domingo, 31 de maio de 2015

CONVENTO DE CRISTO - TOMAR,PORTUGAL

Convento de Cristo

SORTELHA - PORTUGAL

Aldeia histórica

O ALMOÇO DO TROLHA - JÚLIO POMAR

Júlio Pomar

CEGOS E SURDOS

Num primeiro andar,havia festa rija. Música a condizer ouvia-se bem lá fora e,naquele ambiente escaldante,alguns parzinhos sentiam necessidade de dar largas às suas paixões. Para isso,aproveitavam uma varanda,exposta à curiosidade de quem se encontrava no largo fronteiro,onde pontificava um respeitável marquês.
Naquele tempo,era aquilo um procedimento indecoroso,de gente sem vergonha. Os parzinhos formariam bicha,pois o espaço era acanhado. O marquês não os podia ver,mas daria conta do que se estava passando,por os atrevidos não primarem pela discrição. Tratava-se,sem dúvida,de uma desconsideração sem nome. Coitado dele,para o que estava guardado.
Mas o que podia fazer ele,se lá onde o tinham posto era incapaz de se mexer? É que estavam a precisar de um sermão de alguém com autoridade,como era o seu caso,apelando à decência. Aquilo eram coisas que não se deviam fazer numa praça pública,e muito menos naquela,uma muito séria sala de visitas.
Além do marquês,havia mais gente no largo,mas todos plebeus. Talvez por isso,deu-lhes para intromissões em alta voz. Mas foi o mesmo que nada. Estavam cegos e surdos os parzinhos,que não pararam de se revezarem,até de madrugada. Seria demais,naqueles atrasados tempos,se atuassem à luz do dia.

COMPAIXÃO

O jovem cantor tinha qualquer coisa que o distinguia. Não seria a voz,não seria o talhe,não seriam os gestos. Era qualquer coisa de indefinido,qualquer coisa muito sua,qualquer coisa que pedia palmas,muitas palmas,qualquer coisa muito íntima,que prendia,que comovia.Não era alto,nem baixo,não era um Apolo,muito longe disso,não era loiro,não tinha olhos azuis. Os olhos eram pequeninos,que mais pequeninos pareciam,enquadrados por uma barbicha negra.Seria talvez nos olhinhos que morava o segredo da simpatia que despertava. Comovia fitá-los. Eram olhos de jovem sensível,eram olhos de jovem que se compadecia. Comovia olhar para ele,porque dos seus olhos jorravam torrentes de compaixão,que se derramavam à sua volta,contagiando quem o ouvia,lá onde cantava,como em qulquer outro lugar onde a sua voz chegasse

CAMA,MESA E ROUPA LAVADA

Os pássaros não cabiam de contentes. Não era para menos. Mesmo ali ao pé da porta iam ter por muitos dias abundância de comida saborosa. Os frutos de uma enorme amoreira tinham entrado em plena maturação. Os ramos estavam pejados,quase se quebrando. Não sabiam para onde se virar,tal era a fartura. Saltavam de um poiso para outro,procurando,decerto,os frutos mais doces,que eles bem distinguiam.De vez em quando,recolhiam-se,a descansar,entre a folhagem de choupos altos,que à volta formavam densa cortina. Não encontrariam melhor sala de refeições,no remanso daquelas árvores protetoras. Ali perto,desenhava-se também um pequeno lago,compondo,assim,uma mansão ideal. Poder-se-ia dizer que dispunham de cama,mesa e roupa lavada. Não podiam exigir mais. Mas sem pedir,tinham mesmo mais. Ninguém os importunava,nem concorrência se via. Tudo só para eles.Não viveriam tão ricamente muitos dos seus irmãos. A culpa não era deles,está visto. Não tinham prejudicado ninguém. Os seus pais e avós sempre ali tinham vivido. Fora apenas isto uma questão de sorte. A cama já a encontraram feita e foi só deitarem-se nela.Continuariam assim por muito tempo,pelo que não teriam preocupações com a descendência. Depois,para além daquela fábrica de açúcar,havia outras,não muito longe,para acorrer às necessidades do resto do ano. E quartos não faltariam em árvores que nunca se despiam.

sábado, 30 de maio de 2015

MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO CHIADO - LISBOA

Contemporary Art  Museum

VILA ROMANA DE TORRE DE PALMA - MONFORTE,PORTUGAL

Vila romana

MEMÓRIAS - RAUL BRANDÃO

Volume I

RICO FILÃO

O moço precisara de almoçar e de jantar em certa terra,onde estava de passagem,por uns tempos,e à senhora dera-lhe jeito tê-lo à mesa. Sempre eram mais uns cobres para os seus alfinetes.
Lá em casa,naquela altura,vivia apenas ela,pois o companheiro tivera de se ausentar. Está-se mesmo a ver a sorte da vizinhança. De repente,sem o esperar,caíra-lhe,mesmo ali ao pé da porta,um rico filão para explorar. Que lhes fizesse bom proveito.
Nalguma coisa haviam de falar,ela e ele. Mas foi ela que mais falou,pelo irresistível interesse em dar conta da sua riqueza. Era tudo do melhor,que o companheiro estimava-a muito. Além dos móveis,todos de estilo,havia,ainda,as roupas,para as quatro estações,como os respetivos apetrechos,que não vale a pena citar,que de toda a gente conhecidos.
Quando já não havia mais nada para mostrar,os tempos esgotaram-se. A vizinhança que tivesse paciência e tratasse de arranjar outro filão. Aquele já não tinha mais nada para dar,a não ser uns pobres restos,que nem para o pequeno-almoço chegavam.

UM CASO TRIVIAL

Eram uns peixinhos muito vorazes aqueles. Mal se abeirava gente,punham-se logo todos de bocarra bem aberta,muito juntos,em jeito de competição. Não lhes chegaria a comida que o amo lhes dava.
Um pai de família sabia disso. E assim,viera de casa bem aviado. O filho havia de se divertir muito. Quando se preparava para entrar em cena,uma voz forte susteve-lhe o gesto. Via-se bem que o dono dela,coitado,não regulava bem da cabeça,mas conhecia a lei que ali vigorava. E isto mais o travou e enleou. Ser repreendido,diante de testemunhas,por um sujeito daqueles.
Esteve ali uns momentos,momentos terríveis, sem saber o que fazer,parecendo bloqueado. Submeter-se àquele sem juízo,nunca,só por cima do seu cadáver. E era tão simples. Bastava uma moedinha numa máquina,ali à sua mão,tal como outros,a seu lado,já tinham feito.
E sucedeu o que era de esperar. O filho que tivesse paciência. Viriam noutra ocasião. Naquela,já se estava fazendo tarde.
Um caso trivial,a modos de exemplar. Ah,estes respeitos humanos.

UMA SANGRIA

Não tinha havido invasão de gente bárbara,não tinha havido guerra,mas eles aí vinham em magote,homens,mulheres,crianças,pejando caminhos,amontoando-se em salas de espera e nas plataformas das estações dos comboios. O que os movia? Era a fome,simplesmente. Não tinham nada,a não ser a força dos seus braços e iam vendê-la.
Nas suas terras, não havia quem deles precisasse,mas lá mais para baixo,onde se estendiam searas a perder de vista, e vinhas e olivais de muitos milhares de pés,contavam com eles e já estavam à sua espera. Eram menos exigentes,sendo ,assim, os preferidos. É a luta pela vida. Ficavam ainda muito agradecidos.
Lá se arranjavam como podiam. O que era preciso é que no fim,quando do regresso,sobrasse alguma coisa de jeito,de modo a ampará-los no resto do ano. A palavra de ordem seria,pois, poupar,mesmo em coisas essenciais.
Andaram nisto anos e anos. Era a ignorância,o alheamento. Não lhes ocorria outra saída. Mas um dia,alguém deu aviso. Olhem que há para aí uma maneira de a gente se arranjar melhor. Dizem que em França e noutros países há para lá muito trabalho e ganha-se mais. Vamos lá experimentar. Foram,gostaram e foi uma sangria.
As condições,no começo,não foram lá grande coisa,mas a isso estavam eles bem acostumados. Mas melhoraram com o tempo. Assim,valia a pena,diziam os coitados,com alguma mágoa. Sim,porque aquilo não era a sua santa terrinha. Havia que ter paciência,que era o que não lhes faltava. Voltariam um dia,de vez,quando amealhassem coisa que se visse.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

SURGE IN RENEWABLES REMAKES CALIFORNIA'S ENERGY LANDSCAPE

Renewables

READING THE TEA LEAVES FOR EFFECTS OF CLIMATE CHANGE

Climate change

BRAZIL CUTS RED TAPE STIFLING BIODIVERSITY STUDIES

Biodiversity

MADRAÇO

No vasto largo,muitos soldadinhos,futuros defensores da ordem e da pátria,marchavam mais ou menos garbosamente. Também,com aquela tenra idade,não se lhes podia exigir muito. Tinham,
pois,de lhes desculpar muita coisa que não estivesse a sair bem. Com o tempo,lá haviam de chegar onde se queria que eles fossem.
Nem todos,porém,andavam lá. É que um deles,vá-se lá saber porquê,estava feito espetador,sentado numa enorme bancada apinhada de gente. Fora,na verdade,uma grande falta a sua. O seu lugar era lá em baixo,ao lado de tantos,preparando o porvir,e não ali,feito um refinado madraço ou um sonso do mesmo calibre.
Uma senhora,que ele já tinha visto a fitá-lo,com olhos carregados de censura,acabou por não se conter. O que está o menino aqui a fazer? Que manha arranjou para se furtar à sua obrigação,
que era o de andar lá em baixo com os outros? Sim,que desculpa inventou? Ele há cada não presta,e mais mimos no género,que aquilo de modo nenhum se podia tolerar.
A voz da senhora era forte,e alta, que a ouvia meio mundo. O pobre moço,muito encolhido,
muito envergonhado,o que não era para menos,ainda se quis escapulir,para se furtar àquela vergonha,mas por onde?,se não cabia uma mosca ali à sua volta. O que lhe valeu foi ela ter dado conta do seu rebento no meio de toda aquela tropa e esquecer-se completamente dele.
Mas qual teria sido o motivo de tão gravíssima ausência? O mais provável foi ele ter chegado tarde e,para castigo,não o deixaram marchar.

FARRAPOS DE ENERGIA

Se houvesse votação,era certo e sabido que seria ela a eleita,e a grande distância da segunda. É que ela era única,um caso muito,mas mesmo muito sério. Parecia uma santa que teria vindo lá não se sabe donde e tivesse pousado ali,como por acaso. E ainda bem,que o que não faltava por ali,e arredores,era gente carente,era gente que não tinha lá em casa um mimo,uma atenção,uma palavra doce,essas coisas que deram em rarear,se é que alguma vez abundaram.
Sofria de asma,coitadinha,merecia melhor sorte,ou não,sabe-se lá,que ela com o coração que tinha,e com o que ela via,era capaz de estar disposta a ir-se desta vida de tristezas o mais depresa.
As bichas que se faziam,pois só daquela menina é que gostavam. Ela atendia,ela falava,ela inquiria,um fenómeno. E ela sem poder,coitadinha,mas lá desencantava uns farrapos de energia para cumprir o que ela acharia ser a sua missão.
Um dia,deixou de vir,depois,mais outro,e assim por diante. Uma grande,uma incontida tristeza derramou-se por ali. E agora? Onde estaria quem a pudese substituir? Acabaram por se conformar,que remédio. Chegara a hora dela,que tinha tardado. Mas não vivera em vão. Dera coisas de que outros careciam,coisas que iam escasseando,com cara de se tornarem coisas de um passado,que é capaz de não mais voltar.

