sexta-feira, 6 de novembro de 2015

INVERNO MEDONHO

A sala estava a transbordar e ela pediu a palavra. Tratava-se de uma sessão aberta a todos,para protestar,reivindicar. Foi um sucesso. Desenvolta,desempenhou o seu papel com o ar que ainda hoje ostenta: dominadora,crítica,cáustica. Parece estar sempre a invetivar,transformando o espaço que a rodeia numa arena de permanente discussão e luta. Toda a sua figura impressiona:hirta,esfíngica,olhar distante,andar decidido,vestes de cerimónia,acabada de vir da cabeleireira.
É o olhar que mais chama a atenção,um olhar de águia. O nariz,ligeiramente adunco,acentua a semelhança. Com ele,varre os que à sua volta passam,como lixo fosse,para de seguida os triturar,reduzi-los a pó,que o vento se encarrega de levar para muito longe. Fará isto repetidas vezes,para garantir completo saneamento.
As passadas lembram o avançar de um exército devastador,que não deixa nada de pé,nem uma casa,nem uma árvore,nem uma ervinha. O chão que pisa deve temê-la,o ar que respira fica gelado. É isso,recorda um inverno rigoroso,prolongado,interminável,medonho.

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