domingo, 14 de julho de 2013
MÚSICA CELESTIAL
Era um inconformado. Herdara umas courelas,mas não soubera ou não pudera viver
delas. E hoje,uma,amanhã outra,lá se foram algumas jóias da família. O que lhe
valeu foi ser solteiro e ter um irmão, mais atilado,que o passou a
sustentar.Vivia numa casita que pouco mais tinha do que um quarto,mas para ele
chegava. Logo ao pé da porta, havia uma nora que começava a trabalhar bem cedo,o
que lhe dava algum conforto. Sempre gostara da natureza e aquela água a cair dos
alcatruzes era para ele como música celestial. Dava-lhe esse
passatempo,complementado com a inspecção da horta,até ao almoço. De tarde,ia até
à sede da filarmónica. Aqui se entretinha horas a fio,conversando e jogando às
cartas ou ao dominó. Era do contra,e de vez em quando ia para trás das grades.
Tratava-se de temporadas curtas,pois aquilo,no que lhe dizia respeito,não
passava de paleio. De resto,ele era incapaz de fazer mal a uma mosca.
Acontecia,porém,que lhe dava para dizer não,quando alguns queriam que ele
dissesse sim. Como se depreende,dele não viria grande mal ao mundo. Assim o
entendia quem tratava destes assuntos. Mas uma vez por outra,já se sabe,deixava
de poder ouvir a nora e jogar à bisca. Felizmente que a família esperava sempre
por ele. Mas há um momento em que não há ninguém que nos valha,mesmo que
tenhamos dito sempre que sim.
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