quarta-feira, 27 de maio de 2015

CABEÇA PENDENTE

Para ali está a pobre velha no seu palácio,um rés-de-chão de casa velha,em rua estreita,do lá passa um. É só uma porta e uma janela. Para ela deve chegar e sobejar. É por detrás da janela que ela se põe para ver a paisagem. Estará farta dela,que bem pobrezinha ela é,pois,lá de longe em longe,dá-lhe para pôr a cabeça de fora,procurando esticá-la,para mais abarcar. Privilegia o lado nobre,o que deita para uma quase avenida. O outro leva a uma muralha. O que ela daria para lá morar,mesmo que ao nível seu conhecido,ou até numa cave. Lá se irá conformando,que melhor remédio não lhe é consentido ter. Mas há dias,estaria desesperada. Tapara a cara com ambas as mãos,de cabeça pendente. Estaria chorando,que a sua estreita rua será um vale de lágrimas. Pelo menos,em ocasiões de fortes chuvadas,escoar-se-ão por ela,vindos da tal quase avenida,caudais de respeito. Para ali está,pois,a pobre velha,há espera não se sabe de quê. Talvez do paraíso,que ela bem o merece.

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