lavrado,todo o cuidado era pouco,
pois,sem aviso prévio,havia o risco de se ir por ali abaixo.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

PAINEL DE AZULEJOS I - MOSTEIRO DE SÃO VICENTE DE FORA,LISBOA

Painel de azulejos

ALENTEJO I - PORTUGAL

Alentejo

ESCRITÓRIOS

Guardado está o bocado para quem o há-de comer. E a coisa começou assim. Um dia,talvez um lindo dia de Sol,ou de muita chuva,quem sabe,um benemérito,cheio de muito boas intenções,lembrou-se de aproveitar o topo de uma colina ajardinada para nele instalar uma biblioteca e uma casa de chá. Juntava,pois,o muito útil ao agradável.
As paredes,os tetos,e alguns apetrechos surgiram,e até deram motivo para festa,aliás,bem merecida. Só que o resto não se dignou vir à luz do dia. E o tempo foi passando com o cortejo do costume,que é escusado apontar.
De repente,o lugar ganhou vida. Mas para isso, houve que varrer o muito entulho que por lá se via. Mas as intenções parece serem outras,pois fala-se em escritórios.

TRÊS LEMBRANÇAS DE NEWCASTLE

Como não podia deixar de ser,por mais de uma razão,a de Eça de Queirós,que aqui viveu de 1874 a1879. Habitou na Grey Street e tinha o consulado na Eldon Square,ali a dois passos,bem no coração da urbe. Rua e Praça, dois locais emblemáticos,sobretudo a rua,uma das mais distintas do Reino Unido.
Depois,um livro de arte de Reynaldo dos Santos,bem visível numa das livrarias mais frequentadas.
Last but not the least,uma montra onde se expunham cebolas. Não eram umas cebolas quaisquer,não senhor. Lá estava bem escrito,em letra grossa,sublinhada,"portuguese onions". Não era preciso mais nada.Deviam fazer bicha.
E assim se indicaram as três lembranças,afinal,à boa maneira de Eça. Começar em tom alto,e depois,catrapus,vir parar cá abaixo,onde ,aliás,não se está nada mal,já que é de cebolas portuguesas que se trata.

DAR O SALTO

Estava em maré de se fazer ouvir. A inspiração visitara-o e à sua volta havia muitas orelhas ávidas de histórias da vida dos outros. Tratava-se de revelar alguns episódios da sua,dos tempos recentes. Coitado ,era para ter pena dele.A filha arranjara um rico marido. Trabalhar, não era com ele. Instalara-se lá em casa,com todas as armas e bagagens,fazendo vida de grande senhor. Não largava a cama,embalado por música de acordar os mortos. Os vizinhos protestavam,mas era o mesmo que nada. Ninguém o arrancava do fofo,e era o velho que se tinha de desembaraçar,se não tê-lo-ia à perna,que o menino não era para brincadeiras. Parecia ser ele o dono lá da casa e lá do bairro.Alguém,que ele bem conhecia,não estava ligando a esta história,talvez por já a saber de cor e ir ,também, com as suas preocupações. E interveio,avisando-o. Olha,vai-te mas é preparando,pois consta para aí que os passes sociais estão por um fio.Que me importa isso a mim?Tu sabes que eu tenho lá na terra uma casita e uns pedacinhos. Pois qualquer dia, mudo-me para lá. Livrava-me do genro e de outras coisas. Os que cá ficarem que se governem. Salve-se quem puder.Dali a uns dias, foi visto,de manhã,a carregar um pesado saco. Mudava-o,a cada passo,de mão, e a livre apoiava-se nas costas. Aquilo era demais. Ia de cabeça baixa,talvez a fazer projetos. Estaria farto e decidido a dar o salto. Afinal,não deu. Alguma coisa deve ter acontecido. Talvez conformar-se.

BALDIO


Aquela era uma terra de ninguém,tal como um baldio. Não se tratava,é certo,de uma área por aí além,mas dava para alguns se sentirem ali à vontade,sem serem incomodados.
Apareciam por lá bandos de miúdos,entretidos com as suas brincadeiras,em que se incluía uma de alto risco,por descerem íngreme ladeira,sentados em tábuas,cartões e até chapas de zinco. Não constou que algum tivesse desistido,ainda que ocorressem aparatosos trambolhões.
Depois,artistas de várias artes de circo armavam por lá tendas,às vezes trazendo jaulas com inquilinos mais ou menos ferozes,que deixavam uns odores teimosos.
Nos intervalos,instalavam-se,com armas e bagagens,um modo de dizer,sucessivas famílias de nómadas. Certa vez,houve festa rija,com quebra simbólica de bilhas,que atraiu muitos curiosos,amigos de novidades.
De tanto pisar,a erva era escassa,pelo que não se viam por lá rebanhos a fazer pela vida. Mas não era local maninho de todo. É que dava também jeito para depósito de entulhos,que se cobriam de vegetação,em que predominavam tufos de borragem,que os miúdos convertiam em meia dúzia de preciosos tostões em qualquer farmácia.
Era,pois,um baldio que respirava variedade e,sobretudo,liberdade. Não haveria muitos como ele,tanto mais que uma das suas fronteiras era um presídio,onde liberdade não existia.

domingo, 25 de outubro de 2015

MUSEU DO AZULEJO I - LISBOA

Museu do Azulejo

PALÁCIO FRONTEIRA I - LISBOA

Palácio Fronteira

AZULEJOS I - IGREJA DE MARVILA,SANTARÉM

Igreja de Marvila

À PROVA DE PEDREGULHO

Era uma estrada de dela se fugir. É que por ali reinava o granito. Havendo tanto, para quê ir explorá-lo lá para longe? E, então ,os rebentamentos eram feitos mesmo ali a dois passos. Não admirava pois que os pedegrulhos aparecessem junto ao cais de embarque,o que dava um grande jeito.
Admirava que tal fosse consentido. Talvez andasse por ali o espetro da concorrência. Para o produto ficar mais barato,e assim poder competir com o de outros locais,as despesas com o transporte tinham de ser reduzidas. Depois,estava-se para lá do Marão. Os que não fossem de lá que se arranjassem,que quem mandava ali já se sabia quem era.
Havia também por ali outras estradas . Que as utilizassem,que ninguém os obrigava a passar por aquela. Querendo,trouxessem um carro à prova de pedregulho.

AQUELA MÃO

Não se esperava vê-lo,ali,naquele laboratório. Foi,de facto,uma grande surpresa. Ali estava ele,colhendo,placidamente,de uma garrafa com vinho,uma amostra para análise.
Aquela mão,que tantas vezes se fincara,de uma maneira que só ele sabia,em peles ásperas de toiros,segurava,agora,com delicadeza,a haste fina de uma pipeta. E em vez de jaqueta,no geral,salpicada de sangue,envergava,agora,uma bata impecavelmente branca.
Estava só,naquela vasta sala. Tal como tantas vezes estivera em tantas pegas de cernelha.

APARÊNCIAS

Viera de automóvel,um carro de boa marca,mas já com uns largos anos,que arrumara em passeio alto,para se livrar de despesas. Teria comido bem,e bebido melhor,que aquele avantajado corpo,também já de anos largos, pedia que o tratassem como devia ser. Com essa sobrecarga,apsar de bengala robusta,foi uma carga de trabalhos atravessar uma rua,galgar um passeio,cruzar outra rua,e,finalmente,voltar a ocupar o assento do condutor.
E aconteceu o inesperado.Ter trepado aquele passeio já fora coisa de mestre. Mas descê-lo,sem uma arranhadela,foi obra de mágico. Fê-lo com todos os cuidados,segundo a segundo,sem um deslise. Muito podem,pois,enganar as aparências.

MEDONHA ALGAZARRA

Coitada da velhota. Já lhe tinham voado os dentes e a voz era entaramelada. Vivia de biscates e colaborava na animação da terra. Neste entretém,tinha a ajuda de garotos. Estavam ela e eles combinados. Quando aquilo estava a caminhar para a pasmaceira,resolviam intervir. A coisa era
fácil,pelo que dispensavam-se ensaios.
Chamava-se Ana,simplesmente. Era,pelo menos,a este nome que ela acudia. Mas os miúdos completraram-no,ficando, para todo o sempre, Ana Balhana. Não foi uma coisa ao acaso,pois assim dava-lhes jeito para comporem uns versos. E era numa medonha algazarra,atrás dela,que os recitavam. As correrias que a boa da velhota fazia para simular agarrar um deles. No contrato,
figurava a impunidade.

TEXAS : DE IMPERIO DEL PETRÓLEO A LÍDER EN ENERGÍA EÓLICA GRACIAS A IBERDROLA

Iberdrola

sábado, 24 de outubro de 2015

FESTA DAS FLORES I - CAMPO MAIOR

Festa da Flores

FESTA DOS TABULEIROS I - TOMAR

Festa dos Tabuleiros

VALE DO DOURO III - PORTUGAL

Vale do Doutro

VALE DO DOURO II - PORTUGAL

Vale do Douro

VALE DO DOURO I - PORTUGAL

Vale do Douro

MAU PADRASTO

Não era a estátua de um desterrado,mas para lá caminhava. Sentado num dos bancos daquele amplo jardim,a tristeza envolvia-o pesadamente. Pontificara ali anos a fio,acudindo ali e acolá,onde era preciso,plantando,regando,aparando,limpando. Sempre num virote,sem quase repousar. Até em dias de folga aparecia por lá,tapando alguns buracos,daqueles mais visíveis.
Estaria reformado? Afinal,não era ainda o descanso do guerreiro. Fora,simplesmente,transferido para outras paragens. Manda quem pode e ele não pudera dizer que não. Mas muito lhe teria custado,que era ali que ele se sentia como em sua casa,talvez,até,a considerasse como isso mesmo,a sua casinha.
Encontrava-se,então ali,naquela manhã soalheira de domingo,matando saudades. Escolhera um ponto estratégico,de onde podia abarcar todos aqueles seus muitos cantos familiares. E veria defeitos,gravíssimos defeitos. A falta que ele ali estaria fazendo,e sem poder acudir,sem poder sanar as mazelas,que seriam muitas,aos seus olhos de conhecedor sensível. E isso mais o magoaria. Aquele jardim seria para ele como um filho muito amado,que passara a estar ao cuidado de um mau padrasto.

LAVATÓRIO NUNCA VISTO

Aquilo foi um salto quase mortal. Mas porque se tratava de moços já muito calejados por outras lides,não houve mortos a registar.
Depois de uma noite bem passada,entre lençóis de pano cru,um lavatório por eles nunca visto esperava-os. A surpresa foi grande,mas bem depressa se recompuseram.
Tratava-se de um vasto tanque retangular,que em tempos servira para dessedentar quadrúpedes. Três bicas,de volumoso caudal,encarregavam-se do serviço.
Deixando de haver tal clientela,aquelas bicas e aquele vasto tanque não podiam ficar para ali sem préstimo. E ali estavam,agora,aqueles moços fazendo bicha ordeira,esperando pela sua vez,não para matar a sede,mas ,simplesmente,para lhes espantar algum resto de sono. Seria,de facto, difícil arranjar melhor método. De fria que a água brotava,era capaz de ressuscitar uma legião de mortos.

