segunda-feira, 30 de novembro de 2015

NASCERA JÁ ASSIM

Há homens que lhes dá para colecionar damas. Uns,fazem-no pela calada da noite,outros,pela calada do dia,outros ainda,pela calada do dia e da noite. Um certo homem era desta terceira classe,todas as horas lhe serviam.
Vivia numa terra,nem grande,nem pequena,uma terra assim-assim. Tinha todo o tempo para as suas meninas e uns tempos muito curtos para a sua esposa. Esta andava muito triste,o que não era para menos,mas não havia nada a fazer,ele nascera já assim.
Era também um homem de caprichos. Coisa que lhe apetecesse,desde que não fosse a lua ou o sol,ou os seus muitos irmãos ou irmãs,tanto faz,era coisa possuída ou feita. E um dia,há sempre um dia,pensou em instalar a favorita mesmo em frente da legítima. Nessa mesma hora,ficou tudo arrumado. Já se podiam espreitar as duas. A esposa,coitada,à socapa,por detrás das cortinas,a outra,às claras,pavoneando-se.
A ousadia,o capricho,ou lá o que se queira chamar,pode ter tido desenvolvimento,não se sabe. Era homem para isso e muito mais. O ideal seria que as duas casas comunicassem,ficando ele com a chave e a tranca. Ter-se-ia atrevido?

O METANO ESPREITA

Como se sabe,há bactérias metanogénicas,isto é,bactérias,que, em meio anaeróbio,
produzem metano a partir de matéria orgânica. Por outro lado,há bactérias metanotróficas,ou seja,bactérias que,em meio aeróbio,se alimentam de metano. Ora,é isto que se passa nos mares,onde coexistem os dois meios,pelo que a sua contribuição para o metano atmosférico é relativamente reduzida.O caso mudará de figura quando o metano que o "permafrost" retem começar a libertar-se,e o metano de jazidas fósseis encontrar fendas na crosta submersa por onde se escapar. Nessa altura,é de pedir às bactérias metanotróficas que se multipliquem mais do que o costume e que passem a comer muito mais metano,que o escudo de radicais livres da atmosfera é capaz de não dar conta do recado.

MAIS UM INCÊNDIO

Já passava do meio-dia,mas a porta das sopinhas ainda não abrira,pelo que os convivas esperavam no jardim em frente,onde havia meia dúzia de bancos.

Ele ainda não chegara,o que era para muito admirar,pois vinha cedo,talvez para ser dos primeiros,que o seguro morreu de velho.

Seria um fogo de há uns dois ou três dias a razão de tal ausência? É que ele confessara estar pernoitando numa casa abandonada. E uma casa assim,ali perto,fora a vítima de mais um incêndio,desta vez,consumindo-lhe o telhado.

O que teria acontecido?

South Africa grapples with worst drought in 30 years

Worst drought

sábado, 28 de novembro de 2015

JARDIM BOTÂNICO DA AJUDA - LISBOA

Jardim Botânico da Ajuda

PORTRAIT OF A MAN - ANTON VAN DICK

Museu Calouste Gulbenkian

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

Coitado dele,estava mesmo velho. Sabia-o por si,dispensava que algum amigo de Peniche o lembrasse.

Não era só o BI a dizê-lo. Um ror de mazelas dava-lhe essa informação. De noite,acordava,pendularmente,ao mando da próstata. Felizmente,não era de insónias,pelo que mergulhava logo no mar dos sonhos. De dia,vá que não vá,mas não podia estar sentado muito tempo em bases fofas. Um formigueiro tomava-lhe as pernas. Calosidades múltiplas emperravam-lhe o andar. Ao nível dos joelhos e dos cotovelos,a pele convertera-se em escamas. Nos cantos da boca,instalavam-se fissuras. Os dentes tinham dito adeus para sempre. Com o frio,doíam-lhe os ouvidos. Se se descuidava,a tensão subia. O cabelo rareava e embranquecia. O estômago tinha de ser tratado como uma criança. Sem óculos,não via as letras. Os olhos inflamavam-se a cada passo.
Com tudo isto,não largava as portas dos médicos,sem ter de se endividar. Era,afinal, um felizardo. Quantos como ele não se viam obrigados a passar de largo,frente a essas portas,carregando ainda mais o fardo dos anos.
Metia conversa com desconhecidos,pedindo desculpa pelo atrevimento. Estava cada vez mais tolerante. O coração aguentava-se,mas tornara-se muito piegas. Viam-se-lhe lágrimas,à vista da mínima desgraça,sobretudo com crianças. Fazia muitas perguntas sem resposta. Porque se permitia tanto desaforo,tanta mentira,tanta hipocrisia,tanto teatro,tanta impunidade? Porque não vinha um raio acabar com os maus? Se ele viesse,era capaz de não escapar

DESFILAR DE TEMPOS PASSADOS

Fazia a velhota muita falta ali. Toda vestida de negro,aliviava-se. Entre dois carros estacionados junto ao passeio,como a esconder-se,de pernas em arco alongado,olhava,consternada,para o chão.Um regatozinho corria para a valeta.
Habituais figurantes lá iam desfilando. No carrinho de mão desconjuntado,a mãe trazia as pernas enganchadas no rebordo. Já há uns dias que se não viam juntos. A família podia,de novo,pavonear-se por aquelas ruas.
O homem da bandeja trocara o chapéu por um turbante de cores garridas. Sentado num banco,espantava os pombos com a sua voz de tribuno. Por via do frio,envolvera os pés com sacos de plástico.
O palmilhador das sete léguas vestia de maneira mais cuidada. O seu raio de ação não dava,porém,sinais de encolher. A paisagem não lhe interessaria, pois não tirava os olhos do chão. Talvez o considerasse o seu melhor amigo,pois não se cansava de o acariciar. Admirava como ainda não o tinham contratado para fazer publicidade. Provavelmente,nem aceitaria retribuição.
Os contentores de lixo não paravam de ser visitados,embora se fosse notando uma quebra na procura,talvez por a sua riqueza ter diminuido,sabia-se lá porquê.
A mulher-homem,para fugir ao mau tempo,arranjara poiso numa gruta de prédio de luxo. Lá prosseguia na sua interminável ladaínha,inspirada por repetidas libações.

MÃOS NOS BOLSOS

Então,é assim que se apresenta,com as mãos nos bolsos? Não mais esqueceu tal reparo. É que a ouvi-lo havia testemunhas,que teriam concluído que o moço não se andava a portar bem. Para castigo,iria passar uns dias a encher sacos com uma certa pedra,lá longe,onde havia muita.
Mas porque traria o moço as mãos nos bolsos? Talvez a preparar-se para o frio que o esperava.

MUITO POÉTICO

Um pastorinho,ou uma pastorinha,tanto faz,uma criança de meia dúzia de anos. Que lindo,não é? De arripiar. Ao frio,à chuva,aos ventos,aos perigos,sujeita aos lobos maus. Muito poético.

MAMOEIROS

Descera-se o Longa,em batelão, até uma ponte de barcaças,até à estrada que levava a Capolo,lá ao longe. Apenas um jovem crocodilo,apanhando banhos de sol,se dignara aparecer. Uma íngreme encosta revestida de mamoeiros deu as boas vindas.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Drought-hit India's quest for water hampered by thirsty crops

Drought-hit India

COUDELARIA DE ALTER - PORTUGAL

Coudelaria

GRAVURAS RUPESTRES - FOZ CÔA

Gravuras rupestres

EM CASA

Outro que se fizera à aventura,aparentemente tardia. O colorido pano que lhe cobria a cabeça deixava ver o cabelo já grisalho. Todo o seu ar era de alguém acabado de desembarcar. Mas sentir-se-ia ainda em casa ou seriam já saudades?
O seu transistor estava a dar-lhe música da terra distante,música que lha traria. Estaria a vê-la. Irresistivelmente,acompanhava-a,com a voz,com o corpo,sem atender aos que o rodeavam. Quereria,talvez,que a ouvissem. A toada era quase de fado.
Era evidente a sua boa disposição. Os seus modos eram descontraídos,talvez um tanto exagerados. Ter-se-ia convencido de que o mundo,afinal,é a terra de todos,e de que o canto onde naquela altura se encontrava,apsar de longe do seu,era uma extensão dele.

FORTE INSPIRAÇÃO

Daquele cimo,daquela casa,avistava-se um amplo e variado panorama,de searas,de montados,de vinhas. Ñão fora por isso que por lá se passara algumas vezes,mas sim por uns afloramentos calcários de estrutura rara. Sem querer,por inteiro desconhecimento,talvez se tivessem perturbado momentos de forte inspiração de quem lá morava.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CABO DA ROCA - PORTUGAL

Cabo da Roca

EUROPARQUE - SANTA MARIA DA FEIRA

Europarque

AMENIDADES

Ali perto,estava uma vacaria,um casarão de quinta grande,e um pouco mais além era o cercado onde as ovelhas vinham pernoitar. Não faltavam,pois,
moscas à mesa. Do teto, pendiam ratoeiras para as prender,mas pobres delas que não davam conta do recado.
Queria isso dizer que eram refeições em que os braços não tinham descanso. Mas era uma luta desigual,pelo que o inimigo acabava sempre vencedor. Para compor o ramalhete,rondavam,também,por ali, febres,por vezes,bem visíveis em quem confecionava as refeições. Escusado será lembrar uma constante presença,as formiguinhas de todos os tamanhos.
Tratava-se,afinal,das amenidades da vida no campo,ou seja,não há rosa sem senão. E assim,há que ter paciência,e esperar que rosas não acabem.

