Ele andava muito ralado e não era para menos. É que já há dois tristes anos que
não fora passar,pelo menos, uma mísera semana no estrangeiro,quer dizer,no país
ali ao lado do seu. E estava a ver,coitado,que naquele ano iria acontecer o
mesmo. A vida estava cada vez mais cara e o patrão não havia meio de dele se
condoer.
Quando as férias acabassem,que cara poria ele lá no emprego,ao ouvir
falar os colegas das delícias das suas em Cancún,nas Bahamas,em Cuba,em
Miami,nas Seychelles,e assim por diante? Sim,que cara ele mostraria? Uma cara
ridícula,certamente,se ele,coitado,a contrapor,quando muito,só poderia dizer que
tinha gasto essa mísera semana em Paio Pires ou na Baixa da Banheira,sem
menospreso,claro, por estas duas honradas terras.
Teria de ficar
calado,reduzido à sua insignificância,engulir em seco,e começar a pensar em
mudar de emprego,que naquele já estava aviado. Nem colegas,nem patrão lhe dariam
a mínima importância. Não era ali mais do que um zero à esquerda. E então,minhas
ricas encomendas. Nunca mais sairia do degrau de acesso,da soleira da porta.
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