LACINHOS BRANCOS

Aquele saco de viagem,pousado no banco da alameda,vinha desfazer a dúvida que se levantara de véspera. É que fora visto ao ombro,como vem sendo hábito universal,de uma velha senhora,um tanto ou quanto disfarçada nesssa ocasião. Seria mais uma turista,num sítio onde elas abundam.
Ali estava,então,ela,apanhando banhos de sol. O cabelo tinha sido repuxado,de modo o pescoço,ainda esbelto,ser devidamente contemplado,de companhia com as espáduas e o peito. Guarnecia-a,apenas,uma camisa de lacinhos brancos,que,uma vez por outra,ela,descontraidamente,compunha.
Mas não se pense que estava ociosa,longe disso. O tempo tem de ser bem ganho. E,para o provar,ali se encontrava ela fazendo renda,muito concentrada na obra. Nada de olhar para a paisagem,gente incluída. Disso estaria ela inteirada,e,talvez,farta. Dos raios de sol é que não,dos quais não devia desperdiçar um sequer,expondo o máximo do seu velho corpo,guardadas,claro,as devidas conveniências.
Foi este mais um quadro da sua atravancada galeria. E não será,certamente,o último,que os bons ares que ela respira,bem como o muito sol que a banha não vão deixar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

DOURO VALLEY I

DOURO VALLEY

MAKING WAVES : THE SCIENCE AND POLITICS OF OCEAN PROTECTION

Ocean protection

SMART VILLAGES

Energy

SEM REDE

Pronto,era para se dar uma rendição sem condições. Não restava dúvida de que seria muito difícil encontrar melhor por aquelas bandas. A forma era elegante e fluente, e quanto aos temas,não se sabia o que havia a dizer,pois faltavam os termos. Só se sabia é que ontem tinham sido alhos e hoje bugalhos. Saltava de um assunto para outro com uma ligeireza de espantar. Mas não se pense que aquilo eram umas historiazinhas de trazer por casa ,para contar aos netinhos,até eles adormecerem. Estariam muito enganados. Aquilo era,antes, coisa séria,pesada,sólida,como diria o grande Eça. Parecia um acrobata,mas não um qualquer. Atuava sempre lá muito em cima,junto ao pináculo,sem rede,uma vez sequer. Um circo destes estava garantido. Aquilo eram só enchentes,ficando,ainda,muita gente à porta.

ABETARDA ASSUSTADIÇA

Nas suas andanças, pisando chão alentejano, por via do seu trabalho de cartografia de solos, por dois estirados anos, não tiveram conta os casuais encontros com perdizes e perdigotos, coelhos e lebres, corvos e gaivotas, codornizes e abibes, cisões e pombos. Só uma vez calhou avistar uma abetarda assustadiça, que, a uma maior aproximação, logo debandou.

CASUAL ENCONTRO

Ele andava lá no seu trabalho, cartografia de solos, palmilhando terra alentejana, ela estava de férias, visitando uma propriedade sua. E cruzaram-se. Ela, muito admirada por ver um estranho, de fotografia na mão, em chão seu. ele, pelo chapéu que lhe cobria a cabeça, um chapéu africano. E conversaram, ficando a saber das razões de tão casual encontro..

BEM MADUROS

Olha-se para aquela gente e acha-se-lhes muita graça. Têm cara redondinha,os olhos muito vivos,o riso sempre a bailar-lhes. A conversar,parece que brincam,que se divertem. Enfim,uns meninos ou umas meninas de quem não se espera grande coisa.
Mas isso é um puro engano. Toda aquela mediania,singeleza,simpatia e leveza escondem ,afinal,elevados propósitos,claro raciocínio,invulgar energia.
E é vê-los,quando se lhes dão meios,realizar grandes obras ,quase com uma perna às costas. Quando outros se mostrariam esfalfados,sem darem conta do recado,eles mantém sempre a mesma vitalidade,de princípio ao fim.
É de gente dessa que se precisa,gente que não se dá ares,gente que detesta ser fotografada,gente que gosta de trabalhar,sabendo o que querem,gozando com isso.
É acarinhá-los,é dar-lhes toda a corda,é não os perturbar. Depois, é só esperar pelos frutos,que aquilo é gente que só os dá bem maduros.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ATMOSPHERIC CHEMISTRY : CHINA'S CHOKING COCKTAIL

Atmospheric chemistry

WILD FLOWERS ARE A PESTICIDE SOURCE

Wild flowers

CAFFEINE KEEPS BEES COMING BACK

Bees

BIODIVERSITY INCREASES THE RESISTANCE OF ECOSYSTEMS PRODUCTIVITY TO CLIMATE EXTREMES

Biodiversity

THE VULNERABILITY OF INDO-PACIFIC MANGROVE FORESTS TO SEA-LEVEL RISE

Sea-level rise

CLIMATE SCIENCE : SMALL GLACIER HAS BIG EFFECT ON SEA-LEVEL RISE

Climate science

EMISSIONS : DUTCH GOVERNMENT APPEALS CLIMATE LAW

Emissions

CLIMATE POLICY : US ENVIRONMENTALISTS MUST TURN OUT TO VOTE

Global warming

TODOS UNIDOS (BATTLE AT KRUGER)

Há horas de sorte e aquela fora uma delas. Ele estava lá,com a sua câmara,em sítio certo. E foi só registar o que se ia desenrolando,extasiado.
Uma respeitável família de búfalos lá ia à sua vida,caminhando à beira-rio. No comando,como mandam as boas regras,vinha o patriarca,de grossa armação,com olhos,certamente, bem abertos,que por ali havia muitos inimigos.
Eles lá estavam,de facto,à espera,aguçando a dentuça,com água nas bocarras. Seriam uns sete ou oito leões,colados ao chão,como que a esconderem-se.
Mal o patriarca os avistou,fez o que teria já feito vezes sem conta. Há pernas para que vos quero.
E foi uma debandada geral,o salve-se quem puder.
E os leões,por sua vez,fizeram, também, o que já teriam feito vezes sem conta. Ai dos fracos,dos pequeninos. Foi um destes o escolhido,enfiando-o no rio. Teria o pobrezinho os dias contados.
Eis que entram em cena dois esfomeados crocodilos,que não levaram a melhor,embora estivessem em casa. O seu a seu dono.
Parecia o caso arrumado. Forte engano. É que os búfalos lá pensaram que aquilo,desta vez,não podia ficar assim. Todos unidos,haviam de vencer. E foi o que aconteceu.
Pobres leões,que tiveram de fugir a sete pés. E o pequenino lá escapou desta,ainda que se não tivesse livrado de algumas dentadas.

FOME OCULTA

Passou-se isto num tempo em que as plantas andavam e falavam. Eram duas plantas que já há muito se não viam,coisas que acontecem a quem tem a sua vida. Uma, era a aveia,a outra,a cevada. Eram também comadres.
Ai comadre,dizia a aveia,tenho andado muito mal. Não sabia o que tinha. Eu dormia,eu descansava,eu comia,mas não me sentia nada bem. Era um mal estar,que não o queria para a comadre.Um dia,não podendo mais,fui ao médico.
E sabe o que ele me disse? Que o que eu tinha era fome. Fome,eu? Mas,doutor,podemos ter muitas necessidades,mas lá em casa não se passa fome,graças a Deus. Mas o certo é que a senhora tem mesmo fome. Não dá é por ela. É uma fome oculta. Que coisa tão esquisita. Pode explicar-me? Com todo o gosto,aliás,é a minha obrigação.
Sabe,a nossa comida tem de ser muito variada, de modo a incluir toas as substâncias necessárias a uma vida saudável  E na comida da senhora há uma coisa que está faltando.
E eu,comadre,de boca aberta. Então,doutor,o que é que tenho de fazer? E ele lá me passou uma receita,recomendando-me que eu cumprisse o que lá ia. É o que tenho feito há já uns dias. Pois estou a passar muito melhor,fique a comadre sabendo. O médico disse que a cura completa ia levar o seu tempo. É o que eu espero,pois como andei,aquilo não era viver.

PRIMA RICA

Vivia triste a pobre viúva. Magra, sempre de negro, para sobreviver, fazia trabalhos de costura.  Fermentava nela, porém, uma esperança.É que ela tinha uma prima muito rica, sem filhos. Com a sua morte, havia de lhe caber alguma coisa que valesse a pena.
A prima morreu. De facto, uma parte do espólio  caber - lhe - ia. Aconteceu que a não podia receber imediatamente, pois havia prazos a cumprir. E um dia, fazem-lhe
 a seguinte proposta. Transferia os seus direitos a outrem e receberia imediatamente, não a totalidade da importância que lhe cabia, mas uma parte. É que havia riscos a correr.
Foi curto o tempo de hesitações. Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

RESOURCE COLIMITATION GOVERNS PLANT COMMUNITY RESPONSES TO ALTERED PRECIPITATION

Plant community

RELATION BETWEEN RAINFALL INTENSITY AND SAVANNA TREE ABUNDANCE EXPLAINED BY WATER USE STRATEGIES

Rainfall intensity

DÍVIDA

O favor,a ajuda,tinha sido grande,podia dizer-se,mesmo,vital. Seria,portanto,de elevadíssimo preço,a pedir um reconhecimento para sempre. Isso significaria,igualmente,uma,também,grande dívida,de um tamanho tal que seria quase impossível resgatar.
Coisa tremenda era,pois,o que estava vivendo quem fora objeto de tudo isso. Ficar sempre em dívida era como ter continuamente sobre ele os olhos do outro,a lembrá-lo,a exigir-lhe não se sabia o quê,talvez sujeição,talvez o pagamento da conta.
Tal situação dir-se-ia insustentável,exigindo uma saída airosa,para se poder viver de cabeça levantada,não como até ali,um inferno. Uma delas,era ir para longe do credor,assim como riscá-lo da vida. A outra,era desvalorizar a benesse,reduzindo-a a nada. Aquilo,nem um pobre aceitaria,uma miséria sem nome. Não se sabia era como tinha sido aceite,só explicável por ter sido apanhado num estado de muita fraqueza.

AGRADECEU

Ao tempo que o não via. Era o seu antigo capitão lá da tropa. Naquela altura,já devia ser coronel ou mais. Então,como vai indo o senhor? Vou bem,obrigado. E ali estiveram um bocado à conversa,a recordar velhos tempos. À despedida,que podia ser a última vez que se viam,o antigo capitão agradeceu vivamente. Agradeceu,por o ter reconhecido,mas agradeceu,sobretudo,por lhe ter falado. O jeito que ele tinha para dar formas à madeira. Um primoroso artesão, ou artista,tanto faz.

DEBATE

As sessões eram noticiadas. Havia um antes,a anunciar,e um depois,a dar conta do debate. Um dia,não houve sessão. Mas houve debate.

PRENDAS

O miúdo era um choramigas,vertendo lágrimas por tudo e por nada. Nascera assim,vá-se lá saber porquê. Havia,porém,umas ocasiões em que ele tinha carradas de razões para as verter. Tratava-se do Natal,da Páscoa e das férias. É que lá em casa o dinheiro era escasso. Mal chegava,de facto,para o essencial,que é,como muito bem se sabe,a renda da casa,o comer e o vestir.
Assim,pelo Natal,onde é que estavam as prendas? Pode-se dizer que nem uma. Ficava a observá-las nas montras e nas mãos de outros meninos. Nunca seriam para ele. Nem um simples carrinho,daqueles de corda. E tanto que gostava de o ter para brincar com ele as vezes que quisesse,e,também,porque não?,para o mostrar a outros meninos mais afortunados. O que o consolava um pouco era saber que não estava sozinho,que muitos outros meninos teriam igual sorte. Mas esses não eram ele. Com o mal alheio podia ele bem. Agora,com o dele,só ele é que o suportava. E isso é que contava.
Pela Páscoa,era a mesma coisa. Muito ele gostaria de comer de toda aquela variedade de amêndoas que ele via nas montras das lojas. Pois só lá de vez em quando,quando o rei fazia anos,é que saboreava aí uma meia dúzia das mais baratinhas,arrancadas muito a custo,quase sempre depois de uma grande choradeira.
E quando chegavam as férias? Era um outro lacrimejar sem destino,mas só para dentro. Para fora,fazia-se muito forte e nem uma lagrimazita saía. Agora,para dentro,só visto. Aquilo era mesmo um vale delas,das grossas. Parecia um dilúvio. Mas tudo se passava lá muito nos interiores,de maneira que só ele é que dava conta. É escusado dizer onde ele as passava.

