quinta-feira, 30 de abril de 2015

VATICAN CONVENES MAJOR CLIMATE-CHANGE MEETING

Climate-change

WEATHER EXTREMES LINKED TO WARMING

Warming

BELÉM TOWER - LISBOA,PORTUGAL

Torre de Belém

SONO DE MILHÕES DE ANOS

Como se sabe,são muitos os modos de manter,temporariamente,o carbono fora do seu ciclo activo. É o caso da matéria orgânica dos solos,é o caso das árvores,das madeiras,das mobílias,da cortiça. Enquanto não houver decomposição microbiológica,quer por via aeróbia,ou anaeróbia,enquanto combustão não ocorrer,o carbono permanece como tal,e não como anidrido carbónico,o seu,por assim dizer,destino final. Assim,de modo tímido,todos esses materiais imitam os seus irmãos fósseis,quando os deixam lá estar no seu sono de milhões de anos.

COMO TINTAS

Dos oito iniciais,três escaparam-se muito antes do termo. Mas o encantamento foi tal,que quase se tornou necessário expulsar os cinco restantes.
A história seria dispensável. Estava ali a desenrolar-se porque o artista precisaria dela para compor os seus quadros. Uma interminável galeria. Que cores. O branco parecia uma lâmpada de muitas velas a iluminar as cenas,um tanto penumbrosas,porque assim pedia a circunstância.
Era como que a alma dela. Tempos românticos aqueles,os da acção,de contornos tão de conveniência. Muito diferentes dos tempos que correm. O parecer bem ou mal mandava nos procedimentos.
Que importa porém isto? O dom do artista gera obras inconfundíveis,trazendo o seu selo. A contenção,o rigor,o essencial. Nada de supérfluo,de estar a mais. Até as figuras são como tintas. Um veio que dá mostras de não se extinguir.

COMO OS OUTROS

Era uma rampa íngreme,quase a pique. O pobre do homem tinha de a trepar,pelo menos,duas vezes por dia. No topo,estava o seu ganha-pão,na base,a sua casita. Chegava derreado,ofegante. Uma dor de alma,vê-lo. Ainda um dia,ficaria ali,tombado no asfalto. Alguém tinha de intervir. Ele precisava de se reformar,para se ver livre daquele calvário. Uma comissão é ouvida pelo chefe. Iria tratar do caso. Os dias passaram e novas não vieram. A comissão insistiu. Compreendia muito bem o interesse,o empenho,a generosidade,a impaciência. Também já fora jovem. Mas haviam de aprender,com a experiência,que as coisas não eram assim tão fáceis de resolver. Levavam o seu tempo. Mas o caso não estava esquecido. Finalmente,veio a definitiva resposta. O homem tinha de esperar,como os outros.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

REGIONAL PERSPECTIVES ON SOILS

Soils

EXPECTED SHARP FALL IN SOUTHERN AFRICAN MAIZE PRODUCTION RAISES FOOD SECURITY CONCERNS

Food security

NECESSIDADES

Não mais se esquecera daquele natural quadro: bermas de estrada de campo transformadas em repositórios de necessidades. Afinal,coisas que acontecem quando a necessidade obriga,não havendo outra solução. Uma aldeia estava próxima,e um palácio também. O rio que ali perto corria,por vezes,saía do leito,encarregando-se da higiene do lugar.

QUASE DE GRAÇA

Ainda se vinha longe e já se sentia aquela mistura de cheiros sem igual. Tinham por fonte a terra e o mar,ali tão próximos. Apetecia lá permanecer.
Venciam distâncias alguns,os que vinham lá do barrocal e da serra. Mas eram quase dispensáveis,porque mesmo ali ao pé da porta também se escapavam,em contínuos e volumosos caudais. Vinham lá das quintas que iam resistindo à onda avassaladora do cimento. Lá estava o ladrar dos cães a assinalá-las. Perdoava-se-lhes algumas insónias,de início,pelo muito que representavam.
E era também um conforto topar,aqui e ali,a dois passos,podia dizer-se,com alguma nora a cantar,de feliz por estar a dar de beber a quem tinha sede.
Não se retemperava,apenas,o corpo,mas também a alma. Ficava o deve a repartir por dois. Uma pechincha,quase de graça. Valia a pena,pois,ir por ali abaixo.

DEVIAM SER MILHARES OU MILHÕES

Foram apenas quatro,ao todo,as que se dignaram mostrar,em média,uma por mês. Foi muito pouco,quase nada,mas não estiveram para mais. Deviam ser milhares,talvez milhões,as cobras daquele imenso e fresquinho vale.
A primeira,coitada,já estava de partida para outro mundo,para o descanso eterno. Logo o tractor lhe havia de passar por cima. Torcia-se,ali naquele chão que ela tão bem conhecia,mas quase já sem alma.
A segunda fora apanhada de surpresa. Já a gente não pode estar ao sol,teria pensado ela. Era o que estava fazendo no talude daquele apertado caminho de terra batida. Ainda levantou a cabeça, toda direita,olhem que eu estou aqui,mas só isso,que o jipe sumira-se,para não mais o ver. Uma aparição fugidia,não mais.
A terceira estaria muito longe de pensar que iria ter aquele encontro. A noite fechara-se e ela lá se preparava para ir à sua vida. Já estaria atrasada para o jantar. E quem lhe havia de aparecer numa altura daquelas? Nem mais,nem menos,do que uma fila de gente a palmilhar aquele caminho tão seu conhecido. Eram muitos para ela. E assim,era melhor voltar para casa,no fresquinho capim da margem do rio. E foi o que fez,ela muito assustada,e eles ainda mais.
A quarta não foi bem uma cobra,foi sim a sua imagem,pois dela só se viu o rasto,ali bem desenhado na tijoleira vermelha do alpendre da casa. O rasto terminava à porta. Devia ter entrado,pois havia apenas um. Estaria lá dentro, à espera. E naquele fim de tarde e naquela noite, não houve canto que ficasse por vasculhar, vezes sem conta,mas a cobra desaparecera,como por encanto.

terça-feira, 28 de abril de 2015

AUDI CONJURES FUEL OUT OF THIN AIR(AND WATER)

Fuel

A LINHA DO ESPAÇO - VIEIRA DA SILVA

Vieira da Silva

CARBON EMISSIONS FROM FORESTS DOWN BY 25% BETWEEN 2001-2015

Carbon emissions

BAMBOO - AN ANSWER TO DEFORESTATION OR NOT IN AFRICA?

