Hoje será muito diferente,com certeza,mas
naquela noite de um frio de dezembro,há uns bons sessenta anos,a passagem por
uma urgência de hospital foi assim. Declarara-se uma apendicite que pedia
internamento imediato. Mas para se poder deitar na cama que o esperava,em
enfermaria de larga concorrência,não foi coisa fácil. Pode dizer-se,até,sem
grande exagero,que foi coisa épica. Para começar,teve de se sujeitar aos cuidados
do fígaro. Se não fosse uma nota de vinte,naquele tempo era dinheiro,teria
apanhado com a máquina zero. Mas havia mais etapas a vencer. Dali,pasou,sob
escolta,não lhe apetecesse fugir,à secção da higiene corporal. Una tina de
mármore,que mais parecia um sarcófago,estava preparada. O ar da sala,de pé
direito dos antigos,era gelado e a água imitava-o. Seria constipação certa. Lá
foi providencial outra nota de vinte. Ia já preparado. Estava quase lá,mas tinha
ainda de mudar de farpela. Nunca se vira metido numa camisa daquelas. Parecia a
de um presidiário. Mas não havia outra. Finalmente,a tão sonhada cama. O que é
lá isso? Esse fio não pode estar aí. Por vezes,dá-lhes para o apertar demasiado.
O que lhe valeu foi a intervenção de uma menina enfermeira que se condoeu. Deixe
lá o rapaz ficar com o fio. Eu responsabilizo-me. Pôde, então, descansar e rezar
com a cruz entre os dedos.
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