VISTOSA CARAVANA

Eram duas velhas amigas,amigas do coração,constava,que se não viam há um ror de tempo. As saudades,de ambos os lados que por ali iam,só visto,se as saudades se pudessem ver. E uma delas,não suportando mais aquela dolorosa ausência,foi visitar a outra. Tinham vivido uma carrrada de coisas em comum,lá no passado distante,onde ele já ia,andaria para aí ,perdido,coitado dele.
Pois foi um monopolizar do riquinho tempo por uma delas. A outra parecia não estar ali,ou estava só para ver a caravana passar. E que vistosa caravana era ela. Foi uma enxurrada de feitos avassaladora,de estarrecer,de ficar de boca aberta para sempre,a varrer,a submergir,a reduzir a outra a zero.
Pertencia a uma família de primeira,privilegiada. A coisa vinha das origens,talvez em linha reta,sem qualquer mistura,no muito já longo percurso,desde o primeiro par. E tinha sido sempre um apurar,um refinar,sem quebras . Os filhos eram melhores do que os pais,estes muito melhores do que os avós. Era,em suma,uma famíla genial. E o que havia ainda de suceder. Era um deleite,um saborear de coisas boas,de coisas únicas.
De arrasar. A outra ainda tentou,timidamente,estancar aquela enxurrada,mas, pobre dela,foi estar a chover no molhado. E a açambarcadora,a narcisa,lá se foi,sem tocar,ao de leve que fosse,num pormenorzinho,do seu estendido passado em comum.

Más notícias para o planeta : 2015 é o ano mais quente de sempre

O ano mais quente de sempre

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

COP21: 2015 likely to be warmest on record

Global average temperatures

SECA DO PEIXE - NAZARÉ

Nazaré

TORRE DAS CABAÇAS - JOÃO VAZ

João Vaz

PEIXE GRAÚDO

Ai os velhinhos,ai os doentinhos. Cairam,hoje,dois na rede. Ia-se a rede rompendo. Era peixe graúdo.

Ele ia a andar muito devagarinho,como que temeroso. Estaria para fazer alguma viagem. Levava uma mala, pequenina,tal qual ele,levava gabardina,levava dois chapéus,um,na cabeça,e o outro,para a chuva,que andava a rondar,levava-se a ele.

Então,já lhe vai custando? É desta humidade,que não nos larga a porta. A mim também me vai acontecendo o mesmo e devo ser mais novo. Ora se era. Ele já contava noventa e sete. Devia estar com pressa para apanhar o transporte,talvez o comboio.

O outro,fazia bicha,por causa da senha para o passe. Mais dois dias,e lá acabava o mês. Este,só contava cinquenta e sete. Muito magrinho,muito amarelinho. Apoiava-se em duas canadianas. Fora a malvada de uma doença,uma doença ruim,muito rara. Quer passar à frente? Não era preciso,podia esperar. Sabe,passo a maior parte do tempo sentado. Está reformado? Sim,é o que me vale.

Ainda há quem vaticine,ainda há quem queira que o Estado-Providência se suma. Para quê? Para se voltar ao passado,ao passado da mão estendida,das bichas à porta deste ou daquele? Só de quem se sente seguro para sempre,o que não abona muito a seu favor. Sabe-se lá o que acontece amanhã,ou melhor,no próximo segundo?

UMA TAL REDE

A quantidade de gente que anda por aí ainda mas que alguém já varreu ou quer varrer do mapa. É isto precisamente o que supõem as muitas expressões que a cada passo se ouvem. Não quererão significar outra coisa o "ainda está vivo?",o "já o fazia morto",o"não há meio de morrer",o "anda cá só a empatar",o"já devia ter marchado,não faz cá falta alguma",o"já devia ter morrido há mais tempo",o "esse já morreu",o "ele já deu o que tinha a dar".
Depois,num outro registo,mas de sinal da mesma família,os silêncios que se fazem,o nem querem ouvir falar deles,o ignorá-los,o massacrá-los,o condená-los,o desprezá-los,o ridicularizá-los,o reduzi-los a pó,que uma leve brisa leva por esses ares,para nunca mais.
Exagerando muito,ou caricaturando,é caso para dizer que já está tudo morto,porque não haverá quem possa escapar a uma tal rede,de malha tão apertada.

Cambio climático : 12 claves de la cumbre de Paris

Cambio climático

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Better batteries to beat global warming : A race against time

Global warming

GUARDADO ESTÁ O BOCADO...

O terreno para ali está, esperando que algum construtor lhe pegue. Enquanto isso não sucede ,vai tendo a sua utilização. Entre outras,é moradia de uma colónia de gatos,que lá vão vivendo daquilo que conseguem por própria iniciativa,mas,sobretudo,das dádivas de almas caridosas,que chegam ao ponto de lhes pôr a comida no prato. Às vezes exageram,mas os excessos não se perdem,pois há quem os aproveite.
Foi o que há dias aconteceu. Perto,corre um esgoto e nele habitam ratazanas,algumas quase do tamanho de lebres. Saíram duas ou três da sua casa e vieram explorar as vizinhanças. Uma delas deu com um belo pedaço de pão,que lhe chegaria para algumas refeições,assim o pudesse levar lá para dentro. Os intervalos da grelha eram estreitos ,pelo que a tarefa iria ser difícil. Mas ela estava determinada.Tentou,primeiro,pelo lado de fora,depois,do interior. Puxava,puxava,mas nada. Quando muito,arrancava alguns pedacitos,que,talvez,se perdessem. O tempo gasto nestes trabalhos inglórios foi-lhe fatal. Uma concorrente interveio e levou-lhe o petisco.
Isto não se fazia. Seguiu-se,como era de esperar,uma valente refrega,que resultou em flagrante injustiça. É bem certo que guardado está o bocado para quem o há de comer.

TUDO RASO

Uma força o dominava,uma força indomável, que ele aproveitava,para se vingar. Chegara a oportunidade. Impacientemente,esperara por ela,e ela aí estava,que tivesse vindo em boa hora,mas uma muito má hora para outros.
Esperaria todo o tempo do mundo. Era como na selva,coisa de que ele,alás,
gostava muito.
Mas de quem se queria ele vingar? Nem ele o sabia,talvez vingar de todos,pois ele não distinguia.É que tudo quanto estivesse para além dele era "inimigo". A sua pele era a fronteira. O mínimo toque,ou a mais leve brisa,ou mesmo átomo,roçando a sua rica pele, era logo tomado como uma afronta,a axigir resposta adequada,a que lhe viesse à cabeça no momento.
Era isso bem visível,denunciando-se ao mais pequeno gesto. Vivia para isso,para a vingança. E o tempo dela chegara. Ai de quem se pusesse à sua frente. Iria tudo raso.

MOROCCAN SOLAR PLANT TO BRING ENERGY TO A MILLION PEOPLE

Solar plant

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

FESTIVAL DE CHOCOLATE 2015 - ÓBIDOS

Festival de Chocolate

PAULITEIROS DE MIRANDA

Pauliteiros de Miranda

FESTA DE TRUZ

Terminada a festa daquele ano começavam logo a pensar na seguinte. Não os que dela se encarregavam,mas os que dela se serviam. Como é que aqueles haviam de ficar,depois de uma tal estafadeira? Derreados,certamente. E assim,precisavam de umas longas e merecidas férias. Os outros,ao contrário,estavam prontos para a que se seguia e desejosos que ela viesse depressa.
Podiam lá deixar de pensar nela. Em boa verdade,a festa era deles. Tratava-se de uma rica oportunidade para mostrarem o que valiam. Lá para onde tinham partido,apenas uma meia dúzia,se tanto,davam conta deles,os que circulavam no local de trabalho e pouco mais. Mas lá na terra de onde tinham abalado para se fazerem à vida era muito diferente. Ora como estão bem parecidos. Ora folgo muito em os ver.
Mas não só isso. Tinham também ocasião de pedirem meças a outros,sobretudo aos da sua geração. Não se encontravam mal adornados,como se fazia constar.
Era,de facto,uma festa de truz. Os seus promotores esmeravam-se para não ficarem mal vistos perante tais visitantes. O que iriam dizer se não achassem as coisas como deviam ser? E eram uns cumprimentos,umas admirações,uns elogios. Ficavam deliciados.