Bamboo

A FONTE SECOU

O fósforo,dada a sua vital importância e a relativa escassez das suas reservas mundiais,irá,nas suas variadas facetas,ocupar,cada vez mais,as atenções de muita gente. Como se sabe,face à crescente necessidade de alimentos,tem sido vultoso o recurso a fosfatos minerais,sobretudo de natureza sedimentar. Foi o caso da Austrália. Não chegando para as encomendas " a prata da casa",recorreu aos fosfatos de uma ilha do Pacífico,a Nauru. Ora,essa fonte secou. É o que irá acontecer,mais tarde,ou mais cedo,a outras fontes,que as exigências não param de aumentar. Assim,há que ir tomando medidas,nas quais se incluem uma melhor eficácia nas aplicações,a colaboração de microorganismos do solo,o aproveitamento de resíduos orgânicos,quaisquer que eles sejam, e a exploração de depósitos fosfóricos dos oceanos,à semelhança do que se tem feito com os combustíveis fósseis. Tudo isto,na certeza de que sem fósforo, nada feito.

SENHOR JOSÉ

O fim do verão estava à vista e ainda não chovera. A terra apertara,pusera-se como rocha. Era preciso picareta. Além dessa,havia também a enxada. Dois pesos. Via-se que o senhor José não estava a ser homem para aquilo. Mas ele quisera experimentar. Ainda não era um velho,pois pouco passava dos cinquenta. Mas a vida do campo é dura. Tinham pena dele. Procuravam chão menos rijo,aliviavam-no de uma ferramenta,só não o substituíam no que lhe era mais penoso. Foi o senhor José a dar parte de fraco. Ia ver se arranjava uma tarefa que lhe moesse menos o peito e as costas. Tinha muita pena,pois ganhava ali mais uns patacos. Também percebia que estava a prejudicar. Pareciam justificadas,pelo menos para alguns,as crónicas crises de trabalho. Seriam pausas destinadas a retemperar.

NÃO TRAZIA ROL

Às vezes,dá para pensar em alguém que deixara de aparecer a animar as ruas. Se calhar,já marchara. Mas um dia,lá se vê de novo. Afinal,ainda por cá andava,cumprindo-se. Mas chegará outro dia,o dia de não mais se ver. Partira para longínquas paragens,donde não mais se volta.
Foi o caso de um velhinho que dava gosto ver,no seu andar lesto,parecendo voar,que lá em casa ficara a companheira de uma vida longa.Não tinha telemóvel,mas tinha o telefone da casa onde entrara. E era vê-lo a avisá-la que não tardaria,que ela tivesse mais um bocadinho de paciência. A memória já não seria por aí além,que o tempo não perdoava,e não trazia rol,pelo que,a cada passo,lá abria os sacos,na tentativa de descobrir as faltas.

A PREÇO DE SALDO

Já ia alta a manhã,mas ainda estava frio. A feira dava os últimos ares da sua muita graça. O piso dos arruamentos,de contornos irregulares,ao Deus dará,estava numa lástima,por causa da chuva de véspera. Aqui e ali viam-se restos de fogueiras. De madrugada,que ali levantavam-se cedo,devia ter estado de bater o queixo.
Junto a toldos,assavam-se e serviam-se frangos.Mesas não havia. Também se dispensavam,que aquela gente não era de cerimónias. As mãos e as bocas não se puderam lavar,que água corrente só lá na vila.
Ainda houve tempo de mercar dois chapéus de chuva a preço de saldo. Quem se livrara deles precisava de se despachar,pois tinha de ir armar banca noutra terra. Andava a semana num virote,com apenas um dia de descanso,para se ir fornecer.
Enquanto se era novo é que se tinha de dar. As suas cores despertavam inveja,mas a barriga não,de muito saliente,talvez da cerveja. Duas filhitas,louras como trigo maduro,nã o largavam,a pedir umas moedas para guloseimas.
A vila,lá muito em cima,alargara-se,com sinais de que morava ali outra gente. Talvez nem lá residissem. As novas casas estavam ali para os receber pelas férias ou pelo Natal,ou então para quando voltassem de vez,que alguns quereriam lá acabar,onde havia feiras como deviam ser.
 

segunda-feira, 27 de abril de 2015

METHANE TRANSPORT FROM THE ACTIVE LAYER TO LAKES IN THE ARCTIC USING TOOLIK LAKE,ALASKA,AS A CASE OF STUDY

Methane

ECOSYSTEM SERVICES LOST TO OIL AND GAS IN NORTH AMERICA

Ecosystem services

FATAL ATTRACTION:THE INTUITIVE APPEAL OF GMO OPPOSITION

Fatal attraction

CUIDAR DOS SOLOS

Por razões de subsistência,ao derrubarem-se florestas,ao arrotearem-se matos,perturbou-se o natural desenvolver dos solos,sob a tripla acção biológica,quimica e física,solos esses que são muitos,com os seus perfis típicos. Mais se perturbou, quando se largaram instrumentos rudimentares e se substituíram ajudas orgânicas por químicas,que a familia não parava de aumentar . Dada a inevitabilidade de não se poder voltar atrás,é claro que se sente, se compreende,que ,cada vez mais.se tem de cuidar dos solos, de que tem vindo o sustento,de modo a acautelar o futuro. Para isso, tem-se investigado,tem-se mudado de técnicas,tem-se acompanhado as alterações ,tem-se actuado procurando não estragar mais o que já se estragou,tentando recuperar o mais que se puder. E é o combate à erosão,e é o evitar perdas por lavagem,por volatilzação,e é o não salgar demasiado com a rega,e é a passagem do cultivo convencional para o da sementeira directa,e é a adubação com conta,peso e medida,e são as rotações,e é a inclusão de leguminosas,estando de sobreaviso,que as leguminosas acidificam,e é o deixar na terra a maior parte dos resíduos,sem que se prejudique o manejo do cultivo,...Enfim,tem-se ido adaptando,sempre alerta,que é o futuro,de uma comunidade a dilatar,não se sabe até onde,e até quando,que está em causa.

