sábado, 23 de maio de 2015

CHÃO MACIO

Em tardes de tourada,alguns miúdos não largavam os portões de acesso aos camarotes. Pareciam uns pedintes de mão estendida. É que era só por ali que podiam franquear o reduto onde atuariam os seus ídolos. Sempre surgia alguém,de melhor coração,que deles se compadecia e os integrava na família. Depois,que se arranjassem. Não precisavam,de facto,que lhes indicassem o caminho,logo que se viam para além do fosso de proteção.
Raramente acontecia terem sorte à primeira tentativa e,às vezes,passavam por certos enxovalhos. Mas quem anda à chuva molha-se,é bem sabido. Que maçada,nem aqui nos poupam. Deviam ser corridos. Mas o desejo de não se furtarem aos apelos era tal,que tudo suportavam. A sua pouca idade mitigava-lhes, também,as agruras.
Lá mais para diante,talvez se recordassem delas,achando-lhes graça. Alguns,mais piegas,não esqueceriam os vexames e isso doer-lhes-ia. Mas para alguma coisa eles teriam servido,quanto mais não fosse para lhes dar mais resistência para a dureza da vida. Habituados a negativas,não se desorientariam, facilmente, quando as portas se lhes fechassem. E talvez viessem a bendizer o não terem sentido sempre o chão macio de tapetes aveludados.

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