domingo, 31 de janeiro de 2016
TAL COMO NA VIDA
A forragem estava boa para corte. Vieram três homens de uma aldeia próxima. A tarde ia a meio e o calor apertara. Protegida a nuca com lenços,os jornaleiros ceifavam o trevo,bem desenvolvido e basto.Algumas vacas já estariam com água na boca,antegozando o festim. Tinham de ter paciência,que, antes disso, ia-se assistir a um espetáculo digno de registo.É que um dos ceifeiros encontrou um ninho com vários ovos. Mas que coisa boa,manifestaram-se eles exuberantemente. Vêm mesmo a jeito,pois já estávamos a precisar. Sem cerimónias,após justa divisão,trincaram-nos e enguliram-nos,inteirinhos.Mas estavam com sorte,pois,pouco tempo volvido,apareceu outro ninho. Desta vez,rejeitaram a casca,depois de os meterem na boca.E a sorte continuou. Já quase saciados,com vagares,partiram os ovos. Mas a sorte não findara. Esse ninho foi poupado.Afinal,como na vida. Uns são sacrificados,outros conseguem escapar-se. Vá-se lá saber porquê.E as pobres mães? Tinham sido iludidas. A elevada densidade do trevo não lhes salvara os filhotes a haver.
RANCHO MELHORADO
Estava a ouvir os carros a passar na rua com o chão molhado de chuva a acair. Fora assim que há muitos anos ele acordara de madrugada,algures numa pensão alentejana. Parecia ter-se gorado o trabalho da noite a preparar as coisas para uma sementeira de trevo da Pérsia. O tempo acabou por se recompor e lá foi à procura de auxílio.Apareceu na forma de um velhote muito magro,com barba de dias. Era dono de uma parelha de muares tão velhas como ele. Mas os três sabiam do seu ofício,que a aprendizagem começara cedo e em excelente escola.A água deixara de vir do céu,mas havia mais prometida. As mulazinhas não podiam mandriar,bem como o seu condutor. A obra ficou perfeita. Todos não cabiam de contentes,sobretudo o trio assalariado. Ainda se haviam lembrado deles,graças a Deus. Tinham estado um largo tempo parados,mas não há mal que sempre dure. O par teve naquele dia rancho melhorado e o velhote,para além do que fora estabelecido,banqueteou-se com ceia lauta no café do lugar.A previsão confirmou-se. A chuva voltou,de mãos largas,fazendo das suas. As sementes boiavam. Tinham sido esforços baldados. Feitas as contas,restara a alegria dada ao trio assalariado. Não se perdera tudo.
sábado, 30 de janeiro de 2016
FEITICEIRA
Daquele segundo andar,o senhor sentir-se-ia dono do mundo. A casa dominava a ampla várzea. O rio não se via,que a vegetação densa da margem não deixava,mas os campos a perder de vista acompanhavam-no.
Naquela época,era o trigo o rei. E umas vezes,veria verde,das searas a crescer,e outras,amarelo,das searas a amadurar ou dos restolhos. Podia dizer-se que era o pão que ele via,o pão a haver, o pão já pronto,como o da padaria que ficava mesmo no rez-do-chão.
Vinha ali de vez em quando. A padeira enfeitiçara-o. Demorava-se uns dias. Muitos ficariam como ele,rendidos. Além de tudo o mais,havia aquela paisagem restauradora. E aquele silêncio,apenas cortado,lá de onde em onde,pelo apitar do comboio,que corria lá em baixo. E,depois,quedar-se-ia a vê-lo,qual serpente deslisante,para acabar por se sumir,lá muito longe,na linha do horizonte.
Mas,acima de tudo,seria aquele aroma de pão,quente,telúrico,acabado de sair do forno a lenha,que mais o inebriaria. Era um cheiro aconchegante,um cheiro de fartura,um cheiro caseiro. Enchia-se dele para uma larga temporada. Quando já não o sentia como ele desjava,punha os pés ao caminho e lá se instalava. Mas não se expunha. Passaria as horas à janela daquele segundo andar,admirando a paisagem e respirando o perfume do pão.
Naquela época,era o trigo o rei. E umas vezes,veria verde,das searas a crescer,e outras,amarelo,das searas a amadurar ou dos restolhos. Podia dizer-se que era o pão que ele via,o pão a haver, o pão já pronto,como o da padaria que ficava mesmo no rez-do-chão.
Vinha ali de vez em quando. A padeira enfeitiçara-o. Demorava-se uns dias. Muitos ficariam como ele,rendidos. Além de tudo o mais,havia aquela paisagem restauradora. E aquele silêncio,apenas cortado,lá de onde em onde,pelo apitar do comboio,que corria lá em baixo. E,depois,quedar-se-ia a vê-lo,qual serpente deslisante,para acabar por se sumir,lá muito longe,na linha do horizonte.
Mas,acima de tudo,seria aquele aroma de pão,quente,telúrico,acabado de sair do forno a lenha,que mais o inebriaria. Era um cheiro aconchegante,um cheiro de fartura,um cheiro caseiro. Enchia-se dele para uma larga temporada. Quando já não o sentia como ele desjava,punha os pés ao caminho e lá se instalava. Mas não se expunha. Passaria as horas à janela daquele segundo andar,admirando a paisagem e respirando o perfume do pão.
ERA A ROSA
Fizera uma boa escolha a cegonha para instalar a família,lá mesmo na torre da igreja. De lá,ela podia ver bem o que se passava no local que mais apreciaria,um minúsculo retângulo verde,perdido na imensidão amarela dos restolhos do vale. Levantava-se cedo. Despertaria com o início da faina naquele oásis. Gostava da companhia já conhecida de outros anos e bem depressa se lhes juntava. Consideravam-na já da casa,pelo que tinha,assim,duas,e puseram-lhe o nome de Rosa. Nenhum ruído dos habituais a amedrontava,nem mesmo o do trator. Era o mesmo que nada. Nem levantava a cabeça do fundo dos regos em que procurava matar a fome que trouxera doutras paragens. As minhocas,lembrando enguias,só ali as encontraria. Pudera,não faltava água,que vinha do rio,mesmo ali ao lado,nem estrume de muitas vacas que ali se criavam,muito bem criadas,que comida era quanta elas queriam,uma fartura nunca vista. Sonharia com elas,as minhocas,e também com as vaquinhas,que bem conhecia,pois muitas vezes se cruzavam à mesa. Apenas dele a Rosa fugia. E isso entristecia-o muito. As tentativas que ele fez para a cativar,usando de muitas artimanhas,mas foi tudo em vão. De nada valiam outras presenças. Mal ele se aproximava,sempre de bons modos,ah asas para que vos quero. E aconteceu o que era de esperar. Ele,não suportando mais aquele repúdio,aquele desprezo,com ares de virem para ficar,abandonou aquele lugar para não mais volver. Ela,não. Por muitos anos ali voltou,sempre tranquila,pois sabia muito bem que o não iria lá encontrar.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
UM GELADO
Já devia ter ultrapassado o cabo dos noventa,ou talvez não,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Caminhava quase em ângulo reto,apoiado numa bengala e numa canadiana. Conseguira descer a escadaria de dois lanços,atravessara a rua e embrenhara-se no jardim. Avançava muito tentamente e,enquanto o fazia,soltava gemidos.
Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia.
Parou junto ao quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim.
Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.
Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia.
Parou junto ao quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim.
Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.
FINA CEIA
À vista de todos,banqueteou-se. Era hora da ceia e ele devia estar com pressa. Nem se lembrou de oferecer,mas estava desculpado. Ele mesmo se encarregou de todas as operações. Já vinha preparado. De um saco,já muito gasto,retirou tudo quanto era indispensável,menos o vinho,mas esse,a seu tempo,apareceria,pois ali havia muito.E o que era tudo? Uma cebola grande,daquelas próprias para um regimento,azeite,vinagre,sal e pão. Com um canivete,cortou a cebola em rodelas muito finas,que foram caindo num prato de esmalte,já também muito usado. Regou-as prodigamente com azeite e vinagre,que,mesmo assim,foram incapazes de dissolver as carradas de sal,ao seu gosto. O molho devia estar uma delícia,pois grande parte dele marchou logo,ensopando pedaços de pão. Finalmente,a montanha de rodelas lá seguiu o seu destino,mas com vagares. Foi um prazer vê-lo comer. Prazer maior deve ele ter tido. E assim,ficou sobejamente demonstrado como tão simples é,e quase de graça,o ter uma fina ceia.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
MICROORGANISMOS E SOLUBILIDADE DO FÓSFORO DOS SOLOS
Como se sabe,o fósforo encontra,em geral,nos solos,principalmente,nos tropicais,condições propícias a uma forte retenção,pelo que é fraca a sua disponibilidade para as plantas . A presença de matéria orgânica é susceptível de melhorar essa disponibilidade. É que a sua decomposição bacteriana pode gerar substâncias capazes de formar complexos estáveis com os elementos responsáveis pela retenção,muito em especial,o ferro e o alumínio,libertando,assim,o fósforo. Do mesmo modo,os microorganismos dos solos podem,igualmente,produzir compostos que possuam o mesmo efeito solubilizador. Não é de admirar,pois,que esta ação solubilizante,face à escassez de fosfatos minerais,esteja a ser explorada.
PRATELEIRA
Não era para acreditar. No topo da escada íngreme,via-se um exíguo patamar,onde cabia uma cama e pouco mais. Estava lá,de facto,uma cadeira desconjuntada,sempre na iminência de ir parar ao abismo. Na cama,ou,mais exato,no catre,jazia uma velhota entrevada. Uma fresta,sem proteção,rasgava-se na parede,um pouco acima da cabeça da inválida. O terceiro degrau da escada era a base de um fogareiro a petróleo. Está-se mesmo a ver o que acontecia quando a fonte calórica desempenhava as suas funções. Os vapores dos cozinhados e os gases de combustão,antes de se escaparem pela fresta,visitavam minuciosamente aquele corpo a despedir-se,como numa tarefa de mumificação. Incensado daquela maneira,estaria garantida a sua incorruptibilidade. Mas porque ficava aquela mártir naquele patamar? Pela razão muito simples de que não havia outro sítio para a depositar. Pai,mãe e filha era gente demasiada para uma só divisão. A velhota tinha de ir para a prateleira.
FIO DE ÁGUA
As cigarras emudeceram e os pássaros esconderam-se nos ramos das azinheiras. É que se aproximava o medonho estrondo de um comboio de viaturas. Nunca se vira por ali uma coisa assim. O que estaria para acontecer? Bem depressa veio o esclarecimento quando os carros pararam. Deles saiu um mar de gente que se apressou a bisbilhotar o vasto milharal que se estendia ao longo do rio. Pobre rio,que naquela altura era uma pobre sombra do que fora. Um fio de água,se podia dizer,que mal dava para a meia dúzia de famílias de rãs que por ali faziam pela vida,quanto mais para matar a sede daquela ilha verde. Pois fora esta pobreza que trouxera ali toda aquela gente. Estavam muito preocupados,e com razão. É que aquele milharal estava a ser um comedor de dinheiro. Não bastara a renda da terra,as sementes,as alfaias,os químicos,os amanhos,as jornas,para há uns tempos ter havido necessidade de recrutar pessoal para escavar o leito do rio,na esperança de algum milagre. E o milagre dera-se,como se estava a ver. É que as maçarocas já despertavam os apetites de bandos de pássaros. Alguma coisa de jeito eles sabiam que nelas encontrariam. Aquele pessoal tinha sido o milagreiro. Escavando dia e noite o velho leito do rio,desencantou veios de caudal capaz de dar vida àquele milharal. Mereciam eles um prémio que se visse. Os pássaros também tinham obrigação de contribuir.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
FESTINHAS NA CARA
O que me ia acontecendo. Vê lá tu,eu que não sou nada de pieguices,à vista daquele quadro,quase me chegaram as lágrimas aos olhos. Mas olha que era para tal suceder,mesmo ao mais empedernido.Eram dois velhinhos,ele e ela. Ele,numa cadeira de rodas,muito pálido,muito mirradinho,de boné a tapar-lhe acabeça enfezadita,de cara de quem já não estava ali,naquela clínica,ou em qualquer outro lugar.Ela,muito magrita,de cabeça branca descoberta,muito azougadita. Ia ali,ia acolá,para que se despachassem,que o seu homem precisava de ser atendido com urgência.Mas não o perdia de vista,e sempre que por ele passava fazia-lhe umas festinhas na cara,festinhas muito meigas,a dar-lhe alento,a indicar-lhe que ela estava ali a zelar por ele,como sempre teria estado toda uma longa vida.Pobres velhos,para ali sozinhos,naquela casa cheia de outros doentes. E eu que fora lá também a pedir socorro,senti-me um privilegiado,perante desgraça tamanha.
O VALE ERA VERDE
Aquela paisagem,novíssima para ele,encantara-o,seduzira-o. Não sabia para onde se virar,pois em muitos quadros ela se desdobrava,todos de ficar a eles preso. Era o amplo vale que a seus pés se abria. Era o vagaroso rio,a serpentear,que mansamente o cortava. Era a galeria de palmeiras e bananeiras que o alegrava. As bananeiras cresciam ao Deus-dará,com os pés-mães e os filhotes criando densas cortinas. As palmeiras,esguias,procuravam o céu. Eram os palácios de mergulhões,que não desejariam outro poleiro,pois, além de quartos,tinham mesa e roupa lavada,tudo de borla. Podia dizer-se que o vale era verde. Até o rio verde era,de reflexos e de constituição. Havia ainda um outro verde,um verde mais carregado,de outras palmeiras,não tão elegantes,ordenadas,muito apaparicadas. Eram nelas que os exímios trepeiros mostravam as suas habilidades,quando os cachos estavam a pedir que os fossem lá colher. A noite caía quase a pique. E o verde passava a tons violáceos,tudo muito a correr,que era urgente ir descansar. Era nesta altura que os embondeiros,que o punham especado,muito respeitador e um tanto temeroso,na sua frente,pareciam fantasmas de muitos braços. E os seus frutos,de pedúnculos compridos,lembravam ratazanas que eles usariam para mais amedrontar. Mas mal o sol acordava,de novo o vale se pintava de verde,de um verde mais verde. E os fantasmas e as ratazanas iam dormir.
HOMENAGEM
Agora sabia bem que estivera nos Victoria Tower Gardens,ali à vista do Tamisa,mesmo no coração da grande urbe. Acontecera isso há muitos,muitos anos. Andara a meter o nariz por muitos cantos,a querer ver o mais que pudesse,que o tempo voava e o disponível era magro,e também porque podia ser aquela a última oportunidade de por ali passar,o que,de facto,veio a suceder. Parecia ele adivinhar.
Sentara-se,a recobrar forças. Só depois de alguns minutos é que deu conta de que à sua volta apenas se viam senhoras de muita idade. Isso levou-o a pensar que estaria em local de algum significado. Não demorou muito a ser esclarecido.
Uma das senhoras levantara-se e viera sentar-se a seu lado. Sabia ele onde se encontrava?
Não,não sabia.Estava cansado e sentara-se no primeiro banco que vira. Está ali a ver aquela estátua? Pois é a estátua de uma grande mulher. A ela devemos,da sua luta,o direito das mulheres poderem votar. Estamos-lhe muito gratas por isso e sempre que podemos vimos aqui prestar-lhe homenagem.
Sentara-se,a recobrar forças. Só depois de alguns minutos é que deu conta de que à sua volta apenas se viam senhoras de muita idade. Isso levou-o a pensar que estaria em local de algum significado. Não demorou muito a ser esclarecido.
Uma das senhoras levantara-se e viera sentar-se a seu lado. Sabia ele onde se encontrava?
Não,não sabia.Estava cansado e sentara-se no primeiro banco que vira. Está ali a ver aquela estátua? Pois é a estátua de uma grande mulher. A ela devemos,da sua luta,o direito das mulheres poderem votar. Estamos-lhe muito gratas por isso e sempre que podemos vimos aqui prestar-lhe homenagem.
ORIOLA
Junto a Portel. Por ali tinham andado os romanos e cheirou-lhes a ouro. Muito sabia aquela gente. Vinha dos lados de Alvito. Montados e mais montados. Terra colinar,escalavrada,de tons avermelhados. De súbito,numa baixa,surge um aglomerado de casas. Parecia uma enorme ave pousada,de plumagem branca. O sol batia nas casas,que resplandeciam. Os olhos,saturados de vermelho,a custo suportaram aquela alvura. Uma miragem,não podia ser outra coisa.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
MADRASTA MÁ
Não era para acreditar. Podia lá ter acontecido o que ele estava para ali a dizer. A ser assim,fora mesmo o demónio,o demónio em pessoa, que o tentara. O diabo daquele cofre,que estivera ali,de bocarra bem aberta,a provocá-lo,de braços bem abertos.
Atrevera-se algumas vezes,que ele ,coitado,não tivera forças para resistir. Mas o seu anjo da guarda nunca o desamparara,colaborando como os anjos da guarda sabem fazer,na perfeição. Era um anjo que tinha muita pena dos rapazinhos pobres,indo ao ponto de lhes proporionar ocasiões isentas de perigos. Foi o que lhe valeu,se não teria sido apanhado com a boca na botija,o que seria uma grande vergonha.
Admirava-se ele como só muito tarde dera conta daqueles atrevimentos. Deviam ser das coisas que vão sucedendo apenas com o passar dos anos,vá-se lá saber porquê. Talvez necessitem de um tempo de amadurecimento,quem sabe? E,chegando a altura própria,lá desabrocham.
Quem o estivera a ouvir,pessoa muito compreensiva,desculpara-o de todo. O teu mal foi teres sido um menino carenciado. Deita as culpas à vida que te calhou. Para uns,ela é mãe extremosa,para outros,madrasta má,mesmo muito má.
Seria difícil,impossível até,esquecer-se. Marcara-o como que a fogo o que fizera,e não devia ter feito. E assim,volta não volta,sem aviso prévio,lá surgem espetros do passado,amargurando-lhe alma e corpo,deixando-o a sangrar. Razão tinha o amigo.Tivera muito azar em lhe ter calhado tal madrasta.