TODA A VERDADE

Era o título do livrinho,quer dizer,não se fazia a coisa por menos.Toda a verdade,toda.

CAÇADOR CAÇADO

O rapaz não se quedava no assento do autocarro. A razão do seu desassossego era bem evidente.É que ali muito perto,quase ao alcance das suas mãos,estavam duas mocinhas de barriga ao léu. Ele bem se esforçou,mas elas a tudo resistiram. Embirrariam,talvez,com os adornos que ele trazia nas orelhas.
No seu plano de ataque,coube,a certa altura,uma senhora de muita idade,que ia de pé. Tem aqui lugar,e chegou-se para o lado,pois ,nas suas movimentações de conquistador, ocupara o espaço quase todo.
A velhota aceitou. E aconteceu o inesperado. O moço,como por milagre,serenou. Todo ele era ouvidos para a senhora,que se apiedara daquela alma,que lhe terá parecido estar muito desamparada. Depois de breves palavras,entrou em acção uma revista cheia de bons ensinamentos.
Tratou-se,sem dúvida,de uma mudança radical. De caçador,passou a presa. A apóstala devia ter artes. Não teria feito logo uma conversão,mas a semente fora lançada,e agora era dar tempo ao tempo.
A atenção que o moço desatinado lhe dera,ali mesmo junto de duas figuras tentadoras,mostrava ser um bom augúrio. Mss uma coisa destas só vista. Como é que uma velhota fez esquecer duas mocinhas de barriga ao léu? Ele há mesmo casos muito misteriosos.

EMBRUXADO

A sala onde tinham lugar as reuniões parecia um museu. Dificilmente se circulava entre os móveis ,atravancados de fotografias de família e de toda a espécie de bugigangas. A luz do dia,coada por pesadas cortinas,mal permitia ler.
A dona da casa, uma senhora muito alta e muito magra,de fundas olheiras negras,sempre trajada de escuro,aparecia,às vezes,vinda de um quarto soturno. Os seus passos eram lentos,um tanto arrastados. Raramente falava. E quando a isso se dispunha,a sua voz era lúgubre e quase inaudível.
A casa tresandava a mistério e dela se exalava um leve cheiro a coisa recentemente queimada,de mezinha,talvez para anular más influências,maus olhados. Sempre que se tinha de lá ir era com alguma relutância. Deviam andar por ali bruxas.
Passou-se isto há muitos anos,mas a desagradável impressão permanece,sem se atenuar. Teria ficado embruxado? Sabe-se lá.

VASTO MUNDO

Fora um encontro inesperado. Uma porta estava aberta e lá dentro um velho trabalhava. Os seus ollhos podiam avistar dali meio mundo. Pois desse vasto mundo, era ele o último na sua arte. A forja crepitava e lá fora uma roda esperava. Aro que ele ajustasse era aro para sempre. As encomendas não choviam,naquela altura,como era de imaginar,mas isso pouco lhe importaria. Naquela atalaia,naquele ermo,tinha o universo a seus pés. Ninguém o incomodava e ele retribuía de igual modo. Não parecia que os anos lhe pesassem. Talvez tivesse desejado acabar assim. Um dia,naquela rarefacção,naquele silêncio,iria por esses ares além,certamente,feliz ,por ter sido o que mais resistira.

domingo, 26 de abril de 2015

"MAROMBA" DO DOURO

Uma antiga doença das vinhas do Douro,de arrastada solução. O seu tratamento só chegou por meados do século XX,por via de pesquisa feita pelo Eng.Agrónomo Humberto Francisco Dias,da. Estação Agronómica Nacional. Sobre ela,há,pelo menos,três referências:
1.Informação sobre a"maromba" do Douro:seu tratamento. Pelo Eng.Agrónomo Humberto Francisco Dias . Boletim da Casa do Douro 1953
2.Informação sobre a "maromba" do Douro. Por Humberto Francisco Dias.
Federação dos Vinicultores da Região do Douro 1977
3.Estação Agronómica Nacional. Por Ário Lobo de Azevedo.
In Dicionário da História de Portugal,de Joel Serrão,continuado por António Barreto e Maria Filomena Mónica.

MAROMBA DO DOURO

Uma antiga doença das vinhas do Douro,de arrastada solução. O seu tratamento só chegou por meados do século XX,por via de pesquisa feita pelo Eng.Agrónomo Humberto Francisco Dias,da Estação Agronómica Nacional.
Tratava-se,afinal,de uma deficiência de boro,debelada por aplicações de bórax,ou seja,do tetraborato de sódio.
Na altura,a seu pedido,foram feitas análises de folhas de videiras,com e sem maromba,de que,adiante,se indicam médias dos valores encontrados.
Sem Maromba - Fósforo(%)-0,12;Potássio(%)-0,79;Cálcio(%)-2,61;Magnésio(%)-(0,52);
Sódio(mg/kg)-9;Ferro(mg/kg)-100;Manganês(mg/kg)-206;Boro(mg/kg)-17,9.
Com Maromba - Fósforo-0,12;Potássio-0,70;Cálcio-2,33;Magnésio-0,49;Sódio-9;Ferro-111;
Manganês-143;Boro-8,7.
Os números apontavam,de facto, para uma carência de boro.

