terça-feira, 27 de outubro de 2015

BALDIO


Aquela era uma terra de ninguém,tal como um baldio. Não se tratava,é certo,de uma área por aí além,mas dava para alguns se sentirem ali à vontade,sem serem incomodados.
Apareciam por lá bandos de miúdos,entretidos com as suas brincadeiras,em que se incluía uma de alto risco,por descerem íngreme ladeira,sentados em tábuas,cartões e até chapas de zinco. Não constou que algum tivesse desistido,ainda que ocorressem aparatosos trambolhões.
Depois,artistas de várias artes de circo armavam por lá tendas,às vezes trazendo jaulas com inquilinos mais ou menos ferozes,que deixavam uns odores teimosos.
Nos intervalos,instalavam-se,com armas e bagagens,um modo de dizer,sucessivas famílias de nómadas. Certa vez,houve festa rija,com quebra simbólica de bilhas,que atraiu muitos curiosos,amigos de novidades.
De tanto pisar,a erva era escassa,pelo que não se viam por lá rebanhos a fazer pela vida. Mas não era local maninho de todo. É que dava também jeito para depósito de entulhos,que se cobriam de vegetação,em que predominavam tufos de borragem,que os miúdos convertiam em meia dúzia de preciosos tostões em qualquer farmácia.
Era,pois,um baldio que respirava variedade e,sobretudo,liberdade. Não haveria muitos como ele,tanto mais que uma das suas fronteiras era um presídio,onde liberdade não existia.

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