SALDO NEGATIVO

Há quem tenha propósitos desmedidos. Gostam de tudo ganhar,nem que seja a feijões,e de serem os primeiros,nem que se trate das situações mais comezinhas. Outros há que desconfiam da vitória,qualquer que ela seja,que tem os seus espinhos. Adquirem estes uma certa indiferença,traduzida no será o que Deus quiser. Ganhar quase o mesmo que perder,numa perspetiva de um outro mundo,onde todos ganhem.Mas vem isto a propósito de quê? É que em certo lugar,há muito tempo já,depois das canseiras do dia,ainda sobejavam energias para umas partidas de ténis de mesa. Um dos que a tal se dispunha não queria acreditar no que ouvia. Dois companheiros não aceitavam derrotas. Ficavam indispostos e diziam palavrões,pedindo desforra,muito zangados.Ah,ele é isso? Passou a ter saldo negativo e a paz não se fez rogada. Foi uma alegria para os que não sabiam perder e também para o outro,o obreiro dela.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

OCEAN SCIENCE : THE ORIGINS OF A CLIMATE OSCILLATION

Climate oscillation

ENVIRONMENT : DEFORESTATION SOARS IN THE AMAZON

Deforestation

EAT INSECTS FOR FUN,NOT TO HELP THE ENVIRONMENT

Eat insects

TRISTEZA ORIGINAL

Ele tinha telha para se abrigar. Ele tinha onde reclinar a cabeça. Ele tinha sacola recheada. Apsar de toda esta riqueza,ele estava triste,ou,mais exacto,ele era um triste.
Via-se logo que não era tristeza de corpo,mas de alma. Era esta que estava sofrendo com as intempéries. Era esta que não tinha onde repousar.
Pobre alma que o corpo era incapaz de consolar,ali tão perto. Ele bem tentara,a toda a hora,a todo o instante,mas de nada valera.
Então,se do seu mais próximo consolo não viera,a que porta se teria de bater? Alguém procurou intervir,mas bem depressa o corpo avisou de que tudo seria em vão.
Era uma tristeza que vinha das origens,uma espécie de tristeza original. Fora como que expulso do paraíso. Só a ele voltando.
Já no seu alvorecer se lhe ouvira,repetidamente,que isto era uma tragédia. Só a certeza de uma desgraça sem remédio tal explicaria

QUANTO PIOR , MELHOR

Aquilo não tinha graça alguma. Iria ter lugar uma reunião de alto interesse em que se procuraria obter remédio para muitos males que por lá grassavam. As personalidades envolvidas eram do melhor que havia.
Pois muito antes do magno encontro se dar,já se anunciava que iria ser um fracasso. Eram adivinhos ou estariam no segredo dos deuses? Seriam talvez das famílias dessas sumidades,comendo com eles à mesa.
Eram mesmo uns desmancha-prazeres esses anunciadores. Deviam fazer parte do tal grupo do quanto pior,melhor,onde se sentiam mais à vontade para fazerem das suas. Não estavam interessados em que o barco progredisse,mas antes que recuasse.
Depois,voltando aos anúncios,como era de prever,previam tudo,as conclusões não tinham sido conclusivas. Sabendo tanto,deveriam ter falado com esses senhores aconselhando-os a não se reunirem. Evitavam,assim,que eles se maçassem,pois tinham mais que fazer,poupando-se também um ror de dinheiro, que tanta falta faz em tanto sítio.

ESCOLA DA VIDA

Era de fugir dali. E o motivo era simples,e o motivo era uma vespa que parecia não saber onde havia de ferrar o dente,ou lá o que era. Não havia meio de se fixar,talvez à procura do melhor bocado,que podia ser o lobo de uma orelha,um lobo apetitoso.E por ali não se via terra.
Mas o que tem a ver terra com vespas? Tem,e muito,podia ele asseverar,pois disso tinha uma grata lembrança. Andava ele lá pelo campo,quando foi picado por uma vespa,precisamente ,no lobo da sua orelha direita. As dores que ele teve,que nunca mais esquecera.
Isso passa já,foi o que disse o senhor José. Olhe,pegue numa porção de terra,molhe-a com cuspo,e depois aplique-a em cima da picada. Vai ver que passa logo,é remédio santo.
E foi o que aconteceu. Muito sabia o senhor José de vespas,e de muitas coisas mais lá do seu campo,e não só,que ele era um livro aberto.E mal passara ele pela escola do ler e escrever. Andara,e andava, noutra escola,a bem dizer ,desde que nascera,e que era a escola da vida. Muito sabia o senhor José,coisas que não estão nos livros.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

MOST GLACIERS IN MOUNT EVEREST AREA WILL DISAPPEAR WITH CLIMATE CHANGE

Mount Everest

CAMÕES LENDO OS LUSÍADAS - ANTÓNIO CARNEIRO

António Carneiro

PRAIA DAS MAÇÃS - JOSÉ MALHOA

José Malhoa

NATUREZA MORTA - JOSEFA DE ÓBIDOS

Josefa de Óbidos

CABEÇA PENDENTE

Para ali está a pobre velha no seu palácio,um rés-de-chão de casa velha,em rua estreita,do lá passa um. É só uma porta e uma janela. Para ela deve chegar e sobejar. É por detrás da janela que ela se põe para ver a paisagem. Estará farta dela,que bem pobrezinha ela é,pois,lá de longe em longe,dá-lhe para pôr a cabeça de fora,procurando esticá-la,para mais abarcar. Privilegia o lado nobre,o que deita para uma quase avenida. O outro leva a uma muralha. O que ela daria para lá morar,mesmo que ao nível seu conhecido,ou até numa cave. Lá se irá conformando,que melhor remédio não lhe é consentido ter. Mas há dias,estaria desesperada. Tapara a cara com ambas as mãos,de cabeça pendente. Estaria chorando,que a sua estreita rua será um vale de lágrimas. Pelo menos,em ocasiões de fortes chuvadas,escoar-se-ão por ela,vindos da tal quase avenida,caudais de respeito. Para ali está,pois,a pobre velha,há espera não se sabe de quê. Talvez do paraíso,que ela bem o merece.

LUGAR AO SOL

Eram aquelas umas bichas algo estranhas. Começavam a formar-se um pouco para lá da meia-noite,por vezes à chuva ou com um frio de rachar,mas também com as duas coisas juntas. Depois,com o correr das horas,chegavam a dar voltas aos quarteirões. E o mais curioso é que a cabeça delas apoiava-se na porta duma estação de correios.
Não se tratava,pois,de bichas para o pão,nem para o que quer que fosse de comer,como acontecera às portas de quartéis,ou para uns cobres,às portas de casas ricas,em épocas remotas.
Aquela gente estava ali,simplesmente,para conseguir lugar ao sol por preço de amigo,pois o dinheiro que eles tinham não dava para luxos.
A seleção era feita pela hora,minuto, talvez segundo,do envio de um telegrama. Assim,por um minuto,talvez segundo,lá se perdia o sonhado poiso,ou mesmo poiso algum,o que era muio pior.
Aquela gente,pois,via-se obrigada a largar o quente da cama muito antes do galo cantar e ir a voar para onde lhes podia sair a sorte grande. Os mais dorminhocos ou os menos lestos arricavam-se a só ter de chuchar no dedo.
Consta que havia almas,almas penadas,que nem se deitavam,a pensar que o despertador não iria cumprir a sua obrigação. A que extremos se tem de chegar quando se quer fazer figura de rico,não passando de uns pobres pelintras.

VALOR ACRESCENTADO

Ali não tinha chegado a guerra,mas da guerra não se livraram de todo. A comida minguara. E,assim,nasceram as senhas de racionamento.
Quem se habituara a papar o que tinha na vontade,as senhas eram de menos. Para aqueles que sempre tinham apertado o cinto,as senhas eram de mais. E estes,alguns pelo menos,vá de as vender com valor acrescentado. Abrira-se a estes uma novidade. É que nunca lhes teria passado pela cabeça virem,um dia,a ser negociantes.
Havia,porém,uma outra forma de abastecimento,reservada só a amigos dos produtores. É que estes não vendiam tudo,ficando com as suas reservas. Era,no entanto,uma saída de alto risco,pois a fiscalização não brincava em serviço. E assim,só os muito habilidosos conseguiam escapar à sua apertada malha. Aos outros,retilham-lhes,pelo menos,as mercadorias.
Mas não passava tudo isto de uma questão de comida,que se podia remediar,melhor ou pior. Não uma questão de vida,que essa,uma vez perdida,é sem remédio.

terça-feira, 26 de maio de 2015

RABELO BOAT - DOURO VIVER,PORTUGAL

Barco rabelo

AMADEO DE SOUZA-CARDOSO - PORTUGUESE PAINTER

Amadeo de Souza-Cardoso

O LIVRO DE CESÁRIO VERDE

O Livro de Cesário Verde

FONTE DE ÁGUAS MILAGROSAS

Num dos extremos da alameda,outrora muito concorrida,mas naquela altura quase deserta,lá continuava,incansável,a fonte de águas milagrosas. Um carro de boa marca parou à sua beira. Dele saiu,em camisa,um homem de meia idade ,muito direito,quase calvo.
Não resistira. As vezes que ele ali se dessedentara,nos seus tempos de moço carenciado. Não fora,porém,a sede que,daquela vez,ali o levara. Fora só ele a fazê-lo. Para a mulher,aquela não seria mais do que uma outra fonte,e não estaria precisada.
Apenas molhou a boca. Mas isso devia ter um muito especial significado para ele. Já não era o moço desses tempos recuados,que ele não gostaria de lembrar. Tinham sido uns largos anos a labutar lá longe. Dera para regressar de vez.
Falava,gaguejando muito,descontraidamente,e olhava para o outro bem de frente,sem acanhamentos. Não precisava de andar por ali a pé,como antigamente,à procura de sustento. Fizera uma bela moradia,onde nada faltava,tinha os seus rendimentos,e havia de receber,um dia,uma pensão,pelo tempo que lá trabalhara.
Comparava,opinava,criticava,desinibido. Não teria crescido tanto se por ali tivesse ficado.

SAÍRA AO PAI

Chegou,e ,quase sem dizer água-vai,pôs-se para ali a apresentar o orçamento,mas,claro,só do lado do ter. Desta vez,foi uma senhora viúva.
Começou pela pensão,uma muito bem composta,pois o marido tinha uma boa reforma. Também trabalhara muito,não desfazendo. Coitado,quase não se gozara dela,visto ser muito doente. Já lá estava a descansar.
Depois,vendera a casa,que era muito grande. Deu um dinheirão,que o sítio era central. Agora,vivia num apartamento,ali perto. Era o segundo,pois desgostara-se do primeiro.
Os filhos,não queira saber. Estão todos muito bem. Um até andava muito lá por cima. Saíra ao pai. Quem sai aos seus,não degenera. Os netos são capazes de ultrapassar os pais. Em esperteza,ninguém os bate.
E por ali se ficou,que estava com uma grande pressa. Ainda bem,que o chão já dava sinais de não suportar tanto peso,de tanta riqueza.

CELULOSE QUASE PURA

Parecia aquilo uma fortaleza. E,como mandam as boas regras,lá estava a defesa apropriada Não só uma linha,mas duas,que o inimigo era de duas qualidades. Uma,exterior,à base de covas fundas,com cobertura frouxa,espinhosa,para os predadores,a outra,uma faixa larga,permanentemente capinada,para os fogos.
A primeira linha era posta à prova com muita frequência. De vez em quando,lá funcionava como se queria,retendo algum intruso,como uma pacaça ou um javali.De outras vezes,era uma grande tristeza. Acontecia isso quando se tratava de elefantes,que se riam daquela proteção.Os destroços que semeavam à sua passagem,só visto. É que eles sabiam escolher,interessando-se apenas pelos tecidos mais tenros. Deixavam como recordação abundantes dejetos,que se resumiam a celulose quase pura. Eram muito aproveitadinhos.
A segunda linha,pode dizer-se,não passava de um adorno. As quieimadas sucediam-se,é certo,mas ali havia muito pouco por onde pegar,pois o verde era avassalador. Os dois rios que corriam por lá encarregavam-se dessa pujança,alimentando-a sem cessar,sem parcimónias.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

DOURO VALLEY - PORTUGAL

Douro valley

MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS - LISBOA

Mosteiro dos Jerónimos

MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN - LISBOA

Fundação Calouste Gulbenkian

SAL DA SUA VIDA

O frio já se estava fazendo sentir lá na terra. A maioria tinha de o suportar,como acontecera,alás,sempre,pois não lhes acudia outro remédio. Alguns até gostariam dele,para enrijar. Mas havia uns,uma meia dúzia,se tanto,mal começavam a esfregar as mãos para aquecerem ou terem necessidade de braseira,tratavam de arranjar as coisas para mudarem de poiso,o que faziam o mais depressa que podiam. De início,a mudança de ares reconfortava-os,mas, escasso tempo volvido,um progressivo mal estar envadia-os. Talvez fossem saudades do chão lá da santa terrinha. A causa era,porém ,muito outra,uma causa muito especial. É que lá,nessa outra terra,quase ninguém os conhecia,sendo tratados como uns quaisquer,o que não podiam suportar por muito tempo. Dessa maneira,maneira anónima,não valia a pena viver. Era como uma morte,uma morte sem glória. E,assim,mal os ares lá da santa terrinha se punham aceitáveis,apressavam o regresso,para voltar a receber os salamaleques devidos,o sal da sua vida.

SESSÃO TERMINADA

A casa enchera-se,pudera não. É que ia falar o chefe,mais propriamente,o chefe dos chefes. Estavam os chefes,todos os chefes,como mandavam as boas regras,e alguns peões,os que acharam que não deviam faltar por causa das coisas,dessas coisas que estavam sempre a acontecer.
O chefe dos chefes falou,lá dizendo de sua justiça,que era,aliás,muita,não fosse ele quem era,e depois, consentiu,dada a circunstância do momento,que outros dissessem também lá de sua justiça. Falaram alguns chefes,mas só alguns,senão nunca mais se saía dali. Os peões estavam retraídos,mas houve um que se atreveu.
Queria ele saber,e fê-lo com a máxima compostura,mais pormenores disto e daquilo. Foi atendido,mas não ficou satisfeito,pelo que insistiu,também com a máxima compostura.
O que é lá isso? Olhe,que abusos não admito. Mas... Não há mas,nem meio mas,cale-se,e já.
Foi uma corrente de ar polar que passou por lá. Estava a sessão estragada. Estava a sessão terminada.