RANCHO FOLCLÓRICO DE SANTA MARIA DE CANEDO - CELORICO DE BASTO

Rancho Folclórico

FARPELA LAVADA

Não se esforçam,não trabalham no duro,são preguiçosos,tratam as coisas pela rama,não procuram esclarecer-se na medida das suas capacidades.
Portanto,só há uma coisa a fazer,lá pensam eles. E essa coisa é desfazer,desfazer de qualquer maneira,a torto e a direito,de maneira a ficar tudo em cacos,sem olhar a meios,à bruta mesmo.
O que é preciso é retirar do caminho todos os que lhes estão a impedir a caminhada triunfal,porque se não for assim,triunfal,a coisa não tem graça nenhuma. O que é preciso,mais precisamente,é reduzir os outros a pó,que uma brisa leve lá para muito longe. O que é preciso é dizer cobras e lagartos dos outros,se doutras coisas não se lembrarem,para ninguém os poder olhar a direito.
Então,só assim é que se sentem felizes,lá à maneira deles,porque chamar àquilo felicidade é de não se estar bom da cabeça. Coitados deles,uns tristes,que não podem ver uma farpela lavada nos corpinhos dos outros,todos os outros,sem um escapar,um só que seja,para só eles terem uma farpela lavada.

MUITO MELHOR

Era um bonito casaco,de vários tons de castanho. Pelo menos,ele assim o considerava,quando o via. Podia ter arranjado um igual,um ou mais,os que quisesse,mas não deu esse passo. Preferiria que o outro o tivesse,e não ele.
De resto,se ele também vestisse um assim,como é que poderia mostrar o seu agrado? Parecia interessar-lhe mais ser o outro a tê-lo,e ele não,ainda que o pudesse ter.
Tão ao contrário procedem tantos, quando se apressam a dizer que também têm isto,ou aquilo,
que um outro tem,só que muito,muito melhor.

domingo, 22 de novembro de 2015

EÇA DE QUEIRÓS - ANTÓNIO TEIXEIRA LOPES

António Teixeira Lopes

ALENTEJO

Alentejo

CONTEMPLAÇÃO - ANTÓNIO CARNEIRO

António Carneiro

O DESTERRADO - ANTÓNIO SOARES DOS REIS

Soares dos Reis

NO SEU CANTINHO

Não sabia para onde havia de ir,o que o trazia muito ralado. É que estar muito tempo no mesmo cantinho não deve fazer bem à saúde. Já andara por vários cantos,mas não fora feliz. Eram todos de fugir,e quanto mais depressa ,melhor,que os males pegavam-se. Para aqueles males não havia ainda vacinas eficazes,constando, até ,que seria muito difícil inventá-las. E assim,apsar da ralação quanto à saúde,lá continuava no seu cantinho.
Mas,de vez em quando,ainda que o não desejasse,dava-se com ele a lembrar um ou outro canto por onde andara. E a lembrar-se,também,dos motivos que o levaram a deles debandar. Desses cantos,havia meia dúzia que nunca mais esqueceria,pois tinham deixado marcas para ficar.
Um,era uma caixinha de surpresas,em particular nas veredas nobres. Eram alçapões por todo o lado,pelo que os olhos deviam ir bem abertos.
Pode dizer-se que esse tinha um gémeo. Não lhe ficava atrás. Ao virar de cada esquina,lá se abria um buraco. Não se sabe como não fora parar ao hospital.
Mas havia outro que pedia meças a estes dois. É que as armadilhas não tinham aspecto disso,estavam bem disfarçadas. De uma não se livrara e tivera de baixar à enfermaria.
Um outro ,ainda, batia-os a todos. Era um campeão. Ria-se dos hospitais e das enfermarias. Isso eram cuidados a mais e uma sangria de dinheiro. Se não tivesse saído de lá a correr ,só o teriam encontrado na vala comum.
Os dois restantes eram muito parecidos. As ruas eram frequentadas por gente estranha,de difícil classificação. Talvez fossem parentes de fantasmas. Como quer que fosse,aquilo era gente que metia medo.
Sendo assim,não tendo exagerado ou fantasiado,o que muitas vezes sucede,por variadíssimas razões,o homem parecia ter razão. O melhor fora mesmo ficar lá no seu cantinho. Não estaria livre,porém,de alçapões,buracos,valas comuns,fantasmas,porque nunca se sabe para o que se está guardado.

IRIA A CORRER

Com aquele,já era o terceiro encontro,num tão curto tempo. Dessa vez,sem palavras,que a distância não permitia. Fora um encontro revelador.
Eram,afinal,vizinhos. Para ele entrar para o seu palácio, não podia ser pela porta nobre,que estava entaipada. Servia-se das traseiras. Teria arranjado por lá um buraco,que o fogo de há uns tempos respeitara.
Estaria à espera que um outro fogo o levasse para o paraíso,que de tormentos continuados já teria a sua conta,uma conta que ele não quereria lembrar. Iria a correr,ao contrário do que vinha fazendo,que a bengala tosca não dava para mais.

PROPÓSITO JUSTO

As vizinhanças de um dos seus contentores preferidos estavam numa lástima. É que alguém,um vândalo certamente,desfizera em pedacinhos uma comprida prateleira de vidro.
Quando tal viu,não resistiu a mostrar a sua viva reprovação. Ele havia cada um. Estacionara a sua carrinha de trabalho junto ao passeio e estava usando uma vassoura que dela tirara.
Pelos vistos,parecia ter arranjado outra ocupação,colaborando na limpeza das ruas. Quereria,de algum modo,compensar os prejuízos que pudesse causar,retirando dos caixotes alguma coisa que valesse.
Seria isso um propósito justo,pois são muitos os anos em que ele anda nesta atividade,aliás,
quase sempre de bom humor,assobiando e até cantando em surdina. Como não viverá do ar,deve ela ser uma das suas principais fontes de rendimento,talvez a mais importante.

PORTA DE VIDRO

Era o que se imaginara. Aquelas salas não estavam completamente sem serventia,como alguém que por lá passasse poderia supor,tal o abandono a que tinham sido votadas,logo à nascença. Tinham sido destinadas a altos voos,mas há os imprevistos,ou lá o que é,e para ali ficaram.
Ele viera lá do fundo do parque,àquela hora quase só,atravessara-o,como que absorto,e a essas salas despidas,um tanto vandalizadas,se dirigiu. Subiu umas escadas e entrou nos seus aposentos,empurrando a porta de vidro,ainda intacta. Por lá se demorou uns istantes. Saído de lá,regressou pelo mesmo caminho,como que absorto,sumindo-se ao fundo do parque.O que teria ido lá fazer ao seu palácio?

O AR OS TRAZIA

Os frutos de muitas árvores da densa alameda atapetavam intempestivamente o chão. Grave doença passara por ali. Como se isso não bastasse,a sombra gélida de uma imponente mole senhorial dominava,esmagava,toda a quadra. Um tanto mais além,por um estranho vale,circulava grossa frialdade. Era de fugir dali,que os males pegavam-se.
Os anos foram passando,mas os ecos daquelas tristes lembranças é que não passaram,perduraram. Pairavam no ar,ou o ar os trazia,teimosamente. Eram como poeiras maléficas,que, longe de se biodegradarem,se insinuam nos buracos mais escondidos ou nas alturas mais distantes, permanecendo tempos sem fim. Eram,também,como residuos tóxicos condenados a perpetuarem-se.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

The Earth experiment

Geoengineering

How warming oceans unleashed an ice stream

Warming oceans

Climate warning,50 years later

Climate warning

Climate change in the oceans : Human impacts and responses

Climate change

Climate change and marine vertebrates

Climate change

Warm-water coral reefs and climate change

Coral reefs

The deep ocean under climate change

Climate change

COITADINHO

Tivera de sair,que o seu cãozinho precisava de dar uma volta. Era isto todos os dias,mesmo quando chovesse.E a primeira coisa que o animalzinho fez foi procurar a primeira árvore,já sua muito conhecida,que ele estava ali que não podia mais. Anda daí,pois estava a demorar.
Então,é o seu grande e fiel amigo? Diz bem,é o meu melhor amigo. Nunca me diz que não e nunca nos zangámos. Ele também sabe-se comportar com deve ser,não há igual.
Não lhe falto com nada,não tem de se queixar. Ainda ontem fui com ele ao veterinário,por causa de uma mordidela de um mau irmão seu. Lá se foram trinta euros,mas bem empregados,
coitadinho,que ele lastimava-se muito. Ainda não há uma semana batera lá à porta do médico para lhe cortar o pêlo que já andava muito crescido. Mas ele merece todos os gastos que eu tenho com ele. Faz-me muita companhia.
Depois,é muito assiadinho. Sabe-se conter,guardando-se para melhor altura,que lá em casa não pode ser,para não sujar. Tem a rua,os passeios,e demais sítios,que ele bem conhece. Está ali que parece uma pessoa. Só lhe falta falar. Tenho de ir,até outro dia.
.

