sábado, 16 de maio de 2015

O CADEIRÃO

Andara uma vida inteira a sonhar com o cadeirão. O que ele sofreu por ver o tempo passar e sem ver o sonho realizado. Mas não perdia a esperança. Havia de chegar a sua hora. E é que chegou,tarde para muitos,mas para ele não. Ali estava ele,finalmente,no cadeirão,no seu cadeirão. Sentia-se ali tão bem,que o não largou durante dias e noites. Passava os olhos,com vagares,pelas paredes,pelos móveis,pelos retratos dos antecessores. Fechava-os,de quando em vez,para dormitar um pouco,pois tinha de estender ao máximo aqueles momentos deliciosos de posse recente. Ao fim desses dias e dessas noites,sentiu-se inteiramente compensado por tanta espera, e decidiu pôr mãos à obra. E a primeira coisa que fez ,foi ir ver o cofre. Compreende-se muito bem esse passo,pois sem dinheiro não se pode ir muito longe. E apanhou um grande choque. O cofre estava quase vazio. E agora?,e esta? Querem ver que tenho de tirá-lo do meu bolso. Era o que faltava. Mas eu hei-de me desembaraçar. Cheguei até aqui depois de tantas barreiras saltar,não será esta que me há-de trair. Pegou da pena e escreveu a sua primeira missiva. Tinha planeado ser de outra maneira,uma maneira que pusesse na sombra as do passado,mas não podia ser. Mais tarde,resolvido esse magno problema de carestia,iriam ver o que era um plano. Naquela hora grave,tinham de compreender. Na missiva,na sua primeira missiva,pedia-se,simplesmente,miseravelmente,dinheiro,esse vil.

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