EM CACOS

Teria sonhado fazer muitas e grandes coisas,coisas originais ,coisas de espantar. E isso, desde muito novo,pois já nessa altura o dera claramente a entender. Vontade e mais qualidades não lhe faltavam,é certo,mas estavam ausentes umas essenciais. Mas ele teimou. Lia muito e com as ideias de outros lá foi singrando. Pode dizer-se que foi quase tudo. A obra que ele sonhara tardava,porém,em mostrar-se. E tal entristecia-o muito,tanto mais que dava conta de outras a erguerem-se,alguma mesmo ali ao pé da sua porta.Então,foi medrando nele um forte desejo de destruição,de cariz demoníaco,que acabou por explodir. Zurzia a torto e a direito,sem olhar a quem,não poupando os mortos. Ficava tudo em cacos ou em pó. Temia-se enfrentá-lo. E a razão era simples. É que o riso de escárnio,que ele desde muito novo exibia,refinara com a idade. Era um riso estranho,um riso único. De assustar. E todos ficavam tolhidos,siderados,de medo.

domingo, 24 de maio de 2015

ROCK ART - CÔA VALLEY,PORTUGAL

Arte rupestre

AZULEJOS DA ESTAÇÃO DE SÃO BENTO - PORTO

Tiles

MUSEU NACIONAL DOS COCHES - LISBOA

Museu Nacional dos Coches

UMAS PALMINHAS

Por cerca de metade do preço,podia-se ir ao teatro ou ao circo,ficando bem instalado. Era isso possível com bilhetes de claque. Adquiriam-se em desvãos de escada,recantos discretos,tudo envolvido num certo ar de ilegalidade,de mistério. Gente de idade monopolizava o negócio. A concorrência aconselhava,obrigava,a não se guardar para tarde.
Eram,afinal,bilhetes de favor,a impor a obrigação de aplaudir,mesmo que não estivesse agradando. Para isso teriam sido inventados,supunha-se,pelo menos suporiam alguns. Era necessária uma falange de apoio,sobretudo nas horas más,para levantar o ânimo.
Haveria fiscais,mas não se dava por eles. Imaginavam-se só. Mas,de vez em quando,intervinham, discretamente. Agradecia umas palminhas,não custa nada. E lá se fazia o jeito,receando ser castigado em futuras ocasiões.

ASSIDUIDADE

A sua banca é a rua,ou melhor dito,a sua banca é uma certa esquina. Deve ter sido a primeira a instalar-se ali,pelo que as concorrentes respeitam-na. Os cabelos brancos e a pele pergaminhada também hão-de valer.
É claro que o estar ali não é pera doce. Em cada dia,gostaria de lá permanecer enquanto não despachasse a mercadoria,mas há gente que gosta de contrariar,gente que tem autoridade para isso. E assim,de vez em quando,sem aviso prévio,a qualquer hora,não tem outro remédio se não pegar nela,e na mercadoria, e afastar-se uma meia dúzia de metros,fazendo de conta que ia ali a passar por acaso. Mas isto por pouco tempo,que aquela esquina atrai e aquela gente tem mais que fazer.
É uma banca quase sempre só de flores. Vai buscá-las muito longe. Para lá,não se sabe como procede,mas para vir usa o comboio,com a complacência de quem de direito,que lá achará que ela tem direito a viver,tanto mais que a forma de que ela se serve para o fazer é jogo limpo.
Anda nisto há muitos anos e consta que não entrou de baixa um dia sequer. Merecia uma medalha,ou mais,por tanta assiduidade.

QUASE SÓ A CAMISA

Daria um certo jeito que aquelas contas em atraso fossem todas cobradas. É que,por junto,aquilo eram uns bons milhares,uma pequena fortuna para a época. Como fora possível fiar tanta mercadoria,tanto mais que o dono dela não nadava em dinheiro,antes pelo contrário. A vida estava difícil e o lojista tinha o coração ao pé da boca. Era incapaz de dizer não.
O pai encarregava o filho,um moço de pouco mais de dez anos,de ir bater às portas . Não se lembrava ele de alguma vez deixar o papelinho denunciador da falta,embolsando o que lá figurava,ou qualquer coisa por conta. Ainda insistiu o moço, uma e mais vezes,mas em vão. Cansara-se também de bater e até já o fazia muito envergonhado. Não valia a pena continuar. Era como se as dívidas tivessem prescrito. Seria,talvez,esse o entendimento dos devedores.
Existiria na altura já a figura dos incobráveis. Mas as atitudes seriam outras. Hoje até há empresas especializadas na recuperação. O remédio,naqueles atrasados tempos,era,na maioria dos casos, o esquecimento. Foi o que sucedeu no que aqui se alude. Não procedeu o lojista,afinal,como fizeram com ele . Quase lhe iam deixando só a camisa.

sábado, 23 de maio de 2015

OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS

Eça de Queirós

MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA - PORTUGUESE PAINTER

Vieira da Silva

RUÍNAS ROMANAS DE CONÍMBRIGA - PORTUGAL

Conímbriga

CANA DE PESCA

Estava-se no fim do mês e o dinheirinho da magra reforma ainda só acenava,
mas lá muito ao longe,que mal se via. De maneira que ele se via obrigado a esgravatar onde lhe cheirasse haver coisa de préstimo. E,naquele início de tarde,calhou passar por um contentor,talvez um dos que mais surpresas costumava reservar.
Levantou a tampa e inspecionou. Lá viu,mais uma vez,qualquer coisa de aproveitar. Mas os seus braços eram de fraco alcance,pelo que necessitava de uma cana de pesca.
Olhou em volta e descobriu-a. Tratava-se de uma estreita tábua com um forte prego bem ao alto,feito arpão. E foi simples.
E um grande marmelo viu,de novo,a luz do dia. Não estaria todo como devia ser,mas ele lá teria artes para recuperar coisa que se visse.

CASA CHEIA

Não é bem uma piscina ,mas para quem quiser ver uma naquele magnífico tanque festivo não exagerará muito. E chamar-lhe imperial,só se tiver a mania das grandezas. Mas como a Praça onde ele está é a do Império,então uma forte razão terá para assim lhe chamar.
Como quer que seja,houve alguém que,há tempos,dele fez uso para umas ricas abluções. Não chegou a nele nadar e mergulhar,mas das escusas disto nada constou. Teria sido por isso que não se equipou como conviria.
Vestia um roupão branco que arrastava pelo tapete de relva envolvente. Na cabeça,trazia um boné à marinheiro,branco também. Um estendal de coisas o acompanhava,bem uma dúzia de sacos e de saquetas,uma grande e vermelha toalha de banho,e,acima de tudo,um balde de cor rosa.
Depois de se paramentar,encheu o balde com água fesca do tanque e passou a tratar da higiene dos pés. Não o fez de uma vez só. De vez em quando,palmilhava,energicamente,para lá e para cá,o tal tapete de relva.
Um espectáculo. Ali,naquela cosmoplita Praça,admiradores não lhe faltaram. Pode dizer-se que teve casa cheia.

CHÃO MACIO

Em tardes de tourada,alguns miúdos não largavam os portões de acesso aos camarotes. Pareciam uns pedintes de mão estendida. É que era só por ali que podiam franquear o reduto onde atuariam os seus ídolos. Sempre surgia alguém,de melhor coração,que deles se compadecia e os integrava na família. Depois,que se arranjassem. Não precisavam,de facto,que lhes indicassem o caminho,logo que se viam para além do fosso de proteção.
Raramente acontecia terem sorte à primeira tentativa e,às vezes,passavam por certos enxovalhos. Mas quem anda à chuva molha-se,é bem sabido. Que maçada,nem aqui nos poupam. Deviam ser corridos. Mas o desejo de não se furtarem aos apelos era tal,que tudo suportavam. A sua pouca idade mitigava-lhes, também,as agruras.
Lá mais para diante,talvez se recordassem delas,achando-lhes graça. Alguns,mais piegas,não esqueceriam os vexames e isso doer-lhes-ia. Mas para alguma coisa eles teriam servido,quanto mais não fosse para lhes dar mais resistência para a dureza da vida. Habituados a negativas,não se desorientariam, facilmente, quando as portas se lhes fechassem. E talvez viessem a bendizer o não terem sentido sempre o chão macio de tapetes aveludados.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

DYNAMIC THINNING OF CLACIERS ON THE SOUTHERN ANTARCTIC PENINSULA

Thinning of glaciers

THE DOMINANT ROLE OF SEMI-ARID ECOSYSTEMS IN THE TREND AND VARIABILITY OF THE LAND CO2 SINK

Land CO2 sink

LEAF BACTERIA FERTLIZE TREES

Leaf bacteria

OCEANS AND EARTH'S HABITABILITY

Oceans

O PROGRAMA

Deu-lhe para ali. À mesa não falava. Falem vocês,que eu tenho mais que fazer. É que ele cuidava muito da sua memória. Já a tinha boa,mas queria melhorá-la,pondo em ação um método que delineara. E desse método faziam parte as refeições. Para cada uma,trazia um tema para rememorar,um tema de história,de geografia,coisas assim. E lá se entretinha com ele,enquanto os outros conversavam. Fazia parte do programa um diário,e assim não se deitava enquanto não registasse o que lhe ficara do dia. Devia ser muito,pois levava bem uma hora a escrever.
Poderia alguém pensar que dali não viria nada de jeito,mas muito se enganaria. Sempre que dava conta em público dos seus trabalhos,depreendia-se que ele não tinha estado a tratar da memória em vão. Certa vez,os que puderam resistir,tiveram de o ouvir dissertar sobre a sua especialidade por mais de duas horas,ficando-se ainda com a certeza de que o saco não esvaziara.

O ASSOBIO

O senhor,um homem alto,já com muitos anos em cima,caminhava avenida abaixo,rente ao passeio,um passeio muito estreito e de piso muito irregular. Uma varinha de invisual acompanhava-o. Ia tão satisfeito,que até assobiava.
Então,para onde vai? Precisa de ajuda? Carros iam e vinham,que aquela avenida é um eixo lá do bairro. Agradeceu,que era pessoa delicada. Vou fazer compras,pois a minha mulher resolveu partir uma perna. Está para lá,quase sem se poder mexer. E quase se ria,em vez de chorar. Pois a ajuda,de facto, muito pouco interveio,que ele conhecia bem todos os cantos da casa. O assobio é que ele não largava. Seria,também,um dos seus auxiliares,que isto de sons tem muito que se lhe diga. Como era de prever,teve as compras muito facilitadas. Apenas as pagou. Enquanto esperou por elas,manteve sempre a boa disposição,como se a vida lhe corresse às mil maravilhas,conversando alegremente,e,claro,nos intervalos,mostrando o seu peculiar dote de exímio assobiador.
De regresso,ao encontro da sua companheira de muitos anos,que estava para lá,quase sem se poder mexer,desejou bom negócio, e lá foi ,sòzinho,avenida acima,com carros e carrões,sempre a passarem,e ele,rente ao passeio,que o empedrado era de estatelar o melhor equilibrista.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

WATER : HALT INDIA'S GROUNDWATER LOSS

Water

WATER : A DROUGHT PLAN FOR BIODIVERSITY

Water

WATER : MEGACITIES RUNNING DRY IN BRAZIL

Water

SUSTAINABILITY : CLEAN COOKING EMPOWERS WOMEN

Solar-oven

GRANDE FESTA

De vez em quando,vá que não vá,mas quase todos os dias,era um abuso,talvez uma exploração. Tratava-se do famigerado feijão colonial,de que o anfitrião muito apreciava,não tanto para o comer,mas para o servir aos comensais. E era vê-lo encher-lhes,alegremente,metade dos pratos. O resto do espaço reservava-o ele,também alegremente, à alface,outra iguaria da sua predileção. Ficava uma linda natureza morta,verde e encarnada,as cores lá da casa. Os pobres dos comensais protestavam,sem resultado. Pensariam em arranjar outra mesa,de cardápio mais variado,mas estava-lhes isso interdito,pelo comezinho entrave das mesadas serem curtas,não dando para luxos. Tinham,pois,de aguentar. Mas havia dias de desepero. Já não podiam ver o teimoso feijão à sua frente. E nesses dias,faziam levantamento de rancho,para gáudio,claro,do anfitrião,e de um companheiro,que,naquele desesperado passo,não os acompanhava. Não acompanhava,e até estimulava,visto colaborar nos protestos. Teria passado muita fominha lá de onde viera,por ser de natureza muito voraz. E esses dias,eram dias de grande festa para ele.