AGRURAS

Podia dizer-se que não havia salas que chegassem. O contínuo,coitado,via-se e desejava-se para encontrar uma disponível. Assim,era a que calhava,hoje,uma,amanhã,outra. Mas ele não se importava,até agradecia. Gostaria,até,de as ter percorrido todas. É que não havia uma em que ele não tivesse passado agruras. Mas naquela altura,não,era muito diferente. Naquela altura,aparentemente,eram outros,os que estavam ali à sua frente,a passá-las.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

MONSARAZ - ALENTEJO

Monsaraz

MARVÃO - ALENTEJO

Marvão

SOBRE A BATATA DOCE

Como se sabe,a batata doce pouco tem a ver com a batata,sendo uma,a batata,do género Solanum,da família Solanaceae,e a outra,a batata doce,do género Ipomoea,da família Convolvulaceae. Uma,a batata,é um caule subterrâneo,a outra,a batata doce,é uma raíz. É cultivada há milhares de anos,sendo originária,muito provavelmente,da América Central. O seu valor alimentar reside,sobretudo,nos teores de amido,açúcar e vitamina A. É na Ásia,em especial,na China, que mais se cultiva,para consumo humano e animal. Utiliza-se,também,muito em África,mas aqui,quase só para consumo humano. Apesar das diferenças,o Centro Internacional da Batata,com sede no Peru,inclui nas suas atividades a batata doce.

NAS TINTAS

Olha quem é,por aqui? Sabes,vim aqui ler umas coisas,para depois escrever um artigo para um jornal. Olha lá,mas isso em que estás interessado é,em boa verdade,química,e uma avançada. Será,mas, a mim, a química não me interessa,e disse-o,assim como que querendo mandar passear os que se interessavam.
Quer dizer,estar-se-ia nas tintas para o essencial. Iria,pois, assim, escrever umas coisas sobre uma coisa,que ele,em boa verdade,desconhecia.

O VIZINHO DO LADO

Que dia aquele,um dia para não mais esquecer,o dia em que dera conta do conhece-te a ti mesmo. É que,em boa verdade,não se conhecia,nem de perto,nem de longe. Quer dizer,era ele um nada ilustre desconhecido.
Já há uns tempos que andava muito desconfiado de si, estava-lhe a parecer que era mais um em que não se podia confiar,e desde aquele assinalado dia tudo ficou esclarecido.
Ele não se conhecia,passara a ser isso uma coisa definitiva. Ele seria capaz de não sabia o quê,muito provavelmente de tudo. Ele era um presunçoso em último grau,ele era um egoísta empedernido,ele a quem mais prezava era a si mesmo,
sem qualquer dúvida. O mais que havia para além dele nada valia.
Diante desta clara revelação,passou a ter muito medo dele. Tinha de estar sempre alerta,sempre desperto,de sentidos bem apurados,não fosse ele fazer algum disparate sem remissão.
Ainda bem que tal sucedera. É que um homem prevenido vale por dois,ou mais. Depois,seria fácil intervir,sempre que isso se impusesse,porque o outro,que ele desconhecia,era seu vizinho,o vizinho do lado.

EM FALTA

Os revisores são uma fonte de sarilhos. Ia a senhora talvez a pensar na sua atribulada vida,quando lhe pedem o bilhete.Estava em falta. Não sabia,pode crer. E devia ser verdade,pois o seu ar era humilde e também honesto. Seria incapaz de prevaricar,tal foi o entendimento do revisor. Desta vez está perdoada,mas agora já sabe. A zona termina lá atrás.Uma das passageiras não perdoaria. Cantigas. São umas sabidas. O que elas querem é andar à borla. Já as conheço. Fazem-se de lorpas,mas a mim não me enganam. O revisor é mesmo um trouxa. Se estivesse no lugar dele,obrigava-a a pagar a multa,para ela aprender. Pois então. Eu cá nunca abusei,sou muito cumpridora.Olhe que talvez não seja assim. A senhora parece não ser de cá. Nada disso. Já as conheço. São umas sonsas,umas espertas. Teve a sorte de dar com um não te rales.E de repente,mudou de disco. Está um lindo dia. E estava,que mais parecia de primavera. Mas nem mesmo aquela luz boa,aquela dádiva,a tornara mais compreensiva.

UMA BARRACA

A casa onde ele morava não era sua,era verdade,mas contava lá passar o resto dos seus dias. E assim,de vez em quando,dava com ele a pensar na sorte que tivera. É que essa casa podia ter sido uma barraca.

TOADA A VERDADE

Era o título do livrinho,quer dizer,não se fazia a coisa por menos.Toda a verdade,toda.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

THE ARCTIC IS MELTING - BUT SHIPPING THROUGH NORTHWEST PASSAGE IS ANOTHER STORY

Northwest passage

MIGRANT CRISIS : MIGRATION TO EUROPE EXPLAINED IN GRAPHICS

Migration to Europe

STATION CHAMPS-ELYSÉES CLEMENCEAU,PARIS

Manuel Cargaleiro

PAINEL DE AZULEJOS I - MERCADO MUNICIPAL DE SANTARÉM

Painel de Azulejos

CONIMBRIGA - MOSAICO I

Mosaico

PADRÃO DE EFICÁCIA

O empedrado do passeio debaixo de certa varanda de primeiro andar estava negro,de um negro sujo. Tinha sido isso obra de uma muito rara e teimosa rega canina,quer dizer,
uma espécie de água mole,que não furou,mas impregnou. Tal prodígio merecia continuidade,pelo que lá permanece,como um padrão de eficácia.

VIESSEM MAIS

A empregada,aí de uns quarenta nos,mãe de dois meninos já crescidinhos,lembrou que no dia seguinte era feriado,como que a dizer que se prevenissem,pois bateriam com o nariz na porta.
Alguém atreveu-se,discretamente,a fazer uma pergunta. Conhecia ela o significado daquele dia,do dia 1 de Dezembro? Não,não sabia. E estava interessada em saber? Com certeza,até agradecia. E lá lhe explicaram,também discretamente,pelo que vieram mais agradecimentos.
Para ela ,o que este feriado siginificava,e outros,certamente,era que não tinha de ir trabalhar para o patrão. Ficaria lá em casa,onde tinha muito com que se entreter. Davam um grande jeito,pena era que fossem tão poucos.
O que isto significava,também,é que lá em casa não ligavam a coisas da natureza daquela pergunta. Os filhos talvez soubessem,só que essas coisas se perderiam num mar de outras coisas mais importantes. E estes e o marido estariam na mesma onda dela. Gostavam muito daquele feriado,e dos outros,simplesmente por não terem de ir às aulas ou ao emprego. Viessem mais.

MUITA BICHARADA

Não lhe era estranho o kudzu,pois privara com ele,chegara mesmo a pisá-lo. Era ali,naquela recuada altura, planta benquista,pois além de ser uma fábrica de azoto,dispensando,ou aliviando,adubação,dava proteção a muita bicharada,
onde se incluíam cágados,ratos e cobras de todos os tamanhos. Felizmente que estas sentir-se-iam tão bem lá no meio daquela folhagem e raízes,que não deitavam a cabeça de fora.

O MACAQUINHO

O Macaquinho. Esguio,de cabeça pequenina,de andar bamboleante,com as mãos quase a tocar no chão. Era um artista com a bola,pelo que a rapaziada disputava-o. Grupo em que ele entrasse tinha quase certa a vitória. De repente,sumiu-se,para nunca mais ser visto. Pobre do Macaquinho,que tanta falta ficou fazendo.

A MAIOR RIQUEZA

Sem exceção,os estudantes universitários ,naquela terra e naquela época,recebiam uma bolsa. Não havia,assim,razão para se rirem uns dos outros. Eram todos tratados por igual,quer fossem pobres,ricos ou remediados.
A benesse não seria por aí além,pois,às vezes,quando da subida do tabaco,protestavam ruidosamente,vindo para a rua. Talvez fossem demasiado exigentes,visto terem boa,variada e abundante comida em refeitórios,por preço módico,mesmo ali ao pé da porta. O alojamento também estava muito facilitado.
Isto significava,certamente,uma grossa fatia do orçamento lá da terra. Mas lá pensariam que valia a pena. Assim o entendia um velho reformado,quando confrontado com o destino do seu rico dinheirinho. Sabe,a maior riqueza de uma terra está nas cabecinhas que lá há. É preciso cuidar bem delas.
Pelos números que apareciam nos jornais,parece que os estudantes não brincavam em serviço. O insucesso rondava os cinco por cento. Mas mesmo assim,achavam que se estava deitando dinheiro à rua,pelo que havia de se saber porquê.

domingo, 18 de outubro de 2015

JARDIM BOTÂNICO TROPICAL - LISBOA

Jardim Botânico Tropical

AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES - LISBOA

Aqueduto das Águas Livres

RUÍNAS ROMANAS DE TRÓIA - SETÚBAL

Ruínas romanas

ERA OUTRA COISA

Um aconchego aquelas ruas,mesmo as mais humildes,cheirando a pão,cheirando a paz. Não admirava que a elas quisessem vir,de quando em quando,remediados e ricos,e mesmo pobres,que menos pobres ali se sentiriam.
Longe ficava o bulício,a azáfama,o anonimato,a indiferença. Ali,não,ali era outra coisa. Não se saberia bem o que era,mas era diferente,eram as lembranças de um tempo outro,de um tempo talvez não intensamente vivido,mas um tempo que deixara saudades,ainda que esfumadas,não bem expressas.

SOPA DOS POBRES

Tinha sessenta anos. Podia ter dito menos,pois não aparentava tanto. Um telemóvel,dos modernos,entretivera-o por largos minutos.
Sabe,estava aqui com algumas dúvidas,mas agora parece que já sei. Sim,é isso. A rua que procurava fica lá mais para diante. Pois claro,mas,às vezes,a gente confunde.
A barba estava feita,o ar era tranquilo,o fato,completo,talvez já de há uns anos,ainda apresentável.
Não acredite no que ele diz. Este também gasta dali. Sabe,sou pobre. Ele,segundo consta,já teve também vida boa,como eu,que cheguei a ter nove lojas.
Tenho estado aqui a fazer horas. Era Domingo,e ali,a poucos metros,esperava-o uma sopa dos pobres.

OS MEUS HOMENS

Os meus homens,os meus funcionários,os meus pobres. Estes três meus,e outros da mesma espécie,alguém os pode ver envolvidos numa sugestão de posse,porventura de uma posse quase absoluta. Os meus...
Têm eles um nome,os possuídos,são eles pessoas,mas,acima de tudo,são eles de alguém,que a eles se referem quando é caso disso,ou mesmo não vindo para o caso. São meus,muito meus,e de mais ninguém.
Ao fim e ao cabo,dependem de alguém. Manda neles,quer sejam homens,funcionários,pobres. Fará o que deles quiser? Deixá-los-à a pão e água? Castigá-los-à,com um castigo que só ele lá sabe? Despedilos-á quando bem entender?
Tudo perguntas pertinentes dirigidas a quem costuma usar meus para designar homens,funcionários, pobres.