MAROMBA VINE DISEASE IN PORTUGAL

Maromba

TRANSFORMAÇÓES EM AMBIENTE REDUTOR

Como se sabe,um ambiente redutor,isto é,um ambiente pobre em oxigénio,é caracterizado por cedência de electrões ou de átomos de hidrogénio. Quando se trata de solos,são várias as transformações que podem ocorrer,atingindo,entre outros,directamente,o ferro,o azoto,o carbono e o enxofre,e indirectamente,o fósforo.
No caso do ferro,a forma trivalente passa a bivalente,o azoto de nitratos, ou de nitritos,passa a óxidos,e mesmo a azoto molecular,o enxofre de sulfatos passa a sulfuretos,com reflexos negativos,no que toca à sua solubilidade,o carbono de compostos diversos passa a metano,o fósforo que estava ligado ao ferro trivalente,à maneira de um precipitado,torna-se solúvel por estar associado ao ferro bivalente.
Tudo isto, e mais alguma coisa, acontece com a cultura do arroz, quando feita em condições de submersão. Essa mais alguma coisa é,entre outros efeitos, o aumento de oxidrilos,proveniente,
pelo menos,em parte,da alteração de valência do ferro . É a isto que se chama uma autocalagem,por ter um efeito idêntico ao de uma correcção da acidez do solo por correctivos da família da cal. Assim,esta cultura pode dispensar calagem,se feita em solos ácidos, tem a sua vida muito facilitada quanto às necessidades em fósforo,e, ao contrário,um tanto dificultada quanto às necessidades em azoto e enxofre.

UMA ALMA NOVA

Chamaram-no ao telefone. Era o seu pai. Passara por ali e quisera fazer-lhe uma surpresa. Mas não fora só isso,não. Precisava de que o vissem ao seu lado. Ele lá tinha as suas razões.
Sentaram-se a uma mesa do café mais concorrido lá da terra. O velho tinha ali conhecimentos. É o filho dele,diriam. Sim senhor,o rapaz é quase oficial. Não estão a ver aquela fitinha amarela? Olhem como o pai fala. Está tão contente o velhote. Nunca o vi assim. Parece ter arranjado uma alma nova. Pois tem motivos para isso,não resta dúvida. Também eu estaria como ele,se o meu filho tivesse chegado onde o dele chegou. Infelizmente não passou de cabo. E já foi uma sorte,pois a maioria não passa de soldado raso.
Era,de facto,verdade o que ali à volta estavam notando. Aquele pai não cabia de contente. Os olhos riam-se-lhe. Há muito tempo que não estavam assim. Fora aquela uma boa lembrança. Devia tê-la mais vezes,para a alegria o visitar,ainda que por curtos momentos. Há que forjá-los. Se não forem os interessados a dar o passo,quem o fará?

HORROR

Como mudam os tempos,mesmo que não mudem as vontades. Estas permanecem,só que os tempos lhes temperam ou estimulam as expressões. O rapaz estava muito apaixonado. O seu olhar,o seu ar,as suas palavras traíam-no. Tudo se conjugava para a tradução em gestos do que lhe ia na alma. Bastava a ocasião e ela chegara. Os pares volteavam ao compasso de uma valsa. As mãos estavam presas e o braço dele amparava-a mansamente,delicadamente. Não sabia explicar o que se passara. Numa aproximação inesperada ou provocada,não se lembrava,os seus lábios roçaram ligeiramente as faces aveludadas e perfumadas. Horror. O que eu fui fazer,quase chorava o pobre moço no ombro do amigo. Que vai ela pensar? Sim,que vai ela supor? Que eu sou um animal,um devasso,um lúbrico. Não me perdoará,acredita. O amigo lá o consolou o melhor que pôde,mas ele estava inconsolável. Como mudam os tempos.

AR PENDURADO

Naqueles últimos tempos,a vida não lhe correra nada bem,pelo que o seu ar não seria dos melhores. Mas era o ar possível naquela altura,a mais não devia ser obrigado. Aconteceu que teve de ir a uma entrevista,porta de acesso a um emprego,que,seguramente,lhe daria um outro ar. Mas nunca pensou,nem ninguém lhe disse,que o ar seria um factor determinante. Pois foi precisamente o ar que o desclassificou,vindo disto a saber indirectamente. Um outro concorrente teve a franqueza,ou a rudeza,de o revelar,um segredo que não devia ter transpirado. Mostrara um ar pendurado. E, para aquele lugar,este ar não servia,pelo que se ouvira. Mas porquê?Durante algum tempo,isto não lhe saiu da cabeça. Mas era evidente que o ar teria pouco ou nada a ver com a natureza do trabalho. A razão deveria ser outra. O tal ar pendurado não ficaria bem nos intervalos ou nos seus remates. Seria um ar que perturbaria as conversas de corredor ou as festas de fim de semana. Seria ele,afinal,um desmancha-prazeres. E assim,não,mil vezes não. O trabalho seria,pois,uma coisa secundária. O que se tornava essencial era mostrar um ar sempre bem disposto,sempre com um sorriso nos lábios,e dispor de um manancial de anedotas para entreter os ócios.

sábado, 25 de abril de 2015

A PROPÓSITO DA FLORESTA AMAZÓNICA

Que massa,que força,que pujança. Não se diria que o solo onde ela se levanta fosse,no geral,tão pobre,quase só areia. Então como explicar este aparente milagre da natureza? É uma conjugação feliz de vários factores. Em primeiro lugar,à cabeça,o sol e a água. A clorofila vem depois. E é um sintetizar permanente de material orgânico. A manta morta que por ali vai de toda aquela folhagem e companhia. Para os nutrientes,que a água traz,há,claro,as raízes,mas,acima de tudo,as micorrizas,um entendimento mútuo de radículas e fungos,uns parasitas que retribuem bem a hospedagem,de cama e mesa.
Decepada ela,a floresta,fica um solo que não se esperaria. E então há que o fabricar muito depressa. Porque com aquele sol e aquela água, a folhagem e os seus restos que por lá haja desaparecerão enquanto o diabo esfrega um olho. E é o diabo. Lá se vai aquele natural captador do famigerado CO2,numa extensão quase única,exemplar.