GOSTOS DIFERENTES

Um mosquito provou e soube-lhe a mel divino. Dali não saiu enquanto não encheu a barriga. Mas como não era egoísta,passou a palavra e veio a família toda. Desta vez,a pobre vítima apercebeu-se do sarilho em que estava metida e procurou livrar-se dele. Mas,coitado,precisava de muitas mãos e ele só tinha duas,que era,neste transe,o mesmo que nada. E,assim,teve de fugir dali,se não ainda o comiam vivo.
Mas o trabalho tinha de ser feito. Voltar lá com a mesma arma,seria nova retirada,pois estariam lá à espera. Era,pois,urgente arranjar outra muito mais eficaz. Ele era um zero em matéria de defesa e muito menos de ataque. Teve,assim,de bater a porta de gente experimentada nestas lides.
Conheciam,de facto,uma outra arma,há algum tempo inventada,e que já dera muito boas provas em várias frentes. Naquele local,de muito atraso,não havia ainda,mas bem depressa lhe mandariam uma,visto partirem brevemente para um outro,onde ela se podia obter com facilidade.
Afinal,tratava-se de um líquido, aparentemente inofensivo,de cheiro muito agradável. Mas os animaizinhos alados mal o sentiam,fugiam dele a sete asas. O que muitas vezes vale é haver gostos diferentes,como foi neste caso.

UM PEDINTE

Um gatinho preto,quase pele e osso, caminhava lentamente ao longo de rua estreita. Teria caído de uma janela,onde estava um outro, talvez seu irmão,espreitando. O animalzinho ia silencioso. Qual seria o seu destino? Ele lá saberia. A certa altura,depois de muito andar,entrou num restaurante. Eram horas de almoço e lá de dentro vinha um rico cheirinho a peixe. Quando ia pretes a chegar à cozinha,um empregado correu com ele. Não estavam interessados em tais fregueses. É que o gatinho lembrava um pedinte,um miserável,mal vestido e mal cheiroso. Depois,alguns clientes já tinham apresentado os seus protestos por semelhante companhia. E agora? Afastara-se muito de sua casa,onde,aliás,não teria recebido bom tratamento. Era um gatinho perdido. Quem o recolheria,assim tão desmazelado? Talvez aparecesse alguém que cuidasse bem dele,quem sabe?

quarta-feira, 20 de maio de 2015

K+S ON TRACK TO BEGIN PRODUCING POTASH FROM LEGACY MINE NEXT YEAR

Potash

INDUSTRIAL ECOLOGY : THE ROLE OF MANUFACTURED CAPITAL IN SUSTAINABILITY

Industrial ecology

IDENTIFYING AND DESIGNING CHEMICALS WITH MINIMAL ACUTE AQUATIC TOXICITY

Aquatic toxicity

EVALUATING A GROUNDWATER SUPPLY CONTAMINATION INCIDENT ATTRIBUTED TO MARCELLUS SHALE GAS DEVELOPMENT

Shale gas

MARCA DA CASA

Ele precisava de ter umas lições de inglês,mas de modo a dar-lhe,rapidamente,um certo à vontade em terras de Sua Magestade a Rainha. Para isso,foi-lhe indicado uma senhora de larga experiência,nascida e criada na velha Albion. As lições começaram,e,a certa altura,entrou em ação um procedimento novo,que se manteve até ao fim. A senhora levantava-se da sua cadeira e vinha colocar-se por detrás dele,fazendo-lhe umas ligeiras massagens na testa por alguns momentos. Dizia ela que tais massagens,com marca da casa, faziam parte do seu método,uma parte essencial. Quer dizer,sem elas,os alunos não chegavam lá,onde ela queria que eles fossem. Uma coisa,porém,é certa,pode ele asseverar. Se ele chegou ou não onde ela pensava que ele podia ir não sabe dizer,mas para onde ele foi lá se conseguiu fazer entender e ele entendê-los.

MANHAS

Era um lobo mau que se cobria de ridículo,fugindo,no final,com o rabo a arder. Assim todos os "porquinhos" simplórios soubessem livrar-se de todos os "lobos maus",ainda que não chegassem a tanto. Bastava que os afugentassem antes de eles fazerem algumas das suas. Ele bem se esforçara,escondendo-se sob disfarces vários,mas os porquinhos eram sabidos e não foram na sua conversa. A mãe tinha-os ensinado a livrarem-se das muitas ciladas que ele lhes podia armar. Porquinho avisado vale por dois ou mais. Os meninos que lá se encontravam a ver tudo isto estariam ainda longe de entender as mascaradas de todos os dias,mas talvez tivessem aprendido alguma coisa muito importante. Pelo menos,que os "lobos maus"procuram disfarçar-se, para mais facilmente apanharem quem lhes está apetecendo. E isso talvez os levasse a precaverem-se. Olha,este senhor parece um"lobo mau". Anda,com certeza,a preparar alguma maroteira. Aquela cara,aquelas palavras não enganam. Não estão a ver aquele olhar a destilar cobiça? A concorrência é grande,pelo que arriscam muito,destapando-se demasiado. E insistem,na esperança de topar com algum "porquinho",órfão muito cedo,que não esteja,por isso,ciente das manhas que por aí vão.

MUITO POUCO

Já dera notícia de si,ainda ela vinha lá longe. É que o ar de abandono que a envolvia contagiava tudo e todos. Caminhava muito devagar,arrimada a um bordão. O cabelo branco despenteara-se. Procurava uma casa onde acudiam a velhos como ela. Tinham-lhe dito que era para ali,mas o ali era muito grande,e ninguém sabia. Apenas um vago talvez lá mais para diante,naquele largo,
está a ver? A atenção que acabara de receber parecia tê-la animado e dar-lhe forças para continuar. E lá prosseguiu no seu arrastar penoso,com a esperança de dar com a casa que acudiam a velhos como ela. Talvez a encontrasse no tal largo. Teria gostado de que a tivessem acompanhado,de que a tivessem levado,porventura, num transporte,pois estava muito cansada,mas ninguém se lembrara. Tinham também lá as suas vidas. Ficaram com muita pena dela,mas só isso,o que era muito pouco,ou mesmo nada.

terça-feira, 19 de maio de 2015

NATIONAL PARK PENEDA - GERÊS - PORTUGAL

Parque Nacional Peneda - Gerês

PRAIA DE VILA MOURA,ALGARVE - PORTUGAL

Vila Moura beach

MANY LISBONS IN THE UNITED STATES

Many Lisbons

PIETÀ

Lá estava,no cruzamento de duas ruelas da aldeia,uma Pietà de granito. Ao lado,erguia-se uma casa de linhas solarengas,a caminho da ruína. A uma das janelas,assomara,por instantes,uma cabeça de mulher.
Uma vaca leiteira,muito encardida,aproximava-se,sozinha. Parecia conhecer bem o caminho. Foi o que confirmou um homem robusto,de ricas cores,que atrás dela vinha,e que muito a elogiou. Já ia nos vinte anos,e estava em crer que era ela mais inteligente do que muitos que ele conhecia.
Era ele o caseiro,já há uns bons quarenta anos. O palácio estava assim,porque os donos viviam lá para as Américas e raramente ali vinham. Fora uma boa compra. Os filhos do Morgado tinham-se desgostado da quinta. Por ali tinha feito a sua vida. Tivera seis filhos,mas agora só ali vivia ele e mais a mulher. E disse isto de um modo triste,em grande contraste com a sua fortaleza.
A estátua estivera dentro do palácio,mas , a pedido do povo,fora para ali. Sempre dava algum movimento àquele lugar,para ali perdido entre vinhedos. Lá foi à sua vida,enquanto a mulher veio espreitar novamente à janela,como que envergonhada.

POBRE DO PORTEIRO

Quando a telefonista ia almoçar,era o porteiro que ficava de serviço. Não era coismsga de que ele gostasse,mas estava no seu feitio ser prestável. Assim,lá se conformava. E um dia,o que é que havia de suceder? Toca o telefone e ele vai atender. Daqui é o Diretor-Geral,está a ouvir? Estou sim,senhor diretor,faça favor de dizer. Com quem estou a falar? Com o Afonso de Albuquerque. Você está a mangar comigo? O pobre do porteiro disse que não. Ai a minha vida,suspirava ele,é sempre um tormento quando ela me deixa aqui sozinho. Isto não ouviu o Diretor- Geral. Olhe que o ponho na rua,seu brincalhão. Mas eu não estou a brincar,senhor diretor. Desculpe,senhor diretor,mas eu sou o porteiro,estou aqui porque a telefonista foi almoçar. O senhor diretor não me conhece,mas eu chamo-me mesmo Afonso de Albuquerque,que foi assim que puseram lá no registo. Não tenho culpa. O meu chefe há-de confirmá-lo logo que puder. Longe de mim estar a mangar com o senhor Diretor-Geral. Só se estivesse maluco,mas graças a Deus não estou. Pobre do porteiro,que passou por um muito mau bocado.

PEIXE CONGELADO

Fez as malas e partiu. Se calhar teria querido ir já há mais tempo. É que aquilo era mesmo uma vida sem jeito. Andava para ali a arrastar os pés ,pelas mesmas ruas,parando de vez em quando nalguma locanda. Deixara de beber,mas aquele perfume compensava-o.Tivera pouca sorte com o emprego que lhe coubera,mas não pudera esperar por um melhor. Se não tivesse dito logo que sim,não faltariam outros para o substituirem. Passava horas a lidar com peixe congelado. Resistira durante anos,mas um dia teve de encostar. Já não dava conta do recado,não sendo ainda um velho,longe disso.Logo que saía daquele inferno,o que mais lhe apetecia era aquecer-se. E na primeira taberna entrava,outras se seguindo. As visitas a estas fontes já não eram novidade para ele. Desde muito novo que o fazia,muitas vezes com o mesmo propósito de se aquecer,pois o diabo do frio gostava muito lá da sua terra.Tivera,pois,azar. Quando tentou arripiar caminho, já era tarde. De nada lhe valeu a junção de algumas ajudas. Apenas serviram para prolongar aquele triste deambular sem rumo.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

NEW YORK CITY OR LISBON.PORTUGAL ?

New York City

PORTINHO DA ARRÁBIDA,SETÚBAL - PORTUGAL

Portinho da Arrábida

PENA PALACE - SINTRA

Palácio da Pena

PALÁCIO DA PENA - SINTRA

Pena Palace

AS SUAS CARRIPANAS

Os velhos carros vão ficando como os seus donos,cheios de mazelas,a cobrirem-se de ferrugem. São os seus carros. E mal saem de casa,pela manhazinha,vão logo visitá-los,não tivessem levado sumiço ou sido aliviados de uma ou mais peças. É que eles dormem em plena rua,sujeitos à cobiça de qualquer um.
Mas quem é que havia de querer aquelas velharias? Só algum mais avinhado ou de outra droga muito carente. E é o que por vezes acontece,o que os traz muito ralados. Já uma pessoa não pode dormir tranquila.
Compreende-se muito bem tão forte apego. Custaram-lhes os olhos da cara. Passaram,até,privações. Mas tinha de ser,pois não podiam ficar para trás. O que é que haveriam de pensar? Fora como que uma promoção,e agora não querem descer de patente.
Mantém-nos asseados,de cara sempre lavada. Periodicamente,entram nele para pôr o motor a trabalhar e ouvir o rádio em surdina,o supremo gozo. De vez em quando,mudam-no de sítio para dar uma voltinha. Mas é isto uma apoquentação,pois a concorrência é muita e os espaços não abundam. Só os vizinhos é que dão conta,mas já não comentam. Outros é que são capazes de ter pena deles. Coitados,como estão acabados,eles e as suas carripanas.

UM EREMITA

Era uma boa água,quase sem calcário. Fora o que ele dissera. Confundira calcário com cálcio,que são duas coisas distintas. Uma contém a outra,nada mais. Mas não tinha obrigação de o saber,pelo que estava desculpado.
Já o mesmo não acontecera em certa ocasião. Aqui não havia perdão. Conhecimentos sobejavam-lhe,mostrando até tendência para o mostrar a cada passo. Tinha gosto nisso. Não perdia ocasião para intervir,para botar figura. Mas naquele passo,fora infeliz. E o professor que o estava a ouvir,e mais companhia,não se conteve. Oh colega,veja lá o que está a dizer. Isso é erro de palmatória. Ainda bem que tinha sido o professor a notar-lhe a escorregadela,pois se coibiu de rebater. Se acaso se tratasse de um qualquer,não se teria calado e não se sabe o que viria depois. Era capaz de reincidir,contra toda a evidência.
O palco de tal cena era um muito especial. Ficava lá para o cabo do mundo,onde quase tudo faltava,menos a paz,os bons ares,o quase silêncio,a frugalidade. Pois era de uma coisa assim que ele gostava. Havia pão,um rico pão,por sinal,havia água , havia umas gostosas ervinhas,não precisava ele de mais nada. E ali se demorava tempos sem fim entretido com o seu trabalho. Um eremita.