RICOS GENEROSOS

Ele era muito experimentado,quer dizer,tinha visto muita coisa,tinha refletido muito. E isso levara-o a ser muito arrumadinho. Não havia nada que ele não arrumasse,pois ficaria doente se deixasse alguma coisa por arrumar. Até lhe dera para arrumar as pessoas.
E assim,arrumou-as em quatro conjuntos,os pobres avarentos,os pobres generosos,os ricos avarentos e os ricos generosos.
Ele tinha lá também as suas inclinações,as suas manias,vamos lá. Desses quatro conjuntos,gostava,sobretudo,dos ricos generosos,mas também não desgostava dos pobres generosos. Ele lá teria as suas razões para estas preferências,mas nunca as revelou,o que foi uma grande pena,pois estariam nelas as chaves para algumas portas,que não há meio de se escancararem.

EXPEDIENTE HONESTO

Mas era o moço que trabalhava ao lado dele,um bacharel em bioquímica,que ia ali,naquela rua,manhã cedo,a empurrar um carrinho com garrafas de leite e a pô-las às portas das casas.
Que vergonha,se a mãezinha dele aquilo visse. Ai o meu rico filhinho,a que extremos ele chegou,a levar leite ao domicílio.
Passou de largo,pois,não o fosse ele ver. Não haveria de gostar,certamente. Ainda há dias o convidara para um chá. Ainda há dias o levara a uma exposição de quadros,da sua mais que tudo. Ainda há dias o convidara para um"party".
Não era a primeira vez que ele fazia de distribuidor,nem seria a última,que a bolsa não dava para aquilo que ele queria. Lançava,assm,mão daquele honesto expediente para arranjar mais uns cobres.

sábado, 17 de outubro de 2015

SOUTO DE CASTANHEIROS

Souto de Castanheiros

AVELEIRA - CORYLUS AVELLANA

Aveleira

MEDRONHEIRO - ARBUTUS UNEDO

Medronheiro

CONCILIAÇÃO

Houve uns tempos em que aquilo eram reuniões quase todos os dias,com a sala a rebentar pelas costuras,e gente sentada no chão. Discutia-se tudo e mais alguma coisa,pedia-se este mundo e o outro,sem pestanejar,como se não faltassem varinhas de condão.
Em toda aquela gente,via-se de tudo,de todos os cantos,de todos os exageros,de todas as pontas,dos extremos,e também do meio,os eternos indefinidos,os da conciliação.
E era engraçado ver a reação de um dos extremos,a cara que ele punha, quando lhe dava para dizer alguma coisa um dos tais do meio,que lhe fazia um nervoso muito miudinho. A cara via-se bem,que ele punha-se sempre nos primeiros lugares,pelo que tinha de se voltar para trás,para encarar o enigmático,que se sentava sempre lá nos fundos,como mandam algumas regras.
E era engraçado ouvir um comentário seu. Irra,que não há meio de se saber para onde pende ele.

UM PASSARINHO

Pode dizer-se que não era ele de nenhuma terra,mas também não era um cidadão do mundo,nem lhe acudira uma tal classificação. Fora como que encontrado,e isso não escondia ele,até parece que disso se orgulhava. Era como tivesse sido de espontânea geração. Tudo quanto conseguira a ele o devia. E sentia-se livre como um passarinho,pousando onde lhe apetecesse,desde que riscos não corresse.

VIGÉSIMA QUINTA HORA

Que aventuras podem acontecer a um simples,quando é apanhado pelas malhas apertadas de uma guerra. Depois de várias peripécias,algumas quase inacreditáveis,é feito prisioneiro e integrado numa numerosa leva de irmãos na desgraça. Vão ter sobre os seus pobres corpos,em particular braços e pernas,a pesada tarefa de abrir uma vala. Parecia uma vala de rega ou de enxugo,tanto faz. O esforço é penoso,mas não podem reclamar,que os guardas não estão ali para brincadeiras. De resto,se a obra se atrasar,as responsabilidades serão divididas por todos,mas mais por uns,é facil de adivinhar.
Os dias ali passados dão para muita coisa. Cansar,recordar a família,sem saber se está viva,pensar na miséria da vida,em como,de repente,um simplório ,que não fizera mal a ninguém ,se vê metido em tantos trabalhos e disparates,e também a habituar-se e até a orgulhar-se,veja-se lá.
A vala era larga,profunda,extensa. Lá de cima,os olhos perdiam-se no horizonte e a vala lá ia ter também. Que grande obra,sim senhor. Lá na minha aldeia,uma coisa destas dava um jeitão ,se viesse cheia de água,pois as terras agradecem serem molhadas, quando as sementeiras se estão a perder. Talvez eu aqui viesse aprender.
A minha mulher devia ficar satisfeita se isto visse,pois uma parte desta grande obra a mim se deve. Quando esta maldita guerra terminar,hei-de cá trazê-la. Ela olhará para mim e encher-se-á de orgulho.
Quase valera a pena tanta servidão. São assim os simples. Conseguem transformar o mal em bem.Mereciam,não resta dúvida,outro tratamento.

UMA ALDEIA

Permanecera,podendo demoradamente ver. E o que vira, já era coisa sabida. Apenas os nomes eram diferentes. E assim,podia dizer que não tinha saído da sua terra. Quer dizer,o mundo não passava,afinal,de uma aldeia.

COMO LAPAS

Nunca se passara por ali e a tarde já ia adiantada. Não convinha,pois,tomar trilhos errados. O mapa das estradas não era um primor de atualização,pelo que o melhor era pedir conselho.Uma aldeia,mesmo ali à vista,vinha a calhar.
Logo à entrada,um rancho de velhos e de novos entretinha-se a limpar as valetas. Pareciam estar à espera de que alguém deles precisasse. E todos quiseram coloborar,em especial uma velhota muito desdentada. Infelizmente,as suas indicações não coincidiam com as de alguns novos,aliás,nem todas concordantes,o que gerou uma confusão dos diabos. A paz que ali houvera esteve por um fio.
Não se tratava,porém,de uma estrada que estivesse muito longe dali,pois seria pouco mais do que uma dezena de quilómetros. Quer dizer, aquela gente teria uns horizontes muito estreitos,ainda que não se levantasse por ali uma alta serrania,qualquer que fosse o quadrante escolhido. Os afazeres,os vagares,ou sabe-se lá mais o quê,não lhes permitiria alargá-los. Estavam amarrados àquela aldeia como lapas.
Uns estranhos teriam sido para eles dádivas caídas do céu. Estariam já um tanto fartos uns dos outros e alguém de fora teria de ser melhor tratado. Estariam também já cansados de andar ali em posição muito incómoda a remover ervas das bermas. Quem os encarregara podia ter-se lembrado antes,poia aquilo mais parecia um matagal de silvas. As verbas deviam ter-se atrasado,foi o que deve ter acontecido.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

BUZZ FOOD

Insects

CASTANHEIRO - CASTANEA SATIVA

Castanheiro

OURIÇO DA CASTANHA

Ouriço da castanha

MÁRMORE NAS SOLEIRAS

Era aquele canto um outro Alentejo. Um povoamento de castanheiros de talhadia estava ali bem à vista. As hastes esguias,de tão densas,erguiam-se a custo. Seria uma imitação,um arremedo.Mas ali se perfilavam,um tanto barulhentas,pelo agitar da folhagem,a mostrar como o clima tem os seus nichos.
A terra era vermelha sanguínea,coberta,em grande parte,por oliveiras muito bastas. Na fotografia aérea,o instrumento de trabalho,manchas negras dominavam,quase sem clareiras,dificultando exame e localização. Foi o único sítio em que teve de intervir fita métrica,de modo a tornar os registos mais rigorosos.
Ameixoeiras de alto porte explicavam as esteiras de secagem de negros frutos. Bandos de moscas e familiares volteavam em ruidosa azáfama,não sabendo,talvez,onde poisar. Felizmente que lá estava o sol a pôr tudo aquilo no são.
As soleiras e os umbrais das portas,sem distinção,eram de mármore,do melhor. Havia, e há,por lá,para dar e vender. Pena é que se formem crateras. Naquela altura,de rudimentar tecnologia,a roupa negra nas mulheres era mais frequente do que noutros locais. De vez em quando,lá se dava um esmagamento,precalços do ofício.

MESTRE-ESCOLA

Fora uma longa vida de trabalhos,à vista de um punhado de gente,que fazia o mesmo. De resto,é o que a maioria tem de fazer,trabalhar. Há uns que escapam a esta sujeição,mas isso são contos largos,que não são para aqui chamados.
Pois o tal da longa vida de trabalhos,trabalhava por gosto. Viera assim. E desses trabalhos foram dadas contas ,paulatinamente,ali à vista de todos.
Naturalmente que ele,trabalhando,queria justificar o dinheiro que ganhava,que,em boa verdade, não era muito. Lá ia chegando para o essencial. A pouco mais aspirava.
Ma,na generalidade, não foi assim entendido. Eu bem sei o que tu queres. Queres passar à minha frente,queres tirar-me o lugar,queres ser melhor do que eu e outros quereres da mesma família.
O resultado de todos estes quereres foi o silêncio,o ignorar,o passar de largo,o impedir,o criticar,o gozar,sobretudo o gozar. Olha o homem de uma nota só. Nem vê que por cá faz muito sol.Para que é que aquilo serve? Afinal,o que aí está já toda a gente o sabe. Nem ata,nem desata.
Olha que o meu chefe falou-me há dias nos teus trabalhinhos. Então só agora é que isto aparece,quatro anos depois do acontecimento? Não lhe basta o que ganha num sítio,o atrevido, e não se sabe mais o quê. O que lhe valeu foi ter sido mestre-escola. Aqui ninguém entra,é terreno meu,só com minha autorização.
Só uma palavrinha de incentivo ,mas esta de um oficial de outro ofício- vai no bom caminho.
E,claro,uma palavrinha de"elogio",quando deu conta dos últimos trabalhinhos,quando da despedida,quando quase "morto". E assim se vai perder um tão esperançoso trabalhador.

NEM ATA.NEM DESATA

A sala estava composta,ocasião,portanto,para uma colheita que valeria a pena. E lá de um canto, veio uma provocação. Afinal,ao tempo que se anda nisso,nem ata,nem desata.
Ele,coitado, também tentara,mas, por mais que tentasse,não conseguira desatar. E ficara triste. E estava ali,naquela altura, muito satisfeito a ver que o outro também não fora muito por ali além,como ele teria gostado de ir.
E aproveitara a ocasião para se comprazer com os esforços do "ìnimigo",que ele acharia terem sido em vão. Vêm,vêm?,ele também não está conseguindo. Tivesse eu os meios que ele teve e o que se havia de ver. Dá Deus nozes a quem não tem dentes,é o que é, a triste verdade. Isso ele não disse,que não se ouviu. Só se ouviu o nem ata,nem desata.

PERPÉTUA PRIMAVERA

Em certa ilha,lá para as bandas do Oriente,a gente que lá fazia pela vida andava como Deus a tinha posto no mundo,quer dizer,andavam nus,eles e elas,pequenos e grandes,novos e velhos. Não seria o paraíso aquela ilha,mas andaria lá perto.Tinha sido sempre assim,desde há muitos ,muitos anos,talvez até desde que aparecera por ali gente. Pelo menos,era assim que narravam os mais velhos,que o tinham ouvido doutros ainda mais velhos. E isto acontecia por nunca terem tido necessidade de se cobrirem,pois o tempo ali era o de uma perpétua primavera.Ora um dia,deu-se o irremediável. A ilha foi conquistada por uma gente estranha,gente que se enfarpelava. E essa estranha gente não admitia poucas vergonhas. Tiveram de se enfarpelar também,a muito custo,é certo,mas manda quem pode.Desde aí,desde esse fatídico dia,uma peste tomou conta deles,sem dó nem piedade,atingindo todos,sem exceção,velhos e novos. E foi um ver se te avias. Não ficou um para amostra.