POR CONTA

A senhora deixara de lhe pagar,há já uns meses. Mesmo assim,ia ficando,na esperança de que tudo voltasse ao que era dantes. Neste duro transe,era amparada por um quarentão que estava bem para ela,pois onde já lá iam os verdes anos. Engordara,também,sinal de que, pelo menos,a comida não tinha faltado.
Mas o que é que acontecera à senhora? Deixara,simplesmente,de agradar a alguém que a tinha por conta. Ele até já lhe batera. Pobre da senhora,como se iria ela arranjar? Para complicar as coisas,ela tinha uma filha.
Andava muito apreensiva a empregada. O caso não era para menos. O que lhe valia era o quarentão,que todas as noites a vinha visitar. E das suas conversas,nasceu uma saída salvadora,que contemplaria não só a senhora,como também ela.
Havia um quarto independente que estava alugado a um jovem. O incómodo que ele teria para se deslocar à única casa de banho. Ficaria muito melhor servido num quarto interior,mesmo ao lado do da senhora.
Não foi preciso saber mais. Tinha muita pena do que se estava passando,mas complicada era já a sua vida. E então,adeus,e que houvesse um final feliz.

CADA DIA

Envelhecera,coitada dela. O marido não a rejeitara,mas fora como se o tivesse feito. Vivia magoada. Admiraria,se não fora assim,pois estaria muito longe de acabar. A terra era pequena. Quase tudo se sabia. Para mais,as coisas passavam-se muito às claras. Só não via quem fechasse os olhos . É que eles,nem sequer disfarçavam.
Alguns encontros não tinham segredo. Era só um sair do seu poiso habitual e entrar no da outra,ali mesmo em frente. Logo ali se mantinham conversas para matar alguma saudade,talvez da véspera,ainda que testemunhas houvesse. Não seriam,em tais condições,muito íntimas,que a decência,naqueles atrasados tempos,não permitiria. Se calhar,usariam código para marcar o próximo encontro,caso a isso fossem obrigados,por razões óbvias.
Não era esta,muito provavelmente, uma relação típica. Os subterfúgios que se teriam de forjar naquelas épocas tacanhas. E os cuidados,também,para contrariar surpresas. No tempos que correm,não é assim. A transparênia é total,pode dizer-se,actuando-se abertamente,conforme as conveniências,no momento, de cada um. O que importa é sentir-se feliz ,à sua maneira,qualquer que seja o parceiro da altura.
O ideal seria não haver pontos mortos. Uma corrente contínua de felicidade o alvo a atingir. Contanto que ele ou ela garanta o padrão que se pretende. Estará,deste jeito,criada a fórmula mágica da felicidade perpétua. Se necessário,mudando cada dia.

TEIMOSO ESFORÇO

Aqueles olhos pertenciam a um corpo prestes a despedir-se. Pareciam tranquilos. Trilhara muitos e variados caminhos e andara por paragens distantes. Estaria cansado e precisaria de repouso.
Fora uma vida de altos e baixos. Dera a impressão,algumas vezes,de se ir afundar. É que não escolhia águas. Mas lá encontrava forças para o impedir. Nascera temerário. Optimista,contava vencer todas as dificuldades. Nem sempre o conseguia,mas não desanimava,encetando novo rumo,com redobrada determinação. Interessar-lhe-ia mais a aventura do que o sucesso.
Encostado na almofada da cama,parecia sorrir. Teria passado em revista os passos da sua longa e trabalhosa vida e achado graça a alguns. Naqueles em que não fora feliz,culparia os fados e os homens. Muitas partidas lhe tinham,de facto,pregado.
Chegara ao fim. Para trás,deixara um rasto fundo,de teimoso esforço,quase sem quebras. Dera razoavelmente conta do recado.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

BEES STUDIES STIR UP PESTICIDE DEBATE

Bees

ANTARCTIC ICE SHELF NEARS ITS DEMISE

Ice shelf

SWEET POTATO IS ALREADY A GM CROP

Sweet potato

UM CASO DE CARÊNCIA NUTRITIVA EM VIDEIRAS

Muitos anos atrás,numa região de vinha que tinha por centro o Cartaxo e se estendia do Vale de Santarém à Cruz do Campo,alguém que se detivesse a observar as videiras na época de vegetação, em certas manchas dessa zona,verificaria,com estranheza,o colorido anormal que as parras apresentavam. A contrastar com o verde costumado,surgia ali um aspecto inteiramente novo. A cor verde mantinha-se junto às nervuras,mas os espaços entre elas tingiam-se de amarelo,a formar como que verdadeiros meandros.
Essas manchas localizavam-se nas bermas de algumas estradas,tendo profundidades variáveis,indo nuns locais mais para o interior,noutros limitando-se às primeiras filas. Eram,no entanto,quase sempre contínuas. Tanto as castas brancas como as tintas mostravam os mesmos sintomas,embora as brancas os apresentassem com mais nitidez,a ponto de num povoamento,mesmo à distância,se distinguirem com facilidade umas das outras. O amarelo nas castas brancas era mais claro,de aspecto leitoso,sobressaindo melhor no fundo verde do resto da folha.
A alteração do pigmento começava pelas folhas mais idosas,subindo,a pouco e pouco,para as da extremidade,que,em certas condições,eram atingidas quase em simultêneo com as mais novas. Era a margem que,primeiro,se pintava de amarelo,caminhando a clorose progressivamente para o interior,apenas respeitando a vizinhança das nervuras.
Além da videiras,outras plantas,herbáceas e lenhosas,exibiam sintomas mais ou menos semelhantes. Era o caso das silvas e dos marmeleiros dos valados,dos pessegueiros,dos damasqueiros,das pereiras,das macieiras,das ameixeiras,das laranjeiras.
Em tempos,tinha-se concluído não se estar em presença de uma doença de origem parasitária. A explicação do mal poderia ser encontrada,assim, na nutrição. E foi nesse sentido que se avançou,acabando por se dar com o causador,o manganésio,que não estava a ser absorvido na quantidade necessária.
O solo,aparentemente,tinha,porém,manganésio para dar e vender,assim se pode dizer. Só que estava muito pouco disponível. Coisas que acontecem quando sucedem outras coisas. E o que tinha acontecido? Anos atrás, as estradas eram de macadame calcário. A passagem de carros e carretas levantava nuvens de poeira calcária,que o vento dominante se encarregava de ir depositando,sobretudo, numa das bermas. E calcário a mais faz das suas e,neste caso particular,levou o manganésio a um estado muito menos solúvel.