DIA DE FEIRA

Era dia de feira,e num dia assim,para mais em ocasião de férias,já se adivinhava o que se iria encontrar,o espectáculo do costume,naquele remoto tempo. Nem o celebrado rio escapou. Ele eram sacos,garrafões,garrafas e garrafinhas de plástico a boiarem,ele eram papéis de todos os tamanhos,bem como cascas dos frutos mais diversos a fazer-lhes companhia. Um horror.
Num dia de feira,o estômago não descansa,pelo que foi necessário acudir-lhe. Pois é,só que eram bichas à porta por todo o lado,mas lá apareceu uma porta que se condoeu,mesmo ali à vista do celebrado rio,só que água corrente não havia. E foi bonito ver-se montanhas de pratos,copos e talheres a serem lavados à pressa,num alguidarinho,que a bicha não havia meio de terminar.
Enfim,coisas daquele remoto tempo,que tantas saudades deixou,tempo que não volta mais,pois o tempo não volta para trás.

domingo, 17 de maio de 2015

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA - LISBOA

Museu Nacional de Arte Antiga

PALÁCIO DA BREJOEIRA,MONÇÃO - PORTUGAL

Brejoeira Palace

BALEAL BEACH.PENICHE - PORTUGAL

Praia do Baleal

BARREIRAS AGRESTES

O trator não podia ir a todos os cantos. Assim,alguns caminhos tinham de ser abertos pelo esforço dos braços,tarefa nem sempre fácil,pois,nalguns locais,as barreiras eram agrestes,por via de abundante presença de espinhosas.
Para além dos espinhos,havia ainda a sílica. Uma poeira brilhante soltava-se ao mais ligeiro movimento,impregnando o ar. O suor retinha-a e a respiração também. O calor acrescia o mal estar. E assim,adiava-se a tarefa para melhor oportunidade,pela fresquinha da manhã ou do fim do dia.
Os espinhos é que lá permaneciam,à espera de uma mão ou de um pé mais delicados,bem como a poalha abrasiva,que revestia a pele com uma camada de lixa.

BOM TEMPO

Ia-se lá compreender aquela gente. Coitado do Bom Tempo, que não sabia para onde se virar. A seca não havia meio de abandonar os cantos onde tinha caído. A terra estava tão espremida, que nem podia dar água a uma formiguinha. As fontes só davam uns míseros pingos e as torneiras recusavam-se a fazer o seu trabalho. Enfim,uma calamidade,a juntar-se a outras mais.
Era tudo isso por causa dos Outros Tempos. O Bom Tempo lá ia fazendo o que podia,que a mais não era obrigado. Acudia ali,acudia acolá,quer dizer,molhava a terra ,acordava as sementes,fazendo-as levantar da cama e pôr-se ao trabalho,despertava as fontes e as torneiras.
Mas,coitado,de arrasado com tanta correria,descuidava-se,e lá aconteciam uns exageros,coisas da vida incerta. Era de lhe perdoar,a ele,que tão boas coisas fazia. Mas não. Caíam-lhe em cima,sem dó,nem piedade.
Estão a ver,estão a ver,queixava-se ele,quase em lágrimas desatadas, a quem ainda estava disposto a ouvi-lo? Faz a gente o bem que pode,que é para isso que se está cá,e é isto. Só se lembram dos exageros,de que eu,a bem dizer,não tenho qualquer culpa,que isso é maldade dos Outros Tempos. Depois, os exageros podiam,desde que não houvesse mortes, ser rapidamente sanados com os muitos benefícios que eu lhes trouxera. Mas não. Vá-se lá entender esta gente.

BECO ESCURO

Podiam ter-lhe dado o nome de biblioteca das três ladeiras,pois tal correspondia á realidade. Duas delas,uma mais íngreme,do lado nobre,assim seja permitido dizer,a ela conduziam. Ficava mesmo no seu encontro,no seu vértice. Daqui,nascia uma outra,quase a pino,que levava a um beco escuro.Estava,pois,bem situada esta biblioteca. Duas vias facilitavam o seu acesso,ainda com a vantagem de se ter todos os santos a ajudarem. A outra,significava ser ela a única saída.Era esta biblioteca um achado dos ricos. Além de livros,muitos livros,para os gostos e exigências mais diferentes,tinha um respeitável acervo de obras de várias artes,algumas delas mesmo na ampla sala de leitura.Era outro regalo para os olhos. Estar ali comodamente sentado,envolto em preciosidades. Mas havia uma que levava a palma a todas elas. Era um vitelo lindo do Tomás da Anunciação.Só tinha um senão esta biblioteca. O soalho rangia,mesmo à passagem de um ratinho. Porque rangeria aquele soalho? Mistérios insondáveis.

sábado, 16 de maio de 2015

ALBUFEIRA BEACH,ALGARVE - PORTUGAL

Praia de Albufeira

DUCAL PALACE OF VILA VIÇOSA - PORTUGAL

Palácio ducal de Vila Viçosa

GUIMARÃES CASTLE - PORTUGAL

Castelo de Guimatães

PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS - LISBOA,PORTUGAL

Padrão dos Descobrimentos

O CADEIRÃO

Andara uma vida inteira a sonhar com o cadeirão. O que ele sofreu por ver o tempo passar e sem ver o sonho realizado. Mas não perdia a esperança. Havia de chegar a sua hora. E é que chegou,tarde para muitos,mas para ele não. Ali estava ele,finalmente,no cadeirão,no seu cadeirão. Sentia-se ali tão bem,que o não largou durante dias e noites. Passava os olhos,com vagares,pelas paredes,pelos móveis,pelos retratos dos antecessores. Fechava-os,de quando em vez,para dormitar um pouco,pois tinha de estender ao máximo aqueles momentos deliciosos de posse recente. Ao fim desses dias e dessas noites,sentiu-se inteiramente compensado por tanta espera, e decidiu pôr mãos à obra. E a primeira coisa que fez ,foi ir ver o cofre. Compreende-se muito bem esse passo,pois sem dinheiro não se pode ir muito longe. E apanhou um grande choque. O cofre estava quase vazio. E agora?,e esta? Querem ver que tenho de tirá-lo do meu bolso. Era o que faltava. Mas eu hei-de me desembaraçar. Cheguei até aqui depois de tantas barreiras saltar,não será esta que me há-de trair. Pegou da pena e escreveu a sua primeira missiva. Tinha planeado ser de outra maneira,uma maneira que pusesse na sombra as do passado,mas não podia ser. Mais tarde,resolvido esse magno problema de carestia,iriam ver o que era um plano. Naquela hora grave,tinham de compreender. Na missiva,na sua primeira missiva,pedia-se,simplesmente,miseravelmente,dinheiro,esse vil.

AS BATAS

Estava de pé,encostada ao balcão,bebendo um copo de leite e comendo uma sanduíche de queijo. Era o seu almoço. O ordenado não dava para mais. A saúde da moça não parecia ser das melhores. Com aquele tratamento,e sabe-se lá mais de quê,não seria de esperar outra coisa. Causava tristeza olhar para ela.
Lastimava-se. Recebera há uma semana o ordenado e já pouco lhe restava. Bem se esforçava em esticá-lo,mas não podia fazer milagres. Não eram as coisas que estavam caras,ela é que estava ganhando pouco. Ai a minha vida,suspirava ela. Quem melhor a ouvia,do outro lado do balcão,compreendia-a muito bem e até fazia coro com ela.
A esperança das duas residia no décimo terceiro mês. Seria ele que viria tapar alguns buracos que há muito ansiavam que deles se lembrassem. Mas esse ainda vinha lá muito longe. Era a tristeza das duas a manifestar-se a uma só voz.
O jeito que lhes iria fazer. Há um ror de tempo que andavam com aquelas roupas,até tinham vergonha de aparecerem assim no emprego. Valiam-lhes as batas. Chamavam-lhes as tapa-misérias. O pior era à entrada e à saída. Ai a nossa vida.

BIOMBO

Estava inconsolável a pobre moça,quase chorava. É que o diabo da cabelereira não havia meio de acertar. Já viram como ficou? As companheiras não sabiam mais o que dizer. Tentaram animá-la vezes sem conta,mas de nada valeu. Já repararam nestas pontas? Teria,quando muito,vinte anos. A cara era miudinha,magra,pálida. Passaria fomes por causa da linha ou sabe-se lá mais de quê. O cabelo negro,abundante,quase a escondia. Parecia um biombo. Aquilo foi um mexer nervoso,interminável. Puxava para a frente,para os lados,para trás,e mirava o melhor que podia. E o que via exasperava-a. À sua volta,espalhara-se forte cheiro,uma mistura de laca,tinta,perfume,coisa escaldada. Partículas voavam. Uma cabecinha altamente poluidora. O tempo que lá passei para este desastre. O que me irá ele dizer? Desta vez,é capaz de me mandar passear. O que é que vocês me aconselham? Apetecia-lhe lá voltar,mas não tinha coragem. Podiam não gostar e isso é que não. Onde é que iria ,depois,se aquele era o único sítio em que esperavam pelo fim do mês? Muito sofre um pobre. Talvez ele nem viesse a reparar.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

PINHÃO RAILWAY STATION TILES

Azulejos

FIGUEIRA DA FOZ BEACH - PORTUGAL

Praia da Figueira da Foz

A MULTIFACETED PROGRAM CAUSES LASTING PROGRESS FOR THE VERY POOR : EVIDENCE FROM SIX COUNTRIES

Lasting progress

THE MISSING LINK IN OCEANIC PHOSPHORUS CYCLING ?

Oceanic phosphorus

CUBA'S CORAL EDEN

Coral

A SUA NAMORADA

Andam juntos,mesmo muito juntos. Namoram. A idade não conta,como mostram tantos casos.
Era um senhor para mais dos setenta,bem conservado,sinal de que estaria ali ainda para muitas curvas. Supunha-se,de conversa de há uns tempos,que tivesse ido mourejar lá para longe. As coisas já não estavam como era dantes,por causa da muita concorrência no seu ramo de negócio. As perspetivas tinham-se,entretanto,alterado.
Combinara com a sua namorada que ela iria à frente,a preparar a mudança. E assim acontecera. Ela já para lá estava há semanas. Mas aquilo para aquelas bandas também não estava nada famoso. A crise era geral. Para ela, as coisas ainda se arranjavam. Depois,era ainda muito nova.
Ele também já não estava tão interessado. O mais certo era ficar onde durante tantos anos se tinha governado,até nada mal. Com umas reservas obtidas nos bons velhos tempos e com meia dúzia de fiéis lá continuaria a governar-se.
E outra namorada,concerteza,havia de conseguir.

TRAQUITANA

Na banca,apenas se via meia dúzia de pequeninos peixes,ainda vivos. Tinham sido pescados de madrugada,numa barragem,a uns bons quilómetros dali. Eram de um velho,de setenta e mais alguns anos,um tanto para o baixo,ainda vigoroso e de ricas cores.Mas valia-lhe a pena,dava para o petróleo? Tinha de dar,pois como é que se havia de viver? A pensão era o que se sabia,uma miséria,mal chegava para as côdeas. Andava a gente numa vida de rudes trabalhos,hoje para um,amanhã para outro,para se chegar àquilo. O que lhe valia eram uns biscates,ali e acolá,onde calhava,de vária natureza,que ele não era esquisito. Uma pessoa tinha de se desenrascar.Valia-lhe também ser um homem de poucos achaques. Depois,um sobrinho dera-lhe uma traquitana,de que se tinha farto,mas que a ele lhe fazia um grande arranjo. Fora com ela que chegara ainda a tempo para a venda.Por causa daqueles peixinhos,o resto do que tinha apanhado,não dormira naquela noite. Passava-se muito. Mas tudo ia do treino e a ele não lhe faltara. Podia acontecer que o vissem ali na semana seguinte. Dependeria isso da pescaria. Faria umas contas e logo veria se lhe valeria a pena vir até ali,onde as pessoas parecia terem mais dinheiro do que lá para as suas bandas.