Atrevera-se algumas vezes,que ele ,coitado,não tivera forças para resistir. Mas o seu anjo da guarda nunca o desamparara,colaborando como os anjos da guarda sabem fazer,na perfeição. Era um anjo que tinha muita pena dos rapazinhos pobres,indo ao ponto de lhes proporionar ocasiões isentas de perigos. Foi o que lhe valeu,se não teria sido apanhado com a boca na botija,o que seria uma grande vergonha.
Admirava-se ele como só muito tarde dera conta daqueles atrevimentos. Deviam ser das coisas que vão sucedendo apenas com o passar dos anos,vá-se lá saber porquê. Talvez necessitem de um tempo de amadurecimento,quem sabe? E,chegando a altura própria,lá desabrocham.
Quem o estivera a ouvir,pessoa muito compreensiva,desculpara-o de todo. O teu mal foi teres sido um menino carenciado. Deita as culpas à vida que te calhou. Para uns,ela é mãe extremosa,para outros,madrasta má,mesmo muito má.
Seria difícil,impossível até,esquecer-se. Marcara-o como que a fogo o que fizera,e não devia ter feito. E assim,volta não volta,sem aviso prévio,lá surgem espetros do passado,amargurando-lhe alma e corpo,deixando-o a sangrar. Razão tinha o amigo.Tivera muito azar em lhe ter calhado tal madrasta.
É DE ASSUSTAR
A vida está mal para os carrinhos. Nos tempos mais próximos vão passar um mau bocado. Mas deve ser isto coisa passageira. O bicho homem não pára de pensar e há para aí umas cabecinhas com muita massa cinzenta. Assim,não será de espantar que, um dia,como por milagre,apareça um "combustível! novo,e salvador,que,de uma cajadada,mate vários coelhos. Mas as tais cabecinhas ímpares hão-de lá chegar. Para bem de todos. É que a perspetiva,sem a tal novidade,é de assustar,até o Criador.
FERRATO
Estivera para ler,pois eram ainda os primeiros passos,mas lá se enchera de coragem e enfrentara o "inimigo" com um improviso muito trabalhado,muito decorado. A certa altura,ia ele já em jeito de cruzeiro,mas não seguro,saiu-lhe da boca o termo ferrato.
O que ele foi dizer. Ferrato? Assim como a inquirir que bicho era aquele. Era para se ter desorientado,que quem usara da palavra era para brincadeiras. Mas não. Ferrato sim,um familiar dos permanganatos e outros que tais,brincando também. Deve saber.
O que ele foi dizer. Ferrato? Assim como a inquirir que bicho era aquele. Era para se ter desorientado,que quem usara da palavra era para brincadeiras. Mas não. Ferrato sim,um familiar dos permanganatos e outros que tais,brincando também. Deve saber.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
MILHÕES DE ESTÁTUAS
Há seres que vêm ao mundo para fazer bem. É o caso das diatomáceas e das algas azuis. Povoam mares , e não só, servindo de alimento a quem lá vive. Portadores de clorofila , retiram anidrido carbónico da atmosfera e oxigenam águas e terra. Merecem milhões de estátuas, por serem milhões também.
UM QUASE NADA
Não matarás. É o que se aprende nalgumas escolas. Mas há alguns que não andaram nelas,ou,tendo andado,esqueceram-se ou não aprenderam. Passa-se,às vezes,sem saber muita matéria.
Custava a crer. Ali mesmo na frente de muita gente,um sujeito fazia declarações terríveis,sem pestanejar,com a cara até um tanto sorridente. Se aquilo não fizéssemos,seríamos nós as vítimas. Tinham sido eliminados aí uns dois milhões,um quase nada.
É capaz de a quantidade,em certas circunstâncias,sossegar as consciências. Talvez seja a explicação para tanto à vontade. Se tivesse sido apenas um,provavelmente,mostrar-se-ia muito contristado e,até,arrependido. Agora,dois milhões,uma ninharia.
Teria sido necessário eliminar tanta gente? Parecia uma espécie de irradicação de um mal incurável,susceptível de atingir proporções desmedidas,talvez mundiais. Depois,como teria sido feita a seleção? Teriam atendido a laços familiares,para maior garantia de sucesso?
Uma ação desta envergadura deve ter sido verdadeiramente saneadora,não restando,para amostra,um sequer. Se tal não tiver sucedido,a descontração do sujeito augurava que não se importava de repetir. Se houvesse necessidade de mandar para o outro mundo,antes do tempo,mais outros dois milhões,ou mais,sendo caso disso,não hesitaria. Ou eles ou nós,seria a sua desculpa,voltando a mostrar tranquilidade e um leve sorriso nos lábios.
Custava a crer. Ali mesmo na frente de muita gente,um sujeito fazia declarações terríveis,sem pestanejar,com a cara até um tanto sorridente. Se aquilo não fizéssemos,seríamos nós as vítimas. Tinham sido eliminados aí uns dois milhões,um quase nada.
É capaz de a quantidade,em certas circunstâncias,sossegar as consciências. Talvez seja a explicação para tanto à vontade. Se tivesse sido apenas um,provavelmente,mostrar-se-ia muito contristado e,até,arrependido. Agora,dois milhões,uma ninharia.
Teria sido necessário eliminar tanta gente? Parecia uma espécie de irradicação de um mal incurável,susceptível de atingir proporções desmedidas,talvez mundiais. Depois,como teria sido feita a seleção? Teriam atendido a laços familiares,para maior garantia de sucesso?
Uma ação desta envergadura deve ter sido verdadeiramente saneadora,não restando,para amostra,um sequer. Se tal não tiver sucedido,a descontração do sujeito augurava que não se importava de repetir. Se houvesse necessidade de mandar para o outro mundo,antes do tempo,mais outros dois milhões,ou mais,sendo caso disso,não hesitaria. Ou eles ou nós,seria a sua desculpa,voltando a mostrar tranquilidade e um leve sorriso nos lábios.
TALVEZ UM OU DOIS
São milhões as galáxias . São aos milhões as estrelas de cada uma. São milhões os anos de luz. O mundo é muito velho,tem milhões. Os pobres dinossáurios sumiram-se há milhões. As pessoas contam-se por mihões. As dívidas atingem milhões. Algumas obras de arte valem milhões,e assim são leiloadas e arrematadas. Os pobres são aos milhões. Porque não hão-de os ricos,com milhões, serem aos milhões? Também têm direito,pois então. E quem é que não queria juntar-se a eles?Talvez um ou dois,se tanto.
COMO A UM IRMÃO
Desprendido,sempre pronto a ajudar. Paciente. O outro,os outros,a sua família. Deviam-lhe,mas não era de cobrar. Albergava,instruía,educava. Parecia sacrificar-se,tal a dimensão do seu préstimo. Não,não era sacrifício. Era assim.
Culto,modesto,avesso à subserviência. Independente. Sonhador,de sonhos grandes. Realizador, de obras grandes,à sua medida. Mas tudo sem alardes. Era assim.
A cada Natal,mandava-lhe um cartão de Boas Festas,como a dizer que não tinha esquecido,nem esqueceria jamais. Batera à porta e ela abrira-se,sem constrangimento,como se estivesse à espera. Não uma vez,mas várias. A porta abrira-se,também,espontaneamente,algumas vezes. Não fora preciso bater. Adivinhara. Fora sempre a primeira vez. Ausência de enfado,de cansaço,de desinteresse,de alheamento. Sempre atencioso,preocupado,delicado,como que a pedir desculpa de alguma falta de atenção.
Os carentes,quando insistem,são,às vezes,mal atendidos. Têm de espaçar a mão estendida. Parece cansarem-se de os ver. Parece serem eles os responsáveis ou julgarem que os responsabilizam. Aquele,não. Até parecia agradecer que o outro tivesse dificuldades. Para o ajudar.
O mundo é assim,foi assim,talvez continue a sê-lo. Há os que precisam e há os que podem. É uma divisão casual. Podia ter acontecido o contrário,os que agora pedem serem os que poderiam dar,e os que agora poderiam dar serem os que pedem. Alguns pensam que,perante esta aparente fatalidade,só resta ter paciência e esperar que o necessitado de hoje possa ter alguém por perto disposto a dar-lhe a mão com bons modos,como a um irmão,sem,depois, o estar a lembrar. Tal como aquele recebedor de Boas Festas.
Culto,modesto,avesso à subserviência. Independente. Sonhador,de sonhos grandes. Realizador, de obras grandes,à sua medida. Mas tudo sem alardes. Era assim.
A cada Natal,mandava-lhe um cartão de Boas Festas,como a dizer que não tinha esquecido,nem esqueceria jamais. Batera à porta e ela abrira-se,sem constrangimento,como se estivesse à espera. Não uma vez,mas várias. A porta abrira-se,também,espontaneamente,algumas vezes. Não fora preciso bater. Adivinhara. Fora sempre a primeira vez. Ausência de enfado,de cansaço,de desinteresse,de alheamento. Sempre atencioso,preocupado,delicado,como que a pedir desculpa de alguma falta de atenção.
Os carentes,quando insistem,são,às vezes,mal atendidos. Têm de espaçar a mão estendida. Parece cansarem-se de os ver. Parece serem eles os responsáveis ou julgarem que os responsabilizam. Aquele,não. Até parecia agradecer que o outro tivesse dificuldades. Para o ajudar.
O mundo é assim,foi assim,talvez continue a sê-lo. Há os que precisam e há os que podem. É uma divisão casual. Podia ter acontecido o contrário,os que agora pedem serem os que poderiam dar,e os que agora poderiam dar serem os que pedem. Alguns pensam que,perante esta aparente fatalidade,só resta ter paciência e esperar que o necessitado de hoje possa ter alguém por perto disposto a dar-lhe a mão com bons modos,como a um irmão,sem,depois, o estar a lembrar. Tal como aquele recebedor de Boas Festas.
O CORAÇÃO ESTÁ ONDE SE TEM A RIQUEZA
É caso para ficar perplexo para o resto da vida. Olha quem vem ali. Há que tempos se não viam. Pois era para ficar ali um pedaço à conversa,a lembrar velhos tempos. Tanta coisa que houvera em comum.
Mas,no geral, é o ficas. Ele ficava,mas estava com muita pressa,que lá em casa esperavam-no. Viera ali,numa fugida,comprar o jornal,ou a comida para o bichano,que lá para os sítios dele não havia. Quando se fica,vem um aviso prévio,com similares desculpas. E nesses fugidios momentos,o que se ouve,minha Nossa Senhora,como diria o saudoso tio Joaquim,se ainda por cá andasse.
Ouve-se,sobretudo,coisas do ter dele,do malfadado ter dele. O tal ter que inspirou uma sentença bem conhecida,mas que todos procuram esquecer. Ali ao canto,vem de lá um protesto. Eu cá não sou desses. Que o coração está onde se tem a riqueza. Bonita,não é? Linda,como mais nenhuma. Mas adiante.
E é uma enfiada,sobretudo, de variantes do ter. São as obras lá na casa da cidade ou do campo. É aquele pequeno pinhal,à beira da estrada,que felizmente fora incluído no Plano Diretor e que rendera uma pipa de massa. O mesmo acontecera a meia dúzia de olveiras e de figueiras,que estavam para ali que ninguém lhes pegava. É o filho que é quase diretor lá da fábrica. Aquilo é que era trepar,tinha a quem sair. É o futebol de que ele gosta muito,não podendo passar sem ele,pois seria a morte. São as rendas lá dos velhos inquilinos,que estão sempre na mesma,ou quase. É o pedaço de terra,um quintalório,que a fábrica quer comprar,mas que não há meio de se chegar ao que ele quer. São os jornaleiros que querem cada vez mais dinheiro,e assim não dá. São os impostos sempre a subir. Agora há para aí uma telenovela,que é de a gente não sair da frente do televisor. Assim,dá gosto.Se não fossem elas,como é que se havia de aguentar isto,não concordas? Que saudades eu tenho dos nossos velhos tempos. Aquilo é que era bom.
Mas,no geral, é o ficas. Ele ficava,mas estava com muita pressa,que lá em casa esperavam-no. Viera ali,numa fugida,comprar o jornal,ou a comida para o bichano,que lá para os sítios dele não havia. Quando se fica,vem um aviso prévio,com similares desculpas. E nesses fugidios momentos,o que se ouve,minha Nossa Senhora,como diria o saudoso tio Joaquim,se ainda por cá andasse.
Ouve-se,sobretudo,coisas do ter dele,do malfadado ter dele. O tal ter que inspirou uma sentença bem conhecida,mas que todos procuram esquecer. Ali ao canto,vem de lá um protesto. Eu cá não sou desses. Que o coração está onde se tem a riqueza. Bonita,não é? Linda,como mais nenhuma. Mas adiante.
E é uma enfiada,sobretudo, de variantes do ter. São as obras lá na casa da cidade ou do campo. É aquele pequeno pinhal,à beira da estrada,que felizmente fora incluído no Plano Diretor e que rendera uma pipa de massa. O mesmo acontecera a meia dúzia de olveiras e de figueiras,que estavam para ali que ninguém lhes pegava. É o filho que é quase diretor lá da fábrica. Aquilo é que era trepar,tinha a quem sair. É o futebol de que ele gosta muito,não podendo passar sem ele,pois seria a morte. São as rendas lá dos velhos inquilinos,que estão sempre na mesma,ou quase. É o pedaço de terra,um quintalório,que a fábrica quer comprar,mas que não há meio de se chegar ao que ele quer. São os jornaleiros que querem cada vez mais dinheiro,e assim não dá. São os impostos sempre a subir. Agora há para aí uma telenovela,que é de a gente não sair da frente do televisor. Assim,dá gosto.Se não fossem elas,como é que se havia de aguentar isto,não concordas? Que saudades eu tenho dos nossos velhos tempos. Aquilo é que era bom.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
ESTÁ POR TUDO
O que mais lhe irá acontecer? Um velho jarreta,mais que empedernido,um fóssil da primeira geração de fósseis,a bem dizer,que viu,teimosamente,os contos,as notas grandes do antigamente,sabem?, passarem-lhe bem ao largo,como que zangadas,lá muito longe,fora das águas exteriores lá de outros mundos,que os há,como é conhecido,aos milhões,condenado,é o vero termo,a contar continhos,um parente muito,muito afastado,talvez em centésimo grau,ou muito mais,dos Contos,mas ainda assim,da família,uma vergonha sem nome para outras duas famílias,a dos Contos autênticos e a da família dele,desse monte de ossos velhos,ainda em figura de gente.
Uma condenação,está bem de ver,que não lembraria ao diabo mais diabo. Mas ela aí está,com todas as letras e mais algumas,de reserva. São continhos e mais continhos,uma verdadeira praga,para a qual não apareceu ainda tratamento eficaz. E o que ainda lá se encontra no baú? Ele não devia revelar tal coisa,pois que já anda para aí muita gente incomodada,mas saiu-lhe,pede muita desculpa. Para outra vez,vai lembrar-se. De resto,o segredo é a alma do negócio,segundo se ouve já ha muito,pelo que deve ser verdade.
Alguns daqueles que não têm mais nada para fazer,além das palavras cruzadas e outras coisas do género,como ler continhos,quaisquer que sejam,mesmo os de jornais de contentores de lixo,já andarão muito desconfiados. Ali deve andar trapaça,e da grossa. Deve lá andar por "digital libraries",em chinês ou numa língua morta,e vá de traduzir,muito mal,certamente,mas muito poucos dariam por isso,pois andam lá muito preocupados com coisas sérias. E é o que vale ao fóssil da primeira geração,se não já andaria a cumprir pesada pena,por falta tão grave.
Pois é capaz de o pobre velho ir desta para melhor a sonhar que irá fazer o mesmo lá para cima ou lá para baixo,tanto faz,que vai tudo dar ao mesmo. Ele também já está por tudo,é o que lhe vale.
Uma condenação,está bem de ver,que não lembraria ao diabo mais diabo. Mas ela aí está,com todas as letras e mais algumas,de reserva. São continhos e mais continhos,uma verdadeira praga,para a qual não apareceu ainda tratamento eficaz. E o que ainda lá se encontra no baú? Ele não devia revelar tal coisa,pois que já anda para aí muita gente incomodada,mas saiu-lhe,pede muita desculpa. Para outra vez,vai lembrar-se. De resto,o segredo é a alma do negócio,segundo se ouve já ha muito,pelo que deve ser verdade.
Alguns daqueles que não têm mais nada para fazer,além das palavras cruzadas e outras coisas do género,como ler continhos,quaisquer que sejam,mesmo os de jornais de contentores de lixo,já andarão muito desconfiados. Ali deve andar trapaça,e da grossa. Deve lá andar por "digital libraries",em chinês ou numa língua morta,e vá de traduzir,muito mal,certamente,mas muito poucos dariam por isso,pois andam lá muito preocupados com coisas sérias. E é o que vale ao fóssil da primeira geração,se não já andaria a cumprir pesada pena,por falta tão grave.
Pois é capaz de o pobre velho ir desta para melhor a sonhar que irá fazer o mesmo lá para cima ou lá para baixo,tanto faz,que vai tudo dar ao mesmo. Ele também já está por tudo,é o que lhe vale.
UMA JURA
Fora dali que ele saltara? O homem olhava,muito admirado,para o topo do muro do presídio. E não partira uma perna,ou as duas,que seria o mais certo? O que se sabia é que não quebrara osso,nem se magoara por aí além,pois rapidamente fugira dali,como se fosse perseguido por mil demónios,com destino bem marcado.
Coitado dele,tinha pisado o risco lá na tropa,talvez sem querer,que as coisas,por vezes,
acontecem,sem se saber como e porquê,e,para emenda,receitaram-lhe internamento
prolongado naquela masmorra. Mas logo que entrara,teria feito uma jura,uma jura para valer. Aqui é que eu não vou ficar o tempo que eles determinaram,que teria achado exagerado.
Nunca se soube como aquilo se passara,um feito dos grandes. É que o muro se alto era de fora,de dentro não o era menos. Havia também sentinelas,supostamente de olhos bem abertos.. O certo é que numa noite,muito provavelmente sem lua,que todos os cuidados são poucos,transpôs a séria barreira,e,depois,chegado ao chão,ala que se faz tarde.
