sábado, 17 de outubro de 2015

VIGÉSIMA QUINTA HORA

Que aventuras podem acontecer a um simples,quando é apanhado pelas malhas apertadas de uma guerra. Depois de várias peripécias,algumas quase inacreditáveis,é feito prisioneiro e integrado numa numerosa leva de irmãos na desgraça. Vão ter sobre os seus pobres corpos,em particular braços e pernas,a pesada tarefa de abrir uma vala. Parecia uma vala de rega ou de enxugo,tanto faz. O esforço é penoso,mas não podem reclamar,que os guardas não estão ali para brincadeiras. De resto,se a obra se atrasar,as responsabilidades serão divididas por todos,mas mais por uns,é facil de adivinhar.
Os dias ali passados dão para muita coisa. Cansar,recordar a família,sem saber se está viva,pensar na miséria da vida,em como,de repente,um simplório ,que não fizera mal a ninguém ,se vê metido em tantos trabalhos e disparates,e também a habituar-se e até a orgulhar-se,veja-se lá.
A vala era larga,profunda,extensa. Lá de cima,os olhos perdiam-se no horizonte e a vala lá ia ter também. Que grande obra,sim senhor. Lá na minha aldeia,uma coisa destas dava um jeitão ,se viesse cheia de água,pois as terras agradecem serem molhadas, quando as sementeiras se estão a perder. Talvez eu aqui viesse aprender.
A minha mulher devia ficar satisfeita se isto visse,pois uma parte desta grande obra a mim se deve. Quando esta maldita guerra terminar,hei-de cá trazê-la. Ela olhará para mim e encher-se-á de orgulho.
Quase valera a pena tanta servidão. São assim os simples. Conseguem transformar o mal em bem.Mereciam,não resta dúvida,outro tratamento.

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