BOLINHOS DE MEL

A sorte dele. Não era um pobretana, longe disso. Qualidades também não lhe faltavam para poder singrar na vida. Pois,para além de tudo isto,ainda lhe calhou uma madrinha,que gostava muito do moço, e que não sabia o que havia de fazer ao seu muito dinheiro.
Que casa a da senhora,um verdadeiro palácio,atravancado de móveis,tapetes,tapeçarias,quadros,
um nunca mais acabar. E tudo aquilo lhe estava destinado. Era de o invejar. Mas naquela altura,o que mais inveja produzia no amigo,que,às vezes,o acompanhava,eram uns bolinhos de mel,de comer e de chorar por mais,que a senhora sabia fazer ou alguém por ela. Foram eles que mais tempo permaneceram nas recordações desse amigo. Deviam valer milhões.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Global non-linear effect of temperature on economic production

Economic production

Economics : Higher costs of climate change

Climater change

Climate change : A rewired food web

Climate change

Economics : Account for soil as natural capital

Soil

Twentieth anniversaire : Lessons from Madrid for next climate talks

Lessons from Madrid

A breath of fresh air

Fresh air

DIA MUITO DIFERENTE

O que pode fazer um quase nada. Trazia a senhora,já com muitas primaveras,as mãos muito ocupadas. Fora abastecer-se e estava esperando a sua vez,na bicha da caixa. Faça favor de passar à frente.
Os artigos eram modestos,como modesto era o seu ar,modesto e preocupado. A gentileza tocara-a,a ponto de lhe modificar o ar. A sua cara desanuviou-se. Não esperaria isto de um desconhecido. Tivera uma atenção com ela,gesto a que não estaria habituada. E sentiu necessidade de retribuir,agradecendo mais de uma vez . Não era caso para tanto,mas, lá no seu entendimento,tinha esse estatuto.
Não seria exagero pensar que aquele dia teria sido para ela um dia muito diferente,um dia,talvez,de festa. Era ,também, como se o tivesse ganho,ainda que muitos achassem desprezível o pago.
Também não seria exagero pensar que durante algum tempo,porventura dias,aquele inesperado gesto lhe fosse tornar a vida mais leve. É que alguém,um desconhecido,desinteressadamente,se tinha preocupado com ela.

ENXURRADA

Uma grande desgraça assolara ,em escasso tempo,a região onde ele era dono e senhor. Tinha havido perdas de vidas e outras de muito diferente natureza.
Na sua cara devia transparecer a consternação que lhe ia na alma por tanta miséria inesperada. Podia ter-se visto,até, os seus olhos molhados de lágrimas. E da sua boca haviam de sair palavras de conforto e de esperança,que ele iria fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance,no momento,e mais ainda,se tal fosse necessário,para que ajudas chegasem muito rapidamente.
Mas nada disto se viu e ouviu. Foi mais outra calamidade a derramar-se por ali e com força bastante para alastrar por esse mundo além. As chuvas e os ventos de há pouco vieram alojar-se nele e aquilo foi uma enxurrada ainda maior.
Parecia o homem possuído de mil demónios. Afinal,o que acontecera teria vindo a calhar lá para as contas dele. E lá no seu íntimo estaria exultando.

VIDAS

Parecia aquilo um velório. Eram oito à mesa,uma mesa que deveria ser farta. Pelo menos,era de apetecer o que estava exposto,e que eles,pedindo-lhes,serviriam. Ali,á mesa,não se ouvia uma palavra. Talvez estivessem cansados,e mais cansaço os esperasse. Talvez estivessem fartos uns dos outros. Talvez estivessem com saudades das suas famílias,das suas terras,que alguns tinham vindo lá de muito longe.
Mas vontade de falar é que lhes não faltava,pois foi ver quem mais falava com um estranho que lhes aparecera,e que por eles se interessara,embora dele não lhes viesse uma maneira de se libertarem daquela sujeição,que era estarem ali horas e horas a atender este e aquele. Vidas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A Tale of Two Northern European Cities : Meeting the Challenge of Sea Level Rise

Sea level rise

El Niño,one of three strongest recorded,brings high drought risk for Australia

El Niño

Strengthening markets is key to promote sustainable agricultural and food systems

Agricultural and food systems

ANCIENT LOW-MOLECULAR-WEIGHT ORGANIC ACIDS IN PERMAFROST FUEL RAPID CARBON DIOXIDE PRODUCTION UPON THAW

Permafrost

ATLANTIC HURRICANE SURGE RESPONSE TO GEOENGINEERING

Atlantic hurricane

COISA PARECIDA

O que era a vida. Durante anos não fizera outra coisa senão servir de condutor de carros,grandes e pequenos,mas depois que se reformara tivera de arranjar nova enxada. É que passava todo o tempo a olhar para as moscas,de que se fartou,e a reforma também não lhe dava para o que ele queria. Teve de arranjar assim uns biscates,que lhe ocupavam a maior parte do tempo. Quer dizer,não mudara de vida. Trabalhar,dormir, comer,descansar,olhando para as moscas,ou coisa parecida.

PARA NADA

"Neste mundo conturbado,quem tem muito dinheiro,por mais inepto que seja,tem talento e préstimos para tudo;quem não tem dinheiro,por mais talento que tenha,não presta para nada."(Padre António  Vieira).
É, afinal,o muito tens,muito vales,nada tens,nada vales. Vieira viveu no século XVII. Pelos vistos,a coisa não muda. Não admira,pois,por um lado,a corrida desenfreada aos teres, e, por outro,a pressa incontida em anunciá-los,sem faltar um,por mais maneirinho que seja,em presença de um qualquer,desde que tenha ouvidos que oiçam.

O SEU SOL

O paizinho bem a chamava,mas ela não estava nada interessada em deixar o namorado. A mãezinha,talvez por a conhecer melhor,metera-se no carro,que aquilo estava para durar. Era a filha uma menina aí de uns onze,doze anos,mas com cara de mais crescidinha.
Ela cada vez se distanciava mais,na companhia do mais que tudo. O paizinho não teve outro remédio senão ir lá buscá-la. Ela lá veio,como que arrastada,olhando,perdidamente,para trás,para o seu Sol.
O paizinho entrou no carro,mas ela ficou ali de pé,a ver o seu menino desaparecer lá longe. Ainda fez menção de correr atrás dele,mas acabou por desistir,talvez pensando que já estava a ultrapassar os limites.
O paizinho era um homem forte,aí de uns quarenta,pelo que o mocinho deve ter achado que o melhor era pôr-se a salvo,debandando. A mocinha estava certa,e no outro dia, lá a teria na escola,na rua,onde calhasse, sem os paizinhos a contrariar.
Ah,estas meninas crescidinhas,ah,estas telenovelas que lhes põem as cabecinhas a imaginar coisas.

APROVEITAR SINERGIAS

Desde recuados tempos,alguns organismos de áreas afins vinham atuando cada um para seu lado. Ora,trabalhando esses organismos de forma integrada,a aproveitar sinergias,parecia poderem vir eles a dar melhor conta do recado.
E assim,em dado momento,foi posta essa ideia em ação. Mas logo de início se viu que um certo alguém de um dos organismos muito pouco interessado estava com ela.
Pois foi precisamente esse alguém,anos mais tarde,que acabou por vir a dirigir os tais organismos,mas simplesmente reunidos.

CONTA DO RECADO

Há trinta anos que andava naquela vida. Começara com catálogos,mas essa forma de vender acabara. Algumas freguesas pregaram-lhe grandes calotes,como uma que lhe ficara a dever mais de mil euros. Dizia sempre que já tinha pago. Naquela altura,defendia-se melhor.
Muito lhe custara a vida. Sozinha,criara três filhos,pois o seu homem abalara para não mais o ver. Arranjara outras. Mas lá conseguira dar conta do recado. Estava com mais de setenta,mas ainda se sentia capaz de continuar por mais uns tempos,talvez até ao fim.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

IMAGES SHOW IMPACT OF SEA LEVEL RISE ON GLOBAL ICONS

Sea level rise

PAISAGEM - TOMÁS DA ANUNCIAÇÃO

Tomás da Anunciação

PASTOR - DÓRDIO GOMES

Dórdio Gomes

GADANHEIRO - JÚLIO POMAR

Júlio  Pomar

CALAMIDADE

Em tempos de muito lá de trás,tempos perdidos,havia um servo cujo senhor o tratava assim assim. Esse senhor andava em demanda antiga com um outro senhor,por acaso seu vizinho,que lhe queria palmar os bens. Se isso,um dia,viesse a acontecer,quer dizer,os bens mudarem de dono,era coisa considerada mais que certa que o pobre do servo iria passar uns muito maus bocados,de tal maneira,que nem saberia de que terra era. Postas as coisas nestes termos,que inteiramente,sem qualquer dúvida,eram o retrato fiel do triste futuro que o servo esperaria,esse,e,claro, toda a sua numerosa família,não se cansavam de pedir,todos os dias, a todos os seus santos,e mais alguns,que tudo fizessem para que uma calamidade dessas nunca se viesse a abater sobre eles.

DO SANGUE E DOS OCEANOS

O pH do sangue é 7,4. Neste pH,muito pouco ferro está dissolvido. Tendo o sangue ferro na sua constituição,quer dizer que a hemoglobina,de que o ferro faz parte, o retém com uma altíssima estabilidade. Mais ainda,a tamponização no sangue é elevada também,garantia de muita fraca variação no pH.
Coisa um tanto semelhante se passa com a água dos oceanos,que ainda tem um pH mais elevado,à volta de 8. Assim,o fitoplancton não se desenvolveria,pois o ferro,embora não entre na estrutura da clorofila,tem de estar presente para que a fotossíntese tenha lugar. E é aqui que intervêm os sideróforos,agentes complexantes do ferro,elaborados por microorganismos que se desenvolvem em ambiente pobre em ferro dissolvido.