A santa terrinha não estava longe e nela moravam os pais e a namorada. Aquilo deve ter sido uma grande surpresa,pelo menos. Teve tempo de matar saudades. Mas só isso,pois contra a vontade dele,e dos seus,certamente,alguém,que lhe adivinhara as intenções,se encarregou de o trazer,de novo,para aquele casarão sinistro
Coitado dele,tinha pisado o risco lá na tropa,talvez sem querer,que as coisas,por vezes,
acontecem,sem se saber como e porquê,e,para emenda,receitaram-lhe internamento
prolongado naquela masmorra. Mas logo que entrara,teria feito uma jura,uma jura para valer. Aqui é que eu não vou ficar o tempo que eles determinaram,que teria achado exagerado.
Nunca se soube como aquilo se passara,um feito dos grandes. É que o muro se alto era de fora,de dentro não o era menos. Havia também sentinelas,supostamente de olhos bem abertos.. O certo é que numa noite,muito provavelmente sem lua,que todos os cuidados são poucos,transpôs a séria barreira,e,depois,chegado ao chão,ala que se faz tarde.
A santa terrinha não estava longe e nela moravam os pais e a namorada. Aquilo deve ter sido uma grande surpresa,pelo menos. Teve tempo de matar saudades. Mas só isso,pois contra a vontade dele,e dos seus,certamente,alguém,que lhe adivinhara as intenções,se encarregou de o trazer,de novo,para aquele casarão sinistro
MISTÉRIO INSONDÁVEL
Fora um golpe de mestre. O moço só mais tarde se apercebeu. De princípio,fragilizado como andava,não estava em condições de ver claro. Até agradeceu a oferta,pois vinha-lhe resolver alguns problemas. A pouco e pouco,foi,porém,juntando peças. As tarefas de que o encarregaram podiam ter sido dispensadas ou proteladas. Parecia coisa para empatar,para entreter. Afinal,não valera muito a pena ter mudado.Não era ainda o trabalho que o deixava satisfeito. Mas não tinha outro remédio senão resignar-se,ter paciência,à espera de melhores dias.
Qual teria sido a motivação do chamamento? O que estava executando podia ter sido realizado por outros,que os havia,pois não requeria especial preparação. Portanto,não teria sido essa a causa. Um simples capricho de ocasião? Tratar-se-ia,talvez,também,de uma questão de simpatia. De início,ainda pensou nesse motivo,mas rapidamente o pôs de lado,pois o tratamento passou a ser tudo menos amistoso,em que se sucediam impertinências,asperezas,o que o levou,
até,a querer abandonar o barco,pois tal navegação não convinha a ninguém. Mas para onde,se não via outro por perto.
Porque se criara tal situação? Que teria feito, ou omitido,ou ignorado? Dava tratos o pobre moço à cabeça,mas não atinava com uma saída capaz. E assim permaneceu,pois da parte contrária não veio uma explicação,nem ela foi pedida. Deixou,simplesmente,de contar. E para ali ficou,como se não existisse. O que teria acontecido? Mais outro mistério insondável.
Qual teria sido a motivação do chamamento? O que estava executando podia ter sido realizado por outros,que os havia,pois não requeria especial preparação. Portanto,não teria sido essa a causa. Um simples capricho de ocasião? Tratar-se-ia,talvez,também,de uma questão de simpatia. De início,ainda pensou nesse motivo,mas rapidamente o pôs de lado,pois o tratamento passou a ser tudo menos amistoso,em que se sucediam impertinências,asperezas,o que o levou,
até,a querer abandonar o barco,pois tal navegação não convinha a ninguém. Mas para onde,se não via outro por perto.
Porque se criara tal situação? Que teria feito, ou omitido,ou ignorado? Dava tratos o pobre moço à cabeça,mas não atinava com uma saída capaz. E assim permaneceu,pois da parte contrária não veio uma explicação,nem ela foi pedida. Deixou,simplesmente,de contar. E para ali ficou,como se não existisse. O que teria acontecido? Mais outro mistério insondável.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
OS TEMPOS MUDARAM
Que tempos aqueles,ainda bem que se foram de vez. Como é que as pessoas se haviam de entender com uns tão fortes exemplos? Estava-se mesmo a ver que não podiam,e era uma grande desgraça o que por lá ia.
Então,não é que se faziam alianças entre duas ou mais famílias,conforme o que por lá ia,ou não ia,só para contrariar as pretensões de uma outra,ou mais? Mais ainda,chegaram a fazer-se alianças entre inimigos declarados,só para cortar as voltas a um outro,que era inimigo dos dois.
Uma coisa destas não lembraria ao diabo mais diabo,mas era assim,não havia nada a fazer,a não ser esperar que os tempos mudassem,como mudaram,felizmente,que já não era sem tempo.
Então,não é que se faziam alianças entre duas ou mais famílias,conforme o que por lá ia,ou não ia,só para contrariar as pretensões de uma outra,ou mais? Mais ainda,chegaram a fazer-se alianças entre inimigos declarados,só para cortar as voltas a um outro,que era inimigo dos dois.
Uma coisa destas não lembraria ao diabo mais diabo,mas era assim,não havia nada a fazer,a não ser esperar que os tempos mudassem,como mudaram,felizmente,que já não era sem tempo.
TRISTEZA INCONTIDA
A senhora não sabe ler? A tal pergunta,ainda por cima com a pena em que ela vinha envolvida,
era de se ver o que estava ocorrendo. Pois era uma pobre senhora que tinha ainda bons olhos para ler,mas que não era capaz de ler. A tristeza incontida,uma expontânea,outra de contágio,que se derramou por ali,que o mal era daqueles de se querer pegar. A senhora não sabia ler. Coitada dela. Alguns diriam que não,que haveria pior.
era de se ver o que estava ocorrendo. Pois era uma pobre senhora que tinha ainda bons olhos para ler,mas que não era capaz de ler. A tristeza incontida,uma expontânea,outra de contágio,que se derramou por ali,que o mal era daqueles de se querer pegar. A senhora não sabia ler. Coitada dela. Alguns diriam que não,que haveria pior.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
SERIAM ASSIM OS LÁ DA GRÉCIA?
É isto um supor. Suponhamos que não havia medalhas,nem de ouro,nem de prata,nem de cobre,nem,até,de cortiça,daquela de sobreiro,ou de qualquer coisa a imitar. Suponhamos. Havia,apenas,um saquinho de rebuçados ou coisa equivalente,que a vida não está para luxos. Mas não eram só saquinhos para o trio da frente,não,cada um que lá fosse levava o seu,mas todos iguais,para se não ficarem a rir uns dos outros.
Os que ganhavam,os três primeiros,não ficariam esquecidos,pois a história registaria. Em tal sítio ,em tal data,em tal modalidade,fulana ou fulano,primeiro as senhoras,que assim é que é bonito,ficou em primeiro,em segundo,em terceiro,às vezes,por uma unha,por não ter sido cortada,mas paciência,para a outra vez ainda a trago maior.
Continuando no supor,aquilo seria uma grande festa,nada parecida com as lá dos gregos,que andavam sempre à zaragata,por dá cá aquele vale ou aquele monte. Sim,porque o que importa é estar presente,ou não será assim? Os Diágoras,que tivessem lá os filhos,podiam ser comparados a deuses.
Mas deixando de supor,que a realidade é a realidade,o resto são conversas tontas. E,para começar,tem de se dizer que tudo ou quase tudo que ficou para trás são tretas. Medalhas,são medalhas,e o primeiro não é o último,ou o contrário. O primeiro é o primeiro e todos querem estar lá em primeiro,caso contrário não iam lá. Só os anjinhos é que não,mas,feliz ou infelizmente,já não há,aconteceu-lhes como ao saudoso Dodó. Sumiram-se.
Agora,os primeiros. Já viram bem aquelas caras,sobretudo do primeiro,aquele que se suplantou a ele mesmo,por um centésimo de segundo? Um dia,ainda ficam ali,não do esforço,mas do êxtase. Sou o primeiro no mundo. Aqueles olhos,aqueles esgares,não são dele,aquilo é o diabo. Que rico sítio o raio de diabo encontrou para se pavonear,que o diabo também é desses.Pela-se.
Depois,os fotógrafos,ou lá quem são, são mesmo amigos da onça. Não lhes escapa nada,até parece que adivinham. Mas eles sabem-na toda,registam tudo,segundo a segundo,ou muito menos. E assim,lá apanham aqueles olhos,aquelas bocas,aqueles gestos,que,verdadeiramente,não são de primeiro,mas de último.
E depois ainda. As horas que ali estão investidas. Qual amadorismo,qual carapuça? Aquilo são uns profissionais a tempo inteiro. Quase não fazem outra coisa,coitados. Uns escravos,quase. Escravos deles mesmos,do país que representam. É aquilo desporto? É,parece,sobretudo,nacionalismo,talvez exacerbado. Se não ficarem em primeiro é como que uma morte,dele e não se sabe mais de quem. Seriam assim os lá Grécia,em que estes se inspiram?
Os que ganhavam,os três primeiros,não ficariam esquecidos,pois a história registaria. Em tal sítio ,em tal data,em tal modalidade,fulana ou fulano,primeiro as senhoras,que assim é que é bonito,ficou em primeiro,em segundo,em terceiro,às vezes,por uma unha,por não ter sido cortada,mas paciência,para a outra vez ainda a trago maior.
Continuando no supor,aquilo seria uma grande festa,nada parecida com as lá dos gregos,que andavam sempre à zaragata,por dá cá aquele vale ou aquele monte. Sim,porque o que importa é estar presente,ou não será assim? Os Diágoras,que tivessem lá os filhos,podiam ser comparados a deuses.
Mas deixando de supor,que a realidade é a realidade,o resto são conversas tontas. E,para começar,tem de se dizer que tudo ou quase tudo que ficou para trás são tretas. Medalhas,são medalhas,e o primeiro não é o último,ou o contrário. O primeiro é o primeiro e todos querem estar lá em primeiro,caso contrário não iam lá. Só os anjinhos é que não,mas,feliz ou infelizmente,já não há,aconteceu-lhes como ao saudoso Dodó. Sumiram-se.
Agora,os primeiros. Já viram bem aquelas caras,sobretudo do primeiro,aquele que se suplantou a ele mesmo,por um centésimo de segundo? Um dia,ainda ficam ali,não do esforço,mas do êxtase. Sou o primeiro no mundo. Aqueles olhos,aqueles esgares,não são dele,aquilo é o diabo. Que rico sítio o raio de diabo encontrou para se pavonear,que o diabo também é desses.Pela-se.
Depois,os fotógrafos,ou lá quem são, são mesmo amigos da onça. Não lhes escapa nada,até parece que adivinham. Mas eles sabem-na toda,registam tudo,segundo a segundo,ou muito menos. E assim,lá apanham aqueles olhos,aquelas bocas,aqueles gestos,que,verdadeiramente,não são de primeiro,mas de último.
E depois ainda. As horas que ali estão investidas. Qual amadorismo,qual carapuça? Aquilo são uns profissionais a tempo inteiro. Quase não fazem outra coisa,coitados. Uns escravos,quase. Escravos deles mesmos,do país que representam. É aquilo desporto? É,parece,sobretudo,nacionalismo,talvez exacerbado. Se não ficarem em primeiro é como que uma morte,dele e não se sabe mais de quem. Seriam assim os lá Grécia,em que estes se inspiram?
ATÉ UM DIA
Naqueles antigos tempos,que,felizmente,não mais voltaram,eles,os tempos,bem sabiam porquê,aconteciam coisas muito estranhas,que não lembrariam ao diabo mais diabo,sim,porque há diabos,e diabos,toda a gente o sabia,naqueles tempos.
Ia-se lá entender uma coisa daquelas. Quando eram os verdes a mandarem,aqui d'el-rei,ou coisa parecida,que assim não se podia viver como devia ser,estava tudo pela hora da morte. Quando eram os amarelos a fazer o mesmo,quer dizer,a mandarem,que há moralidade,ou comem todos,aqui d'el-rei,ou coisa parecida,que assim não se podia viver,que era um sufoco,que dantes é que era bom.
Ia-se lá entender uma coisa daquelas. Felizmente,as coisas mudaram muito,a partir de certa altura,vá-se lá saber porquê,coisas que aconteciam,talvez por acaso,ou por outra intervenção,quiçá misteriosa,do diabo ou não,pois diziam por lá que não havia só diabos,não se sabia era o que era.
Mas mudaram assim tanto? Era bem evidente que mudaram. Às segundas,quartas e sextas mandavam os verdes,às terças,quintas e sábados mandavam os amarelos. Quanto aos domingos,era domingo,sim,domingo,não. O certo é que ficou tudo satisfeito,até um dia.
Ia-se lá entender uma coisa daquelas. Quando eram os verdes a mandarem,aqui d'el-rei,ou coisa parecida,que assim não se podia viver como devia ser,estava tudo pela hora da morte. Quando eram os amarelos a fazer o mesmo,quer dizer,a mandarem,que há moralidade,ou comem todos,aqui d'el-rei,ou coisa parecida,que assim não se podia viver,que era um sufoco,que dantes é que era bom.
Ia-se lá entender uma coisa daquelas. Felizmente,as coisas mudaram muito,a partir de certa altura,vá-se lá saber porquê,coisas que aconteciam,talvez por acaso,ou por outra intervenção,quiçá misteriosa,do diabo ou não,pois diziam por lá que não havia só diabos,não se sabia era o que era.
Mas mudaram assim tanto? Era bem evidente que mudaram. Às segundas,quartas e sextas mandavam os verdes,às terças,quintas e sábados mandavam os amarelos. Quanto aos domingos,era domingo,sim,domingo,não. O certo é que ficou tudo satisfeito,até um dia.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
QUANDO EU QUERO
Até onde chega a sobrançaria dos soberbos,dos suficientes,dos que têm o rei na barriga. Sentem-se lá muito em cima,como que fazendo parte dos eleitos,fazem constar que andam nas boas graças dos senhores deste mundo e do outro. A variedade de exibições é enorme,tudo lhes servindo,até jogadas baixas,até tiradas ridículas. Depois,têm reações que não vêm nada a propósito,caem ali ,como podiam ter caído noutro sítio,são postas a circular,mas não fazem parte do jogo,foi o que lhes veio à cabeça,que de boca calada é que eles não podem estar,que lá se ía a posição cimeira,onde eles têm de figurar pelos seus muitos feitos. Mas basta de esticar o pano,pois o que já está à vista serve muito bem,nem era preciso tanto.
E foi assim o caso. Então,não te decides? Olha que depois faz-se tarde. E o que já perdeste. Eu,perder? Não me conheces,está-se mesmo a ver. Eu,perder? Nunca tal me sucedeu. Sempre a ganhar,é esse o meu jeito,é esse o meu estar. Perder é assim para tipos como tu,que andam lá pelas nuvens,até quando elas se foram. Perder,eu. Olha, acabei mesmo de fazer um negócio que me vai render cem por um. É para que saibas. Não preciso nada dessas novidades que há agora para aí. Eu,perder.Dá-me uma vontade de rir, que nem tu calculas. Era capaz de ficar aqui a rir até o sol se pôr,que esse também é cá das minhas amizades. Brilha quando eu quero,e faz outras coisas mais, também quando eu quero.
E foi assim o caso. Então,não te decides? Olha que depois faz-se tarde. E o que já perdeste. Eu,perder? Não me conheces,está-se mesmo a ver. Eu,perder? Nunca tal me sucedeu. Sempre a ganhar,é esse o meu jeito,é esse o meu estar. Perder é assim para tipos como tu,que andam lá pelas nuvens,até quando elas se foram. Perder,eu. Olha, acabei mesmo de fazer um negócio que me vai render cem por um. É para que saibas. Não preciso nada dessas novidades que há agora para aí. Eu,perder.Dá-me uma vontade de rir, que nem tu calculas. Era capaz de ficar aqui a rir até o sol se pôr,que esse também é cá das minhas amizades. Brilha quando eu quero,e faz outras coisas mais, também quando eu quero.
ERAM ÚNICOS
Depois,havia uns que,pela maneira como falavam,como escreviam,ninguém teria motivos para os levar presos,um modo de dizer. Eram exemplares,eram únicos,melhores,só de encomenda.
Outros, eram isto e mais aquilo,uns larápios,uns sem vergonha,não se sabia como ainda não tinham sido engaiolados. Não se encontrava pior. Deviam passar uns largos tempos lá na cadeia,para aprenderem com os tais,os sem par.
E não se cansavam de falar,de dizer,como só eles sabiam,talvez por não darem conta,tão enamorados estavam de si mesmos,que já muito poucos os levavam a sério. Coitados,dera-lhes para ali,não havendo nada a fazer. De resto,era daquilo que viviam,por não saberem fazer outra coisa.
Já fora isso castigo,sabe-se lá de quem,que há coisas muito misteriosas. Se calhar,deles mesmos,vítimas de si mesmos,o que não era para admirar,porque eles tinham artes,eram únicos.
Outros, eram isto e mais aquilo,uns larápios,uns sem vergonha,não se sabia como ainda não tinham sido engaiolados. Não se encontrava pior. Deviam passar uns largos tempos lá na cadeia,para aprenderem com os tais,os sem par.
E não se cansavam de falar,de dizer,como só eles sabiam,talvez por não darem conta,tão enamorados estavam de si mesmos,que já muito poucos os levavam a sério. Coitados,dera-lhes para ali,não havendo nada a fazer. De resto,era daquilo que viviam,por não saberem fazer outra coisa.
Já fora isso castigo,sabe-se lá de quem,que há coisas muito misteriosas. Se calhar,deles mesmos,vítimas de si mesmos,o que não era para admirar,porque eles tinham artes,eram únicos.
MANCHAS DOLOROSAS
O que lhe interessava a ele era tudo menos as pessoas,todas as pessoas,poque para ele,com a idade,mas mais com a experiência que tivera a sorte,ou o azar,conforme o canto em que se pusesse,de ter,eram todas iguais,sem tirar,nem pôr.
