Olhava para o ferrador com admiração. A
coragem que devia ter para estar ali com uma das patas do cavalo sobre a sua
coxa,a desbastar-lhe o casco e a fixar-lhe a ferradura. O animal,quando
entrara,parecia não estar para ali virado,tais os gestos negativos que fizera.
Mas a uma palavra sua,ao contacto da mão correndo-lhe o dorso,todo ele se
aquietara. As vezes que o vira fazer o mesmo. Um tanto afastado,não fossem
acontecer surpresas,observava embevecido a sua arte. A operação tinha uma fase
mais empolgante,os ajustes. As ferraduras,presas por tenazes,iam à forja as
vezes necessárias para as adaptar bem às diferentes patas. No cravar,residia a
fase de maior expectativa,pois estava sempre com receio de que o pobre cavalo
acusasse a dor. Quase ao lado,ficava outra tenda de maravilhas,o torneiro. Os
objectos de madeira que o artista sabia fazer. O que mais o entusiasmava era o
fabrico de peões. Daquilo percebia ele. Os de pinho não prestavam. Bons,só os de
azinho. O oleiro,quase da mesma família,estava longe,mas de vez em quando
visitava-o. Daquelas mãos e daqueles pés nasciam coisas de espantar. O barro
submetia-se gostosamente,pois de pedaços informes iam surgindo,a pouco e
pouco,artigos de muito préstimo,depois do toque da cozedura. Sempre que
calhava,ia assistir ao feitiço operado numa padaria caseira. Estava interessado
apenas no final,sobretudo na saída das merendeiras. Ainda quentes,regava-as com
azeite e polvilhava-as com açúcar amarelo,tavez a sua melhor guloseima na
altura.
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