PARÓDIA

Mais uma vez ficou bem claro que não se devem fazer julgamentos apressados. Era uma injustiça tremenda que se estava cometendo,de bradar aos céus. É que a pomba só pudera pôr um ovo,e não dois,como contava,vá-se lá saber porquê. Esteve,pois,adiando o passo do aquecimento. Mas não foi assim que isso foi interpretado. Pensou-se que ela era uma irresponsável,que só lhe interessava a paródia. E o pobre do ovo que ficasse para ali,abandonado. Qual não foi,portanto,a surpresa,quando a viram no ninho, a cumprir a sua obrigação. Chegara,simplesmente,a vez do segundo ovo e do arranque da fase crucial. De outra maneira,seria um grande transtorno,como era de ter pensado. De início,mostrou-se muito nervosa,talvez por ter ficado traumatizada com aquela espera. Ao menor ruído,deixava o seu posto. Mas acabou por ganhar confiança,reduzindo o tempo das ausências. Da última vez,foi só um ligeiro voo.

COISAS

Dizia ele,ainda bem que não era rico,lá por coisas,e ,continuava ele a dizer,ainda bem que pobre não era,lá por outras coisas. Quer dizer,no primeiro caso,estavam verdes,no segundo,ainda bem que não era.

GAGUEZ

Era ele muito lembrado. Tratava-se do primo rico,que sofrera de respeitável gaguez,o que,no seu caso,não passava de uma coisa sem importância. Fosse ele pobre,a gaguez torná-lo-ia ainda mais pobre,pelo que ninguém se lembraria dele.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

CENTRAL SOLAR DA AMARELEJA - PORTUGAL

Central solar

ADAMASTOR - JORGE COLAÇO

Adamastor

CASTELO DE NOUDAR - BARRANCOS,PORTUGAL

Castelo de Noudar

POBRE CROSTA

Era um esburacar sem destino,era um trabalho de toupeira teimosa,à cata dos materiais mais diversos, cobre ,ferro, prata ,ouro ,carvão ,petróleo ,gás, potássio,fósforo,granito, mármore ...
Era um concentrar sem destino,de gente,de casas,... Pobre crosta,que não sabia de que Terra era.

O POBRE

Ainda bem que o encontro,pois quero mostrar-lhe o que consegui arranjar. Sabe,já não sou o pobre que conheceu.

SEM ENFADO

Esperaria alguém. Alta,bem trajada,olhar distante,jovem ainda. Uma pobre aborda-a. Jovem também. Tinha fome,muita fome. Viera lá de longe,muito longe,fugindo à fome.
Encaram-se as duas. Conversam as duas,demoradamente,sem enfado visível da bem trajada. Dinheiro mudou de dono. Escusava o dinheiro de ter intervido,que a pobre dispensá-lo-ia,de tão consolada estava com a intimidade inesperada. Quase voou dali a pobre,talvez para fazer durar esse precioso momento .
Nem só de pão se vive. Pois sim. Mas sem pão não há vida.

MEIA DÚZIA DE BONÉS

Deixara-se ficar para o fim,vá-se lá saber porquê. E acabou por ganhar,pois apanhou o revisor do comboio com a boca na botija. Sobraçava ele um gigante pacote de café,um tanto escondido,mas com o rabo de fora. Que indiscreto cheiro o café tem. Naquele tempo e naquele lugar,era aquilo um grande atrevimento,pois tratava-se de mercadoria muito disputada e vigiada. Quer dizer,o senhor revisor estava infringindo a lei,e de que maneira. Enfim,coisas que acontecem.
Mas era este revisor um homem muito rigoroso. É que não fora capaz de fazer vista grossa com um pobre candongueiro. Ora levante-se lá. O pobre do velhote,pois era mesmo um velhote,de cara muito enfiada,com carita de fome,teve de obedecer. E o que é que se viu? Que marreca a dele. Levava,entre a camisa e o mirradinho corpo, uma meia dúzia de bonés,matéria também sujeita a fiscalização. E lá ficara o pobre com o negócio estragado.
É assim com sabe-se lá quantos. Muito severos com os outros,mas muito brandos consigo. É a vida,não há nada a fazer.

UM MILAGREIRO

Era para ter pena dele. Ali,nas esquinas,a fazer pela vida,fugindo da autoridade quando dá conta da sua sombra. A mercadoria é fruta,fruta de todas as épocas,que mais ou menos rapidamente voa da banca. Faz concorrência ao mercado,ali a dois passos,mas a clientela colabora,o que não é para admirar. Lucram as duas partes.
No tempo da castanha, não quer outra coisa. E é vê-lo,em local estratégico,a disputar o negócio com outro empreendedor. Mas neste ramo,atua segundo a lei,não tendo que correr. Tanto num caso como noutro,as bancas não diferiam muito na modéstia.
Mas há tempos,a da castanha foi promovida. Para a transportar,usa um moderno autocarro,novinho em folha,daqueles de grande família ou de grandes negócios. E ali ficam,bem ao lado do seu dono.
Afinal,o homem é um milagreiro. Conseguiu transformar fruta,e em especial castanhas,não em rosas,mas em muitos euros.

TODA ROTA

Não era aquele um sítio qualquer,era mesmo um de alta excelência,um dos melhores do mundo no seu ramo de atividades. Quem ali trabalhava parecia estar interessado apenas no que estava a fazer.
Queriam eles lá saber de luxos,de mobiliário,de coisas assim. Contanto que não lhes faltasse o essencial,que eram livros e revistas das especialidades,e aparelhagem,o resto não interessaria ou interessaria pouco.
Assim,um que lá se deslocara para bisbilhotar,não teve outro remédio senão sentar-se numa cadeira toda rota,que uma ainda mais rota reservara-a o grande chefe para ele.

domingo, 8 de novembro de 2015

CHEGA DE BOIS - MONTATEGRE,PORTUGAL

Chega de bois

FÉRGOLA - FOZ,PORTO

Pérgola

A SETE ASAS

O que estava ali de boa comidinha. É o que meia dúzia de melros iriam dizendo para o vizinho do lado ,enquanto saltavam de um para outro ramo da grande amoreira. Já lá teriam ido ,mais do que uma vez,até,mas não se cansariam de o repetir. As cordas das apetitosas bolinhas,só vistas. Os mais velhos não se lembrariam de uma coisa assim.
Eles,que, ao menor ruído,fugiam a sete asas,agora,encontravam-se ali como em casa sua. Pareciam grudados. E,se calhar,alguns estariam,que aquele sumo semelhava açúcar em ponto. Os que andariam mais alheios seriam os filhotes,por aquilo ser para eles uma grande novidade. Os pais tê-los-iam informado do que iriam papar,mas o que estavam a ver e,sobretudo,a comer,excederia tudo o que tinham imaginado.
As folhas mal se viam,tal a carga das gostosas bolinhas. Nem todas estavam capazes,o que se notava logo pela cor,mas com o tempo lá ficariam prontas para o bico. Iriam ter fartura para muitos dias

TUDO VELHO

O diabo daqueles dois. Ele havia cada um,ou,melhor,cada dois. Nada lhes doía,pelo menos não estavam para dizê-lo,para não estragar o ambiente,as famílias não os ralavam,se lhes apetecesse podiam ir dar uma volta,mesmo grande,pois tinham lá debaixo do colchão uns trocos que davam para isso,enfim,eram uns felizardos.
Não admirava,pois,que pusessem umas caras sorridentes,e que passassem o tempo que ainda lhes restasse a contar as suas "grandes vitórias",que das pequenas não valia a pena,e das derrotas,nem pensar,sobretudo aquelas em que tinham ficado muito em baixo. De resto,não faziam mais do que imitar outros,se calhar todos,uns mais tarde,outros mais cedo,o costume,desde que o mundo era mundo,pois que não havia nada de novo,ou, melhor,era tudo velho.

UMA SEMENTINHA DE RÍCINO

Era caso para não esconder, para não silenciar,que casos destes contam atos de estarrecer,
atos que se perpetuam. Uma sementinha de rícino veio instalar-se,um dia,numa estreita nesga de terra,um mísero intervalo entre duas pedrinhas de calçada. Um tanto ao lado,mas em plena terra,bem adubada por um esgoto subjacente,dava mostras do que valia, uma bem nutrida nespereira.
Da sementinha,brotou um arbusto,que bem depressa se fez árvore. E é ver a pobre nespereira a definhar de dia para dia,e o rícino a crescer a olhos vistos,de que é responsável,certamente,o muito azoto que o esgoto lhe traz. Já está â altura de um primeiro andar e já faz sombra à infeliz nespereira,que se estará lastimando pela sorte que lhe coube.