MAUS TRILHOS

Chovera a cântaros naquele mês de Novembro e a ribeira ia caudalosa. A noite aproximava-se e era altura de regressar a casa. O jipe já pensara nisso,pois não se estava sentindo nada bem. É que precisava de cuidados que só lá na vila encontraria. Ainda se fez ao caminho,mas chegara ao limite das suas fracas forças. Acudam-me. E agora? Ao longe,via-se um "monte". Talvez lá houvesse remédio. Vieram logo com um tractor,e lá o trataram como puderam. Ficou a andar,
mas muito mal e incapaz de ver na escuridão,que,entretanto,se fizera. E agora? Haviam de chegar a casa,que devagar se vai ao longe. O jipe,muito chegado ao guia,por vezes,a tocarem-se,lá avançava,penosamente,mas muito amedrontado,pois o fragor da corrente,mesmo ali ao lado,era medonho. Valeu o caminho ter sido aberto em granito esbranquiçado. O jipe esteve um dia a recompor-se,mas disseram que não iria durar muito. Mas aquela era gente sem coração e não descansaram enquanto o não puseram a calcorrear os maus trilhos do costume.




SEM CORAÇÃO

Naquela rua de terra urbana ,vivia uma rola,ou duas,ou mais,não se sabia ao certo. O que se sabia, é que de uma varanda,lá bem no alto,vinha um canto magoado,repetido,de quem não se sentia lá muito bem. Naquela rua,ouviam-se mais cantos,de papagaio,de periquitos,de pardais,de pombos e de outros que tais. Mas era aquele choro de vida presa que mais se ouvia. Apetecia subir aquela varanda e assaltá-la. Apetecia libertar aquela vida enclausurada. E uma vez liberta,iria por esses ares fora em demanda de melhor poiso. Talvez uma simples árvore,como uma daquelas ali tão perto,talvez num jardim ou num parque,que os havia ali próximo,talvez numa floresta vasta,lá longe,talvez num pinhal rescendente. Mas já chegaria uma pequena mancha verde que lá do alto se via. Ah gente empedernida,sem coração. Para terem, ao pé da porta,um leve cheirinho da saudosa aldeia,pouco lhes importa serem fautores de cativeiro e seus guardiões.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

NADA

Não era para ter ficado triste por nada ter recebido,quando ele também nada dera.

CITIES,TRAFFIC,AND CO2 : A MULTIDECADAL ASSESSMENT OF TRENDS,DRIVERS, AND SCALING RELATIONSHIPS

Cities,traffic,and CO2

HIGH-YIELD HYDROGEN PRODUCTION FROM BIOMASS BY IN VITRO METABOLIC ENGINEERING : MIXED SUGARS COUTILIZATION AND KINETIC MODELING

Hydrogen production

UM SUCESSO

Queria ele lá saber de que outros se rissem daquele aparato. Um carrito muito estreito,dos mais baratinhos,que a vida não estava para luxos,onde mal cabia a família,mulher e três filhos,levando no tejadilho uma montanha de coisas,com cara de desabar à mínima curva.
Era sempre assim que ele ia para férias,não importava a distância,ainda que de centenas de quilómetros se tratasse. Rissem à vontade. É que não sabiam das muitas artes de quem ia ao leme. Um homem dos sete ofícios.
Não consta que,alguma vez,a descomunal carga ruisse. Atava-a bem,com todas as regras,algumas da sua lavra,que havia ali muito engenho.
O carrito quase se não via,lembrando tristes quadros de todos os tempos. Gente,grande ou pequena,ajoujada,quase sumida,sob cargas enormes, disto ou daquilo. Afinal,a dura luta pela vida.
No caso dele,não era bem assim. Mas daquele modo é que ele gostava. O gozo que aquilo lhe dava. Um espectáculo à partida,no caminho,à chegada,lá e cá. Um sucesso.

A MATO

O homem,coitado,volta não volta,lá se lembrava dos javalis, e das suas topelias. Tinha fortes razões para isso. É que os bichinhos entravam-lhe na vinha,fazendo por lá estragos. Estivesse ele lá que lhes havia de tratar da saúde.
Só por lá passava muito de vez em quando,que a vida dele não dava para mais. Acontecia o mesmo aos vizinhos,pois estava cada um para seu lado,lutando pela vida.
Não se sabia de onde os javalis vinham. O que se sabia é que por aqueles sítios,e não só,iam ficando as terras a mato. Assim,fora-se a gente embora,e viera o javali.