ATÉ MAIS VER

Era um homem baixinho. Sentado num banco de jardim,como ele naquela altura estava,as pernas quase lhe ficavam no ar. A boquita tremia um pouco,coisas que acontecem.
Então,mora aqui perto? Sim,há já uns largos anos. Ali,naquela esquina,tive eu uma tabernita. Já me sentia cansado,sabe,e acabei com ela. Agora, está para lá não sei bem o quê. Também aquilo deixara de dar,por mor dos novos tempos,dos novos gostos.
Consegui juntar uns patacos,e vivo deles. Estou a contar que cheguem até ao tempo de abalar. Sou de longe. De vez em quando,ia lá à terra,para matar saudades,ver gente da família,e outra,gente da minha criação. Também tenho lá uma boa casa que mandei fazer. Desanuviava também um bocado,que a venda era cansativa. Olhe,agora,está para lá a casa às moscas.
Bem,tenho de me ir embora,que se estão fazendo horas para as sopas. A gente há-de se ver por aqui mais vezes. Está-se aqui bem. É sítio sossegado,raramente passa um carro,e ha aqui estas sombras,e estes bancos. Até mais ver.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

INDIA EASES STANCE ON GM CROPS TRIALS

GM crops

GROWING EXTREMES IN CALIFORNIA RAINS

California

A NATION WITH AMBITION

India

APARATOSOS TRAMBOLHÕES

Não se viu bem o que era. Tratava-se de uma coisa negra,talvez casca,ou talvez carapaça,de forma arredondada,muito volumosa,que uma formiguinha estava disposta a levar lá para o celeiro.
Os trabalhos em que ela se meteu. Para já,a extensão da caminhada,para desanimar um qualquer. Depois,os obstáculos a vencer,sobretudo,apertados desfiladeiros. Pareceu,porém,terem sido estes as vias privilegiadas,muito procavelmente,por neles encontrar piso mais do seu agrado.
De todos esses trabalhos,são de assinalar os aparatosos trambolhões que foi obrigada a dar,arrastada pelo peso da mercadoria,quando decidia puxar por ela,em vez de a transportar ao alto. Terá sido uma sorte não ter quebrado uma perna,ou a cabeça. Mas lá se recompunha,rapidamente,prosseguindo a viagem.
Finalmente,e já não era sem tempo,que as forças já estariam faltando,lá se sumiu sob um montão de raminhos e de folhas, a despedirem-se.

ÁGUAS AVARENTAS

Encontrava-se ali,já há uma hora,com um gorro enfiado na cabeça,de cana montada,e só pescara um polvo,um cefalópode,não se fosse pensar que ele era um ignorante,mas um polvo quase acabado de nascer,e um caranguejo.
As águas andavam muito avarentas,nem pareciam as de outros tempos. Talvez fosse um efeito do que para aí se dizia,de alterações climáticas,de aquecimento,de poluição,de coisas assim. Já se apanhara por ali linguado,sargo,e até corvina,algumas de quilos. Pois naquela altura era o que se via.
Entretanto,mais um peixinho fora enganado,mas esse voltou para onde viera,depois de se lhe ter tirado o engodo,que estava muito caro.

ARMAR TENDA

Daquele alto terraço,qual atalaia,em todo um círculo,havia muito para onde olhar. Em baixo,a vila estendia-se ao longo do dorso do monte,com ramificações nos seus contrafortes. Lá estava a igreja,que regularmente quebrava o silêncio,com o bater das horas e dos quartos. Mais adiante,os edifícios dos correios,dos bombeiros e dum lar misto para crianças e idosos. Depois,a escola primária e a secundária. Num dos extremos ,erguia-se a Adega Cooperativa,onde se fabricava o néctar do concelho,um dos limites da zona demarcada do vinho do Porto. Aqui terminava o xisto e começava o granito do vinho verde. Lá ao longe,num dos setores,era um degrau do Marão. Em toda a volta,socalcos e mais socalcos,alguns a serem transformados. Aqui e ali,cerdeiras punham manchas vermelhas em todo aquele fundo verde. Um riacho descia apressadamente para o Douro,ali a dois passos,impregnando o ar com o ruido de várias cascatas anãs. À noite,enxames de luzes denunciavam a presença de muitos lugarejos e na estrada para Amarante surgiam focos de faróis,escondidos,a intervalos,por um ou outro biombo. Morcegos cortavam o ar em busca de alimento. A espaços,ouvia-se o ladrar de cães das quintas próximas ,nessa altura,em permanente vigília,pois um grupo organizado,uma outra espécie notívaga,andava por ali à cata de alfaias agrícolas. De vez em quando,lá das bandas de Lamego,vinha o ribombar de trovões,a colaborarem no alerta. Era mesmo de armar ali tenda.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

AMPLIFIED ARCTIC WARMING BY PHYTOPLANKTON UNDER GREENHOUSE WARMING

Greenhouse warming

HIGH GOLD PRICES CAUSING INCREASED DEFORESTATION IN SOUTH AMERICA

Deforestation

CAN PERU STOP 'ETHICAL CHOCOLATE' FROM DESTROYING THE AMAZON ?

Amazon

ACUMULAÇÕES

Pode dizer-se que o homem fora roubado. Não lhe tinham metido a mão ao bolso,mas impediram-no de o encher um pouco mais. Era um homem que acumulava,quer dizer,tinha duas ocupações,porque uma só não lhe dava para sustentar a família como ele queria. Mas,segundo constava,lá conseguia dar conta dos dois recados. Não aconteceu milagre,apenas ele tinha de se fartar de trabalhar. Como se sabe,porém,quem corre por gosto não cansa. Entretanto,havia outro homem que andava muito preocupado com a saúde do acumulador. Assim a trabalhar tanto,coitado,era capaz de se finar. Tinha de intervir,já que ninguém se atrevia. E vai daí,aproveitando uma certa assembleia,propôs que ,dali em diante,cessasssem algumas acumulações,em que se incluía a do infeliz ,que certamente morreria se não lhe acudissem rapidamente. Não deviam ser permitidos tais exageros,para bem, afinal,desses acumuladores. A proposta foi aprovada,pois visava um alto desígnio. E lá se foi uma acumulação,por sinal,bem modesta,mas que fazia muito jeito.

ANJO DA GUARDA


Estava irreconhecível a pobre senhora. Ela, que era,melhor dito,que fora o anjo da guarda de seu filho,um homem aí com quarenta e mais anos,que dela inteiramente dependera.
Acabara de sair de casa. Apoiava-se a uma bengala e a cara era de grande sofrimento. Ele acompanhava-a. E parecia ele,naquela altura,o anjo da guarda dela. Estaria ela,porém,bem arranjada se outro anjo da guarda não consguisse.
Que iria ser dos dois,com ela assim? Talvez,quem sabe,ele se recompusesse de todo. As aflições que o assaltaram,privado,naquela altura,do arrimo que nunca lhe faltara,talvez operassem o milagre. Passaria ele a ser o anjo da guarda da mãe,que se veria incapaz de tratar dele e dela.
Que quadro aquele. A pobre senhora,arrastando-se a muito custo,e ele,ali ao lado,com um ar que,em boa verdade,não se podia dizer qual fosse.

A SUA VIDA

Chapas metálicas volteavam no céu como simples papéis arrastados pela ventania. Lá tinha ficado sem cobertura a bancada do campo de futebol. Muitos telhados não resistiram,seguindo o exemplo de muitas chaminés. As árvores despiram-se de folhas e de ramos e muitas tiveram de mostrar as raízes. O ciclone,na sua fúria,quase desmoronou o grande jardim,a sala de visitas lá da terra.
Por essa altura,um pai de família,angustiado, fizera-se ao caminho,única forma de chegar onde se queria ir. Dias antes,deixara em casa mulher e filhos pequenos. Era o costume,era a sua vida.
Como estariam? Onde se encontrará o pai? Como estará ele? Devem ter rezado para que estivessem bem. Foram longas horas de angústia,naturalmente.
Teria muito para contar este pai quando a casa chegou. Mas pouco contou. Um inferno aquela estrada. Vira tombar árvores,vira outras lutando para se manter de pé,que as árvores gostam de morrer assim. Fora uma sorte não ter ficado lá.

terça-feira, 12 de maio de 2015

TOMB OF VASCO DA GAMA : JERÓNIMOS MONASTERY,LISBON,PORTUGAL

Vasco da Gama

PRAIA DA ROCHA,ALGARVE - PORTUGAL

Praia da Rocha

CHINA'S ELUSIVE SHALE GAS BOOM

Shale gas

EUROPEAN SHALE DREAM IS DYING BEFORE IT STARTED

Shale dream

SOUTH AFRICA PREPARES TO GIVE SHALE GAS GO AHEAD

Shale gas

A SEUS PÉS

Era uma tarde de consultório médico. A sala de espera estivera cheia e esvasiava lentamente. A paciência dos doentes e dos acompanhantes tinha de ser alimentada. Além de revistas,algumas velhas de séculos,que o tempo voa,havia a todo-poderosa televisão. A televisão estava lá no alto,como é de sua condição. Chegara a ocasião de notícias. E logo uma menina,aí de uns vinte anos,largou a mãe,muito doente,para se vir pôr a seus pés. E assim esteve,olhando para cima,como para o céu,quase em adoração,tempos sem fim. Para equilibrar o esforço nesta posição,baixava de vez em quando a cabeça para enviar uma mensagem pelo telemóvel. As notícias lá acabaram,entrando-se num outro capìtulo,sem interesse para a menina. Estava um tema em discussão,futebol,tinha de ser,e trouxera-se um especialista na matéria. De tal maneira o é,que uma senhora,aí de uns cinquenta anos,não resistiu e largou o marido,muito doente também,pondo-se a adorá-lo. Algum tempo passado,veio mais uma fornada de notícias,por sinal não muito diferentes,mas a menina já lá não estava.

AR DE PÂNICO

Os pavores que por aí se escondem. O que vale é o esquecimento,mas, ao mínimo sinal de alarme,lá eles irrompem de novo,até com mais ímpeto.
Ele não tinha ar de mestre de obras,ou de fiscal delas,pelo menos assim lhe parecia,pois foi tomado como tal,mas talvez um qualquer de fora o fosse. Subira as escadas,já muito gastas,dos anos,e batera à porta. Surgiu logo uma senhora,de muita idade, muito aflita.
É por causa da demolição? O ar de pânico era tão claro,que metia dó. Oh não,sossegue,que era o que se impunha,ainda que certezas não houvesse,nem perto,nem longe. Então,porque bateu? Continuava desassossegada. Ainda bem que é por outra coisa.
Não calcula as apreensões que vão por aqui. Será hoje,sérá amanhã? Nem durmo com jeito. Acordo,às vezes,sobressaltada,a pensar que me vão pôr fora. Aos anos que aqui vivo. Aqui queria morrer. E quase chorava.
Mas está assim para breve? Corria há tempos por aí que não demoraria muito. Mas certamente não os vão deixar na rua. Prometeram que sim,que nos dariam uma casinha. Mas sabe,de promessas está o mundo cheio. Estamos fartos de ouvir. Só quando estiver lá dentro é que acredito,e descanso.

ALARDEAR

Mesas de quatro alinhavam-se no vasto refeitório. Não havendo lugares marcados,abancava-se no primeiro que estivesse vago. A fome era muita e o tempo não estava para esquisitices. Um estudante não era mais do que um bate-chapas,antes pelo contrário. Foi assim que ele se deu a conhecer. Ganhava bem,mesmo muito bem,melhor do que esses doutores,um dia,quereria ele insinuar. Além da oficina,tinha,ainda,uns bons biscates. E podia,até,estar a ganhar mais,se tivesse aceitado ir para o Canadá. Dá-me jeito vir aqui,pois fica perto. Não se come nada mal e poupa-se. Podia ir a um restaurante,mesmo dos caros,se me apetecesse,como tenho feito muitas vezes. Estava a alardear. Mas isso fazia parte da sua rica personalidade. Houve então alguém que não resistiu a provocá-lo. Estava a pedi-las. Certamente que a sua mulher e filhos o acompanham nessas ocasiões. Mulher e filhos? Livra. Eu tenho mas é duas,uma,até à meia- noite,e a outra,da meia-noite em diante.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

NAZARÉ WAVES - PORTUGAL

Nazaré

AGRICULTURAL INSECTICIDES THREATEN SURFACE WATERS AT THE GLOBAL SCALE

Insecticides

SMALLER HUMAN POPULATION IN 2100 COULD REDUCE IMPORTANTLY THE RISK OF CLIMATE CATASTROPHE

Human population

CA LOOKS TO AUSTRALIA TO DROUGHT ADVICE

Drought

A REBOQUE

O homem metia dó. Embora não fosse velho,longe disso,via-se bem que não era carruagem para aquela locomotiva. É que o seu cão não era um qualquer. Dava-lhe quase pelo peito e estaria na sua plena força.
Aquela manhã de domingo estava de sol,mas um bocado fresca. Mais uma razão para o animalzinho querer sair de casa,pois lá dentro abafava-se. Além disso,tinha as suas necessidades. O dono que tivesse juízo. Teria andado na rambóia,deitara-se tarde,mas ele não queria saber de desgraças. Tinham de ir dar uma volta.
Ordens são para se cumprirem. Levantara-se a custo,passara rapidamente pela casa de banho e enfarpelara-se ligeiramente,pois sabia muito bem o que o esperava. E assim,foi visto em calções,com camisa de manga curta,de trela na mão,a reboque do companheiro.
O que ele tossia,o que ele tropeçava,o que ele cuspia. Algumas vezes esteve em risco de se estatelar. Era uma dor de alma. Mas o monstro é que não estava para compaixões.
Quem quer um cão assim tem de estar à altura. Este dono não se importaria,porém,de fazer figuras tristes. Lá teria as suas compensações. Em primeiro lugar,dar-lhe-ia uma certa classe o exibir um tal adorno. Depois,livrá-lo-ia de assaltos,para os quais não estaria preparado. Não lhe custaria,pois,fazer alguns sacrifícios,como o de sair cedo da cama em manhãs de domingo,fizesse sol ou não.