O que lhe interessava era tudo quanto estava para além das pessoas,que era muito,que era imenso,tão imenso,e tão variado,e tão rico,que só uma pequenina fracção podia bisbilhotar. Bisbilhotar,dizia bem,porque a maior parte dela ficar-lhe-ia para sempre vedado. E isso para ele punha-o em estado de êxtase,como se estivesse diante de uma maravilha sem igual.
Uma maravilha multifacetada,com quadros,às vezes,que o levavam a ficar triste,porque achá-los-ia estarem ali a mais,a estragar a paisagem. Mas o que sabia ele daquela paisagem,como aparecera ela ali,para que serviria ela,na realidade,e porque haveria ela de ter essas manchas dolorosas?
O que lhe interessava era tudo quanto estava para além das pessoas,que era muito,que era imenso,tão imenso,e tão variado,e tão rico,que só uma pequenina fracção podia bisbilhotar. Bisbilhotar,dizia bem,porque a maior parte dela ficar-lhe-ia para sempre vedado. E isso para ele punha-o em estado de êxtase,como se estivesse diante de uma maravilha sem igual.
Uma maravilha multifacetada,com quadros,às vezes,que o levavam a ficar triste,porque achá-los-ia estarem ali a mais,a estragar a paisagem. Mas o que sabia ele daquela paisagem,como aparecera ela ali,para que serviria ela,na realidade,e porque haveria ela de ter essas manchas dolorosas?
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
UM INGRATO
O homem não devia estar bom da cabeça. Naquela manhã trouxera farda para o trabalho. Então ,onde é hoje a parada? Olhe que a vai sujar,ou, até, romper. Não importa,tenho lá outra. Sabe,é para poupar a roupa,que não abunda. Sempre serve,assim,para alguma coisa.
Um ingrato.este homem. Com farda ou sem ela, era o que lhe valia. À sua sombra, caçara algumas vezes na coutada.
Um ingrato.este homem. Com farda ou sem ela, era o que lhe valia. À sua sombra, caçara algumas vezes na coutada.
SABE-SE LÁ
Há personalidades que fazem lembrar um dos anões da história da Branca de Neve e os Sete Anões. Sempre zangadas,sempre rabugentas,sempre impertinentes.
Elas,no fundo,não são más pessoas,sendo,até,muito inteligentes,muito sabedoras. Sabe-se lá porque se mostram assim sempre zangadas,rabugentas,impertinentes,sabe-se lá. Alguma coisa lhes terão feito,a elas,ou a alguém da sua ascendência,para assim serem,ou,pelo menos,se
mostrarem,sabe-se lá. Acontece tanta coisa por aí,tanta coisa má,que ninguém está livre de,um dia,ou mais,dela ser padecente.
O certo é que lhes dá,a cada passo,para baterem, forte e feio,neste e naquele. O certo é que lhes dá,a cada passo, para contrariarem este e aquele,o certo é que lhes dá para nunca largarem aquela cara de zangadas, de rabugentas. Alguma coisa lhes fizeram,a elas,ou a alguém da sua ascendêcia,sabe-se lá,sabe-se lá.
Elas,no fundo,não são más pessoas,sendo,até,muito inteligentes,muito sabedoras. Sabe-se lá porque se mostram assim sempre zangadas,rabugentas,impertinentes,sabe-se lá. Alguma coisa lhes terão feito,a elas,ou a alguém da sua ascendência,para assim serem,ou,pelo menos,se
mostrarem,sabe-se lá. Acontece tanta coisa por aí,tanta coisa má,que ninguém está livre de,um dia,ou mais,dela ser padecente.
O certo é que lhes dá,a cada passo,para baterem, forte e feio,neste e naquele. O certo é que lhes dá,a cada passo, para contrariarem este e aquele,o certo é que lhes dá para nunca largarem aquela cara de zangadas, de rabugentas. Alguma coisa lhes fizeram,a elas,ou a alguém da sua ascendêcia,sabe-se lá,sabe-se lá.
ÁGUA LÍMPIDA
Ali estava ele,frente a uma muito bem composta plateia,dizendo coisas,algumas de escaldar,
mesmo peles mais causticadas. Ele,até,nem se arrependia de nada do que tinha feito ou consentido,voltando a proceder tal e qual,se,acaso,o tempo recuasse.
Tinham decorrido uns bons pares de anos desde esses tempos triunfais,em que pontificara. Pudera refletir veses sem conta,mas nem uma vez sequer dera parte de fraco. A consciência não lhe pesava,nada lhe toldava o espírito,que se sentia leve como antes,como sempre.
Completara mais um livro,na esteira de outros,e um novo estava na forja. Aquilo era uma fonte inesgotável,um caudal de água límpida a verter-se por regiões aplanadas,sem uma ruga,uma alverca,uma lagoa estagnada. As feições destilavam bem-estar,sossego,felicidade. Os muitos anos não lhe pesavam,nem as ações. Coerência,acima de tudo.
Os criticos eram uns exagerados. Quando estão em causa os valores perenes,sagrados da grei,não há lugar para tibiezas,pieguices,escrúpulos,essas coisas mesquinhas que só emergem nos fracos,nos tímidos,dos quais não reza a história. E ele fazia parte dela,tinha sido,também,seu arquiteto.
Uma coisa,porém,é,igualmente,certa. Nessa história,outras grandes figuras lá figuram,figuras de todos os quadrantes,pois seria uma grande sensaboria se apenas a um pertencessem. Mas talvez se possa dizer que alguns,pelo menos,sofreram arrependimentos. Ele não,nunca,se arrependeria.
mesmo peles mais causticadas. Ele,até,nem se arrependia de nada do que tinha feito ou consentido,voltando a proceder tal e qual,se,acaso,o tempo recuasse.
Tinham decorrido uns bons pares de anos desde esses tempos triunfais,em que pontificara. Pudera refletir veses sem conta,mas nem uma vez sequer dera parte de fraco. A consciência não lhe pesava,nada lhe toldava o espírito,que se sentia leve como antes,como sempre.
Completara mais um livro,na esteira de outros,e um novo estava na forja. Aquilo era uma fonte inesgotável,um caudal de água límpida a verter-se por regiões aplanadas,sem uma ruga,uma alverca,uma lagoa estagnada. As feições destilavam bem-estar,sossego,felicidade. Os muitos anos não lhe pesavam,nem as ações. Coerência,acima de tudo.
Os criticos eram uns exagerados. Quando estão em causa os valores perenes,sagrados da grei,não há lugar para tibiezas,pieguices,escrúpulos,essas coisas mesquinhas que só emergem nos fracos,nos tímidos,dos quais não reza a história. E ele fazia parte dela,tinha sido,também,seu arquiteto.
Uma coisa,porém,é,igualmente,certa. Nessa história,outras grandes figuras lá figuram,figuras de todos os quadrantes,pois seria uma grande sensaboria se apenas a um pertencessem. Mas talvez se possa dizer que alguns,pelo menos,sofreram arrependimentos. Ele não,nunca,se arrependeria.
SOBRE COMBUSTÃO INCOMPLETA DE MATÉRIA ORGÂNICA
Numa combustão completa de matéria orgânica,o produto final,no que ao carbono diz respeito, é,como se sabe, o dióxido de carbono. No geral,porém,o que ocorre são combustões incompletas. Assim,para além do dióxido de carbono,há lugar para se formar uma série de outros compostos,nos quais se contam o indesejável monóxido de carbono,partículas de carvão indutoras de "smog" e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos,como o benzopireno,muito prejudicial à saúde. Do conjunto de fontes destes produtos,contam-se as queimadas,os incêndios,os cozinhados,o fabrico de carvão vegetal,a incineração de resíduos e o fumo do tabaco.
VOZES E RISADAS
Tinham nascido ali. Por ali tinham andado,primeiro,às costas das mães,depois,com as da sua idade,em grupos,nas brincadeiras de sempre. Ele não as via,mas sabia que andavam por lá,escondidas pelo capim alto,detrás das árvores,no meio dos esparsos milharais. Acompanhavam-no,nas deambulações com o Armando,primo de todas elas,incapazes ou interditas de se mostrarem.
O mata-bicho vinha ter com ele,que o trabalho obrigava a madrugar. O Armando encarregava-se das sobras,numa ação de partilha. Ouvia-lhes as vozes e as risadas,e chegava-lhe o aroma de maçarocas assadas.
A tarefa recomeçava,de uma cova para outra. Que andaria aquele a fazer? Para que diabo seria aquilo? Coisa esquisita. O homem devia ser bruxo. Como tal,só longe dele. Era capaz de as encantar,como fizera com o primo,que não queria outra companhia. Ter-lhe-iam recomendado,certamente,que tivessem muito cuidado com ele.
O mata-bicho vinha ter com ele,que o trabalho obrigava a madrugar. O Armando encarregava-se das sobras,numa ação de partilha. Ouvia-lhes as vozes e as risadas,e chegava-lhe o aroma de maçarocas assadas.
A tarefa recomeçava,de uma cova para outra. Que andaria aquele a fazer? Para que diabo seria aquilo? Coisa esquisita. O homem devia ser bruxo. Como tal,só longe dele. Era capaz de as encantar,como fizera com o primo,que não queria outra companhia. Ter-lhe-iam recomendado,certamente,que tivessem muito cuidado com ele.
TAMBÉM ERA CAPAZ
Armando,o companheiro de aventuras,num tempo perdido. Mais uma vez surge ele. Já era ele a dar o nome lá à terra que pisava. Aprendeu depressa. Aquilo divertia-o,dava-lhe prazer. Também era capaz. Nunca teria pensado que valia assim tanto.
E por assim ser,teve de pagar um objeto,em vez de o ter de graça. Nada de esmolas. Foi isso mal interpretado,não por ele,mas por outrem. Maneiras de estar muito diferentes,afinal,a biodiversidade dos comportamentos.
E por assim ser,teve de pagar um objeto,em vez de o ter de graça. Nada de esmolas. Foi isso mal interpretado,não por ele,mas por outrem. Maneiras de estar muito diferentes,afinal,a biodiversidade dos comportamentos.
AMIGOS
Já se não viam há um ror de anos e acabavam de se cruzar lá no cabo do mundo. Ainda bem que te encontro,pois para onde vais aquilo que eu quero é muito mais barato. Aqui pedem um dinheirão. Não sei se nos veremos,quando do teu regresso,mas depois eu procuro-te. O que é preciso é que não te esqueças. Olha que os amigos são para as ocasiões. Se falhares,nunca mais te falo. E pouco mais disse,que estava com muita pressa.
Não se esquecera,mas nada feito,não importa as razões. Dois anos passados,voltaram a cruzar-se. Então,cumpriste? Lá ouviu a resposta,que o deixou muito zangado. Era então assim que se cuidava dos amigos?
Como é bem sabido,alguns só invocam a amizade para receber prendas. Quanto a oferecê-las,não,que isso custa. No que toca à ameaça,ela,a bem dizer,já se tinha concretizado.
Não se esquecera,mas nada feito,não importa as razões. Dois anos passados,voltaram a cruzar-se. Então,cumpriste? Lá ouviu a resposta,que o deixou muito zangado. Era então assim que se cuidava dos amigos?
Como é bem sabido,alguns só invocam a amizade para receber prendas. Quanto a oferecê-las,não,que isso custa. No que toca à ameaça,ela,a bem dizer,já se tinha concretizado.
domingo, 17 de janeiro de 2016
SUA MAGESTADE O UMBIGO
Não há nada a fazer. Ah ,estes narcisos ou narcisas,de hoje ou de ontem. É o egoísmo que prevalece,que triunfa,que tudo abafa,o egoísmo em estado puro. É um estar voltado,sempre,para o umbigo próprio,o umbigo-rei,ou rainha,o umbigo-imperador,ou imperatriz. Sua Magestade O Umbigo. O horizonte termina ali,no umbigo,seu ou sua. Haverá excpções? Com certeza. São os néscios,ou as néscias,e os,ou as mártires. Uns,ou umas,e outros,ou outras,não têm cura,nasceram assim,finar-se-ão assim. Adeus,adeus,que tão bem ficavam na paisagem.
Mas o mundo anda,não se sabe bem,se para a frente,ou se para trás. Anda,que bem se vê.É o umbigo todo-poderoso de qualquer um a puxar,para a frente,ou para trás,sabe-se lá. Não se passa disto,para o bem,ou para o mal,venha o diabo que diga. É uma sina,uma fatalidade,é o diabo,outra vez.
Ainda há poucochinho calhou estar ao pé de um caso paradigmático,para se empregar um palavrão,daqueles de que certos umbigos,umbigos que muito se prezem,adoram.
Eram duas velhas amigas,amigas do coração,constava,que se não viam há um ror de tempo. As saudades,de ambos os lados que por ali iam,só visto,se as saudades se pudessem ver. E uma delas,não suportando mais aquela dolorosa ausência,foi visitar a outra. Tinham vivido uma carrrada de coisas em comum,lá no passado distante,onde ele já ia,andaria para aí ,perdido,coitado dele.
Pois foi um monopolizar do riquinho tempo por uma delas. A outra parecia não estar ali,ou estava só para ver a caravana passar. E que vistosa caravana era ela. Foi uma enxurrada de feitos avassaladora,de estarrecer,de ficar de boca aberta para sempre,a varrer,a submergir,a reduzir a outra a zero.
Pertencia a uma família de primeira,privilegiada. A coisa vinha das origens,talvez em linha reta,sem qualquer mistura,no muito já longo percurso,desde o primeiro par. E tinha sido sempre um apurar,um refinar,sem quebras . Os filhos eram melhores do que os pais,estes muito melhores do que os avós. Era,em suma,uma famíla genial. E o que havia ainda de suceder. Era um deleite,um saborear de coisas boas,de coisas únicas.
De arrasar. A outra ainda tentou,timidamente,estancar aquela enxurrada,mas, pobre dela,foi estar a chover no molhado. E a açambarcadora,a narcisa,lá se foi,sem tocar,ao de leve que fosse,num pormenorzinho,do seu estendido passado em comum.
Mas o mundo anda,não se sabe bem,se para a frente,ou se para trás. Anda,que bem se vê.É o umbigo todo-poderoso de qualquer um a puxar,para a frente,ou para trás,sabe-se lá. Não se passa disto,para o bem,ou para o mal,venha o diabo que diga. É uma sina,uma fatalidade,é o diabo,outra vez.
Ainda há poucochinho calhou estar ao pé de um caso paradigmático,para se empregar um palavrão,daqueles de que certos umbigos,umbigos que muito se prezem,adoram.
Eram duas velhas amigas,amigas do coração,constava,que se não viam há um ror de tempo. As saudades,de ambos os lados que por ali iam,só visto,se as saudades se pudessem ver. E uma delas,não suportando mais aquela dolorosa ausência,foi visitar a outra. Tinham vivido uma carrrada de coisas em comum,lá no passado distante,onde ele já ia,andaria para aí ,perdido,coitado dele.
Pois foi um monopolizar do riquinho tempo por uma delas. A outra parecia não estar ali,ou estava só para ver a caravana passar. E que vistosa caravana era ela. Foi uma enxurrada de feitos avassaladora,de estarrecer,de ficar de boca aberta para sempre,a varrer,a submergir,a reduzir a outra a zero.
Pertencia a uma família de primeira,privilegiada. A coisa vinha das origens,talvez em linha reta,sem qualquer mistura,no muito já longo percurso,desde o primeiro par. E tinha sido sempre um apurar,um refinar,sem quebras . Os filhos eram melhores do que os pais,estes muito melhores do que os avós. Era,em suma,uma famíla genial. E o que havia ainda de suceder. Era um deleite,um saborear de coisas boas,de coisas únicas.
De arrasar. A outra ainda tentou,timidamente,estancar aquela enxurrada,mas, pobre dela,foi estar a chover no molhado. E a açambarcadora,a narcisa,lá se foi,sem tocar,ao de leve que fosse,num pormenorzinho,do seu estendido passado em comum.
PARA SEMPRE
Ele era um Zé Ninguém,ele dizia que,ainda que tivesse nascido com apenas um tudo nada de compreensão,de que não tinha culpa,estava mais que sabido,não sendo,portanto,filósofo,cientista,escritor,o que se quisesse do melhor,como muitos que tinha havido,e havia,não compreendia como é que alguém,sobretudo,um desses filósofos,cientistas,escritores de primeira linha,se atrevesse a negar a existência de um Criador.
E isso,perante a grandeza,a complexidade,a beleza da Criação. E isso, porque ele não se fizera,sendo,portanto,um ser casual,fruto de outras casualidades. Viera ao mundo,simplesmente,como podia ter lá ficado,não se sabia onde,e como.
Ele não compreendia como era isso possível,essa redonda negação. Ele,com o seu um tudo nada de compreensão,não podia provar a existência desse Criador,era bem certo,mas não se atrevia a afirmar a sua não existência.
Ele admitia que para a não existência havia algumas indicações ,certamente
fortes,como a aparente impassividade diante das muitas desgraças de todos os dias,desde sempre,assim se podia dizer,para mais,muitas vezes,por via de crentes no Criador,uma clamorosa contradição.
Mas isso,no seu um tudo nada de compreensão,não adiantava,pela razão simples de não se saber quem era esse Criador,o que é que Ele pensava,que ideia tinha Ele. Que ideia tinha Ele do homem,se o homem não era para Ele mais do que um outro ser qualquer.
O que ele sentia,um Zé Ninguém,com o seu um tudo nada de compreensão, era ser parte de uma Obra Imensa,atravancada de coisas,milhões e milhões delas,que eram planetas,estrelas,galáxias,buracos escuros,matéria
escura,um sem fim de coisas,a muitos anos de luz umas das outras.
Era ele um Zé Ninguém,e também quase assim um desses filósofos,cientistas,
escritores,ainda que de primeira linha. A propósito de cientistas,ele,um Zé Ninguém,estava-lhes muito agradecido, por não se cansarem de vasculhar a Obra do Criador. Que eles nunca se cansassem era o que ele mais desejava,escusado seria acrescentar.
