domingo, 21 de julho de 2013
PASSADO
Ainda os ouvira cantar pelas ruas,à noitinha,depois do regresso dos trabalhos.
Soltariam as mágoas ou esperariam,deste modo,recobrar forças para o dia
seguinte. Ainda os vira sentados em bancos corridos,servindo-se de sopas de pão
que fumegavam. Ainda envergou os seus pelicos,quando o frio o atormentava e a
eles não,porque a enxada ou a picareta os aquecia. Ainda sentiu o cheiro forte
dos seus sobretudos de lã,lembrando pão saído do forno,quando o jipe ia trancado
por causa das intempéries. Ainda os viu, atrás de muares,de mão na rabiça do
arado rasgando a terra,orientando-se por belgas,ou pela ciência de anos sem
conta,ou pela torre de algum castelo ou igreja. Ainda passou por muitas varas de
porcos,engordando à custa de bolota dos montados. Ainda se refrescou com
pirolitos feitos com água da Serra de Ossa. Ainda comeu à luz de candieiros a
petróleo,em vilas cabeças de concelho,e viu correr esgotos a céu aberto.Ainda
assitiu ao fabrico de carvão de sobro e de azinho. As fábricas lembravam
afloramentos rochosos,que se somavam aos muitos que por lá existem. Não tiveram
conta os quilómetros que andara de jipe por caminhos de herdade e os palmilhados
por chão plano e por encostas a subir e a descer,umas vezes cobertas de searas e
outras à espera de que lá as pusessem. Já passou por alguns "montes" adquiridos
com o dinheiro da venda de meia dúzia de metros quadrados urbanos.
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