AZEDUME

Era um caso de muito pensar. Viera ao mundo carregado de dotes,
pelo que arrumava a um canto,muito tolhidinho,o comum dos mortais,
assombrado com tanta luminosidade.
Deveria espelhar-se,assim,em toda a sua figura,mas,muito em especial,na sua cara,nos seus olhos,na sua boca,uma satisfação imensa,única,irrompendo lá de dentro, impetuosamente,mil vezes incontida.
Mas não,mas tudo muito ao contrário. E era um azedume que dele brotava,por
tudo,e por nada,azedume nos gestos,azedume nos olhares,mas muito,muito acima destes,azedume nas palavras,de um azedume tal que parecia tudo querer dissolver.

APELO DO BERÇO

Emigrara um dia,tal como tantos da sua geração. Talvez lá longe tivesse outro futuro,muito diferente do que lhe estaria reservado na sua terra. Por lá andou uns largos anos,sempre na esperança de se cruzar com a árvore das patacas. Mas esta nunca quis nada com ele. A velhice chegou e nas suas mãos apenas se via uma magra pensão. Fora fraca a colheita.
Que fazer? Ficar,aguardava-o um acanhado buraco numa favela. Regressar,doía-lhe pelo insucesso. Tinha lá na aldeia onde nascera uma casita que herdara dos pais. Sempre era melhor do que a barraca que lhe caberia. Hesitou por algum tempo,mas acabou por não resistir ao forte apelo do berço.
Com pouco se fizera à aventura,com pouco viera dela. Não era o único que a fortuna esquecera. Pobre consolo. Mas fora assim que lhe acontecera. Tinha de se conformar.
Os seus olhos destilavam tristeza,que mais se acentuava em ocasiões de festa. Sentado a um canto,como que a esconder-se,não acompanhava a alegria dos outros. Alguns olhavam-no com desdém. E quando correspondia a cumprimentos,o sotaque mais acentuava a sua situação de deserdado.
A vida pregara-lhe grossa partida. Não bastara a carestia da arrancada. A esta viera juntar-se a da emigração. Um rosário de mágoas,que o remate avolumara.

domingo, 10 de maio de 2015

WINDFARMS DATABASES

Windfarms

WORLD WIND ENERGY MARKET UPDATE 2015

Wind energy

THREE SUBSIDIARIES OF POTASH CORP. TO DECREASE DANGEROUS EMISSIONS

Potash Corporation

RUSSIA'S URALKALI SIGNS CONTRACT WITH INDIAN POTASH

Uralkali

DAR BAIXA

Dava jeito aquele biscate,pois sempre eram uns cobres a somar a outros cobres. Tratava-se de fazer de advogado de defesa de gente apanhada com a boca na botija. Podiam recorrer os infractores,ou assim julgados,na esperança de apanhar uma pena mais leve ou mesmo serem mandados em paz,para ganharem juízo.
E era aqui que ele entrava. Mas como provar que farinha de trigo não ficara convivendo com farinha de milho,que no leite não se tinha dissolvido carbonato de sódio,que óleo de amendoim não marcava presença em azeite de primeira,que vinho branco não fora convertido em tinto,como por milagre,isto,só para referir algumas maldades?
Uma valente carga de trabalhos,de aflições,de risos amarelos,e sabe-se lá mais o quê. Lá conseguiu,porém, atenuar os castigos e até um perdão.
Mas ele,coitado,não tinha estômago,nem coração, para suportar uma coisa daquelas. Teve,assim,de desistir,dar baixa,com muita mágoa,está-se mesmo a ver porquê.

UM DISPARATE

Para equilibrar o barco,dois dos três quartos da casa eram alugados. Como se arranjaria aquela família? É que eles eram quatro. A dona da casa,uma senhora aí de uns cinquenta anos,solteira,fazendo não se sabia o quê,a sua mãe,muito velha e quase cega,e dois sobrinhos,um,adolescente,estudante, e o outro,para cima dos trinta,um desempregado crónico.
Lá se arranjariam,mas mal. A velhota era apanhada,com frequência,a pernoitar na casa de banho. O adolescente,porque dava em perseguir a moça que ocupava um dos quartos,era ,de vez em quando,ameaçado de expulsão. Não se admitiam poucas vergonhas lá em casa.
A moça também não se dava ao respeito. Hoje,com um,amanhã,com outro. Isto ia na linha do que ela,às vezes, dizia. Homem que não tem sete mulheres não é homem. Coitada dela,que já se lhe fora um rim. Era merecedora de melhor sorte.
O desempregado crónico,muito magro e muito pálido,andava,por vezes,em grande desespero. Um dia,ainda era capaz de fazer um disparate de todo o tamanho. Mas ficava-se por ali,sem especificar.

RISO DE TROÇA

O honesto lojista era um homem confiado,vendo em cada freguês,e não só,um amigo. O negócio não ia lá muito bem,vá-se lá saber porquê,pelo que um pequeno cofre,uma caixinha metálica,servia para recolher os fracos dinheiros de uns dias. Em qualquer sítio o guardava,quase ficando à vista. Quem é que se lembraria de o prejudicar?
O reduto era de fácil invasão. Tinha dois portões e uma portinha para serventia,de acesso a um beco,com raro movimento de dia e imitando um deserto durante a noite. Foi por aqui que o inimigo entrou,está-se mesmo a ver. Até uma criança o fazia.
O larápio conhecia bem os cantos da fortaleza,pelo que a razia não passou de uma brincadeira. Já experimentado nestas andanças ,não deixou rasto que valesse. Era mais um caso para esquecer.
O pobre do lojista,por certos indícios,desconfiava de alguém. Mas não tinha provas,só suspeitas. De vez em quando, cruzavam-se,que a terra era pequena,e o outro mimoseava-o com um riso de troça,certo da sua impunidade,que ficou,de vez,assegurada,assentando arraiais em lugar de muita confiança.

sábado, 9 de maio de 2015

ECOLOGY:TASTELESS PESTICIDES AFFECT BEES IN THE FIELD

Pesticides

SUTAINABILITY:FIVE STEPS FOR MANAGING EUROPE'S FORESTS

Forests

OLHOS FIRMES

Há olhos para todos os gostos,assim se pode dizer. Olhos negros,castanhos,azuis,verdes,de cor indefinida. Olhos grandes,medianos,miudinhos. Olhos bem escancarados,quase cerrados,piscos. Olhos toldados,chorosos,límpidos,ramelosos. Olhos frontais,ausentes,fugidios. Olhos bem vivos,mortiços,cintilantes. Um largo espectro,afinal. Olhos inocentes.
Mas olhos como certos olhos,muito raramente se têm visto. Olhos inquietos,trocistas,reservados,
de miradas imprevistas,para o alto,para os lados,para o chão. Olhos que não se fixam,olhos nervosos,olhos inconstantes,olhos ambiciosos,olhos sonhadores. Que sonhos terão quem os têm assim?
De todos os olhos,há uns que encantam,qualquer que seja a cor,o tamanho,a luz,a abertura. São os olhos que olham de frente,bem de frente,sempre de frente,olhos firmes. Apetece olhar para eles.

NATUREZA SELVAGEM

Porque ficara impressionado o homem com aqueles registos? Talvez tivesse sido a sucessão de montes pintados de cores violáceas. Mas também o lajedo rochoso,o verde dos prados,o mato florido,a promessa de silêncio. E algumas vezes as gentes. Rudes,talhadas a machado,como o passador.Era este a imagem de um sobrevivente de muitas calamidades e contratempos. Porventura, o modelo de todos os que conseguem,apsar de tantos reveses,ficar à tona. Parece,por vezes,ir submergir para sempre. Mas com um golpe de rins,um salto mais atrevido,uma marcha mais veloz,lá surge ele com maior determinação para viver.Era uma irradiação da natureza selvagem que o rodeava,de onde ele brotara,como que espontaneamente. Muito aprendera com ela. Vira nascer e morrer. Vira armadilhas e cercos. E vira que nem todos se deixaram prender. Certas vezes,fora a sorte que o lograra,outras,a vontade de continuar,de teimar,como ele.Como que fora levado a isso. Aquela beleza rude,dominante,quer ser vista,apreciada,gozada. E só aceita gente forte,corajosa,destemida. É capaz de aborrecer os fracos,os desinteressados,os apáticos,os abúlicos.

TER OU NÂO TER

O tema era da maior actualidade,não lhe restava a mais ligeira dúvida. Por ser assim,não resistiu a apresentá-lo. Tratava-se da recta pronúncia da palavra euro. Um tema,como bem se vê,muito sério e de transcendente importância. O orador estava bem documentado.
É assim e não de outra maneira,como a de muitos bárbaros que por aí andam a estragar o ambiente. Uns verdadeiros assassinos da sagrada língua de Camões. Se ele fosse vivo,estaria aqui em meu lugar. Era dele esse direito e,sobretudo,o seu dever. Não se pode brincar com a língua. Mas não era preciso,pois tudo quanto ele dissesse,estou eu aqui dizendo. Nada iria acrescentar.
A entrega,o entusiasmo,o calor posto na defesa da sua causa foram tais ,que o suor corria-lhe,abundante,pelas faces ,tintas de vemelho vivo. Houve até alguém que receou ir dar-se tragédia. É que lhe pareceu ver,em dado momento,o orador cambalear. Outro alguém asseverou ter dado conta de chispas de furor,quando ele fulminou os bárbaros ignorantes.
Num canto,um assistente ia ouvindo e contagiando-se daquela braseira. E,a certa altura,não se conteve. A tampa saltara, com estrondo. Aquilo estava a ser demais. Um sujeito a preocupar-se com a recta pronúncia do euro,quando a tanta gente euros faltavam. Não era uma questão de ser ou não ser,mas de ter ou não ter. E o que importava,de longe,era ter euros,quaisquer que fossem as suas roupagens.
Escusado será dizer que o orador nadava em euros.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

SOIL AND HUMAN SECURITY IN THE 21st CENTURY

Human security

COMMITING TO ECOLOGICAL RESTORATION

Climate change

BRAVE NEW WORLD

Climate change

ITALY'S OLIVES UNDER SIEGE

The disease is spreading north

UTOPIA

Não faças isso,não dês esse passo,não vás por aí,que te irás arrepender. Mas ele estava determinado. Que lhe importava o que dissessem,o que fizessem,que o seu sonho se desvanecesse? Já não era uma criança,sabia muito bem o que queria.
E o que é que ele queria? Talvez o impossível. Precisamente,uma coisa sem importância,a atentar nas reacções dos cantos mais diversos. Tratava-se,apenas,de alterar o rumo a uma pessoa. Tratava-se,apenas,de estender a mão a alguém que se metera por maus caminhos,onde já muito se manchara. E ele estava decidido a recuperá-la. Não seria isso de louvar? Mas ninguém assim o entendia.
Pois é assim que vai ser. Ela agarrou a mão que se lhe estendia,porventura como uma náufrega,com ambas as suas mãos,com todas as suas forças. Ia ser uma senhora,que ele era um senhor,não um dos muitos que a tinham usado,e,depois,descartado. Já teria perdido,até, as esperanças de alguma vez o ser,ou,talvez,nunca nisso tivesse pensado. Deve ter agradecido e jurado que não mais trilharia os tais caminhos maus.
Juras. Teria sido tarde demais,que ela já não era uma criança. Aquilo era vara retorcida desde muito cedo. Ganhara hábitos,que,como alguns dizem,são uma segunda natureza. Restara,apenas,o bom propósito dele,o que muito significava. É a utopia que faz a diferença.

CANETA DE TINTA VERDE

Aparentava uns quarenta anos e na boca faltavam-lhe alguns dentes da frente. Os olhos eram de criança. Estaria numa grande ansiedade,pois, mal alguém lhe apareceu ,não se conteve. Escreva aqui nesta agenda o que lhe vou dizer. Tinha já uma caneta preparada. A tinta era de um verde claro,muito brilhante. Tratava-se do nome de um médico e da sua morada,da qual não estava muito certo,mas parecia isto ser-lhe indiferente. Não sabia escrever. Não calhara. Mas olhe que ainda vai a tempo. E,depois,tem aqui uma bonita caneta. Via-se que gostava muito daquele brinquedo. Fora uma prenda da mãe,pelos seus anos. E tendo ouvido gabá-la,deixara-o muito satisfeito. Não sabia escrever,mas sabia ler. E quando o disse,quereria que se soubesse que ele não era para ali um qualquer. Pois não era.