Depois,voltando às muitas desgraças que tinham acontecido,que estavam a acontecer,e com muita cara de assim continuarem a acontecer,ele,com o seu um tudo nada de compreensão,só via uma saída para lhes pôr um ponto final,de vez,que, para amostra, já chegavam.
Que o Criador,condoído, entristecido,interviesse,para não ter de chegar à conclusão de que "tinha andado a trabalhar para o boneco",aqui na Terra,fazendo que os terrestres se entendessem,caindo nos braços uns dos outros,para sempre.
E isso,perante a grandeza,a complexidade,a beleza da Criação. E isso, porque ele não se fizera,sendo,portanto,um ser casual,fruto de outras casualidades. Viera ao mundo,simplesmente,como podia ter lá ficado,não se sabia onde,e como.
Ele não compreendia como era isso possível,essa redonda negação. Ele,com o seu um tudo nada de compreensão,não podia provar a existência desse Criador,era bem certo,mas não se atrevia a afirmar a sua não existência.
Ele admitia que para a não existência havia algumas indicações ,certamente
fortes,como a aparente impassividade diante das muitas desgraças de todos os dias,desde sempre,assim se podia dizer,para mais,muitas vezes,por via de crentes no Criador,uma clamorosa contradição.
Mas isso,no seu um tudo nada de compreensão,não adiantava,pela razão simples de não se saber quem era esse Criador,o que é que Ele pensava,que ideia tinha Ele. Que ideia tinha Ele do homem,se o homem não era para Ele mais do que um outro ser qualquer.
O que ele sentia,um Zé Ninguém,com o seu um tudo nada de compreensão, era ser parte de uma Obra Imensa,atravancada de coisas,milhões e milhões delas,que eram planetas,estrelas,galáxias,buracos escuros,matéria
escura,um sem fim de coisas,a muitos anos de luz umas das outras.
Era ele um Zé Ninguém,e também quase assim um desses filósofos,cientistas,
escritores,ainda que de primeira linha. A propósito de cientistas,ele,um Zé Ninguém,estava-lhes muito agradecido, por não se cansarem de vasculhar a Obra do Criador. Que eles nunca se cansassem era o que ele mais desejava,escusado seria acrescentar.
Depois,voltando às muitas desgraças que tinham acontecido,que estavam a acontecer,e com muita cara de assim continuarem a acontecer,ele,com o seu um tudo nada de compreensão,só via uma saída para lhes pôr um ponto final,de vez,que, para amostra, já chegavam.
Que o Criador,condoído, entristecido,interviesse,para não ter de chegar à conclusão de que "tinha andado a trabalhar para o boneco",aqui na Terra,fazendo que os terrestres se entendessem,caindo nos braços uns dos outros,para sempre.
MAR DE ROSAS
As coisas iam acontecendo,coisas desagradáveis. Era isso bem conhecido,mas parecia não terem ocorrido. Quer dizer,fazia-se de conta que se navegava num mar de rosas. E lá se ia vivendo,uns dias,melhor,outros,pior.
ARRUMAR A CASA
Rotular é um jeito,parecendo ser ele atávico,uma coisa herdada. Os rótulos vão mudando,assim como uma moda,ao sabor das conveniências. Depois,rotula-se ligeiramente,talvez por se ter mais que fazer,que a vida não é só rotular. Será também uma forma de arrumar a casa,ou, mais concretamente,o visado.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
OS ESTATUTOS
Francisco,não te esqueças,os Estatutos. Iria pensar. Francisco,os Estatutos,apressa-te. Estava a pensar. Francisco,os Estatutos, que estão a ser muito precisos. Olha,já pensei. Afinal,não preciso de os fazer,pois já estão feitos. Tu és meu irmão,e eu sou teu irmão.
INCONSTÂNCIA
Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu !
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava !
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
FLORBELA ESPANCA
Sonetos
35ª Edição
Bertrand Editora
2005
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu !
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava !
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
FLORBELA ESPANCA
Sonetos
35ª Edição
Bertrand Editora
2005
COISAS ASSIM
Como as coisas eram. É que havia por lá umas substâncias que conseguiam dar ferro a comer ,quando ele escasseava,não porque não houvesse,pois até havia muito,às carradas,por assim dizer,mas simplesmente porque não estava em condições de ser comido. Uma coisa destas,ali mesmo à vista,mas era o mesmo que não estar. Havia coisas assim,coisas de muito pensar. E logo haverem essas tais substâncias que eram capazes de levar o ferro à boca de quem dele muito precisava,senão teria de ir desta para melhor. Havia realmente substâncias muito amigas de fazer o bem. Um exemplo,a seguir,ou não,conforme os gostos de cada um.
UM MONTINHO DE TRABALHOS E UMA MONTANHA DE AJUDAS - I
1 - Um caso de carência de manganésio. 1952
2 - Relatório sobre um estudo sumário das deficiências em micronutientes nalgumas regiões do
país. 1952
3 - A rega e o problema dos solos halomórficos na Várzea de Alvalade. 1953
4 - Uma deficiência de manganésio (em colaboração). 1953
5 - Quelatos metálicos no tratamento das deficiências dos elementos mínimos. 1958
2 - Relatório sobre um estudo sumário das deficiências em micronutientes nalgumas regiões do
país. 1952
3 - A rega e o problema dos solos halomórficos na Várzea de Alvalade. 1953
4 - Uma deficiência de manganésio (em colaboração). 1953
5 - Quelatos metálicos no tratamento das deficiências dos elementos mínimos. 1958
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
AGRICULTURA ALTAMENTE PRODUTIVA
-
Como se sabe,florestar,ou conservar a floresta que já existe,são dois dos meios de manter o carbono,por algum tempo,fora do seu ciclo activo,reduzindo-se,assim, o teor de CO2 da atmosfera. Não admira,pois,que se tivesse concluído em certo estudo que uma agricultura altamente produtiva,na última parte do século XX,tivesse evitado desflorestação,ou seja,tivesse diminuído a libertação de CO2
ESPERANÇA
Era o vira o disco e toca o mesmo. Era a lei do mais forte. Era o salve-se quem puder. Era o que viesse depois que fechasse a porta. Era o quero lá saber. Era o primeiro estava ele. Era o vissem como eles se amavam. Era o depois de mim o dilúvio. Era o Todo-Poderoso Dinheiro. Era o não há nada de novo. Era a história ser uma velhota que se repete sem cessar. Era a verdade há só uma,a dele. Era o não há nada a fazer,a não ser esperar. Esperar o quê? Tudo ou Nada. Apsar de tudo,ainda havia lugar para a ESPERANÇA.
O ABUSADOR
Que gosto o dele,o de explorar as debilidades de outros. Quando apanhava um a jeito,flilava-o logo,não mais o largando.
Porque se entreteria assim? Talvez para se divertir,abusando da sua aparente superioridade. Quer dizer,em vez de ajudar o outro a ter mais confiança em si,procurava dificultar-lhe mais a vida,exasperando-o.
Quantos teria ele levado a mudar de caminho,de modo a evitá-lo,que aquilo não se tolerava? Dois deram notícia,que se estava perto. Mas quando o abusador andava lá por longe?
Porque se entreteria assim? Talvez para se divertir,abusando da sua aparente superioridade. Quer dizer,em vez de ajudar o outro a ter mais confiança em si,procurava dificultar-lhe mais a vida,exasperando-o.
Quantos teria ele levado a mudar de caminho,de modo a evitá-lo,que aquilo não se tolerava? Dois deram notícia,que se estava perto. Mas quando o abusador andava lá por longe?
MUSEUS
Para o que lhe havia de dar. Não jogava às cartas,não lia jornais e muito menos um livro,não se sentava à mesa dum café e não coçava as esquinas. Entretinha-se a visitar mercados. Eram os seus museus,de coisas vivas.
ASSUNTO MUITO IMPORTANTE
O tempo em que ele andara enganado,cheio de ilusões. É que houvera quem as alimentara. Deixe lá que o seu caso não está esquecido. Certos passos tinham de ser dados,e ele prometera dá-los. Às vezes,parecia que isso iria acontecer,mas na volta,a desculpa era sempre a mesma. Sabe,tive de ir tratar de um assunto muito importante.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
SENHORA NAGONIA !
Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das Naus,de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem da barra,entre ondas de gaivotas!
Que estranho é!
Fincam o remo na água,até que o remo torça,
À espera da maré,
Que não tarda aí,avista-se lá de fora!
E quando a onda vem,fincando-a a toda a força
Clamam todos à uma:"Agôra! agôra!agôra!"
E,a pouco e pouco,as lanchas vão saindo
(Às vezes,sabe Deus,para não mais entrar...)
Que vista admirável! Que lindo! Que lindo!
Içam a vela,quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas,à porfia,
Lá vão soberbas,sob um céu sem manchas,
Rosário de velas,que o vento desfia,
A rezar,a rezar a Ladaínha das Lanchas:
Senhora Nagonia!
Olha,acolá!
Que linda vai com o seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá!
...
ANTÓNIO NOBRE
POESIA COMPLETA
CÍRCULO DE LEITORES
1988
O meu país das Naus,de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem da barra,entre ondas de gaivotas!
Que estranho é!
Fincam o remo na água,até que o remo torça,
À espera da maré,
Que não tarda aí,avista-se lá de fora!
E quando a onda vem,fincando-a a toda a força
Clamam todos à uma:"Agôra! agôra!agôra!"
E,a pouco e pouco,as lanchas vão saindo
(Às vezes,sabe Deus,para não mais entrar...)
Que vista admirável! Que lindo! Que lindo!
Içam a vela,quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas,à porfia,
Lá vão soberbas,sob um céu sem manchas,
Rosário de velas,que o vento desfia,
A rezar,a rezar a Ladaínha das Lanchas:
Senhora Nagonia!
Olha,acolá!
Que linda vai com o seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá!
...
ANTÓNIO NOBRE
POESIA COMPLETA
CÍRCULO DE LEITORES
1988
TUDO É FOI
Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia,
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento,tempo esgotado,
fluidez sem transparência,
presença,espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.
ANTÓNIO GEDEÃO
Poesias Completas
(1956-1967)
Portugália
1978
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia,
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento,tempo esgotado,
fluidez sem transparência,
presença,espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.
ANTÓNIO GEDEÃO
Poesias Completas
(1956-1967)
Portugália
1978
CORTE DE PÊLO
Tivera de sair,que o seu cãozinho precisava de dar uma volta. Era isto todos os dias,mesmo quando chovesse.E a primeira coisa que o animalzinho fez foi procurar a primeira árvore,já sua muito conhecida,que ele estava ali que não podia mais. Anda daí,pois estava a demorar.
Então,é o seu grande e fiel amigo? Diz bem,é o meu melhor amigo. Nunca me diz que não e nunca nos zangámos. Ele também sabe-se comportar com deve ser,não há igual.
Não lhe falto com nada,não tem de se queixar. Ainda ontem fui com ele ao veterinário,por causa de uma mordidela de um mau irmão seu. Lá se foram trinta euros,mas bem empregados,
coitadinho,que ele lastimava-se muito. Ainda não há uma semana batera lá à porta do médico para lhe cortar o pêlo que já andava muito crescido. Mas ele merece todos os gastos que eu tenho com ele. Faz-me muita companhia.
Depois,é muito assiadinho. Sabe-se conter,guardando-se para melhor altura,que lá em casa não pode ser,para não sujar. Tem a rua,os passeios,e demais sítios,que ele bem conhece. Está ali que parece uma pessoa. Só lhe falta falar. Tenho de ir,até outro dia.
.
Então,é o seu grande e fiel amigo? Diz bem,é o meu melhor amigo. Nunca me diz que não e nunca nos zangámos. Ele também sabe-se comportar com deve ser,não há igual.
Não lhe falto com nada,não tem de se queixar. Ainda ontem fui com ele ao veterinário,por causa de uma mordidela de um mau irmão seu. Lá se foram trinta euros,mas bem empregados,
coitadinho,que ele lastimava-se muito. Ainda não há uma semana batera lá à porta do médico para lhe cortar o pêlo que já andava muito crescido. Mas ele merece todos os gastos que eu tenho com ele. Faz-me muita companhia.
Depois,é muito assiadinho. Sabe-se conter,guardando-se para melhor altura,que lá em casa não pode ser,para não sujar. Tem a rua,os passeios,e demais sítios,que ele bem conhece. Está ali que parece uma pessoa. Só lhe falta falar. Tenho de ir,até outro dia.
.
SOFÁS DOS SEUS SONHOS
Ele tinha toda a razão. O trabalhão que ele dava,a resistência que ele oferecia,para o arrancar daqueles sofás. É que daquilo não tinha ele lá em casa e assim,vá de aproveitar. E sentia-se lá tão bem que acabava por adormecer. Se não era isso,ele imitava muito bem.
Quando achava que já tinha a sua conta,a conta de se sentir bem,lá condescendia,acordando. Mas era com grande tristeza,bem espelhada nos seus olhos,que ele os abandonava,aqueles ricos sofás dos seus sonhos.
Quando achava que já tinha a sua conta,a conta de se sentir bem,lá condescendia,acordando. Mas era com grande tristeza,bem espelhada nos seus olhos,que ele os abandonava,aqueles ricos sofás dos seus sonhos.
O MENINO
Numa tarde,já quase noite,o menino disse à mãe. Oh mãe,hoje é dia 5 de Outubro,não é? É sim,filho. É o dia em que se festeja o nascimento da República. Faz joje anos. Então, porque é que um polícia levou para a esquadra um senhor que deu um viva à República? A mãe disse-lhe qualquer coisa,mas ele não entendeu.
Numa manhã,já perto do almoço,o menino pediu à mãe que lhe explicasse uma coisa. Oh mãe,o pai já me explicou,mas eu não percebi. Quem é o Soldado Desconhecido,o que está lá no jardim? A mãe respondeu,mas ele ficou na mesma.
Uns anos mais tarde,o menino entrou em casa a chorar. Oh mãe,o professor chamou-me marrão,à frente de muita gente,lá na cantina. Deixa lá filho. Deve ser por o filho dele ter pior notas.
O menino andava com azar. Então não é que passados uns dias,voltou a entrar em casa,num choro ainda maior? O que foi,filho? Oh mãe, o senhor José disse que eu era muito feio. Se eu não tinha pena de ser tão feio? Deixa lá,filho,o filho do senhor José deve ter notas piores do que as tuas.
Numa manhã,já perto do almoço,o menino pediu à mãe que lhe explicasse uma coisa. Oh mãe,o pai já me explicou,mas eu não percebi. Quem é o Soldado Desconhecido,o que está lá no jardim? A mãe respondeu,mas ele ficou na mesma.
Uns anos mais tarde,o menino entrou em casa a chorar. Oh mãe,o professor chamou-me marrão,à frente de muita gente,lá na cantina. Deixa lá filho. Deve ser por o filho dele ter pior notas.
O menino andava com azar. Então não é que passados uns dias,voltou a entrar em casa,num choro ainda maior? O que foi,filho? Oh mãe, o senhor José disse que eu era muito feio. Se eu não tinha pena de ser tão feio? Deixa lá,filho,o filho do senhor José deve ter notas piores do que as tuas.
VELHARIAS
Então o que é queres vir a ser? Quero vir a ser como o senhor professor. Não caias nessa. Olha que vais andar com a casa às costas uma eternidade,tal como eu.
A coisa mais importante que certo chefe de turma perpétuo fez, para justificar tal honraria,foi passar tempos largos à porta,de maneira a evitar que os professores não vissem o que ia por ali.
Coitado do professor. Sabem como é que eu cheguei aqui? Não sabem,mas vou contar-vos. Mas que isto fique aqui entre nós. Pois para ter notas capazes,por causa da bolsa de estudo,que eu era pobrezinho,passei muitas noites com os pés mergulhados em água fria. Assim,não dormia. É que a dormir,não se aprende,como sabem.
Eu dava-te melhor nota,mas és muito rouco,dizia,contristado,o professor de canto coral. Vê se fazes operação. Para,de algum modo,compensar a nota que acabava por lhe dar,encarregava-o de ir comprar o jornal.
O menino tem jeitinho para a geografia,mas olha que para o desenho és um nabo.
Vou-lhe pôr aqui um problema que eu ainda não consegui resolver. Como era de esperar,o aluno não resolveu. Mas o professor,não se sabe porque estímulo,resolveu-o mesmo ali. Isso pô-lo tão satisfeito que mandou o pobre do aluno em paz,quer dizer,muito satisfeito,também. Serve isto para lembrar o que um certo professor disse,um dia, para muita gente o ouvir,se acaso o estivessem a ouvir lá na televisão. Que um verdadeiro professor é aquele que sai de uma aula também a saber mais.
Um antigo professor estava,em certa altura,lá para trás no tempo,a dirigir um serviço inteiramente novo,que ele mesmo tinha criado. O serviço ficava lá para o cabo do mundo. Um dia,recebe a visita de um amigo,que ele já não via há já uns anos. O amigo viera de carro,um carro acabadinho de sair da fábrica. Estás a viver bem. Sabes,meti-me aí nuns negócios. É o que está a dar,mas se quiseres há,também, lugar para ti. Não tenho jeito para negócios. Cada qual é para o que nasce,pelo que não se devia apoquentar.
A coisa mais importante que certo chefe de turma perpétuo fez, para justificar tal honraria,foi passar tempos largos à porta,de maneira a evitar que os professores não vissem o que ia por ali.
Coitado do professor. Sabem como é que eu cheguei aqui? Não sabem,mas vou contar-vos. Mas que isto fique aqui entre nós. Pois para ter notas capazes,por causa da bolsa de estudo,que eu era pobrezinho,passei muitas noites com os pés mergulhados em água fria. Assim,não dormia. É que a dormir,não se aprende,como sabem.
Eu dava-te melhor nota,mas és muito rouco,dizia,contristado,o professor de canto coral. Vê se fazes operação. Para,de algum modo,compensar a nota que acabava por lhe dar,encarregava-o de ir comprar o jornal.
O menino tem jeitinho para a geografia,mas olha que para o desenho és um nabo.