O SEU CÃO

Que amizade aquela,que lealdade aquela,a daquele cão. Não as iria trocar por outras. Depois o consolo que ele lhe dava,sempre ali às suas ordens,docilmente,sem regateios.
Só se sentia bem junto dele. Além do mais,tratava-se de um lindo animal,e forte também. A figura que ele fazia,levando-o ,ali ,ao seu lado,uma figura ainda maior da que faria se ele acompanhasse um rei.
Não o trocava por nada. Seria sempre o seu cão, até que a morte os separasse.

A DEVER NADA

Não havia nada a fazer. Acabava de ouvir uma novidade,coisa de muito interesse,e apressava-se a transmiti-la,confiante em que iriam gostar. Pois, de duas,uma. Ou interrompiam,ainda não ia a meio,anunciando uma das muito deles,ou então,deixando-o chegar ao fim,brindavam-no com uma lá das muito deles. Uma espécie de troca por troca,para não ficarem a dever nada,o que seria,não uma morte,mas quase. Eram assim.

sábado, 7 de novembro de 2015

MENIR DE PÓVOA E MEADAS - PORTUGAL

Menir

PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS - I

Peneda-Gerês

BASÍLICA DE SANTA LUZIA - VIANA DO CASTELO

Basílica de Santa Luzía

PAINEL DE AZULEJOS III - SANTARÉM

Mercado municipal

UMA VIDA A SALVAR

Aquela terra era uma terra maninha desde há muito e com o correr do tempo foi-se tornando cada vez mais sáfara. Por mais que a trabalhassem,só se conseguia tirar dela produto para uma única e magra refeição diária. Não podiam continuar assim,pois seria a morte prematura para todos.

Tinham,pois,de dar com uma saída para esta insustentável situação,e o mais depressa que pudessem. Convocaram,então,uma assembleia magna,onde todos poderiam dizer da sua justiça,pois estava na mesa um caso muito grave,de vida ou de morte,como já se vinha desenhando desde que se conheciam. Após várias sessões,muito participadas e acaloradas,ainda que o calor não fosse por aí além,pareceu terem atinado com o que mais lhes convinha,visto não haver tempo a perder. Já tinham,até,perdido muito,e tempo,neste transe,não era dinheiro,mas antes vida,o que não é coisa com que brincar,sobretudo,quando se trata da vida dos seus,dos da família mais chegada ou mais longínqua,mesmo do vizinho do lado,qualquer que ele seja. Há sempre uma vida a salvar,o lema,alás,da magna assembleia.

Acontecia que à sua volta havias guerras por tudo e por nada. Era a triste sina dessa gente,e constava,até,que de muito mais gente,só não sabiam era onde. Talvez lá longe,diziam os mais velhos,que os de outras idades,em particular os rapazotes,pensavam noutras coisas,o que já era muito. Tinham-lhes chegado notícias,não se sabia por que vias,de grandes mortandades,que estavam levando a uma grave,desesperada,escassez de peões para as batalhas inúmeras. Persistindo os eternos contendores, os inimigos assim chamados,era a sua triste sina,andavam contratando pessoal,a qualquer preço,que para guerras dinheiro aparece,como por encanto,ou talvez não,sabe-se lá,de países vizinhos e mesmo de longe,muito longe.

Ora ali,naquela terra três vezes maninha,gente era o que não faltava. Sucedia,até,ter aumentado muito,inexplicavelmente ou não,nos últimos anos. Talvez,diziam,outra vez,alguns dos mais velhos,porque com os mais novos não se podia contar com eles,cá por certas coisas,se tratasse assim dum fenómeno,como o que se passava com as árvores a despedirem-se. Depois,era gente frugal e rija.Tirando a fome a crescer,do resto era raro queixarem-se. Parecia,assim,à evidência,que estavam mesmo calhados para as tais guerras sem fim,em que,alás,diziam os livros,de cá e de lá,nunca se tinham metido. E acontecera isso,não por um mero acaso,mas por uma razão muito comezinha. É que ali à volta não havia ninguém que desconhecesse,até as crianças,que aquela terra era terra que nunca valera nada.

E além de tudo o mais,estavam mais que disponíveis,estavam ansiosos,como de pão para a boca. E foi o que constou por muitos quilómetros em redor,e até lá muito longe. E foi a salvação de muitos,não de todos,claro está,pois é sabido, desde sempre,desde que se conheciam,que quem vai à guerra dá e leva. Tinham dado,pois,com a tal saída,o que já não era sem tempo.

BOLSA RECHEADA

Quem o vê pensará que vai ali alguém,curvado ao peso da vida,a pensar, angustiadamente,no fim do mês. Quem o vê não dirá que são várias e pingues as suas fontes de rendimento. Pese tudo isso,é ele parco no gastar em frentes essenciais,no vestir,no comer,no folgar. O automóvel é quase da sua idade. Casou tarde e não teve filhos. Não se sabe o que faz ao seu muito dinheiro. Muito provavelmente entessoura-o,visto não ser de acreditar que o distribua pelos pobres. É que lhes chama madraços,sem distinções.
Sempre que vem a propósito,segundo consta,e ,às vezes,fora do contexto do que se estava para ali a dizer,critica, asperamente,o mínimo aumento de salários,talvez por ver nele uma séria ameaça à sua bolsa recheada. Achará que já contribui de mais. Façam como eu. As pessoas não precisam de ganhar mais,as pessoas têm é de gastar menos. E estando inspirado,cita tempos longínquos,gloriosos,de que muito gostou,e dos quais guarda sentidas saudades,tempos em que uma sardinha dava,tinha de dar,para dois ou mais. Chega,até,nos tais momentos de inspiração,ao ponto de apontar exemplos de países em que os trabalhadores aceitaram redução de salário. O ideal, para ele ,seria,certamente,os dependentes nada exigirem,vivendo do ar e morando em barracas.
A sua aparência,a lembrar um indigente,é,inegavelmente, parte de uma estratégia lá muito dele. Ninguém,familiar,conhecido,um qualquer,ousará bater a uma porta destas,num caso de aflição,de emergência. Coitado,precisa tanto como nós,ou mais ainda. Passam,assim,de largo,não vá ele,também,atrever-se a pedinchar. Era bem capaz disso,não por precisão,claro,mas para tentar remover qualquer dúvida que se levante a seu respeito,a respeito do seu cofre.
Com tudo isto,está ali para lavar e durar. Saúde não lhe falta,nem nunca lhe faltou,segundo uns,graças a Deus. Dá-se ao luxo de andar vestido de inverno quase como no verão,suscitando as maiores admirações e invejas. Um fenómemo,muito raro,suscitando,talvez,em alguém,o desejo de estudar o seu genoma,por razões óbvias.

A ESTRATÉGIA

A moradia ao lado tinha sido assaltada. Não acontecia todos os dias,mas,de vez em quando,muito raramente ,lá calhava a uma. Não era tarefa muito difícil. Até um gato o podia fazer. É que as portas e as janelas eram tantas e tão fáceis de penetrar,ao nível do chão ou à altura de um escadote, que admirava não suceder mais vezes. Depois,aquela retaguarda tão frágil,onde circulava o carro do carvão. Talvez os candidatos fossem poucos,pois por ali vivia-se,de maneira geral,muito bem.
Um sarilho,um pânico. E agora? E veio a receita,a estratégia,delineada pelo chefe lá da casa. Todos os dias,antes de se deitarem,queria que todos,mas todos,espreitassem bem debaixo das camas,vasculhassem os armários,enfim,passassem todos os recantos a pente fino. E só parassem de o fazer quando ele mandasse. Como os subordinados lhe tinham um grande respeito,seguiram,à risca ,o que ele mandara. Talvez por ver já algum cansaço na sua gente,deu instruções para pararem,até nova ordem,ao fim do oitavo dia,ou melhor,da oitava noite,noite que tinha muita pressa de chegar,mas também,muita pressa de partir,lá para a sua vida.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ANTHROPOGENIC WARMING IN THE WEST PACIFIC LIKELY CONTRIBUTED TO 2014 DROUGHT IN EAST AFRICA

Drought

GLOBAL CLIMATE CHANGE

Global climate change

DESTRUIR

O que um simples pedido pode originar. Não se importa de cortar aqui estas folhas? Não,não me importo,até o faço de boa vontade. É que eu gosto de destruir,gosto de destruir. Não imagina.
Não parecia uma saída a propósito. Não se tratava, de facto, de uma destruição, longe disso. mas antes uma mera eliminação, uma coisa sem importância E tanto o que fez o pedido, como quem o satisfez, tinham disso a exata noção.
Mas o calor, a ênfase, a repetição, a alegria, até. posta naquele manifesto gosto de destruir, impressionou. E aquele gosto. assim tão veemente, parecia estar a pedir um esclarecimento. Que queria ela destruir assim, assim ?
Era ela uma jovem cheia da natureza. Era uma jovem que pedia criação e não destruição.