OS ESPERTOS

Era uma vez um rei que tratava todos os súbditos da mesma maneira,quer dizer,apanhavam todos pela medida grande. Não podiam,assim,rirem-se uns dos outros.Certo dia,dois deles fizeram-lhe chegar uma pretensão. Estavam interessados em ir a um país vizinho colher ensinamentos para melhorar os seus trabalhos. Para isso,precisavam da sua autorização e de dinheiro. Nem pensar nisso. Não queriam mais nada. Passeatas à minha custa,nunca. Olha os espertos. Isso foi o que constou. O certo,o certo,é que os pretendentes foram informados de que os cofres estavam vazios. Aconteceu que o rei,numa das suas deslocações,esbarrou com um deles. E resolveu consolá-lo. Sabe,você ainda lucraria,agora,o outro,era dinheiro deitado à rua. Parecia o rei querer distinguir. Mas não. É que,na mesma deslocação,esbarrou com o outro,que recebeu o mesmo consolo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

CLIMATE SCIENCE : THE LONG FUTURE OF ANTARCTIC MELTING

Antarctic melting

COMMERCIAL BOOST FOR FIRMS THAT SUCK CARBON FROM THE AIR

Carbon

PRICE CARBON - I WILL IF YOU WILL

Price carbon

CHEAP ABSORBER FOR SOLAR CELLS

Solar cells

CORALS COPE WITH pH-ALTERED WATERS

Corals

A SHIFT IN CLIMATE

Climate

ENHANCED PRECIPITATION VARIABILITY DECREASES GRASS - AND INCREASES SHRUB - PRODUCTIVITY

Precipitation variaiblity

ECOSYSTEM CARBON STOCKS AND SEQUESTRATION POTENTIAL OF FEDERAL LANDS ACROSS THE CONTERMINOUS UNITED STATES

Ecosystem carbon stocks

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

JARDIM DAS PORTAS DO SOL - SANTARÉM

Portas do Sol

AQUEDUTO DA AMOREIRA - ELVAS

Aqueduto da Amoreira

QUINTA DA REGALEIRA - SINTRA

Quinta da Regaleira

UM DESLUMBRAMENTO

Nunca se fizera naquela terra uma receção assim. Parecia ser a visitante uma rainha. Não o era,de facto,mas isso não tinha importância. Para os que a tinham visto lá nas fitas,e tantas foram,era como se isso realmente se passasse. Não se tinham a ela submetido?
A manhã estava radiosa,como a querer colaborar. Ninguém quisera ficar em casa. Altas autoridades civis,e,segundo alguns,também religiosas,fizeram questão de estarem presentes,a render-lhes homenagem,na primeira fila,como lhes competia.
Veio num carro de muita classe,a condizer com tão excelsa figura. Não saiu logo,pois as rainhas,as deusas,devem fazer-se esperar. Cuidou,com vagares,da cara,dos olhos,de um azul mais que celeste,dos cabelos,da cor do oiro,do oiro mais fino. Gastou nisso longos minutos,uma eternidade,assim a todos pareceu. Finalmente,lá se dignou sair.
E foi um deslumbramento. Consta que houve desmaios,mais entre os homens,que julgariam estarem sonhando. E foi um triunfo. Nunca se vira um preito assim. Ficou ele,para sempre,gravado nas memórias lá da terra.

MUITA RESPONSABILIDADE

No reino da bicharada, apareceu por lá,em tempos muito recuados,um brinquedo novo. Havia que inovar,para quebrar uma sensaborona monotonia que ali se tinha instalado.
Nem todos os bichinhos,contudo,o poderiam ter,assim decretaram,solenemente,do alto do seu poder,os maiores. É que os pequenos,por o serem,eram todos,sem exceção,uns irresponsáveis,e aquele brinquedo novo requeria muita responsabilidade. Se algum deles,dos pequenos, se atrevesse,tê-los-ia,os grandes,à perna.
Ora aconteceu,a certa altura,um dos pequenos também o exibir. E os grandes nada disseram. Alentados,alguns outros pequenos quiseram imitá-lo. Sim,que ou há moralidade,ou comem todos. Se algum se atrevesse,sair-lhe-ia cara a brincadeira. Nem saberia de que terra era.
Que é lá isso?,repostou um deles. Só esse pequeno é que é também responsável? Pois vou fazer tudo para ter um também. E meteu logo mãos à obra.
Era o que faltava,este pequeno assim desrespeitar o que estava superiormente estabelecido. E recebeu um sério aviso. Se não desistir,arrepender-se-á por todo o resto da sua vida.

POUCA EXPERIÊNCIA

Dum dos ombros,pendia vistoso tapete,que quase varria o chão. Nas mãos,levava o resto da mercadoria. Andaria pelos vinte anos e o corpo era esgalgado.
Naquela manhã,coubera a vez àquela terra raiana,onde todos os sábados tinha lugar uma feira de muitas e variadas coisas. Talvez tivesse sorte,talvez o seu artigo muito especial viesse cobrir alguma falta.
Estava ali uma esplanada prometedora. Numa das mesas,um exuberante trio bebia cerveja como se fosse a última vez. Parecia haver nela dinheiro que se visse . Ainda insistiu uma e mais vezes,que ele precisava de reduzir a existência em armazém,mas em vão. Pior do que isso. Se não fugisse dali a tempo,tinham-lhe ficado com todas as peças,mas de graça. Aquilo era gente para tal façanha e para outras muito mais arriscadas.
A que pode levar a necessidade e a pouca experiência. Estava-se mesmo a ver que viria a ser maltratado,que aquilo eram flores de não se cheirarem.

RECICLAGEM

A reciclagem não é coisa de agora. Desde há muito tempo que do velho se faz novo. Quando a necessidade aperta,não há outro remédio.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

RUÍNAS ROMANAS DE MILREU - ESTÓI,FARO

Milreu

CITÂNIA DE BRITEIROS - SANFINS,GUIMARÃES

Citânia de Briteiros

RATARIA

Há uns espertinhos que,às vezes,se fazem desentendidos quando são abordados. Ora isto pode ter consequências graves para os que se encontrem debilitados.
Eles perceberam muito bem o que o simplório lhes quis dizer,mas pelam-se por o verem atrapalhado. Então,vá de se armarem em moucos. O pobre é obrigado a uma ou mais repetições,consoante a disposição ou o calibre do gozador. E as tentativas acabam,quase sempre,por darem em nada. Olhe,passe por cá outro dia,que hoje estou muito atarefado.
O infeliz fica sem vontade de voltar à carga,mergulhando numa grande tristeza. Porque não me expliquei eu bem? Será por incapacidade? É capaz de ser isso,pois já não é a primeira vez. Ninguém lhe acode,aconselhando-o a ter calma,a esperar por uma nova ocasião para expor o seu problema,a sua necessidade.
Depois,se algumas palavras te atraiçoam,escolhe outras. Lembra-te da bateria. Para escapares à cilada,diz rataria,que ninguém dá conta,e muito menos o espertinho que se faz desentendido. Vai lá agora e não te esqueças do que também te acentuei. Nada de te diminuires,que com os fracos não se importa a história.

POR UMA TEMPORADA

Eram três,o Quim,o Manel e o Zé. Alguém dizia que eram os três do costume. Ele lá teria as suas razões. Pois estes três não se podiam ver,desde nascença. Era assim. Eles também lá teriam as suas razões. Mas ,por vezes,parecia entenderem-se muito bem,como Deus com os anjos,ainda que dois deles,pelo menos,não gostassem de tal comparação. Mas adiante. E quando é que parecia entenderem-se muito bem? Quando um outro,o Tónio,coitado,andava muito atrapalhado. E então era uma festa pegada dos três. Alguns distraídos não sabiam porque carga de água tal festa pegada acontecia. É que a atrapalhação do outro,coitado,também lhes tocava a eles. Também andavam,ou deviam andar, muito atrapalhados,porque estava a vida de todos,do Tónio,dos três que não se podiam ver desde nascença,enfim,de todos dos Quins,dos Manéis,dos Zés,dos Tónios,de todos,muito atrapalhada. Enfim,coisas que acontecem,quando todos,mas todos,e assim é que é bonito,podem dizer o que lhes vem à cabeça,sem irem para a cadeia. A falta que o nosso grande Eça,o nosso incomparável Eça ,está fazendo. Se ele cá pudese vir,talvez por uma temporada,seria outra Campanha,agora não Alegre,mas MUITO TRISTE. "A história é uma velhota que se repete sem cessar".

TRISTE AMOSTRA

Era triste a cena,muito triste. Da casa,tinha restado uma meia dúzia de cacos. Passara por lá,não interessa o quê,um quê do diabo que se não cansa de pregar partidas,a enxurrada,o vendaval,a terra a tremer.
Ela andava por lá,lentamente,como nos belos tempos,recolhendo o que lhe parecia valer a pena. Mas o melhor tinha ido para sempre. Eram coisas dela,muito dela,de mais ninguém. Muito lhe custara tê-las.
E,de repente,não sabia como,deu-lhe para se interrogar,para duvidar de que as coisas que tinha perdido para sempre fossem mesmo suas. Que coisas eram essas coisas? E ela,o que era ela,não seria também um "caco" que valesse a pena colher?
Era triste a cena. A cena de ela andar por ali à cata de coisas,que eram uma triste recordação do que tinham sido,ou pareciam ter sido. E ela,também,não um "caco",mas uma triste amostra do que fora um dia.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

ANTA-CAPELA DE S.DINIS - PAVIA

Anta-Capela de S.Dinis

GRUTAS DE ALVADOS - SERRA DE AIRES E CANDEEIROS

Grutas de Alvados

TORRE DE CENTUM CELLAS - BELMONTE

Torre de Centum Cellas

ACUMULAR SEM DESTINO

Naquela manhã,por sinal muito carrancuda,ele apareceu com uma cara muito sorridente. Nunca tinha ele sido visto assim. Também não era para menos. É que ele julgava ter feito uma grande
descoberta.
Já há tempos que ele andava a pensar numa coisa assaz intrigante relacionada com o acumular. Porque é que o acumular era um acumular sem destino? Porque não se chegava a um já basta?
Afinal,a coisa era simples,até uma criança,deixando lá as suas intermináveis brincadeiras, dava com a solução.
É que os antepassados,os tais da arrancada,coitados,não sabiam para onde se voltarem,por serem muitos os inimigos que os importunavam,as intempéries e os bichos maus. Para deles se livrarem, refugiavam-se em cavernas,não sabendo nunca por quanto tempo. Assim,vá de as atafulhar o mais que pudessem,se possível,feitas umas contas,até que fossem desta para melhor,quer dizer,onde não tivessem que fazer pela vida.
Muita coisa se estragaria,que ainda não havia o que apareceu depois,lá muito para diante,mas isso seria como que o pago de terem segura a vida por algum tempo.

OITO OU OITENTA

Comprendia-se muito bem os exageros dele,quando já ia na rampa da descida. Amadurecera,aprendera com a vida,com os baldões dela,e com os muitos exemplos que presenciara.
Cometera fortes exageros lá no tempo da juventude,mas quem o não fizera? Que haveria outra coisa de fazer, se ele era um jovem impetuoso,extasiado com a descoberta,com a revelação? De resto,se não tivesse procedido como ele ainda muito bem se lembrava,seria marginalizado,posto de lado. Era a moda,tinha de a seguir.
Como que ficara marcado,manchado,sujo. Então,tinha de se desencardir,numa boa barrela. E foi um instalar-se bem em banda oposta,para que se visse,para que não restasse dúvidas de que ele deixara de ser o exagerado de outros tempos,de que ele não se queria lembrar.
Quer dizer,foi um passar por extremos,uma espécie de oito ou oitenta. Quer dizer,passara de um exagero para outro,parecendo não saber fazer outra coisa.