Vou-lhe pôr aqui um problema que eu ainda não consegui resolver. Como era de esperar,o aluno não resolveu. Mas o professor,não se sabe porque estímulo,resolveu-o mesmo ali. Isso pô-lo tão satisfeito que mandou o pobre do aluno em paz,quer dizer,muito satisfeito,também. Serve isto para lembrar o que um certo professor disse,um dia, para muita gente o ouvir,se acaso o estivessem a ouvir lá na televisão. Que um verdadeiro professor é aquele que sai de uma aula também a saber mais.
Um antigo professor estava,em certa altura,lá para trás no tempo,a dirigir um serviço inteiramente novo,que ele mesmo tinha criado. O serviço ficava lá para o cabo do mundo. Um dia,recebe a visita de um amigo,que ele já não via há já uns anos. O amigo viera de carro,um carro acabadinho de sair da fábrica. Estás a viver bem. Sabes,meti-me aí nuns negócios. É o que está a dar,mas se quiseres há,também, lugar para ti. Não tenho jeito para negócios. Cada qual é para o que nasce,pelo que não se devia apoquentar.
BICHAS
Se houvesse votação,era certo e sabido que seria ela a eleita,e a grande distância da segunda. É que ela era única,um caso muito,mas mesmo muito sério. Parecia uma santa que teria vindo lá não se sabe donde e tivesse pousado ali,como por acaso. E ainda bem,que o que não faltava por ali,e arredores,era gente carente,era gente que não tinha lá em casa um mimo,uma atenção,uma palavra doce,essas coisas que deram em rarear,se é que alguma vez abundaram.
Sofria de asma,coitadinha,merecia melhor sorte,ou não,sabe-se lá,que ela com o coração que tinha,e com o que ela via,era capaz de estar disposta a ir-se desta vida de tristezas o mais depresa.
As bichas que se faziam,pois só daquela menina é que gostavam. Ela atendia,ela falava,ela inquiria,um fenómeno. E ela sem poder,coitadinha,mas lá desencantava uns farrapos de energia para cumprir o que ela acharia ser a sua missão.
Um dia,deixou de vir,depois,mais outro,e assim por diante. Uma grande,uma incontida tristeza derramou-se por ali. E agora? Onde estaria quem a pudese substituir? Acabaram por se conformar,que remédio. Chegara a hora dela,que tinha tardado. Mas não vivera em vão. Dera coisas de que outros careciam,coisas que iam escasseando,com cara de se tornarem coisas de um passado,que é capaz de não mais voltar. Quem sabe?
Sofria de asma,coitadinha,merecia melhor sorte,ou não,sabe-se lá,que ela com o coração que tinha,e com o que ela via,era capaz de estar disposta a ir-se desta vida de tristezas o mais depresa.
As bichas que se faziam,pois só daquela menina é que gostavam. Ela atendia,ela falava,ela inquiria,um fenómeno. E ela sem poder,coitadinha,mas lá desencantava uns farrapos de energia para cumprir o que ela acharia ser a sua missão.
Um dia,deixou de vir,depois,mais outro,e assim por diante. Uma grande,uma incontida tristeza derramou-se por ali. E agora? Onde estaria quem a pudese substituir? Acabaram por se conformar,que remédio. Chegara a hora dela,que tinha tardado. Mas não vivera em vão. Dera coisas de que outros careciam,coisas que iam escasseando,com cara de se tornarem coisas de um passado,que é capaz de não mais voltar. Quem sabe?
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
SEM UM PATACO
Este António José de Almeida,com quem lido há meses,é uma força generosa e simpática...Há outra coisa que o honra:acredita,começa sempre por acreditar em toda a gente. Uma grande generosidade,um grande arcabouço e uma voz poderosa e magnética...Ainda hoje lhe ouvi dizer que não tinha dinheiro para ir de carro para casa.
Em S.Tomé ganhou uma pequena fortuna:mãos abertas,deu-a,levaram-lha:ficou sem um pataco. -Ontem passou por mim um figurão que me disse,de grande charuto na boca,e acenando-me com dois dedos:- Adeus doutor...-e que tanto dinheiro me levou! E eu não posso fazer um fato novo....Deu tudo à república. Tem-lhe sacrificado a vida e os interesses.
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II) Vol.1 p.138-9
Relógio D'Água Editores,Março de 1999
Em S.Tomé ganhou uma pequena fortuna:mãos abertas,deu-a,levaram-lha:ficou sem um pataco. -Ontem passou por mim um figurão que me disse,de grande charuto na boca,e acenando-me com dois dedos:- Adeus doutor...-e que tanto dinheiro me levou! E eu não posso fazer um fato novo....Deu tudo à república. Tem-lhe sacrificado a vida e os interesses.
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II) Vol.1 p.138-9
Relógio D'Água Editores,Março de 1999
FULVOS E BONITOS
"....Na sala de espera na terceira classe entre bagagens e cobertores de lã,dormem,aos montes,rabuzanos que vão trabalhar para o Alentejo,os varapaus de castanho atravessados,os tamancos ao lado,os pés descalços e um cheiro a lobo que se evola das suas saragoças montanhesas. Nostalgicamente,alguns tasquinham um pão de milho horrível,com sardinhas assadas entre as pedras.
E os mais novos,quinze anos,dezasseis,dezoito anos,todos alegres daquela primeira migração às sementeiras de lá baixo,esses não param,examinando tudo pelos cantos,espantados,deslumbrados,fulvos e bonitos como bezerrinhos de mama;e ei-los estacam diante dos relógios,dos aparelhos do telégrafo,a sala do restaurante cheia de flores,os chalés de hospedagem e os pequenos jardins dos empregados da estação... Dois ou três arranham nas bandurras fados chorosos,melodias locais duma tristeza penetrante,em cujos balanços,gemidos,estribilhos,se acorda o murmúrio dolente das azenhas,vozes da serra,risotas da romagem,balidos do polvilhal que entra no ovil,todas as indefinidas virgindades da Beira,núcleo de força,e ainda agora a mais impoluta ara da família portuguesa...."
De O PAÍS DAS UVAS
O FILHO
FIALHO DE ALMEIDA
CÍRCULO DE LEITORES
1981
E os mais novos,quinze anos,dezasseis,dezoito anos,todos alegres daquela primeira migração às sementeiras de lá baixo,esses não param,examinando tudo pelos cantos,espantados,deslumbrados,fulvos e bonitos como bezerrinhos de mama;e ei-los estacam diante dos relógios,dos aparelhos do telégrafo,a sala do restaurante cheia de flores,os chalés de hospedagem e os pequenos jardins dos empregados da estação... Dois ou três arranham nas bandurras fados chorosos,melodias locais duma tristeza penetrante,em cujos balanços,gemidos,estribilhos,se acorda o murmúrio dolente das azenhas,vozes da serra,risotas da romagem,balidos do polvilhal que entra no ovil,todas as indefinidas virgindades da Beira,núcleo de força,e ainda agora a mais impoluta ara da família portuguesa...."
De O PAÍS DAS UVAS
O FILHO
FIALHO DE ALMEIDA
CÍRCULO DE LEITORES
1981
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
OS DEZ MIL DE CIMA
...É esta fresca ralé que fica em Londres:de modo que apenas a humanidade superior,os dez mil de cima,como aqui tão pitorescamente se diz,partem para os seus castelos,as suas vilas à beira-mar,ou os seus yachts-Londres,apenas habitada pela turba abjecta,torna-se sobre a face da terra como a lamentável Cacilhas....
Eça de Queirós
Cartas da Inglaterra,O Inverno em Londres p.35 Livros do Brasil
Eça de Queirós
Cartas da Inglaterra,O Inverno em Londres p.35 Livros do Brasil
SOBRE ADUBOS POTÁSSICOS
Como se sabe,o potássio,à semelhança do azoto e do fósforo,é um dos nutrientes de que as plantas mais precisam. A sua falta é suprida com a aplicação de adubos,sendo os mais utilizados o cloreto e o sulfato de potássio. Estes adubos são obtidos a partir de jazidas sedimentares espalhadas pelo globo,sendo os maiores fornecedores o Canadá,a Rússia,a Bielorússia,a Alemanha,Israel e a Jordânia,que,no conjunto,contribuem com noventa por cento da produção total. As duas maiores empresas exportadoras são a Canpotex,do Canadá,e a Bielorussia Potash,que agrupa os fornecedores da Europa oriental.
JOSÉ MATIAS
Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José Matias - do José Matias de Albuquerque, sobrinho do Visconde de Garmilde... O meu amigo certamente o conheceu - um rapaz airoso, louro como uma espiga, com um bigode crespo de paladino sobre uma boca indecisa de contemplativo, destro cavaleiro, duma elegância sóbria e fina. E espírito curioso, muito afeiçoado às idéias gerais, tão penetrante que compreendeu a minha Defesa da Filosofia Hegeliana! Esta imagem do José Matias data de 1865: porque a derradeira vez que o encontrei, numa tarde agreste de Janeiro, metido num portal da Rua de S. Bento, tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente...
Um conto de Eça de Queirós
Um conto de Eça de Queirós
DE TARDE
Naquele "pic-nic" de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que,sem ter história,nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu,descendo do burrico,
Foste colher,sem imposturas tolas,
A um granzoal de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois,em cima duns penhascos,
Nós acampámos,inda o sol se via;
E houve talhadas de melão,damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas,todo púrpuro,a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
CESÁRIO VERDE
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que,sem ter história,nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu,descendo do burrico,
Foste colher,sem imposturas tolas,
A um granzoal de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois,em cima duns penhascos,
Nós acampámos,inda o sol se via;
E houve talhadas de melão,damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas,todo púrpuro,a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
CESÁRIO VERDE
PARA NADA
"Neste mundo conturbado,quem tem muito dinheiro,por mais inepto que seja,tem talento e préstimos para tudo;quem não tem dinheiro,por mais talento que tenha,não presta para nada."
Padre António Vieira (1608 - 1697) DaWeb:www.ronaud.com
É, afinal,o muito tens,muito vales,nada tens,nada vales. Vieira viveu no século XVII. Pelos vistos,a coisa não muda. Não admira,pois,por um lado,a corrida desenfreada aos teres, e, por outro,a pressa incontida em anunciá-los,sem faltar um,por mais maneirinho que seja,em presença de um qualquer,desde que tenha ouvidos que oiçam.
Padre António Vieira (1608 - 1697) DaWeb:www.ronaud.com
É, afinal,o muito tens,muito vales,nada tens,nada vales. Vieira viveu no século XVII. Pelos vistos,a coisa não muda. Não admira,pois,por um lado,a corrida desenfreada aos teres, e, por outro,a pressa incontida em anunciá-los,sem faltar um,por mais maneirinho que seja,em presença de um qualquer,desde que tenha ouvidos que oiçam.
domingo, 10 de janeiro de 2016
PITARANHA
"Mais adiante,à esq.,o lugarejo de Pitaranha,entre penhascos de difícil acesso,e curioso,como os Cabeçudos,pelo aspecto primitivo das habitações. Cónicas,
mesquinhas,cobertas de colmo ou giestas,lembram palhotas....Segundo uma anedota célebre,Pitaranha foi elevada á categoria de cidade na imaginação ardente de aquele general espanhol que,ao escrever para Madrid,em 1642,a tomada que fizera do lugarejo,avantajadamente engrandecera o insignificante sucesso,dizendo haver tomado "la grand ciudad de Pitaranha"...".
RAUL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume p.414
Bbiblioteca Nacional de Lisboa
1927
mesquinhas,cobertas de colmo ou giestas,lembram palhotas....Segundo uma anedota célebre,Pitaranha foi elevada á categoria de cidade na imaginação ardente de aquele general espanhol que,ao escrever para Madrid,em 1642,a tomada que fizera do lugarejo,avantajadamente engrandecera o insignificante sucesso,dizendo haver tomado "la grand ciudad de Pitaranha"...".
RAUL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume p.414
Bbiblioteca Nacional de Lisboa
1927
PELO SONHO É QUE VAMOS
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
SEBASTIÃO DA GAMA
Pelo Sonho É Que Vamos 4ªEdição
Edições Ática
1971
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
SEBASTIÃO DA GAMA
Pelo Sonho É Que Vamos 4ªEdição
Edições Ática
1971
VINHA SÓ
No segundo encontro,o moço superdotado não esteve tão falador. Vinha da escola,e ,como da primeira vez, vinha só. Alguma coisa lhe correra mal,que a cara respirava tristeza.
Mas ainda deu um ar do seu muito saber. Sim,não é isso novidade para mim. Apenas uns quatro ou cinco por cento do universo é conhecido,e, mesmo assim,
mal. A maior parte,ou é matéria escura,ou energia escura.
Mas ainda deu um ar do seu muito saber. Sim,não é isso novidade para mim. Apenas uns quatro ou cinco por cento do universo é conhecido,e, mesmo assim,
mal. A maior parte,ou é matéria escura,ou energia escura.
FANTASMAS
Eram as últimas casas de uma rua antiga,larga,de uma rua sem seguimento,como se fosse um beco. Reinava ali um grande sossego,pois apenas uma voz se ouvia,uma voz à janela.
Era o falar de alguém já de muita idade. Falava,falava,um falar sem fim. Era de fugir dali,que haveria fantasmas.
Era o falar de alguém já de muita idade. Falava,falava,um falar sem fim. Era de fugir dali,que haveria fantasmas.
RESPIRAÇÃO DOS SOLOS
Os solos têm vida,quer dizer,respiram. Dessa respiração, resulta,naturalmente,
anidrido carbónico. Vem este da respiração das raizes e dos seus exudados,da respiração de microorganismos,bactérias e fungos, e da respiração de fauna,
miúda e grossa,como nemátodos,formigas e minhocas. Por tudo isto,o ar que circula nos solos tem uma maior concentração de anidrido carbónico do que o da atmosfera. Esta concentração varia,como era de esperar,dependendo de diversos fatores,como a temperatura e a humidade.
anidrido carbónico. Vem este da respiração das raizes e dos seus exudados,da respiração de microorganismos,bactérias e fungos, e da respiração de fauna,
miúda e grossa,como nemátodos,formigas e minhocas. Por tudo isto,o ar que circula nos solos tem uma maior concentração de anidrido carbónico do que o da atmosfera. Esta concentração varia,como era de esperar,dependendo de diversos fatores,como a temperatura e a humidade.
SORTE GRANDE
Admitindo ser a vida um precioso bem,qualquer que seja o estádio dela,esteja ela onde estiver,nada lhe deveria faltar.
Sendo todas as vidas preciosos bens,poderá querer isto implicar um tratamento igual para todas elas.
Assim,não faria sentido que qualquer vida fosse deixada à sua sorte.É que sendo todas as vidas preciosos bens, a mesma sorte as deveria esperar,talvez uma sorte grande.
Sendo todas as vidas preciosos bens,poderá querer isto implicar um tratamento igual para todas elas.
Assim,não faria sentido que qualquer vida fosse deixada à sua sorte.É que sendo todas as vidas preciosos bens, a mesma sorte as deveria esperar,talvez uma sorte grande.
SEM RESERVAS
Deixara de bater à porta,onde,aliás,não era mal recebido. Mas continuara na sua vida de às portas bater. E,de vez em quando,encontravam-se,nos caminhos da sua peregrinação teimosa,e,aparentemente rendosa.
A figura era esguia,o seu andar era decidido,de passada bem batida,desportiva. Quando se cruzavam,cumprimentavam-se,como conhecidos de longa data,naturalmente,sem reservas.
A figura era esguia,o seu andar era decidido,de passada bem batida,desportiva. Quando se cruzavam,cumprimentavam-se,como conhecidos de longa data,naturalmente,sem reservas.
COMER E ENERGIA
A população mundial vai aumentando,e aumentado,também,o seu nível de vida,ainda que com manchas de pobreza,crescendo,assim,a procura de alimentos e de energia,parte dela proveniente de bens alimentares. Há, portanto ,necessidade de dar maior expressão às produções,quer recorrendo a maiores produtividades das culturas,quer expandindo as áreas cultivadas,desflorestando ou arroteando matos. Maiores produções implicam,pelo menos,mais gasto de adubos. Maiores produtividades são pedidas,também,por melhor nível de vida dos produtores.
Enquanto houver,pois,necessidade de comer e de movimentar,o que há a fazer é dar satisfação a essa procura cada vez mais generalizada e igualitária,garantindo uma permanente existência de meios.
Enquanto houver,pois,necessidade de comer e de movimentar,o que há a fazer é dar satisfação a essa procura cada vez mais generalizada e igualitária,garantindo uma permanente existência de meios.
sábado, 9 de janeiro de 2016
A PROPÓSITO DE PLÁSTICOS
Como se sabe,o plástico não biodegradável tem causado graves problemas ambientais.É o caso dos "mares de plástico" por esses oceanos,com implicações na vida da sua fauna e flora, e é o caso de inundações por entupimento de drenos. A sua combustão também tem contribuído para o aumento dos teores de anidrido carbónico do ar.
Não admira,pois,que venha sendo, cada vez mais, substituído por plástico biodegradával. Isso tem sido feito por vários processos,químicos ou biológicos,a partir,sobretudo,de amido. Problemas,todavia,persistem. Em primeiro lugar,amido,significa comida,quer dizer,competição com alimentos,com os conhecidos reflexos sociais. Depois,a biodegradação,aeróbia ou anaeróbia,tem custos,não sendo menor o ambiental,pois gases se libertam,anidrido carbónico,nas duas modalidades,e metano,na anaeróbia.
Não admira,pois,que venha sendo, cada vez mais, substituído por plástico biodegradával. Isso tem sido feito por vários processos,químicos ou biológicos,a partir,sobretudo,de amido. Problemas,todavia,persistem. Em primeiro lugar,amido,significa comida,quer dizer,competição com alimentos,com os conhecidos reflexos sociais. Depois,a biodegradação,aeróbia ou anaeróbia,tem custos,não sendo menor o ambiental,pois gases se libertam,anidrido carbónico,nas duas modalidades,e metano,na anaeróbia.
MUITO TEMPO
O senhor bateu à porta,manhã cedo. Desculpe se o fiz levantar da cama. Não têm que pedir desculpa,pois não é esse o caso,que eu cedo me levanto e tarde me deito.