GOMO A GOMO

Era daqueles velhos,pode dizer-se,que nunca quisera nada com o mal. E porque assim era,volta não volta,pensava nele. E,quando tal sucedia,sempre o via a comer uma laranja. Era a fruta de que ele mais gostava. Mas não uma qualquer laranja. Ele,que era a modéstia em pessoa,nisso tinha requintes. Tinha de ser uma das grandes,uma laranja de umbigo,uma laranja da Baía. Comia-a com evidente prazer,gomo a gomo,depois de a ter ,cuidadosamente, descascado. Era também um prazer vê-lo nesse ritual,quase sagrado. Era um velho de poucos teres,por isso,de muito fraco alcance. Assim, tão limitado,parecia ter concentrado na laranja,na laranja da Baía,todos os seus legítimos anseios.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

COISAS

Dizia ele,ainda bem que não era rico,lá por coisas,e ,continuava ele a dizer,ainda bem que pobre não era,lá por outras coisas. Quer dizer,no primeiro caso,estavam verdes,no segundo,ainda bem que não era.

WHY UGANDA MUST SWITCH TO GEOTHERMAL ENERGY

Geothermal energy

POWER PLA NT INVESTMENT IN KENYA BOOSTS GEOTHERMAL PRODUCTION TO 51%

Geothermal

NICE QUESTION

Certo dia,vindo de um país da linha da frente,um senhor de muita ciência dispôs-se a fazer uma palestra sobre uma matéria em que era mestre. A ouvi-lo,estavam o chefe dos chefes,um chefe e meia dúzia de peões interessados. Para se explicar melhor, foi ao quadro e fez lá um desenho que narrava uma história. Um peão,em altura oportuna,atreveu-se a fazer uma pergunta,não a contestar a história,mas a insinuar que a história podia ser outra se...E o senhor,talvez surpreso de já ali ter chegado alguma notícia dessa história,não resistiu a fazer um comentário. Nice question,nice question.Pois daí em diante,por largo tempo,sempre que o chefe dos chefes passava pelo atrevido peão,não resistia. Nice question,nice question. O tom é que era muito diferente do original. Agora era,claramente,a gozar.

UM LIMITE

Tudo tem um limite. O chefe,volta não volta,mimoseava-o com uma negativa,sempre coisas muito desagradáveis. Parecia ter gosto nisso. Estava a ser demais. Era quase um massacre. Que diabo,o pobre do subordinado não era assim tão incapaz. Ele estava,pois,a precisar de as ouvir. O pobre não sabia como proceder,o que dizer-lhe,e ia adiando. Mas um dia,tinha de ser.E esse dia chegara. Entrou no vasto refeitório e viu o chefe sozinho na sua mesa,a mesa dos VIPS. Foi ter com ele,sem saber bem o que dizer. Aquilo foi uma coisa espontânea,como caída do céu. O senhor ainda me há-de anunciar o dia da minha morte. E por ali se ficou. Também não era necessário mais. Estava tudo dito. O chefe abriu muitos os olhos,de espantado,e sentou-se. Tinha-se levantado para o ouvir,como mandam as boas regras. Não abriu bico. E o subordinado foi sentar-se na sua mesa,como se nada de extraodinário tivesse acontecido.

A PREFERIDA

Era uma árvore que tinha muito para contar,assim ela pudesse,mas estava incapaz de o fazer. Parecia que a morte a visitara. De vez em quando,alguns pássaros vinham pousar nos seus ramos carcomidos,mas só de fugida. Ainda assim,lembravam-lhe os anos em que se vestira de rebento novos acolhedores. Dera guarida a muitos casais,pelo que grandes alegrias colhera. A chilreada que ia por ali,animando-lhe os dias e as noites. Dera sombra a muitos mendigos,que fizeram, à sua densa sombra, grandes sonecas. Chegavam até a armar tenda sob a enorme copa.
À sua volta, havia mais árvores,mas ela era a preferida. Nunca entendera bem porquê. As outras andavam também intrigadas por tão exclusivo comportamento. Coisas que acontecem,às vezes,sem se atinar com a explicação.
Os anos somaram-se. Mas a certa altura,apsar da bondade do terreno e dos restos repetidamente deixados,a pujança de vários anos entrou em declinar. O tempo também não ajudou. Fortes e continuadas chuvas reduziram-lhe o alimento. Desabridas ventanias quebraram-lhe os raminhos mais tenros e promissores. Depois,vieram grandes secas.
A seiva corria deslavada e de fraco caudal. Os ramos entraram em definhar. Não parecia a mesma árvore de outrora. As avezinhas deixaram de a procurar,trocando-a pelas vizinhas,que tinham resistido às intempéries. Umas poucas mantiveram-se fiéis. Davam-lhe,porém,
algum alento. Mas mesmos essas acabaram,a pouco e pouco,por a abandonar. Os mendigos imitaram os pássaros,passando-lhe ao largo. Os resíduos quase nada valiam,pois os tempos iam maus.
Para piorar as coisas,os canais da seiva entupiram-se. Chegara,podia dizer-se, ao fim. O dono tinha lenha para dar e vender,pelo que nem para ela olhava. E para ali ficou,esquecida,como morta.

terça-feira, 21 de abril de 2015

FOR DEVELOPING COUNTRIES, NEW OPPORTUNITIES IN GEOTHERMAL ENERGY

Geothermal energy

AFRICA'S ECONOMIC OUTLOOK FOR 2015

Africa

NATURAL AND MAN-MADE HAZARDS

Hazards

AMAZON DEFORESTATION SOARS AFTER A DECADE OF STABILITY

Amazon deforestation

JORROS DE LUZ

Ia ficar uns meses e viera de longe. Oito andares,uma cave. Uma dezena de departamentos. Recebeu uma chave da porta da cave,para entrar sempre que o desejasse,à noite,de madrugada,nos domingos e feriados.
Há que trabalhar,aproveitando todas as horas,quando não se anda a passear. Assim,ali,o entendiam muitos a quem uma chave destas era entregue. Era isso bem visível à noite,em todos os altos edífícios que por ali se erguiam. Jorros de luz saíam deles,e o muito vidro denunciava o movimento que ia por lá.