TRAÇOS DE CRIANÇA

Era uma sala de espera,que se foi enchendo. Ele foi dos primeiros a chegar. Mal se sentou,abriu uma mala atafulhada de papéis,tirou de lá o pequeno-almoço e armou ali mesa. Estava muito atrasado,pois a manhã já ia a meio. Marchou,primeiro,uma carcaça e companhia,que não deixou de mirar,enquanto mastigava,deliciado. Seguiu-se um pacote de leite,que esgotou até à última gota,espremendo-o.
A sua cara,de homem,aí de uns quarenta,mostrava,ainda,traços da criança que fora. Andava na distribuição de propaganda de um instituto de línguas. Eram cursos de inglês,de francês,de italiano e de alemão. O alemão devia ser o mais fácil,no seu entender. Quanto ao francês e ao espanhol,esses é que eram puxados. Mas havia lá bons professores.
Naquela manhã,começara tarde,pois tivera de ir pagar a água e a luz,visto ser o último dia. Mas contava dar conta do recado. Tratou,primeiro,daquela sala,que entretanto ficara bem composta. A mala ficou um pouco mais leve. Depois,tapando a calva reluzente com um boné de pano branco,lá a foi esvaziar.
Enquanto esteve matando a fome,os seus olhos mostraram alguma inquietação.Estaria com receio de que o apanhassem ali sem estar a trabalhar.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

POLICY:CLIMATE ADVISERS MUST MAINTAIN INTEGRITY

Emissions reductions

FOSSIL-FUEL DIVESTMENT CAMPAIGN HITS RESISTANCE

Fossil-fuel

DIRTY MONEY

Greenhouse gases

DORMINHOCOS

Já é vontade de ir acordar, e pôr a trabalhar,quem estava a dormir,lá muito sossegado,nas profundezas,há anos sem conta. E ali,mesmo ao pé,com tanto sol,com tanto vento,com tanta onda,com tanta maré,com tanta água,com tanto calor geotermal,á espera que deles se lembrem. Depois,para pôr a trabalhar quem estava dormindo,lá se vai gastando oxigénio que,pode dizer-se,deve a sua existência ao sono profundo dos dorminhocos.

TUDO DO AVESSO

Aquilo foi uma medonha carnificina. Esacaparam apenas alguns,uma meia duzia,se tanto,a ter em conta o exército inicial. Mas foi uma acção bélica que levou a grande gasto de esforços e de material.
É que os inimigos,além de numerosos,estavam todos muito bem entrincheirados. Tudo lhes servia,colchões de palha antiga,travesseiros de semelhante enchimento,camas de ferro,recantos vários,que a quadra era vasta. Teve de se virar tudo do avesso.
Foram horas de polvilhação,que puseram o ar quase irrespirável. Alguns pensaram,até,que ninguém sairia dali vivo. Depois,esgotados,atreveram-se uns poucos a deitarem-se. A maioria,não esquecendo a tal meia dúzia ainda alerta, para fazer das suas,não teve essa coragem. Sentaram-se,apenas,de olhos bem abertos,prontos para o ataque.
Houve uns outros,talvez três ou quatro,que não participaram na refrega. Nem entraram no teatro de operações,permanecendo lá fora,ao relento. Aquilo de percevejos,só de longe,muito longe. E assim se mantiveram. Foram mandados para casa,logo no dia seguinte.
Estavam muito doentes,coitadinhos. Precisavam de caldos de galinha e ali só tinham massa com feijão. De resto,gente que fugia de percevejos,não servia para defender a pátria.

PARA ESQUECER

Ia haver grande festa aquela casa. Fazia anos. Os modos de o assinalar eram vários,que ela bem merecia,deles se salientado uma exposição, em painel,das suas já muitas realizações.
A área disponível era,infelizmente,limitada. Isto trouxe um grave problema para um dos sectores. É que o espaço que lhe fora atribuído era muito escasso para mostrar,como devia ser,aquilo que já tinha sido produzido,e que era muito.
Alguém teria de ser sacrificado. E a decisão veio,uma,certamente,dura decisão. É que ninguém gosta que o seu trabalho seja ignorado,quando se pensa,talvez exageradamente,que vale alguma coisinha.
Não figuraria,então,o chefe,que esse seria o menos lesado,por razões óbvias,e não figuraria um outro,um novato,que andava para ali ainda a aprender. De resto,pelo que já tinha mostrado,seria um caso para esquecer.

JEITO HUMILDE

Estava,naquela altura,livre de perigos como os de há centenas de anos,a vetusta abadia. De onde em onde,naquele passado longínquo,lá vinham eles,homens mais do norte,tentar reduzi-la a cinzas. Algumas vezes o conseguiram,que a história assim o relata.
A tarefa não se mostrava nada fácil. Em primeiro lugar,tinham a barrar-lhes a caminhada uma alta e grossa muralha,que ainda lá se encontra,do tempo dos romanos. Atestava esta a irrequietude dessa brava gente.Transposta esta,deparava-se-lhes,a pouca distância,a garganta de um rio.
Admirava que a tivessem erguido tão perto de semelhante inimigo. Só uma grande fé o poderá explicar. Quase à vista dele,voltavam a pôr pedra sobre pedra. Mas seria sol de pouca dura. Nada,porém,os impedia de recomeçar. E lançavam-se,de novo,à empresa,talvez com redobrada determinação,esperando que dessa vez fosse para sempre.
Lá se encontra hoje,apontando,porventura mais tranquilamente,para o céu,não tão magestática como outras suas irmãs,mas em jeito humilde,que também atinge as alturas. Muito perto,estende-se um parque que a liga ao rio. Teria sido por aquele chão que se tinham feito as investidas de variado sucesso. Naquela altura,eram gritos de crianças,nas suas brincadeiras,que se ouviam.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

THE GENOME OF CULTIVATED SWEET POTATO CONTAINS AGROBACTERIUM T-DNAs WITH EXPRESSED GENES:AN EXAMPLE OF A NATURALLY TRNSGENIC FOOD CROP

Naturally transgenic food crop

WINTER TELECONNECTIONS CAN PREDICT THE ENSUING SUMMER EUROPEAN CROP PRODUCTIVITY

Crop productivity

MELANCIAS EM CAMA ORGÂNICA

Uma cultura assim é que ele nunca tinha visto. Em terra,em soluções nutritivas,já ele conhecia. Agora,num monte de palha enriquecida com desperdício de vacas,é que era novidade. Pois ali estavam aquelas ricas melancias. E que grandes elas eram. Apetecia,naquele tarde de calor de rachar,servir-se de uma. Mas não era ainda época disso. Tinha de ter paciência,e esperar.
Ali estava,pois,um caso da agricultura biológica. Um caso que não se podia generalizar,visto não haver,nem palha que chegasse,nem vacas também. Melancias asim, só ali para a família,quando muito. A maioria tinha de continuar a preferir os bens de consumo gerais,obtidos pelos processos de sempre.

CARAPAU DE GATO

Eram mãe e filho,um filho já homem,mas a precisar de amparo,como se fosse ainda uma criança. Ela estava mais acabada,mais achacada,mais trôpega. Tinha de se sentar,ali,acolá,onde calhava,a recobrar forças.
Aquela manhã era uma manhã especial,uma manhã de compras. Entraram os dois,mas foi só ela a abastecer-se. Ele pouco se demorou. Preferiu ficar lá fora,à espera do seu anjo da guarda.
Ela trazia muito pouco. O que mais se notava era um peixinho,ligeiramente maior do que um carapau de gato,quando o havia. Estava aquilo a pedir um milagre,mas quem seria capaz de o fazer,num tempo a eles tão avesso?
Um milagre a seguir a outro,o daquele peixinho,quando vivo,a circular com mestria no seu meio. Mas,no que a ele dizia respeito,por ali se ficou.

SALÃO NOBRE

Um verdadeiro palácio, a bem dizer, sobranceiro a rua nobre. Nada lhe faltava, nem mesmo o princezinho. A entrada era um luxo, como não podia deixar de ser. Portão largo, pátio amplo,
empedrado, cavalariça, recanto ajardinado, de vistosos jarros, escadaria de dois lanços, varandim. Depois, era um nunca mais acabar de quartos, alguns para visitas, como lhe competia, cozinha de convento, onde pontificava a Joana, salão nobre, para os repastos ,e, sobretudo, um grande quintal, para os folguedos. Neste, presidia uma alta nespereira. Tinha cisterna, outra fonte de inquietações para a senhora, que o princezinho podia lá cair. A um lado, rasgava-se varanda a condizer, debruçada sobre outro palácio, onde reinava uma princesinha , sempre triste, porque a mãe não se dava ao respeito.
Depois, ainda, seguiu-se o desterro, e lá se foi o palácio. Não ficaram na rua, que uma segunda casa, para lá do grande rio, estava livre para os receber. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

HYDROGEN STATIONS IN CALIFORNIA : HOW MANY NEEDED AS FUEL-CELL CARS ARRIVE?:

Hydrogen stations

JAPAN WILL MISS TARGET OF 100 H2 FUELING STATIONS BY 2016 - SO WHAT?

H2 fueling stations

ANIDRIDO CARBÓNICO APRISIONADO

A árvore,a floresta,valem,sobretudo,pelo anidrido carbónico que vai sendo aprisionado,graças à fotossíntese,nas suas folhas,nos seus ramos,nos seus troncos,
nas suas raízes,convertido nos compostos mais diversos. Enquanto o carbono assim permanecer,é carbono que fica fora do seu ciclo activo,quer dizer,é carbono que não restitui anidrido carbónico,pela respiração,à atmosfera,e é oxigénio que não é consumido. Assim,a árvore,a floresta,emitam,à sua medida,no que podem,as matérias fósseis,petróleo,gás natural e carvão mineral,enquanto não exploradas,ao manterem carbono fora do seu ciclo activo,não perturbando,também, a reserva de oxigénio do ar.

AMIZADE DE UM DIA

Devia ser coisa muito urgente,a atinar no que se estava vendo. Um carro estava parado,em plena avenida,em plena hora de começo de trabalho. Aquilo era um businar de ensurdecer. Lá dentro do carro,um jovem,que não havia meio de parar a conversa com o seu velho amigo, por quem ele tinha de velar,pois queria que ele chegasse aos cem ou mais,o que ele estava disposto a assegurar,pela sua muita experiência no prolongar de vidas.
Era uma amizade de um dia,nem tanto,mas a amizade não tem idade. Tinham-se conhecido numa  casa atafulhada de gente,que era dia de feira. Venha para aqui,que a gente encolhe-se,onde cabe um,cabem dez,pois então. E ali ficaram à conversa,que ele tinha mezinhas para todas as mazelas,de que o seu novo amigo estava cheio.
Eles que esperem. Enquanto eu não acabar de dar novas indicações aqui a este meu muito amigo,não os deixo andar,tenham paciência,aprendam comigo a lição,que primeiro está a amizade,estas coisas assim.

HORAS À JANELA

Do seu andar,via-se uma ampla e variada paiasagem,que não a atrairia por já sobejamente a conhecer. Estaria mais interessada no primeiro plano.
A poucos metros,lá em baixo,desenhava-se uma espécie de fronteira. Para além dela,perfilavam-se vários prédios com locatárias especiais. Não teria necessidade de binóculo,mas talvez o tivesse usado. O movimento de entradas e de saídas não parava,dia e noite. Teria sido apanhada de surpresa. Não o esperaria,mas o espectáculo ter-lhe-ia agradado.
Passaria horas à janela. As observações lá do alto não a teriam satisfeito. Teria querido ver mais de perto,o que era simples. Bastava abrir uma porta. Depois,eram apenas uns passos em frente ou para o lado,direito ou esquerdo,tanto fazia,e subir meia dúzia de degraus.
Deve ter feito uma incursão de reconhecimento. As surtidas ter-se-iam repetido e prolongado,passando a aborrecer o regresso a casa. Finalmente,optou.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

HYDROGEN-POWERED TRAM DEVELOPED IN CHINA

Hydrogen-powered tram

TESLA POWERALL : A BATTERY FOR YOUR HOME

Battery

UM VELHO CONHECIDO

O metano está preocupando muita gente. Como se sabe,é um dos componentes dos combustíveis fósseis,sobretudo,do gás natural. Mas não é deste que deriva a preocupação, pois o que se conserva nas jazidas está lá bem guardado,e o que delas sai é para ser combustado. O que preocupa, é o que se vai libertando da muito complexa decomposição bacteriana de materiais orgânicos,vegetais e animais,em condições de falta de oxigénio. Acontece isso nas situações mais variáveis,em que se incluem terras pantanosas,águas estagnadas,arrozais,barragens e o aparelho digestivo de ruminantes e de térmitas. Preocupa, também, as camadas geladas de solos do hemisfério norte,um dos maiores armazéns de matéria orgânica da Terra,que aprisiona metano enquanto não se derreterem.O metano é,assim,pode dizer-se,um velho conhecido. Até há quem julgue que o metano eatá na origem da vida. Como gás que é,anda por aí,na atmosfera. O seu teor varia consoante a contribuição de cada uma das fontes e o poder eliminador da própria atmosfera. Que esse poder não deixe de actuar como até aqui,é a esperança de muitos.