SENSAÇÃO NOVA

Foi como um deslumbramento,uma volúpia. Estar ali a ver o amigo a dispor de um chefe que mandava muito ,que tinha um ror de pessoas dele dependentes.
Tratava-se de conseguir uma transferência. Pelas vias normais,só dali a muito tempo,no caso de atendimento. Mas havia pressa. E isso foi possível logo no dia seguinte,talvez pela consagrada chave de conveniência urgente de serviço.
Mas não se ficou por aqui. Foi necessária,novamente,a intervenção do amigo para uma outra transferência. E o amigo não se fez rogado. Parecia,até,gostar que lhe batessem à porta. Os seus desejos eram,afinal,ordens. E logo ali,mais uma vez à sua vista,sem regateios,se lavrou o despacho.
Não mais esqueceu a sensação nova que o visitara. Ali,bem ao lado do amigo,todo-poderoso,naquele gabinete de pessoa muito importante,ver as suas pretensões tornadas efetivas,sem qualquer obstáculo. Era como um sonho das mil e uma noites.
E dali em diante, compreendeu melhor porque se luta tanto pelo poder.

domingo, 11 de outubro de 2015

FOZ D'ÉGUA - ARGANIL

Foz d´Égua

PAINEL DE AZULEJOS I - PINHÃO

Painel de azulejos

CONVENTO DE CRISTO - TOMAR

Convento de Cristo

SANTUÁRIO DO BOM JESUS DO MONTE- BRAGA

Santuáio do Bom Jesus

ALTOS RISCOS

As uvas estavam prestes a serem colhidas,pelo que um estranho apanhado entre as videiras não seria bem visto. Mais ainda,se trouxesse sacos de plástico,embora transparentes,arriscava-se a que o maltratassem. Não chegaram a tanto,mas do epíteto de ladrão não se livrou,uma e mais vezes. Aconteceu isso,nesta tão arriscada altura,porque um jovem estava cheio de pressa para fazer um certo trabalho. Para tal,tinha de colher folhas e terra numa vasta zona. Se acaso deixasse passar aquela oportunidade,teria de esperar pelo ano seguinte. Seria como estar a marcar passo por longos meses,e isso é que não. Necessidade,a quanto obrigas. Das folhas,obteve fotografias que mostravam,claramente,sintomas de uma doença. Tinham,pois,para o jovem,um grande valor,sobretudo porque a elas estavam associados altos riscos. Tinham-lhe custado,pode dizer-se,suor e quase sangue. Cometeria uma injustiça quem dele duvidasse. Pois foi o que sucedeu. Um ilustre senhor,ao vê-las,não se conteve. De que livro as surripiou?

O RESTO

Eram duas,quase em frente uma da outra,uma,que comprava,a outra,que vendia. A que comprava, era bonita,e sabia disso muito bem,com provas prestadas,passando com vinte,e,além disso,tinha o resto. A que vendia, para lá caminhava ,a passos largos,para o bonito,mas sem o resto,coisas que acontecem,vá-se lá saber porquê.
Os olhos que a que vendia deitava à outra,a sua rival. Se eu tivesse tido a sorte que tu tiveste,e,ainda por cima, com o resto,também eu estava assim como tu,aí a mandar, com esse à vontade,como se tudo fosse teu ,sem contestação,como se fôsses dona do mundo.
Mas estou aqui,deste lado da barricada,do lado dos que ainda não conseguiram estar do teu lado,com essa carinha que eu poderia ter tido,e não tenho,embora eu gostasse muito de a ter,que era sinal de que me tinha saído,também, o resto.

A BARBA

Teria vinte anos,quando muito. Era alto,magro e a barba estava por fazer. Sentou-se,com um fundo suspiro,de cansaço. Apetecer-lhe-ia deitar-se,mas ali não podia,que havia muita gente. O que iriam pensar?
O comboio levou-o,para o trabalho,ou para a faculdade,que ele era estudante trabalhador. No trajeto,passou por dois parques atulhados de carros,a maior parte,certamente,de estudantes,que ali perto estava uma unversidade.
Que jeito lhe faria ter também um carro. Talvez nem precisasse de trabalhar. Teria arranjado tempo,pelo menos,para fazer a barba.

sábado, 10 de outubro de 2015

TORRE DAS CABAÇAS - SANTARÉM

Torre das Cabaças

IGREJA ROMÂNICA DA SENHORA DA ORADA - MELGAÇO

Senhora da  Orada

PORTAL MANUELINO DA IGREJA DA CONCEIÇÃO VELHA - LISBOA

Portal manuelino

UM SORRISO

Ele andava muito triste por não ter dinheiro para dar,uma coisa que se visse. Supunha ele que dar seria dinheiro,ou o seu equivalente,não importa o quê.
Mas um dia,pôs-se a pensar. Que rico dia esse,que foi o começo de um tempo novo. Que rico,afinal,ele era,e nunca tinha dado por isso.
Pois não serão de valor alto,um sorriso,uma palavra amiga,uma atenção,gestos que vão escasseando,sobretudo,quando são os seus contrários os que inundando vão tudo quanto sítio é?

RECADOS

Era ele um homem que não soubera dar conta de um recado. Mais concretamente,desbaratara as coisas da sua própria casa.
Pois fora ele o escolhido para dar conta de um recado ainda maior,que eram as coisas de muitas casas.
Lá teriam pensado que ele aprendera muito com o recado da sua própria casa.

POBRES ACHEGAS

Estava ali gente capaz, não havia dúvida. E pensa-se,às vezes,que está tudo perdido,que não há ponta por onde se lhe pegue,e de repente,como por magia,irrompe uma iniciativa de respeito,com cara de abalar meio mundo. Basta,em certos casos,apenas um pequeno esforço para as torneiras começarem a debitar coisa que se veja. E quase sem se dar por isso,um grande lago forma-se de míseros regatos. E uma árvore que parecia morta desata a verdejar e um canto que se mostrava estéril entra em desfazer-se em riqueza.
Milagre não foi. Milagre já tinha sido. As coisas acontecem não por acaso mas porque são preparadas,incitadas a darem-se. Havia um embrião prévio. E esse é que é o verdadeiro milagre. Tudo o resto são pobres achegas para ele se desenvolver como pedem as suas virtualidades de se ficar pasmado por tanta riqueza a haver.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ANOTHER BRICK IN THE WALL

Plant biomass

A BRIGHT FUTURE

Renewable energy

MALFADADA OBRA

Era aquilo uma ruína. Para tal desgraça não apontava,porém,a triunfal arrancada. Nada lhe faltara,assim se pode dizer. O dia era solene. Merecera,como era de toda a justiça,placa a assinalar o memorável feito.
Pois é. O homem põe,mas Deus,ou lá quem seja,dispõe. E ali estava a triste realidade. Um montão de cacos.
Um muro desabara. O relvado morrera. Flores,nem uma para amostra. A porta nobre fora arrancada. O chão de madeira do átrio servia de pasto a um rebanho de bolores. Uma palmeira ficara sem cabeça. Um tanque não era mais do que uma poça. Os restos de um tabique estavam ali como uma amostra dum passado vistoso.
E,acima de tudo,a placa,símbolo de brilhante obra,enferrujara,mal se descortinando o nome do empreendedor daquela malfadada obra.

REFORMA

Ainda bem que o encontro,pois queria felicitá-lo pelo seu brilhante desempenho. Se não fosse fulano,você era o primeiro,no meu entender. Ah,mas esse está prestes a ir para a reforma.

DE SUA NATUREZA

Naquele início de tarde, de um dia nevoento,quente e húmido,de um outono avançado,estava o empedrado sem vida aparente.De súbito,de uma das pontas,surgiu,muita apressada,uma formiguinha com um enorme carrego,a bem dizer,maior do que ela.
Ia determinada a formiguinha. Subiu montes,e desceu vales,quase em linha reta,sem uma hesitação. O que ela andou para chegar à sua casinha. Alcançada a porta,sumiu-se nas profundezas,ainda que isso não tivesse sido nada fácil,que o carrego pôs grossa resistência.
Não viveria só a formiguinha. O resto da família estaria a descansar, ou a dormir,depois de uma boa refeição,que o celeiro ainda se encontraria bem composto. Não lhe apetecera fazer o mesmo,ou, então, seria de sua natureza estar sempre a fazer pela vida.

MUITO TEMPO

O senhor bateu à porta,manhã cedo. Desculpe se o fiz levantar da cama. Não têm que pedir desculpa,pois não é esse o caso,que eu cedo me levanto e tarde me deito.
Olhe que comigo sucede o mesmo. É que temos,depois,muito tempo para dormir.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

VEHICLE EMISSIONS : DIESEL POLLUTION LONG UNDER-REPORTED

Diesel pollution

COMMON AGRICULTURE POLICY : TRACKLING SOIL LOSS ACROSS EUROPE

Soil loss

CLIMATE SUMMIT : PRICING WOULD LIMIT CARBON REBOUND

Climate summit

ENVIRONMENT : CLIMATE STALEMATE

Environment

INDIA UNVEILS CLIMATE-CHANGE PLEDGE AHEAD OF GLOBAL TALKS

Climate-change

MUITA SORTE

Coitado do velhote,já não devia estar bom da cabeça. É que,volta não volta,era apanhado a falar para as paredes.Tiveste muita sorte,pá,tiveste muita sorte,pois podias andar a pedir esmola e a dormir debaixo das pontes. Tiveste muita sorte,pá.

VIDAS MUITO DURAS

Pagadores de promessas venciam ladeira íngreme,de joelhos,alguns protegidos,outros sem qualquer resguardo. Mais dolorosa,neste caso,a escalada. Ainda que doridos,lá iam progredindo, muito lentamente. Detinham-se,por momentos,a recobrar forças. Familiares,ali a seu lado,davam-lhes ânimo.Está quase,são só mais uns metros. A fé era muita,e a vontade de cumprir,também.
Para eles,o sermão que os esperava seria dispensável. Já teriam ressarcido a maioria dos pecados,senão todos. As palavras que estavam a ouvir apelavam ao arrependimento,à penitência,ao sacrifício. Soava isto a demasiado. Mereceriam,antes,receber louvores por tanta fidelidade. Cansados,derreados,saber-lhes-ia bem que alguém os consolasse.
Para a maor parte dos outros,os que não se tinham arrastado de joelhos até ao templo,pareciam também exagerados tais apelos. Tratava-se de gente simples,do meio rural. As suas vidas eram vidas muito duras,de trabalho quase permanente,no amanho das courelas,no cuidar do gado,na labuta da casa,na criação dos filhos. Os momentos de lazer quase se resumiriam aos das festas e romarias. Deveriam ser poupados aí,pois já teriam suportado o seu quinhão de penitência.