Olhe que comigo sucede o mesmo. É que temos,depois,muito tempo para dormir.
Olhe que comigo sucede o mesmo. É que temos,depois,muito tempo para dormir.
DE PÉ
Foi num sábado,noite avançada,a primeira noite de descanso a valer,depois de uma semana trabalhosa. Chegaram,não importa onde,e ali ficaram,bem para lá de uma hora,conversando,
bebendo,sempre de pé.
Finalmente,sentaram-se. Não estariam muito moídos,pelo menos,das pernas,depois de cinco infindáveis dias,talvez a uma secretária. As idades rondariam os cinquenta anos.
bebendo,sempre de pé.
Finalmente,sentaram-se. Não estariam muito moídos,pelo menos,das pernas,depois de cinco infindáveis dias,talvez a uma secretária. As idades rondariam os cinquenta anos.
UM BOM NATAL
Chegara cansada,a senhora,aí de uns sessenta anos. Quando se deteve,suspirou de alívio. Parecia que a mala que ela trazia ao ombro pesava toneladas. Motivo para uma observação delicada.
Não interessa o que foi debitado,o que interessa é dar conta da sua reação. Não foi o homem que tudo estragou,foi a mulher. Teria razões para tal dizer,mas ficou-se por ali.
A intervenção continuou,em tentativas de defender a mulher. Pareceu isso não ter sido inconveniente,antes pelo contrário,pois que, à distância de mais de um mês,desejou Bom Natal a um desconhecido.
Não interessa o que foi debitado,o que interessa é dar conta da sua reação. Não foi o homem que tudo estragou,foi a mulher. Teria razões para tal dizer,mas ficou-se por ali.
A intervenção continuou,em tentativas de defender a mulher. Pareceu isso não ter sido inconveniente,antes pelo contrário,pois que, à distância de mais de um mês,desejou Bom Natal a um desconhecido.
O GÁS DOS PÂNTANOS
Anda muita gente preocupada com o metano,por ser ele,como bem se sabe,um tremendo gás de efeito de estufa. Trata-se de um hidrocarboneto,o benjamim de família numerosa,o muito conhecido gás natural,o gás dos pântanos.
Para além das suas muitas jazidas,e dos pântanos,isto é,das "wetlands" desse vasto mundo,não têm conta as suas naturais fontes,como sejam o estômago dos ruminantes,os sedimentos das barragens,as térmitas,os arrozais,as lixeiras,o "permafrost" das regiões polares,e outras mais,até as plantas.
Na sua gestação,ainda que não totalmente,estão,como é sabido,bactérias anaeróbias. Como para viverem precisam de oxigénio, vão-no buscar onde o há,a matéria orgânica vária,tendo artes para alterar a valência do carbono a seu belo prazer,do que resulta,ente outras coisas,o metano. Um prodígio,há que concordar.
Para além das suas muitas jazidas,e dos pântanos,isto é,das "wetlands" desse vasto mundo,não têm conta as suas naturais fontes,como sejam o estômago dos ruminantes,os sedimentos das barragens,as térmitas,os arrozais,as lixeiras,o "permafrost" das regiões polares,e outras mais,até as plantas.
Na sua gestação,ainda que não totalmente,estão,como é sabido,bactérias anaeróbias. Como para viverem precisam de oxigénio, vão-no buscar onde o há,a matéria orgânica vária,tendo artes para alterar a valência do carbono a seu belo prazer,do que resulta,ente outras coisas,o metano. Um prodígio,há que concordar.
NÃO HÁ NADA A FAZER
Olhe que o tabaco mata. Era uma forma de dirigir a palavra a este,ou àquele,a quem calhava,desde que não tivesse cara de o mandar passear,dar uma volta. Foi sempre bem recebido,pois quem avisa bom amigo é.
As respostas eram,no geral,as mesmas. Diz bem,mas é um vício que não me larga,não há nada a fazer. Pois é,mas a gente tem de morrer,desta ou daquela maneira,mais tarde,ou mais cedo. Ninguém fica cá para semente.
Quer dizer,não há nada a fazer.
As respostas eram,no geral,as mesmas. Diz bem,mas é um vício que não me larga,não há nada a fazer. Pois é,mas a gente tem de morrer,desta ou daquela maneira,mais tarde,ou mais cedo. Ninguém fica cá para semente.
Quer dizer,não há nada a fazer.
É A VIDA
Então,mudou de emprego? Não,é que eu tenho dois. Este,é de tarde,o outro,é de manhã. É claro que lá em casa também me espera mais um,mas esse não conta,é de graça.
Tem de ser assim,senão não dava para aquilo de que a gente precisa. E é aproveitar enquanto se é nova,embora eu já não seja assim muito nova.Mas é a vida,o que se há-de fazer? O que peço é que a saúde não me falte.
Tem de ser assim,senão não dava para aquilo de que a gente precisa. E é aproveitar enquanto se é nova,embora eu já não seja assim muito nova.Mas é a vida,o que se há-de fazer? O que peço é que a saúde não me falte.
É DE COMER NOZES
Chegaram as nozes,é de as comer,assim o aconselha a sua composição. Além de tudo o mais,que a noz é uma semente,portanto,com tudo o necessário para o arrancar de uma vida,tem ainda apreciáveis teores de antioxidantes,como a vitamina E, e de ácidos gordos ómega-3. Aos primeiros,como se sabe,é atribuído ação favorável no contrariar as maldades dos radicais livres,e aos segundos, o papel de diminuir os riscos de doenças cardiovasculares.
É de as comer,pois,sem exageros,claro,como em tudo o resto.
É de as comer,pois,sem exageros,claro,como em tudo o resto.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
CARTAS E NOTAS
Então,também gosta de cartas? Acabara de deixar um grupinho que gastava uma boa parte do seu tempo,do seu último tempo,entretendo-se com elas,jogando ou vendo. E ali tão perto,sem
necessidade de virar a esquina,uma biblioteca bem apetrechada,de livros,jornais,revistas e computadores,e mais um centro de arte,com entrada livre para residentes.
Tinha lá tempo para isso. À biblioteca nem se referiu,mas quanto ao centro,onde entrara uma
única vez,sabia coisas. Tinha sido vendido o palácio por uma bagatela,cinco mil contos. Não pensava noutra coisa. Iria acabar os seus últimos dias a pensar em notas,como teria feito ao longo da sua longa vida.
necessidade de virar a esquina,uma biblioteca bem apetrechada,de livros,jornais,revistas e computadores,e mais um centro de arte,com entrada livre para residentes.
Tinha lá tempo para isso. À biblioteca nem se referiu,mas quanto ao centro,onde entrara uma
única vez,sabia coisas. Tinha sido vendido o palácio por uma bagatela,cinco mil contos. Não pensava noutra coisa. Iria acabar os seus últimos dias a pensar em notas,como teria feito ao longo da sua longa vida.
TÃO CEDO
Podia dizer-se que ali as árvores estavam despidas, pois que apenas uma ou outra folha seca permanecia lá nas alturas. O mesmo não se passava lá por baixo. É que as folhas dos rebentos, que tinham vindo tarde,ainda que prematuramente envelhecidas,mostravam uns restos de verdor,parecendo mostrar que não se queriam ir da vida tão cedo.
CARIDADE
A terra chamava-se Caridade. E ele nascera e vivera lá. Pois não teve caridade quando a ocasião chegou. Mais uma contradição. E a terra não mudou de nome,talvez há espera de uma nova ocasião.
LÁGRIMAS
Viera ali pela última vez. Fora buscar o resto dos seus documentos. No átrio e na escadaria,estavam alguns alunos,talvez duas dezenas. Cumprimentou-os a todos,um a um,silenciosamente.Desce a rampa íngreme muito devagar,como a demorar aqueles momentos muito especiais. Acompanha-o um amigo.De súbito,um aluno,levado não se sabe porque sentimento,é assaltado por um desejo,o de novamente dele se despedir. Outros se solidarizam. E em grande correria vão ao seu encontro.Ele pára e volta-se,talvez admirado. O companheiro distancia-se. E as mãos mais uma vez se estreitam. Dos seus olhos,jorram abundantes lágrimas caladas. Dalguns alunos,também. Para não mais esquecer.
NO PARAÍSO
Era compreensiva,nos escritores, a teimosa vontade de continuar,de não cruzar os braços,de pousar a pena,sobretudo,no troço final.
Era isso,certamente, uma maneira de provar a si mesmos,e,talvez,menos aos outros,que se mantinham vivos,que ainda estavam capazes de produzir.
Fazia isso lembrar o desejo expresso de um deles de querer entrar a escrever no paraíso.
Era isso,certamente, uma maneira de provar a si mesmos,e,talvez,menos aos outros,que se mantinham vivos,que ainda estavam capazes de produzir.
Fazia isso lembrar o desejo expresso de um deles de querer entrar a escrever no paraíso.
PARAÍSO
Então,que país escolheria para passar os anos que lhe restam de vida,cá em baixo,neste vale de lágrimas?
A resposta não se fez demorar. Que país havia de ser? Na Suiça,pois claro. Porque havia de escolher outro?
É que a Suiça era o país ideal para se ir acostumando às delícias do Paraíso,que o esperava,disso estava convencido,lá no outro mundo.
A resposta não se fez demorar. Que país havia de ser? Na Suiça,pois claro. Porque havia de escolher outro?
É que a Suiça era o país ideal para se ir acostumando às delícias do Paraíso,que o esperava,disso estava convencido,lá no outro mundo.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
MÃO AMIGA
Ele estava decidido a não ficar de braços cruzados,à espera de que o fruto caísse de podre. Não, ele iria fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance,e mesmo para além,se tal fosse necessário,no sentido de evitar que tão trágico acontecimento viesse a acontecer.
Era este um gesto de invulgar dignidade,um estender de mão amiga,a quem,no entender de muitos,e,talvez,também no dele,o não merecia.
Uma grande e de todo inesperada alegria,atendendo aos maldosos procederes correntes,espalhara-se pela Terra inteira,dada a estatura da personalidade que a tal se dispusera.
Finalment,e já não era sem tempo,que muito se tinha escoado para nunca mais,aparecera alguém a apontar o reto caminho. De tricas,de chicanas,de malquerenças,de maus olhado,estava,de facto,o vasto mundo cheio. Era absolutamente necessário,era vital que se pusesse um ponto final a tanta endémica tristeza.
E, porventura,um dia,em retribuição justíssima,um outro alguém lhe havia de estender,
desinteressadamente,a mão,uma mão amiga,de modo a impedir que ele apodrecesse.
Era este um gesto de invulgar dignidade,um estender de mão amiga,a quem,no entender de muitos,e,talvez,também no dele,o não merecia.
Uma grande e de todo inesperada alegria,atendendo aos maldosos procederes correntes,espalhara-se pela Terra inteira,dada a estatura da personalidade que a tal se dispusera.
Finalment,e já não era sem tempo,que muito se tinha escoado para nunca mais,aparecera alguém a apontar o reto caminho. De tricas,de chicanas,de malquerenças,de maus olhado,estava,de facto,o vasto mundo cheio. Era absolutamente necessário,era vital que se pusesse um ponto final a tanta endémica tristeza.
E, porventura,um dia,em retribuição justíssima,um outro alguém lhe havia de estender,
desinteressadamente,a mão,uma mão amiga,de modo a impedir que ele apodrecesse.
A PROPÓSITO DA POLUIÇÃO DA ÁGUA
O aumento exagerado dos teores de alguns elementos nutritivos da água,muito em especial do azoto e do fósforo,provoca,como se sabe,uma aceleração da sua vida vegetal,sobretudo,das algas. Da sua decomposição aeróbia,por via bacteriana,resulta consumo de oxigénio,o que pode afetar gravemente a vida animal,para além de toxinas,associadas às algas.
Porque o azoto e o fósforo são dois elementos que mais frequentemente entram na composição dos adubos minerais,há alguma tendência para os considerar fatores importantes na poluição da água. Não se pode negar que os adubos tenham alguma responsabilidade nesta poluição,
quer por lixiviação,quer por escorrimento superfical,sobretudo,quando se trata de adubações excessivas,ou não oportunas. A lixiviação afeta,principalmente,o azoto,em particular,na forma nítrica,por os solos não terem,no geral,mecanismos para o reter. Devido à forte retenção do fósforo pelos solos,o seu arrastamento ocorre,na sua maior parte,por escorrimento superficial.
Para além dos adubos químicos,outros materiais podem intervir também no processo de poluição da água por nutrientes,nos quais se incluem os efluentes urbanos,industriais e agrícolas,a matéria orgânica do solo,os adubos orgânicos,as explorações pecuárias intensivas,os componentes minerais dos próprios solos,bem como os vegetais e animais em decomposição,que neles tenham vivido. No caso dos efluentes,e do fósforo,,há que temer,em especial,a ação de detergentes fosfatados,que, felizmente,têm vindo as ser retirados da comercialização.
Porque o azoto e o fósforo são dois elementos que mais frequentemente entram na composição dos adubos minerais,há alguma tendência para os considerar fatores importantes na poluição da água. Não se pode negar que os adubos tenham alguma responsabilidade nesta poluição,
quer por lixiviação,quer por escorrimento superfical,sobretudo,quando se trata de adubações excessivas,ou não oportunas. A lixiviação afeta,principalmente,o azoto,em particular,na forma nítrica,por os solos não terem,no geral,mecanismos para o reter. Devido à forte retenção do fósforo pelos solos,o seu arrastamento ocorre,na sua maior parte,por escorrimento superficial.
Para além dos adubos químicos,outros materiais podem intervir também no processo de poluição da água por nutrientes,nos quais se incluem os efluentes urbanos,industriais e agrícolas,a matéria orgânica do solo,os adubos orgânicos,as explorações pecuárias intensivas,os componentes minerais dos próprios solos,bem como os vegetais e animais em decomposição,que neles tenham vivido. No caso dos efluentes,e do fósforo,,há que temer,em especial,a ação de detergentes fosfatados,que, felizmente,têm vindo as ser retirados da comercialização.
VAGAS INTENÇÕES
Tem sido prodigiosa a realização humana ao longo do seu caminhar de milénios em todos os dominios,fruto da tenacidade,da inteligência,da vontade do homem e da mulher. A matéria tem sido dócil nas suas mãos. A obra que aí se mostra por toda a parte,desdobrando-se nos mais diversos aspetos,bem o indica. As construções portentosas,as formas admiráveis,o imenso património da escrita. Muita coisa tem sido possível,muitas vezes de maneira quase milagrosa. De ficar estarrrecido,perante tal grandiosdade.
Mas afinal,o homem e a mulher que tudo isto fizeram não conseguiram ainda,pode dizer-se,deixar de se comportar como se comportavam,face a outro homem e a outra mulher,os seus antepassados lá muito detrás,talvez desde o ínício da arrancada. Afinal,a obra que mais interessava realizar está por fazer,sem que indícios bem visíveis e bem espalhados tragam alguma esperança de um conserto universal. Só vagas promessas,só vagas intenções,só entusiasmos esporádicos,aqui e ali,que uma brisa mais leve desfaz.
Mas afinal,o homem e a mulher que tudo isto fizeram não conseguiram ainda,pode dizer-se,deixar de se comportar como se comportavam,face a outro homem e a outra mulher,os seus antepassados lá muito detrás,talvez desde o ínício da arrancada. Afinal,a obra que mais interessava realizar está por fazer,sem que indícios bem visíveis e bem espalhados tragam alguma esperança de um conserto universal. Só vagas promessas,só vagas intenções,só entusiasmos esporádicos,aqui e ali,que uma brisa mais leve desfaz.
CAIXOTE DO LIXO
Vai ser uma grande aventura o conseguir sair-se desta,nem que seja pela porta dos fundos ou pela de serventia,de rastos.
Pois é assim. O que vai para aí de mortos,de mortos-vivos. É que devem ser contados como mortos muitos dos que andam para aí arrastando-se,e outros mais. Não que eles se considerem já no outro mundo,mas porque os puseram já lá. E os modos de o fazer são mais que muitos,para todos os gostos,para todas as mentes.
Vem a morte pelo silêncio,pelo esquecer,pelo não escrever,pelo não falar,pelo não telefonar,pelo não lembrar,por o querer ver lá longe,muito longe,onde a sua sombra não chegue.
Vem a morte pelo malquerer,pelo desprezar,pelo denegrir,pelo apoucar,pelo diminuir,pelo odiar.
Coitado,deve já estar louco. Coitado,anda lá sempre nas nuvens. Não passa dum fantasista. Aquilo só tem um préstimo,o ir para o caixote do lixo. Aquilo é mesmo de homem das arábias. Pobre dele,daquilo até uma criança era capaz. O meu neto faria muito melhor.
Pior do que estar morto,é tê-lo já posto lá na tumba,ou na vala comum,que mais não merecia. Só está cá a perturbar,a desassossegar,a lembrar,a aborrecer.
Depois,as tiradas,de grande inspiração que se soltam,em momentos de verdade. Morreste para mim. É como se estivesses morto. Que me interessa a mim que tu fales. Já estás pirado. E a mim que me rala. Ainda cá andas? Já te não fazia cá. E eu que já o fazia morto. Aqui não se fala nele ou nela. Já não conta. É como se não existisse.
Alguém atrever-se-á a meter lá,nesse grande saco de mortos-vivos,os que assim desejam que eles sejam. É como se os acompanhassem. Não merecem,em boa verdade,outra arrumação. Fazem essas maldades pela calada,na escuridão de si,à socapa. Mas não são de condenar,coitados,se eles, também,não passam de mortos-vivos,sem se considerarem,claro. Estão ali vivos,que nem uma alface acabada de vir lá da horta. Os mais vivos de todos os vivos,de todos os continentes e arredores. Eternos,numa palavra,palavra que o vento leva,lá para onde estão todos os mortos,os mortos-vivos,e os ainda vivos. Todos,sem escapar um. É a consolação,se é que são dignos ainda de alguma,dos mortos-vivos.