INVERNO MEDONHO

A sala estava a transbordar e ela pediu a palavra. Tratava-se de uma sessão aberta a todos,para protestar,reivindicar. Foi um sucesso. Desenvolta,desempenhou o seu papel com o ar que ainda hoje ostenta: dominadora,crítica,cáustica. Parece estar sempre a invetivar,transformando o espaço que a rodeia numa arena de permanente discussão e luta. Toda a sua figura impressiona:hirta,esfíngica,olhar distante,andar decidido,vestes de cerimónia,acabada de vir da cabeleireira.
É o olhar que mais chama a atenção,um olhar de águia. O nariz,ligeiramente adunco,acentua a semelhança. Com ele,varre os que à sua volta passam,como lixo fosse,para de seguida os triturar,reduzi-los a pó,que o vento se encarrega de levar para muito longe. Fará isto repetidas vezes,para garantir completo saneamento.
As passadas lembram o avançar de um exército devastador,que não deixa nada de pé,nem uma casa,nem uma árvore,nem uma ervinha. O chão que pisa deve temê-la,o ar que respira fica gelado. É isso,recorda um inverno rigoroso,prolongado,interminável,medonho.

AS ATALAIAS SUMIRAM-SE

O que são as coisas. Tão inimigos que eles eram. De Espanha ,nem bom vento,nem bom casamento. O enxame de castelos e de atalaias que ia por essa raia fora,muito em especial de uma das bandas. Pontes,talvez uma ou outra, do tempo dos romanos,ou de mais atrás,dos tempos heróicos da prehistória. É claro que houve gestos de aproximação,de entendimento,ou mesmo de maior alcance,que é real,universal,o jeito de domínios alargar. Houve casamentos. Entre outros,os de D.Dinis,de D.Afonso IV,de D.Pedro I,de D.Fernando(projetado),de D.Manuel I(dois ou três,conforme as interpretações). Mas avultam os contratempos,os escolhos. Andeiro,Atoleiros,Valverde,Aljubarrota,1385,1580k1640,Tordesilhas,Colombo,Olivença e outros mais,que a memória não lembra,por já claudicar e até já tenha metido água. E a propósito,Henrique de Borgonha foi um dos responsáveis de tudo isto. Era o azar,ou a condenação, dos filhos que vinham depois do primeiro e que tinham de se fazer à vida. O que teria acontecido,se ele não tivesse vindo por aí abaixo? A História,e a Prehistória,também,suspensas de ninharias. De qualquer maneira,parece não restar dúvida de que há sangue gaulês no sangue dos reis de Portugal. Mas a misturada é a regra,não há que ter orgulho nisso.
E,agora,o que se vê? As atalaias sumiram-se. Quanto aos castelos,desapareceram uns,estão em ruínas outros,outros ainda foram reparados para compor a paisagem,mais seriamente,para manter o património,pois o turista, de lá e de cá, gosta de ver coisas que nunca viu,ao natural. Mas a internet já se vai antecipando,pondo-lhe imagens na sua frente,a qualquer hora do dia ou da noite,com a vantagem de não encontrar multidões e outras incoveniências mais.
No que diz respeito a pontes,isso é uma profusão delas,daquelas de sobre elas passar(no rio Minho,é quase uma porta sim,uma porta não,como os casinos de Las Vegas,mal comparado seja) e de outras de muita diversa qualidade. É o caso que se dá entre o Norte e a Galiza e entre a Extremadura e o Alentejo. É o princípio da Ibéria,que teve em Oliveira Martins,se não há engano,um muito sério e forte entusiasta,e que o Nobel Saramago profetizava.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Australia is 'free to choose' economic growth and falling environmental pressures

Economic growth

Sustainability: Australia at the crossroads

Sustainability

Vehicle emissions : Volkswagen and the road to Paris

Vehicle emissions

China emissions : alter nergy markets

China emissions

China emissions : stop subsidizing emitters

China emissions

Arctic open-water season opens

Arctic

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Deciduous forest responses to pemperature,precipitation,and drought imply complex climate change impacts

Deciduous forest

Solar energy development impacts on land cover change and protected areas

Solar energy

The future of airborne sulfur-containing particles in the absence of fossil sulfur dioxide emissions

Sulfur dioxide emissions

Carbon choices determine US cities committed to futures below sea level

Carbon choices

EL NiÑO-SOUTHERN OSCILLATION FREQUENCY CASCADE

El Ni-ño

LATENT HYDROCARBONS FROM CYANOACTERIA

Cyanobacteria

terça-feira, 3 de novembro de 2015

DROUGHT-BUSTING INNOVATIONS PULL WATER FROM THE AIR,THE SEA, AND YOUR TOILET

Drought

FUNDOS EUROPEUS VÃO AJUDAR ALQUEVA A ADAPTAR-SE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Alqueva

ALBUFEIRA DO ALQUEVA - MONSARAZ

Albufeira do Alqueva

CASTELO DE ALMOUROL - PORTUGAL

Castelo de Almourol

PAINEL DE AZULEJOS II - SANTARÉM

Mercado municipal

QUALIDADE E QUANTIDADE

Pode dizer-se que agricultura orgânica é agricultura de qualidade. Ora,não é de qualidade,mas de quantidade,que mais de mil milhões de pessoas,que fome padecem, deste vário mundo, está à espera. Ora,também não é a qualidade que mais preocupa cerca de metade da população mundial que tem no arroz a base do seu sustento. O mesmo se aplica ao trigo,ao milho,à soja,e a outros bens da mesma família,indispensáveis á produção de alimento e de energia para uma grande parte das gentes que povoam a Terra. Sendo assim,a agricultura orgânica serve apenas a uma minoria que já está bem sevida.

POBRE KUDZU

Pobre kudzu,essa infeliz planta invasora. Depois de ter sido acarinhada,malham nela por
 contribuir para o aumento do teor de ozone da troposfera. É que o solo onde ela se instala emite óxido nítrico,precursor do ozone.
Ora,o kudzu é uma leguminosa,pelo que fixa azoto do ar,tal como muitas outras suas irmãs. Condenando-a,é como estar a condenar uma numerosa família,o que é,manifestamente,um inqualificável exagero.
De resto,há outras fontes de óxido nítrico. É o que se passa,entre outras,com os combustíveis fósseis,como carvão mineral,petróleo e gás natural.
Como sa sabe,não se pode viver sem azoto. Ora as leguminosas,e neste caso,o kudzu,fixando azoto do ar,prestam um inestimável serviço,com a vantagem de se reduzir o emprego de adubos químicos. Os combustíveis fósseis,ao contrário,não são essenciais,e têm,como se sabe,quem os substitua.
Pobre kudzu.

UMA HISTÓRIA

Contavam os mais velhos uma história que tinham ouvido de outros mais velhos,uma história que se perderia nos muitos recuadíssimos tempos. Essa história dizia que em tempos muito lá detrás,existia um reino,muio vasto,e muito poderoso,talvez como aqueloutro onde nunca o sol se punha,que estava atavessando uma muito má hora,coisa que se vinha tornando cada vez mais feia,por via,dizia-se,de uma certa ideia que dera em espalhar-se por lá,como fogo em mato seco,por tudo que era canto,sobretudo,nos cantos mais cantos,onde certos ouvidos não iam.
E a ideia referia-se lá a uma libertação,que os dos muitos cantos não percebiam bem o que era,o que ouviam era libertação. E era serem libertados o que eles mais aspiravam,pois tinham sido sempre escravos,pois já os seus pais e os seus avós muito lá para trás nem sabiam o que era outra coisa.
Ora o rei gostava muito de ser rei,e rei todo-poderoso,não estava nada interessado,nem ele,nem mesmo um escravo que,por artes mágicas,se tornasse rei,que era o que ele mais desejaria,lá por coisas,ora o rei,dizia-se,que não era parvo algum,resolveu seguir um muito sábio conselho,que é o que reza assim,"se não podes com eles, junta-te a eles".
Abençoado conselho,não podia ele,o rei,ter seguido um melhor. Foi remédio santo. Devia era tê-lo tomado há muito mais tempo,que assim teria evitado muitos aborrecimentos.

O ABISMO

Há quem já nasça talhado para o abismo. Ainda que este more longe,por mais que façam para dele escapar,acabam por dele se abeirar. Depois,é só uma ligeira vertigem,um empurrãozinho,e já está,lá vão parar às profundezas.
É que o abismo tem artes. Conhece bem essa gente e é só manobrá-la. Nem dão conta,coitados deles. Envolve-os de teias de aranha,de muita tralha,de muita poeira. Assim,bem envolvidos,é tarefa para um qualquer,uma criança mesmo. Basta apenas o tal empurrãozinho.
Com muito esforço,ao longo de anos,lá conseguem,um dia,sair dele. Parece virem mudados. Dizem que ficaram fartos daquele abismo,que nunca mais lá os apanham. Fazem,até,uma grande festa para comemorar a libertação. Lançam foguetes,armam fogo de artifício,discursam floreadamente. E repetem muitas vezes que nunca mais lá os apanham,naquela escuridão.
Mas soa tudo isso a falso,descontada uma ou outra exceção. Com o tempo,vão-se escapando,aqui e ali,notas dissonantes,a lembrar o passado triste,amargurado. Essas notas,afinal,vêm para ficar, e são a valer. Entram em larga circulação,instalam-se,sem apelo ,nem
agravo,e volta-se,mais uma vez,a mergulhar no abismo,alguns,até,muito alegremente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

UM CASO DA NATUREZA

Como bem se sabe,a fotossíntese é um processo biológico de importância vital,por ser através dele que se dá a conversão de anidrido carbónico da atmosfera em compostos orgânicos essenciais à vida. É mais um caso da Natureza em que ocorre transferência de eletrões.
Aqui,é o anidrido carbónico,mais propriamente,o seu carbono,o agente oxidante,ou seja,o captador de eletrões. O agente redutor,isto é,o fornecedor de eletrões,é o oxigénio da água,gerando-se oxigénio molecular.
Tudo isto se passa,como é também sobejamente sabido, por ação da energia fornecida pela luz que é absorvida por pigmentos vários,principalmente,clorofilas e carotenóides,de organismos,como plantas superiores e algas.