VOZ PLENA DE TERNURA

O homem não sabia o que havia de fazer à vida. Ainda um dia faria um disparate,que era caso para isso. Um sonho terrível não o largava,sem descanso. Seguira conselhos de amigos,cumprira receitas de médicos,mas nada resultava. O maléfico sonho teimava em atormentá-lo.
Mas de que se tratava? Um coro de lamentações de milhares,talvez de milhões,vindo do fundo dos séculos,de todos os tempos,instalava-se na sua pobre cabeça,
permacendo nela horas sem termo. Aqui e ali,uma voz mais potente fería-lhe os tímpanos como um dardo bem afiado.
Que fizera para tal tormento merecer? Alguém aventara que talvez o mal estivesse relacionado com a posição que ele vinha tomando acerca da construção de uma volumosa reserva de água que daria um grande jeito a muita gente. Coisas que se inventam.
O certo é que, um dia,o tormento disse adeus,parece que para sempre. E isso acontecera,constou,
por o clamor do assustador sonho ter dado lugar a uma vozinha de criança,que dizia ter sede,muita sede. A mãe,muito pesarosa,respondera-lhe que água não tinha porque a única fonte secara de vez. Ainda a mãe não terminara,uma outra voz fez-se ouvir,uma voz plena de ternura,a dar-lhes esperança,que muita chuva estava para chegar,chuva que apagaria o pó dos caminhos,ensoparia a terra e daria vida às fontes.
Foi aquilo remédio santo. Os sequiosos passaram a ter nele um amigo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

BATS INITIATE VITAL AGROECOLOGICAL INTERACTIONS IN CORN

Bats

SMARTER ARROW NOW AVAILABLE IN THE FOOD SAFETY QUIVER

Food safety

IMPORTÂNCIA

Entrou na estação dos correios armada em dona de tudo aquilo. Sujeitou-se a uma bicha,mas,de quando em vez,saía dela,dando alguns passos para um dos lados ou para a frente. Parecia uma dansa. Chegou,até,a apoiar-se no balcão e espreitar, dominadoramente ,lá para os fundos.A uma pergunta sua,ficou-se logo a saber a razão de todas aquelas manobras. É que ela era íntima de alguém que ali dava ordens. Esse alguém não estava. Isso não importava. Aquele conhecimento,assim revelado para todo o mundo,chegava,no seu entender,para a distinguir,para marcar a diferença. Virava-se para todos os quadrantes,muito senhora de si e dos outros,cheia de importância.Chegou,finalmente,a sua vez. O que deseja a senhora? Não está a ver?,e isto de modo ríspido. Venho receber a quantia que aí está,que a minha filha me mandou. E voltou a olhar à sua volta,de ar triunfal. Estão a ver?,todo este dinheiro. Sim,que ela não era para ali uma qualquer.O impresso estava mal preenchido. Tinha de fazer outro em condições e apontaram-lhe as faltas. Viera mesmo a callhar um tal desfecho.

NÃO ESTAVA TUDO PERDIDO

Apoiava-se numa bengala e um velhinho compadeceu-se. Sente-se aqui. Dessa vez,não se sentou. Não demorou a ouvir um outro convite,vindo de alguém de muito menos idade,a que não resistiu,aproveitando para lembrar o primeiro. Fê-lo como que a dizer que não estava tudo perdido.

ESSE MÁGICO

Afinal,ele acabara por receber o subsídio,que estivera em dúvida. A sua cara bem o indicava,uma cara muito diferente da que antes tinha mostrado,cheia de apreensões. E com razão,pois ficariam alguns buracos à vista. Tem destas coisas o dinheiro,esse mágico. Sem ele,é uma tristeza.

LEMBRAS-TE PÁ?

Olá,tu estás aqui? Que grande surpresa. Dentro em breve,iria começar uma reunião muito séria,presidida por uma pessoa importante,que veio a ser ainda mais importante. E ele estava ali em conversa muito animada com essa pessoa importante e muito séria,rindo-se ambos,ele quase lhe batendo nas costas,assim a modos que a dizer-lhe lembras-te pá? Ele era um antigo camarada de escola e das brincadeiras.
É bem certo que santos da casa não fazem milagres e que não há pessoas importantes para o seu criado de quarto.

QUINTA DAS ABELHAS

Afinal,mora lá gente,tendo direito,até,a uma tabuleta. É a Quinta das Abelhas. Rica hortaliça e rica fruta, teria ela dado, ali mesmo à beira de linha de água, plena de vida.
Um muro meio arruinado,onde dá nas vistas senhorial portão,ainda a limita. Ali encravada entre altos prédios,tem sabido resistir. Dos áureos tempos,resta um emaranhado de árvores e de arbustos,onde as abelhas,e não só,encontrarão comida que se veja.

UMA ENXADA

Quando o João e o José chegaram à idade de trabalhar,receberam,cada um,uma enxada. O João pegou na sua e não houve dia em que ele a deixasse a descansar. O José pegou na dele e pô-la a um canto,onde lá ficou a enferrujar. Quer dizer,viveu o José à custa do João.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

CASTELO DE SÃO JORGE - LISBOA

Castelo de São Jorge

ESTÁTUA DE FERNANDO PESSOA - LISBOA

Fernando Pessoa

PRAÇA LUÍS DE CAMÕES - LISBOA

Praça Luís de Camões

PRESENTES

Nunca se está só. Estão presentes,de algum modo, todos os que ajudaram e contrariaram a caminhada.

COBIÇAS

Há pessoas insaciáveis. Querem sempre mais e mais. Seguem muitas vezes,na satisfação dos seus apetites,as iniciativas de outros. Nada podem ver neles que não desejem também. Parece faltar-lhes gostos próprios,necessitando de indicações alheias. Não lhas pedem,ficando apenas à espreita. Vão logo atrás,não perdendo um minuto,adquirir o que de novo viram em alguém. Vivem assim num desassossego permanente. Neste frenesim,são capazes de contrair doenças graves. Mas isso pouco lhes importa. O que lhes importa, é ficarem como os outros nos teres.Mas há desejos que não lembram ao diabo. Cria um pai o filho com todo o carinho,dá-lhe os brinquedos que ele quer,está sempre pronto a satisfazer-lhe a mínima vontade,e um dia,lá para diante,invertem-se os papéis.É o pai a bater à porta do filho. O pai ainda não é muito velho e está ali muito capaz de todas as curvas. E sabem o que dois pais se lembraram de pedir a dois filhos? Pois pediram-lhes as namoradas. Pediram e não demoraram muito a casarem-se com elas.Os filhos ficaram para morrer,pois gostavam das moças. Não aconteceu assim,mas não mais foram os mesmos.

AS ÁRVORES

O que são as coisas. A vitalidade que ia por aquela horta,de que dava bem sinal o trabalhar de um motor quando a terra tinha sede,que lá por baixo correm águas bem nutridas. Uma cerca aramada a envolve.
Pois levou tudo uma grande volta,incluindo a fronteira,que,pode dizer-se,deixou de cumprir as suas funções,de tão arruinada está. Já se não ouve motor,já se não vêem hortaliças,já se não vê hortelão. Só lá permanecem as árvores,que essas, sabem dar bem conta de si,enquanto o deixarem.

PÉS IRREQUIETOS

Uma formiguinha vinha lá no seu caminho,transpondo vales,mais ou menos fundos,contornando obstáculos,de dificuldade vária. Parecia vir determinada,sabendo o que queria,para onde ir.
De repente,surge-lhe um pé que não havia meio de estar quieto,barrando-lhe a caminhada. Ora a minha vida,e eu que estava com pressa. Que hei-de fazer,teria ela pensado? Querem ver que tenho de ir para outro lado,coisa que nada me apetecia? E foi mesmo o que ela teve de fazer,coitada dela. O que era a vida de uma formiguinha,sujeita a pés irrequietos,que não sabiam o que queriam.

PASSOS NO ESCURO

Há passos que se dão na vida só porque isso foi do agrado de alguém. Quer dizer que esse alguém estava interessado em que esses passos se dessem. Pode querer dizer,ainda,que quem ganhou mais com esses passos foi quem os levou a dar. Não teriam sido,assim,passos perdidos,se o que deu os passos nada lucrou. Quer dizer,neste caso,que quem deu os passos esteve ao serviço desse alguém,embora não soubesse,vindo a sabê-lo,talvez,em qualquer altura da caminhada,o que não deve ser nada agradável. Enfim,coisas que acontecem quando alguém tem de dar passos no escuro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

VINDIMAS - VALE DO DOURO

Vindimas

PRAÇA AFONSO DE ALBUQUERQUE - LISBOA

Praça Afonso deAlbuquerque

BIBLIOTECA DO PAÇÁCIO DE MAFRA

Biblioteca

UM TORMENTO

Era um professor no presente,quer dizer,procurava ensinar o que se sabia antes de entrar na aula. Parecia respirar segurança. Parecia. Confiara a um amigo que muito se enganava quem assim pensasse. Uma aula para ele era um tormento. É que receava que,entretanto,novo avanço tivesse acontecido,e que fosse do passado o que estivera dizendo.
Era um professor compreensivo. Alguém,à sua vista,tinha metido o pé na poça. Não se preocupe,que eu tenho feito o mesmo.
Era capaz de imitar um outro que muito se lhe assemelhava. O erro é esse? Olhe que também o cometo às vezes. Esvaziava,assim,a intenção de interferir, negativamente ,no julgamento de um aluno.
Era um professor que deixava rasto duradouro por onde passasse.

PROPAGANDA

Compreende-se muito bem que haja quem não goste nada de ouvir o que se diz para aí sobre alterações climáticas,como as secas,as enxurradas,o derretimento dos gelos lá dos polos,a subida do nível da água dos oceanos,a acidificação destes,o borbulhar de metano no "permafrost",os ursinhos brancos verem os gelos fugir-lhes debaixo das patinhas,os pobres peixes não saberem de que água são,a fumarada que por aí vai,o oxigénio a mais que havia para a gente respirar ser gasto nesses fumos,a desflorestação que não pára,o uso crecente de queimadas,os buracos  que por aí havia lá nas funduras,cheios de "crude" e de gases,e que vão ficando à espera de que os encham outra vez com os tais fumos,podendo,até,sabe-se lá, estarem a ajudar os tremores que por aí se dão.
Enfim,compreende-se muito bem. Não me venham para cá com essas tolices,
essas invenções,isso é tudo propaganda de gente que quer fazer figura,que não sabe fazer outra coisa.
Ora deixem-me cá fazer a minha vida,comer descansado,para não perturbar as digestões,e gozar os meus fins de semana,e também as minhas férias,que a gente precisa trabalhar descontraído para ganharmos o nosso dinheirinho que tanta falta nos faz,que a vida está cada vez mais cara,por causa dessas novidades muitas que todos os dias vão aparecendo.
Isso é tudo propaganda.

domingo, 4 de outubro de 2015

CENTRO CULTURAL DE BELÉM - LISBOA

Centro Cultural de Belém

PANTEÃO NACIONAL - LISBOA

Panteão Nacional

FICARAM AMIGOS

Coitado do moço,tivera muito azar. Ainda mal encetara a caminhada,já estava com um processo às costas,embora arquivado. Logo havia de lhe suceder a ele,um pacífico.
Mas uma pessoa tem de ser surda e muda quando é enxovalhada? Ora ele ouviu e não se calou. O atrevimento. Para castigo,devia apresentar mil desculpas. Não esteve para isso. O queixoso também não se importou. O seu chefe é que não esteve pelos ajustes. Ele iria ver como tinham de ser tratados os orgulhosos.
O moço,além de pacífico,incapaz de fazer mal a uma mosca,era também muito paciente. O chefe,um dia,mais tarde ou mais cedo,havia de reconsiderar. E foi o que aconteceu,passado não muito tempo. Ficaram amigos.