Pois é assim. O que vai para aí de mortos,de mortos-vivos. É que devem ser contados como mortos muitos dos que andam para aí arrastando-se,e outros mais. Não que eles se considerem já no outro mundo,mas porque os puseram já lá. E os modos de o fazer são mais que muitos,para todos os gostos,para todas as mentes.
Vem a morte pelo silêncio,pelo esquecer,pelo não escrever,pelo não falar,pelo não telefonar,pelo não lembrar,por o querer ver lá longe,muito longe,onde a sua sombra não chegue.
Vem a morte pelo malquerer,pelo desprezar,pelo denegrir,pelo apoucar,pelo diminuir,pelo odiar.
Coitado,deve já estar louco. Coitado,anda lá sempre nas nuvens. Não passa dum fantasista. Aquilo só tem um préstimo,o ir para o caixote do lixo. Aquilo é mesmo de homem das arábias. Pobre dele,daquilo até uma criança era capaz. O meu neto faria muito melhor.
Pior do que estar morto,é tê-lo já posto lá na tumba,ou na vala comum,que mais não merecia. Só está cá a perturbar,a desassossegar,a lembrar,a aborrecer.
Depois,as tiradas,de grande inspiração que se soltam,em momentos de verdade. Morreste para mim. É como se estivesses morto. Que me interessa a mim que tu fales. Já estás pirado. E a mim que me rala. Ainda cá andas? Já te não fazia cá. E eu que já o fazia morto. Aqui não se fala nele ou nela. Já não conta. É como se não existisse.
Alguém atrever-se-á a meter lá,nesse grande saco de mortos-vivos,os que assim desejam que eles sejam. É como se os acompanhassem. Não merecem,em boa verdade,outra arrumação. Fazem essas maldades pela calada,na escuridão de si,à socapa. Mas não são de condenar,coitados,se eles, também,não passam de mortos-vivos,sem se considerarem,claro. Estão ali vivos,que nem uma alface acabada de vir lá da horta. Os mais vivos de todos os vivos,de todos os continentes e arredores. Eternos,numa palavra,palavra que o vento leva,lá para onde estão todos os mortos,os mortos-vivos,e os ainda vivos. Todos,sem escapar um. É a consolação,se é que são dignos ainda de alguma,dos mortos-vivos.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
SOBRE AS TÉRMITAS
O aparelho digestivo das térmitas,pelo menos numa secção,tem uma elevada alcalinidade. Foi isso relacionado com os solos lateríticos,que,como se sabe,são ricos em óxidos de ferro. Nestes solos,o fósforo,um elemento indispensável à vida,está muito pouco disponível. Acontece que uma elevada alcalinidade permite a solubilização do fósforo,pelo que é de esperar que as térmitas tenham vida facilitada nestes solos.
MUNDO DE REAÇÕES
Como é sabido,no ciclo do azoto,há lugar para a produção de azoto molecular a partir da forma nitrato. Quando isso occorre com adubos está-se perante uma perda a evitar,entre outros motivos,porque é dinheiro deitado à rua. Mas não é só por esta via que azoto se perde. Isso também pode acontecer,pelo menos,quando o adubo é amoniacal e o solo é alcalino,como nos solos calcários,mas,agora,na forma de amoníaco. Coisas que sucedem neste mundo de reações.
REALISMO
Tão novo ainda e já o realismo o filara. Era um jovem de quem haveria a esperar ser portador de esperança,muita esperança. Mas não. Ali estava ele a bater,de quando em vez,na tecla malfadada.
Não havia volta a dar-lhe. Era o que os factos históricos incansavelmente apontavam, ensinavam. As tristes cenas triste e trágicamente se repetiam. E dali não se saía. Era uma fatalidade,uma sina,um modo de estar,tão sem vontade de arripiar caminho a história se apresentava.
E assim,dado um certo passo,outro do mesmo jaez se voltava a dar,mais cedo ou mais tarde. Mas tudo tem um fim,e um dia,a trágica marcha era sustada,mais ou menos abruptamente.
Segue-se um tempo de aparente acalmia. Dizem alguns que aquilo,assim,é um pântano. Pode sê-lo,mas uma coisa a levedar.
E a páginas tantas,um outro certo passo é dado. O realismo não podia ser desfeiteado,ali mesmo nas barbas de pregadores de esperança,que,por realismo ou não,acabam por dar mostras de a negarem.
Não havia volta a dar-lhe. Era o que os factos históricos incansavelmente apontavam, ensinavam. As tristes cenas triste e trágicamente se repetiam. E dali não se saía. Era uma fatalidade,uma sina,um modo de estar,tão sem vontade de arripiar caminho a história se apresentava.
E assim,dado um certo passo,outro do mesmo jaez se voltava a dar,mais cedo ou mais tarde. Mas tudo tem um fim,e um dia,a trágica marcha era sustada,mais ou menos abruptamente.
Segue-se um tempo de aparente acalmia. Dizem alguns que aquilo,assim,é um pântano. Pode sê-lo,mas uma coisa a levedar.
E a páginas tantas,um outro certo passo é dado. O realismo não podia ser desfeiteado,ali mesmo nas barbas de pregadores de esperança,que,por realismo ou não,acabam por dar mostras de a negarem.
ESPERANÇA COMUM
Os grandes empreendimentos não cessam. Lançam-se pontes,abrem-se túneis,estradas,vias férreas,criam-se ou renovam-se espaços culturais. Um nunca mais acabar. Folgam mais uns do que outros. Calamidades abatem-se por quase toda a parte. Perdem-se vidas e haveres. A solidariedade desperta,procurando reparar os danos. As comunidades agitam-se para escolha de novos representantes. Fazem-se promessas de vida melhor,vindas de todos os quadrantes. Publicam-se livros. Editam-se versos. Narram-se histórias e apontam-se caminhos,alguns bem diferentes. Muito poucos dão conta. Há outros interesses,outras necessidades. É água que parece perder-se. Haverá um ponto de encontro de tudo isto? Dois ou três dirão que sim. Onde? Talvez nas esperanças difusas dos homens e das mulheres que constroem,que reparam,que prometem,que escrevem,que folgam,que sofrem,que escolhem,que lêem ou não. Um dia,fundir-se-ão numa esperança comum. Como? Talvez por efeito de um homem ou de uma mulher que,quase por milagre,contamine tudo e todos.
HAJA ESPERANÇA
Numa cidade martirizada,mais ou menos um mês após o início da catástrofe que a inundou,é reaberto o casino. Já estaria fazendo muita falta.
O rebento de uma família muito bem,daquelas que não sabem o que fazer do seu quase incontável dinheiro,foi a panhado com a boca na botija,ou seja com a boca na droga.
Um sujeito,rodeado de crianças,detém uma galinha sobre a cabeça de uma jovem,para se dar a transferência de pecados.
Em certo país de vanguarda, mais de metade dos estudantes não sabem onde ficam as suas bibliotecas. O que aconteceria se todos,ou quase todos, as conhecessem?
Um independente,vencedor claro de umas eleições,acumula de mimos o dirigente máximo do partido de onde se excluiu.
Numa outra cidade martirizada por um fortíssimo sismo,foram resgatadas dos escombros de uma escola quarenta crianças.
Haja esperança,mesmo até na desgraça maior.
O rebento de uma família muito bem,daquelas que não sabem o que fazer do seu quase incontável dinheiro,foi a panhado com a boca na botija,ou seja com a boca na droga.
Um sujeito,rodeado de crianças,detém uma galinha sobre a cabeça de uma jovem,para se dar a transferência de pecados.
Em certo país de vanguarda, mais de metade dos estudantes não sabem onde ficam as suas bibliotecas. O que aconteceria se todos,ou quase todos, as conhecessem?
Um independente,vencedor claro de umas eleições,acumula de mimos o dirigente máximo do partido de onde se excluiu.
Numa outra cidade martirizada por um fortíssimo sismo,foram resgatadas dos escombros de uma escola quarenta crianças.
Haja esperança,mesmo até na desgraça maior.
FALANDO DE ALTO
Fora um grande desgosto que uma vez sentira que o levara a deixar por lá passar. O vilãozinho que era ele aproveitara-se de uma situação de carência extrema para armar em soberbo dono. Quem mandava ali era ele,e só ele. E olhava de cima para os pobres carenciados,dele dependentes,suspensos da sua generosidade.
O certo é que tal disposição rendera-lhe cem por um,quer dizer,premiara-o largamente. E dera em passear-se por lá,bem medrado,feito grande senhor,falando de alto,exibindo os seus muitos anéis.
O certo é que tal disposição rendera-lhe cem por um,quer dizer,premiara-o largamente. E dera em passear-se por lá,bem medrado,feito grande senhor,falando de alto,exibindo os seus muitos anéis.
CLAMOROSO TRIUNFO
Eram tantos os escritos que iam nas argolas daqueles dois braços,que só uma grande destreza,aliás,sempre demonstrada noutras muitas ocasiões,é que impedira que houvesse largo espalhamento naquela ida, rumo ao triunfo.
Era isso, também,uma clara,uma inequívoca indicação de que aqueles dois,e muito qualificados braços,quereriam envolver,estreitar,este mundo e o outro,todos os mundos,aliás, que por lá estivessem.
Mais ainda,eram elas,as argolas,prenúncio mais que evidente de que vultosas colheitas se seguiriam,após o clamoroso triunfo que já se tinha como certo. É que ,quem sabe,sabe,como o povo tem dito repetidamente,sem se enganar.
Era isso, também,uma clara,uma inequívoca indicação de que aqueles dois,e muito qualificados braços,quereriam envolver,estreitar,este mundo e o outro,todos os mundos,aliás, que por lá estivessem.
Mais ainda,eram elas,as argolas,prenúncio mais que evidente de que vultosas colheitas se seguiriam,após o clamoroso triunfo que já se tinha como certo. É que ,quem sabe,sabe,como o povo tem dito repetidamente,sem se enganar.
sábado, 2 de janeiro de 2016
BIODEGRADAÇÃO
É,como se sabe, a decomposição de substâncias orgânicas por microorganismos. Pode ser aeróbia ou anaeróbia. Em ambos os casos ocorrem reações de oxidação-redução,quer dizer,há transferência de eletrões.
Na aeróbia,é o oxigénio o captador de eletrões,sendo os produtos finais,no geral, anidrido carbónico e água. Na anaeróbia,a captação de eletrões é feita por nitratos,sulfatos,ferro,
manganês,anidrido carbónico,sendo os produtos finais,no geral,metano e anidrido carbónico.
Os dois casos também podem ser designados por respiração,aeróbia e anaeróbia.
Na aeróbia,é o oxigénio o captador de eletrões,sendo os produtos finais,no geral, anidrido carbónico e água. Na anaeróbia,a captação de eletrões é feita por nitratos,sulfatos,ferro,
manganês,anidrido carbónico,sendo os produtos finais,no geral,metano e anidrido carbónico.
Os dois casos também podem ser designados por respiração,aeróbia e anaeróbia.
PEVIDES E TREMOÇOS SEM CASCA
Não era ainda uma aldeia quase totalmente vigiada,mas andaria por lá muito perto. Os aldeões andavam mais que apavorados,nem sabiam que estado era aquele que os havia tomado,só sabiam é que era um estado muito estranho,e que muito os incomodava.
O que mais os ralava eram as compras,mesmo as mais de trazer por casa,assim como no caso de pevides ou de tremoços. É que tanto umas,como outras,deixavam nas cascas as suas impressões digitais,o que os podia comprometer,sem apelo,nem agravo,pois, estava-se mesmo a ver,eram muitas as cascas,o que era assaz comprometedor.
Um sarilho,e dos grandes,nunca,até,se tinham visto envolvidos num tão grande. Coitados,não sabiam o que haviam de fazer à vida. Um,certa vez,um dos tais que dão em estar um bocadinho mais atentos às notícias,lembrou que seria possível um dia,que talvez estivesse próximo,que a ciência avança,imparável,comerem pevides,e tremoços,geneticamente modificados,pevides e tremoços sem casca.
Que esse dia viesse depressa,era o que eles pediam lá no seu íntimo,pois que o estado estranho em que andavam,e que não havia meio de os abandonar,estava a dar conta deles,e assim não,pois que assim,vigiados,nem o cotão dos bolsos escapava,não tinha graça nenhuma,mas é que mesmo nenhuma.
O que mais os ralava eram as compras,mesmo as mais de trazer por casa,assim como no caso de pevides ou de tremoços. É que tanto umas,como outras,deixavam nas cascas as suas impressões digitais,o que os podia comprometer,sem apelo,nem agravo,pois, estava-se mesmo a ver,eram muitas as cascas,o que era assaz comprometedor.
Um sarilho,e dos grandes,nunca,até,se tinham visto envolvidos num tão grande. Coitados,não sabiam o que haviam de fazer à vida. Um,certa vez,um dos tais que dão em estar um bocadinho mais atentos às notícias,lembrou que seria possível um dia,que talvez estivesse próximo,que a ciência avança,imparável,comerem pevides,e tremoços,geneticamente modificados,pevides e tremoços sem casca.
Que esse dia viesse depressa,era o que eles pediam lá no seu íntimo,pois que o estado estranho em que andavam,e que não havia meio de os abandonar,estava a dar conta deles,e assim não,pois que assim,vigiados,nem o cotão dos bolsos escapava,não tinha graça nenhuma,mas é que mesmo nenhuma.
DE MAUS MODOS
Dizem que os elefantes,próximos do termo da vida,talvez desiludidos dela e talvez magoados por muitas desconsiderações,abandonam a manada,para, sozinhos,aguardarem o sinal da partida para o outro mundo.
A ser verdade,não parece isso sem sentido. Alguém,daqueles que se habituaram a ver como os seus piores inimigos,até poderá pensar que eles é que fazem bem. Livrar-se-ão de tratamentos desagradáveis ,para não dizer outra coisa menos leve,o que lhes mitigará a tristeza do adeus final,se é que alguma já sentiriam.
Tão poucas vezes a vida sorriu para tanta gente. E não será de esperar que no findar dela a alegria venha neles morar. Ainda ontem ela lhes virara as costas,de maus modos. Não era caso para isso,mas o que se há-de fazer,se ela também anda pelas horas da morte,tantas são as desgraças que por aí andam?
A pouca que resta tem de ser guardada para os mais novos,que esses têm muito tempo ainda para andar por cá. Agora os velhotes,que tenham paciência. Tivessem-na procurado e armazenado,quando ainda havia em quantidade. Os elefantes,afinal, é que têm razão. Para ver o que estão a ver e a sentir,se ainda sentem alguma coisa,o melhor é ir lá para longe,onde não incomodem e não sejam incomodados.
A ser verdade,não parece isso sem sentido. Alguém,daqueles que se habituaram a ver como os seus piores inimigos,até poderá pensar que eles é que fazem bem. Livrar-se-ão de tratamentos desagradáveis ,para não dizer outra coisa menos leve,o que lhes mitigará a tristeza do adeus final,se é que alguma já sentiriam.
Tão poucas vezes a vida sorriu para tanta gente. E não será de esperar que no findar dela a alegria venha neles morar. Ainda ontem ela lhes virara as costas,de maus modos. Não era caso para isso,mas o que se há-de fazer,se ela também anda pelas horas da morte,tantas são as desgraças que por aí andam?
A pouca que resta tem de ser guardada para os mais novos,que esses têm muito tempo ainda para andar por cá. Agora os velhotes,que tenham paciência. Tivessem-na procurado e armazenado,quando ainda havia em quantidade. Os elefantes,afinal, é que têm razão. Para ver o que estão a ver e a sentir,se ainda sentem alguma coisa,o melhor é ir lá para longe,onde não incomodem e não sejam incomodados.
FINOS NÉCTARES
O que ele lhe foi dizer. O outro deixou-o falar e quando viu que a uva estava madura desatou a colhê-la.
Muito me contas. Pois fica tu sabendo que eu não te fico atrás. Não eu,que sou muito superior a essas coisas,mas os meus dois filhos e a minha neta,sobretudo esta. Estes,e sobretudo esta,é que dão cartas,estes é que pedem meças. O que iria sair dali? Era de um peão se pôr a recato,que a enxurrada devia ser das grandes.
A filha quase se doutorara em artes musicais. Não estivera para isso. É que onde chegara noutras artes já lhe enchia as medidas.
O filho era um crítico de vanguarda nessas artes musicais. Já não tinha canto onde pôr discos e livros. Mas só dos clássicos.
A neta seguia-lhes as pisadas. Mas nada de academias,que isso era reles. Era o professor que lá ia a casa,pois então. Mas olha que não é um professor qualquer,não. É mesmo doutor.
Era de arrasar. Coitado dele,que não mais se atreveria a levantar cabeça diante de tal pai,de tal avô.
Que cepa esta. Não haveria outra que gerasse tão finos néctares.
Muito me contas. Pois fica tu sabendo que eu não te fico atrás. Não eu,que sou muito superior a essas coisas,mas os meus dois filhos e a minha neta,sobretudo esta. Estes,e sobretudo esta,é que dão cartas,estes é que pedem meças. O que iria sair dali? Era de um peão se pôr a recato,que a enxurrada devia ser das grandes.
A filha quase se doutorara em artes musicais. Não estivera para isso. É que onde chegara noutras artes já lhe enchia as medidas.
O filho era um crítico de vanguarda nessas artes musicais. Já não tinha canto onde pôr discos e livros. Mas só dos clássicos.
A neta seguia-lhes as pisadas. Mas nada de academias,que isso era reles. Era o professor que lá ia a casa,pois então. Mas olha que não é um professor qualquer,não. É mesmo doutor.
Era de arrasar. Coitado dele,que não mais se atreveria a levantar cabeça diante de tal pai,de tal avô.
Que cepa esta. Não haveria outra que gerasse tão finos néctares.
MUITO FRUTO
Muito pouco,ou mesmo nada,interessava que aquelas terras não lhe pertencessem. Bastava,apenas,que elas lá estivessem,bastava tê-las visto e sentido,bastava recordá-las. O frémito de vida intensa que delas brotava enchia-o,irresistivelmente,de bem estar. Era uma vida que não se cansava de desentranhar em muito fruto,que iria saciar muita gente.
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