sábado, 28 de novembro de 2015

DESFILAR DE TEMPOS PASSADOS

Fazia a velhota muita falta ali. Toda vestida de negro,aliviava-se. Entre dois carros estacionados junto ao passeio,como a esconder-se,de pernas em arco alongado,olhava,consternada,para o chão.Um regatozinho corria para a valeta.
Habituais figurantes lá iam desfilando. No carrinho de mão desconjuntado,a mãe trazia as pernas enganchadas no rebordo. Já há uns dias que se não viam juntos. A família podia,de novo,pavonear-se por aquelas ruas.
O homem da bandeja trocara o chapéu por um turbante de cores garridas. Sentado num banco,espantava os pombos com a sua voz de tribuno. Por via do frio,envolvera os pés com sacos de plástico.
O palmilhador das sete léguas vestia de maneira mais cuidada. O seu raio de ação não dava,porém,sinais de encolher. A paisagem não lhe interessaria, pois não tirava os olhos do chão. Talvez o considerasse o seu melhor amigo,pois não se cansava de o acariciar. Admirava como ainda não o tinham contratado para fazer publicidade. Provavelmente,nem aceitaria retribuição.
Os contentores de lixo não paravam de ser visitados,embora se fosse notando uma quebra na procura,talvez por a sua riqueza ter diminuido,sabia-se lá porquê.
A mulher-homem,para fugir ao mau tempo,arranjara poiso numa gruta de prédio de luxo. Lá prosseguia na sua interminável ladaínha,inspirada por repetidas libações.

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