ÁRVORE DAS PATACAS

Reinava lá nesses muitos paraísos,como tinha reinado noutros,em outros tempos,em todos os tempos,afinal,o mesmo rei,que ele tinha artes para se perpetuar,não mudando em nada,como se reproduzindo,talvez de estaca,não se sabe bem,porque ele não diz,ou outra razão qualquer,que nenhuma razão adiantaria,o mesmo rei,dizia-se,que era,nem mais,nem menos,o rei dinheiro,sempre muito bem paramentado,muito empoado,muito adornado,enfim,um rei em tudo,sem tirar, nem pôr. Nesses muitos paraísos,de todos os tempos,não só dos correntes,a árvore que lá reinava,que as árvores não podiam ficar para trás,também tinham de ter uma rainha,era esse um direito que lhes assistia,não era uma macieira,nem pensar nisso,que era descer,mas sim uma muito diferente,muito rara,tão rara,que até aí ninguém dera por ela,por estar lá a um canto,muito encolhidinha,mas o que é vivo sempre aparece,nem mais,nem menos,a árvore das patacas,que daí em diante passou a ser,por direito próprio,a rainha incontestável de todas as árvores,incluindo aquelas que ainda estavam para vir.

MAIOR RETORNO

Os velhos lá da aldeia não sabiam onde pôr as prendas. Era caso para dizer que estavam de parabéns. Assim estivessem os velhos das outras aldeias. Acontecera isso,porque quem mandava lá só pensava neles.
Não gostando de os ver de pé,às esquinas ou encostados às paredes,na cavaqueira,quase sempre futebolística,tinha de ser,muito em especial nos dias de sol,presenteara-os com mais dois poisos,onde se entretinham a jogar às cartas tempos sem fim.
Já lá existia um,em sítio ajardinado,como convinha,para melhor oxigenar aqueles entupidos pulmões. Mas via-se bem que estava já a ser muito acanhado,a rebentar pelas costuras. A maior parte tinha de ficar de pé,o que não era nada apropriado.
Os velhos agradeceram muito e nunca se iriam esquecer de quem tanto pensava neles,passando aos atos. Assim outros tal fizessem,esses e mais atos,pois que o entretém quer-se variado.
É bem certo que a vida é um jogo que os velhos têm jogado muito. Mas como era bem sabido,podia-se fazer outras coisas,algumas de maior retorno. Estava pensando nisso,certamente,quem lá mandava,pelo que,um dia,receberiam outras prendas. A qualidade delas ficaria ao seu alto critério.

sábado, 3 de outubro de 2015

ESPIGUEIROS DO LINDOSO - PORTUGAL

Espigueiros do Lindoso

BIBLIOTECA JOANINA - UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Biblioteca Joanina

O SEU PÂO

Sim,dê-me esse,esse aí ao canto, o que está mais queimadinho. É dos que eu mais gosto. E os seus olhos luziam,e a sua cara luzia. Era um modesto folhado de queijo. Uma coisa banal,uma coisa singela, o que está,pois,aqui,a ser lembrado.
Já não era a primeira vez que isso sucedia,era a repetição do que tinha sucedido,já se não sabia quantas vezes. O que se sabia é que se passava isto mais ou menos à mesma hora,precisamente aí pelo meio-dia,a hora do almocinho.
Seria ele sozinho lá em casa. Já não era novo,longe disso. O dinheirinho não daria para mais. Também ,com a idade que tinha,já não precisava de se atafulhar.
Um folhado de queijo,um almoço,pois,baratinho. À medida da sua bolsa. Todos os dias. Porque não? Também se come pão todos os dias. Mas pão não levava. Dispensá-lo-ia. O folhado,de algum modo o continha. Seria também o seu pão.

LÁ NOS CONFINS

Já lá iam muitos anos,mas fora uma coisa que nunca ele esquecera. O que se teria passado para tal acontecer?
Vinha ele lá do seu trabalho e eram horas de almoçar. Estava ali uma porta aberta com ares de dar de comer a quem tinha fome e ele entrou.
A sala estava vazia. Era uma sala com algumas mesas,muito bem postas. Lá pediu o que lhe apeteceu e esperou. Entretanto,chegou mais gente,uma senhora,aí de uns quarenta anos,com um filho aí de dez.
Lá veio o que tinha pedido e lá comeu. E aquela mãe,e aquele filho,ali mesmo ao lado,a fazer o mesmo. Parecia nada mais ter acontecido,o que,de facto,aconteceu.
O certo é que aquele almoço,naquela terra meio perdida lá nos confins,nunca mais fora esquecido. O que teria acontecido,se nada aconteceu?

FUMARADA DENSA

Por algum motivo,não era conveniente telefonar da pensão. E assim,terminado o jantar,aventurou-se a procurar local onde estivesse à vontade. À noite,naquele mês de muito frio,as ruas lá da terra,parcialmente iluminadas,estavam desertas. As pessoas,na sua maior parte, ou encontravam-se recolhidas no aconchego de suas casas, ou concentravam-se numa ou noutra venda,donde saíam vozes avinhadas. Não conviria bater a essas portas. Finalmente,pareceu-lhe descobrir sítio a jeito. A porta enganara-o. Lá dentro,à volta de uma larga mesa, jogava-se,talvez forte. Uma fumarada densa enchia a quadra,acentuando a tensão que pairava por ali. Serviu-se depressa,não fosse perturbar aquele ambiente de casino. Ali não voltaria.
Na vez seguinte,após algums tentativas goradas,lá se dispôs a entrar numa das tabernas,que lhe pareceu menos barulhenta. Teria sido só à sua aproximação,supondo,talvez,ser ele uma autoridade. Desenganados,voltaram ao que tinha sido sempre. A fumarada não era inferior. Dela não se livrou,nem do barulho,quase ensurdecedor. Claro que pouco consegiu ouvir do outro lado,mas,para compensar,fez saber que ainda estava vivo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

THAWING PERMAFROST FEEDS CLIMATE CHANGE

Permafrost

A NEW GLOBAL TINDERBOX : THE WORLD'S NORTHERN FORESTS

Northern forests

ROTHAMSTED RESEARCH HAD A SUCESSFUL YEAR 2014

...to increase crop productivity and quality

ASAS

De tanto andar por ali,por aquele maneirinho jardim,morada de tanto passarinho,já os vai imitando. De dia,não quer outro poiso. Ele e mais os seus teres,acondicionados em bem meia dúzia de sacos. Por ali se senta,por ali se inteira do que se passa no mundo,de jornais que enchem contentores. Mas,acima de tudo,é ali que,pelo menos,ganha para o almoço. E isto,porque é ele que se encarrega do lixo de uma esmpresa de comida ao domicílio.
Pernoitar,não se sabe onde o faz. Mas não é de admirar que venha a ser visto,á noite,estendido num banco,a recobrar energias. Quanto à higiene,não terá dificuldades,pois água não falta e outras amenidades.
Para ser passarinho, como os seus muitos vizinhos,não arranjou ainda asas. Mas quem sabe se,um dia,não as terá?

APAGÃO

Calhou,em certa terra,o João e o José comerem à mesma mesa durante duas semanas. A terra não era a deles,estavam ali só de passagem. Nunca se tinham encontrado,pelo que não é de admirar que tivessem falado de muitas coisas. Falaram, até, de um António,que ambos conheciam muito bem,por terem com ele intimamente privado. Coincidências. E aconteceu,um dia,o João cruzar-se,naquela terra, casualmente, com o António. Como o António devia favores a João,quis presenteá-lo com um almoço em restaurante de luxo. No próximo jantar,o João não se conteve. Afinal,José,o António não o conhece de parte alguma.O que teria o José feito ao António para este o riscar do mapa? Grossa coisa deve ter sido,para ocorrer tal apagão.

ENCANTADO

O homem acordara bem disposto. Estava um dia de sol. Esqueceu dívidas suas e de outros,esqueceu a tristeza que vai por esse mundo e apeteceu-lhe vadiar. E lá foi,não para muito longe,que as pernas já lhe iam pesando. De resto,ele estava convencido de que,tirando umas certas pequenas diferenças,esse mundo é todo igual.
Tomou um transporte público,e ,quase não tinha aquecido o lugar,apanhou com um muito obrigado humilde,só por ter facilitado a saída do parceiro do lado. Começava bem a digressão.
Lá onde desembarcou,eram só manifestações de lazer,a imitá-lo,ou ele a imitá-los,tanto faz. Uns andavam,para lá e para cá,tal como ele,uns saltavam,uns corriam,uns pedalavam,uns pescavam,uns torravam. Também voavam gaivotas e mourejavam duas ou três famílias de gatos. A estes,comida não faltava,que alguém deles cuidava,que bem se via. Mas um,naquela altura,estaria para outra iguaria virado,pois de teimosa perseguição uma gaivota se livrou.
Tantos eram os que lá se entretinham,que na bonita igreja apenas se encontrava uma alma. Mas esta enchia-a toda.Era voz que encantaria o próprio céu. Bem precisaria este de tal encantamento. É que lá fora,um estranho grupo atuava. Estavam ali por causa de um morto,mas eles bem vivos se mostravam,bem vivos e bem dispostos.
Ele também viera de lá encantado. E mais encantado ficou,quando, a uma inquirição sua , uma senhora pronta e alegremente o informou. Parecia estar à espera de que alguém dela precisasse.
Correra-lhe bem,pois,a digressão desse dia. Era para,mais uma vez,agradecer a Quem dos dias se encarrega.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

GLOBAL EMISSIONS : NEW OIL INVESTMENTS BOOST CARBON LOCK-IN

Global emissions

CALIFORNIA AGRICULTURE WEATHERS DROUGHT - AT A COST

California agriculture

CHINA TO LAUNCH CAP-AND-TRADE SYSTEM

Greenhouse-gas emisions

BEE TONGUES SHRINK AS CLIMATE WARMS

As climate warms

DÁ GOSTO

Para o que lhe havia de dar. Perdia a cabeça quando via ou ouvia coisas que estivessem a pedi-las. E então,como que abrutamente empurrado,saltava para o meio da cena,disposto a dar forte e feio. Não tivera insucessos,pelo que reincidia. Mas precisava de ter muito cuidado,se não ainda, um dia,sair-lhe-á o tiro pela culatra,ou,o que é o mesmo,irá buscar lã e ficará tosqueado,ou o caçador arriscar-se-á a ser caçado.
Aquilo,daquela vez,excedia tudo o que imaginar se pode. O moço, já crescidinho, entrara acompanhado de uma menina de similar crescimento. Mal se sentaram,o moço não se conteve. Não calculas como estou grudado ao livro. Há tempos que não lia um que me enchesse tanto as medidas. É asneira que ferve,uma ou mais em cada frase. Assim,dá gosto.
A menina não piou,talvez envergonhada por tamanha má boca do companheiro. Um moço crescidinho encantado com uma porcaria daquelas. Estava a precisá-las.
Ouvi-as das boas. Mas o moço era de se encolher. As asneiras tinham-no quebrado,amolecido. Daquela vez,ainda escapara. Ver-se-á para a próxima.

FEIO ESPINHO

No melhor pano cai a nódoa. Eram ralos entupidos,era cinza de cigarro por toda a superfície,eram pedaços de papel higiénico no chão e na bancada do lavatório. Era este o triste estado daquela "salle de bains" de um rico conjunto de amplos e lindos espaços ,de largos e ricos corredores.
Acontecia tal mácula quando a utilizava certa gente,gente com cara de fome,pálida,alheada. Para o papel, havia um incentivo. É que o secador padecia de uma avaria crónica. Debitava uma corrente tão fria,que afugentava qualquer um. E quem pagava eram os rolos das sanitas.
Os parcos recursos não dariam para a reparação,seria o mais certo. Pena maior era o de não permitirem engordar os magros salários. Se tal acontecesse,talvez um milagre,certamente outras caras eles apresentariam e também outros procedimentos.
Era uma nódoa aparentemente escusada. Mas ali estava um grosseiro quadro de bastidores a mostrar como uma bela rosa pode conviver com um feio espinho.