terça-feira, 23 de julho de 2013
O CADEIRÃO
Andara uma vida inteira a sonhar com o cadeirão. O que ele sofreu por ver o
tempo passar e sem ver o sonho realizado. Mas não perdia a esperança. Havia de
chegar a sua hora. E é que chegou,tarde para muitos,mas para ele não. Ali estava
ele,finalmente,no cadeirão,no seu cadeirão. Sentia-se ali tão bem,que o não
largou durante dias e noites. Passava os olhos,com vagares,pelas paredes,pelos
móveis,pelos retratos dos antecessores. Fechava-os,de quando em vez,para
dormitar um pouco,pois tinha de estender ao máximo aqueles momentos deliciosos
de posse recente. Ao fim desses dias e dessas noites,sentiu-se inteiramente
compensado por tanta espera, e decidiu pôr mãos à obra. E a primeira coisa que
fez ,foi ir ver o cofre. Compreende-se muito bem esse passo,pois sem dinheiro
não se pode ir muito longe. E apanhou um grande choque. O cofre estava quase
vazio. E agora?,e esta? Querem ver que tenho de tirá-lo do meu bolso. Era o que
faltava. Mas eu hei-de me desembaraçar. Cheguei até aqui depois de tantas
barreiras saltar,não será esta que me há-de trair. Pegou da pena e escreveu a
sua primeira missiva. Tinha planeado ser de outra maneira,uma maneira que
pusesse na sombra as do passado,mas não podia ser. Mais tarde,resolvido esse
magno problema de carestia,iriam ver o que era um plano. Naquela hora
grave,tinham de compreender. Na missiva,na sua primeira
missiva,pedia-se,simplesmente,miseravelmente,dinheiro,esse vil.
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