Ia-se lá compreender aquela gente. Coitado do Bom Tempo, que não sabia para onde se virar. A seca não havia meio de abandonar os cantos onde tinha caído. A terra estava tão espremida, que nem podia dar água a uma formiguinha. As fontes só davam uns míseros pingos e as torneiras recusavam-se a fazer o seu trabalho. Enfim,uma calamidade,a juntar-se a outras mais.
Era tudo isso por causa dos Outros Tempos. O Bom Tempo lá ia fazendo o que podia,que a mais não era obrigado. Acudia ali,acudia acolá,quer dizer,molhava a terra ,acordava as sementes,fazendo-as levantar da cama e pôr-se ao trabalho,despertava as fontes e as torneiras.
Mas,coitado,de arrasado com tanta correria,descuidava-se,e lá aconteciam uns exageros,coisas da vida incerta. Era de lhe perdoar,a ele,que tão boas coisas fazia. Mas não. Caíam-lhe em cima,sem dó,nem piedade.
Estão a ver,estão a ver,queixava-se ele,quase em lágrimas desatadas, a quem ainda estava disposto a ouvi-lo? Faz a gente o bem que pode,que é para isso que se está cá,e é isto. Só se lembram dos exageros,de que eu,a bem dizer,não tenho qualquer culpa,que isso é maldade dos Outros Tempos. Depois, os exageros podiam,desde que não houvesse mortes, ser rapidamente sanados com os muitos benefícios que eu lhes trouxera. Mas não. Vá-se lá entender esta gente.
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