PARA AS VIAGENS

Durante muitos anos, esteve ele sentado, por largas horas, junto a uma janela. Foi melhor assim do que permanecer na sua cama. Aqui, veria,apenas,a bem dizer,o teto.
Sentado,por detrás da sua janela, era muito outra a paisagem,uma paisagem rica. Nela,salientava-se um cipreste,uma ponte e uma imagem.
Nem de propósito. O cipreste,era um sinal da sua segunda morada. A imagem,o símbolo da morada definitiva. A ponte,era para as viagens. Isto,só de encomenda.

LIVRA

Parecia ir haver grande festa naquela casa. Não seria,de facto, para menos. É que estavam para receber a visita de um casal muito amigo,quase da família,que já não viam há anos. Ficavam lá instalados. Ainda resistiram,que não queriam incomodar,que iam para um hotel. Era o que faltava. Nem pensar nisso. Os amigos não eram para as ocasiões? Tudo isto foi transmitido triunfalmente aos vizinhos. Estavam lá uma semana a bem dizer. Vinham a uma segunda e partiam no sábado seguinte.
O grande dia chegou. Aquilo foram abraços fortes,beijos demorados,mesmo quase lágrimas,que seriam de felicidade. Foram horas e horas a despejar os sacos das lembranças,a saberem deste e daquele.
O primeiro dia passou-se sem darem por isso. No terceiro dia,tinham os sacos vazios. Depois,depois,o que é que havia de acontecer? A dona da casa já não era nova. Era sobre ela que recaía a sobrecarga dos afazeres. Estava arrasada,em suma. E assim,na quinta,logo de manhã,não resistiu e avisou uma vizinha que eles já se iam embora no sábado. E avisou-a com satisfação igual,ou maior,à que tinha mostrado quando do anúncio do magno acontecimento.
Estaria farta,coitada,desejosa de os ver pelas costas. Livra,não mais cairia noutra,pelo menos,nos tempos mais próximos. Mais tarde,talvez,quem sabe. O alívio que foi por lá,quando tudo voltou à mesma.

BASTA UMA VEZ

Acreditaria numa outra vida,certamente,o faraó. Um dia,havia de ressuscitar. E logo ali,à sua muito poderosa mão,queria ele ter todas as coisas que lhe embelezaram a sua rica vida.
Para além de jóias,muitas jóias,ou outras coisas de igual valor,de todas as cores e feitios,um barco devia estar pronto para ele,imediatamente,poder passear no seu saudoso Nilo.
E para um barco do faraó,só uma gigantesca pirâmide servia. Não era isso dificuldade que o faraó não resolvesse. Os escravos que necessários fossem,bem depressa ele os arranjaria,dentro ou fora de portas. De resto,para o faraó,não havia porta a que ele não chamasse sua. E se , acaso,encontrasse uma cerrada,o que não era de admitir,um simples safanão dos seus chegaria para a porta ficar escancarada. Algumas,até,se abririam por si,à simples lembrança de que o faraó viria aí.
Como não haveria de querer voltar o faraó? Tinha sido a sua vida,uma vida cheia de prazeres,uma vida de invejar. Só se ele fosse parvo,e parvo é que ele não deveria ser. Fosse ele um dos seus muitos escravos,nessa é que ele não cairia. Livra,pensaria ele. Para sofrer o que eu sofri,basta uma vez.

PARA DAR E VENDER

Não era o ouvem-se tambores ao longe,mas sim rumores de estrondosa cachoeira. Era isto de esperar. É que em tempos de carestia,aquela nascente comportava-se como se a chuva andasse por toda a parte, a ensopar vales e encostas,e não andava,ainda que a pedissem,que a coisa estava a ficar feia.
Pois naquela altura,era o que se estava vendo e ouvindo. E de tal maneira,que se não desviassem as águas para as profundezas,haveria ali uma inundação de todo o tamanho. De onde virá tanta água,admirava-se alguém que tal coisa nunca tinha visto? É que se estava ali num alto. Pois é,é que há altos ainda mais altos,e o sistema de vasos comunicantes é uma realidade.
As hortas que por ali haveria nos belos tempos. Aquela era água para dar e vender. E não só hortas,jardins também,cheios de amenidades,de sombras,de frescura apetecida em tardes e noites de verão.

domingo, 1 de novembro de 2015

IDE'S ISRAEL SEWATER RO DESALINATION PLANT SETS WORLD RECORD FOR WATER PRODUCTION

Seawater desalination

FOR DRINKING WATER IN DROUGHT,CALIFORNIA LOOKS WARILY TO SEA

Desalination

CIMENTO ARMADO

É de ficar aterrado com as barbaridades,as violências,as loucuras que enchem,a transbodar, o muito estendido passado do homem,parecendo todas elas terem caído em saco roto,a atentar na sua frequente repetição,e,até,na sua ignorância,como não tivessem tido lugar,ou fossem coisas de somenos.
Os tratos a que o pobre ser tem sido sujeito. É de admirar como ainda há homem,como ainda está inteiro,como não se escaqueirou já todo,não ficando osso sobre osso. É de cimento bem armado este homem,para a tanto abalo resistir.

HORAS SEM FIM

O barco naufragara,na viagem de regresso de grande e perigosa aventura. Só ele se salvara,mas deixara lá,nas águas com sal de muitas lágrimas,uma perna e um braço.
Não se sabe como está ele ainda vivo,passados que foram tantos anos. Até já se lhes perdeu o conto. Não lhe tem valido,para seu sustento,qualquer tensa,por minguada que fosse. Teria de ser poeta,como o vizinho do canto. Assim,tivera de se desembaraçar,escolhendo um local estratégico,a entrada da memória de um épico empreendimento.
Ali permanece horas sem fim. Sentado num degrau,à esquerda ou à direita,tanto faz,mostra as ausências,esperando que um copo translúcido se vá enchendo.
Assim tem aturado. É isto mais do que justo,pelo muito que ele, e tantos como ele, fizeram. Mas,atendendo,pelo menos,à solenidade do lugar,já se podiam ter lembrado dele,arranjando-lhe um poiso mais confortável.

CONTEM COMIGO

O passarinho,ali em árvore frondosa,onde se acoitava,não se cansava de cantar,de assobiar,o que quer que seja,lá como ele sabia,e que bem o fazia. Onde é que ele teria aprendido? Era assim como que uma espécie de nota acima,nota abaixo,tudo muito afinado.
O cão ladrava,ali perto,e ele respondia. Passava um carro,e ele comprimentava. Os pombos arrulhavam,e ele dava logo conta. Parecia aquilo um alertar. Olhem que eu estou aqui,contem comigo.

SER GENTE

Era de prever o que viria a acontecer com aquelas folhas dos rebentos da árvore,quer dizer,das folhas da base,do rés-do-chão. Tão depressa quiseram crecer,talvez no desejo incontido,dominador,não de imitar,que ideia,mas de ultrapassar as lá de cima,que estavam ali que nem pareciam as folhas bonitas de ainda há poucos dias.
Fora-se-lhes o viço,fora-se-lhes a leveza,fora-se-lhes a graça. E puseram-se grosseiras,àsperas,encarquilhadas,feias. Já nem dava gosto olhar para elas. E tudo por aquela mania de querer ser gente,logo no dia a seguir.

FOR DRINKING WATER IN DROUGHT,CALIFORNIA LOOKS WARILY TO SEA

Desalination

OS CARRINHOS E O SOL

Ai está,o SOL a dizer contem comigo,parece que se tinham esquecido de mim. Andavam para aí apoquentados,a meterem-se,mesmo, em aventuras perigosas,como é essa de desviar comidinha,que faz tanta falta em tanta boca,para arranjar combustível e EU,lá em cima,ou em baixo,tanto faz,que Eu sou sempre o mesmo SOL,muito ralado,a pensar que ME tinham posto de parte. Ora isso não se faz. E foi preciso que alguém se lembrasse duma coisa tão simples que até uma criança,se estivesse para isso,o fazia.
Pois claro que Eu posso fornecer a eletricidade que vocês quiserem. Estavam para ali os desertos sem fazer nada de jeito e agora parece que também se lembraram deles. O que vai ser de painéis por aquelas extensões. Para começar já se inscreveu o Negev. Ah estes geniais israelitas. É de se lhes tirar o chapéu. Os carrinhos,que já estavam a ver a vida a andar para trás,vão passar a adorar o SOL.