BONS DIAS SEM RESPOSTA

São leves traços de uma história antiga,de uma história que encantou,mas a memória não esteve para mais.
Lá em casa só estavam,naquela altura,a avó e o netinho. Olha que eu tenho de sair,mas volto já. Vê lá se tens juízo. Pois é. A criança não resistiu,e quando a avozinha regressou havia leite derramado no chão ladrilhado da cozinha. Um desastre,ou talvez não. É que o leite simulava estradinhas brancas. Estavam mesmo a pedir que alguém as enfeitasse. E foi o que a avozinha fez,dispondo brinquedos nas suas bermas.
A madrugada estava fria e a grande cidade acordava. Um jovem vinha distribuindo bons dias,como lá na sua aldeia. Ninguém lhe ligava. Ia esfregando as mãos para aquecê-las,mas não era o suficiente. Mas ali perto,estava-se libertando calor e era uma pena perdê-lo. E foi o que ele fez,aproveitando o bafo quentinho que saía das narinas de um cavalo.
Bairros de lata paredes meias com prédios de luxo era o que não faltavam,que ele bem via. Ânsia de melhor vida habitaria em muita gente. Como a satisfazer? Com uma varinha mágica,nas mãos do repartidor de bons dias sem resposta. Um pede um milhão,o vizinho dois,e assim por diante,numa progressão sem limite. Cada qual a querer ser o mais rico. Estava-se mesmo a ver que assim não. Foi o que o jovem entendeu,ou alguém por ele,pelo que a varinha levou sumiço.

CARA DE PAU

Era evidente que o patrão não gostava do empregado. Mas não tinha outro remédio se não suportá-lo. Ele já estava naquela casa há muitos anos,desde rapaz,numa altura em que aquilo era do pai. Não tivera coragem de o pôr fora,pois sabia que grande parte da clentela a ele se devia.
Mas donde lhe vinha aquela antipatia? Tinha inveja dele,era o que constava. Sabia lidar com as pessoas,ao contrário do outro,que era um cara de pau. Entretinha-as,parecendo até que perdia demasiado tempo com elas. Mas não. Tinha artes. Conseguia conciliar o serviço com o atendimento.
Conhecia meio mundo,meio mundo que lhe era fiel,que não o trocava por outro,onde quer que estivesse,e locais como aquele era o que não faltava. Ouvia-se,ás vezes,certos reparos do patrão,sempre com modos de poucos amigos,que embirrava com tais intimidades,mas nem o empregado,nem os que ali iam estavam para lhe ligar.
Naturalmente,o empregado era compensado por tanta simpatia. É que ele chegava ao ponto de ajudar na escolha dos pratos. Haveria da sua parte algum interesse. É que a mesada não seria por aí além e o coitado tinha um grande encargo. A mulher era muito doente,sempre a caminho do médico. Isto não lhe alterava,porém, o seu modo de proceder,afinal,a fonte de uma parte dos seus rendimentos.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

WILL 2015 BE THE YEAR OF SOLAR POWER ACROSS AFRICA ?

Solar power

STATE AID : COMMISSION APPROVES SUPPORT TO 2O OFFSHORE WIND FARMS IN GERMANY

Offshore wind farms

STOPPING DEFORESTATION : BATTLE FOR THE AMAZON

Deforestation

DE MOLHO

Lembravam palafitas as casas de madeira dos pescadores da beira-rio. Os desvãos serviam de armazéns dos apetrechos da faina e de galinheiro. Em anos de cheia alta,a água punha tudo aquilo de molho. De fronte,ficavam os ancoradouros dos barcos,a remos, e também a vara,para travessias de pouco calado.
Tinham bancas no mercado,em lugar à parte. Nada de misturas com o peixe do alto. Lá figuravam,consoante a época,o barbo,a enguia,o sável. Pena era que a maioria tivesse tanta espinha.

SACOS DE MILHO

O velhote,na sua simplicidade,era um confiado. Nascera assim e não havia nada a fazer. Nele não havia manha ou vaidade,apenas uma incontida necessidade de dar conta das suas muitas façanhas dos tempo áureos da sua juventude e de mais uns anos para lá dela.
Aquilo era um contar e recontar. Acompanhara a actuação de grandes figuras públicas,contactando,até,casualmente,com uma ou outra,o que lhe dera,como se via,uma enorme satisfação. O prazer que sentia em as nomear,quase insinuando ter havido ali alguma intimidade. Alguns dos seus amigos tinham- se metido em actos temerários,em que ele não interviera,pela sua natureza pacífica. Praticara alguns desportos,mas bem depressa se desinteressara,talvez por ser muito impetuoso,muito irrequieto. O que mais o entusiasmara fora a festa brava,mas os encontrões que levara fizeram-no desistir.
Intercedera,em dada altura,por algumas famílias em apuros. A sua seriedade e algum prestígio que obtivera permitiram-lhe desempenhar o papel de advogado de defesa ganhador. Nunca se esquecera desta proeza.Talvez isso o tivesse levado a pugnar muito mais tarde pelo futuro de alguém que o via muito negro,sem saídas. O caso pedia um muito bom advogado e ele lembrou-se de bater à porta de um dos seus velhos tempos,dos tais com quem tivera alguma intimidade.
Largos anos tinham passado,e o senhor teria perdido a eficácia de outrora. Adquirira,até,hábitos caseiros,rodeando-se de aves diversas. O caso não teve o desenlace desejado,mas as aves foram contempladas com avantajados sacos de milho,artigo de muito difícil obtenção naquela época. Apanhou,por isso,o velhote uma grande decepção,que permaneceu durante muito tempo. Teria sido pouco o milho.

RECOVEIRO DE GARÇÃO

"Vocemecê é que é o senhor João da Cruz? Para o servir. Venho aqui pagar-lhe uma dívida. A mim? O senhor não me deve nada,que eu saiba. Não sou eu que devo;é o meu pai,e ele foi que me encarregou de lha pagar. E quem é o seu pai? Meu pai era um recoveiro de Garção,chamado Bento Machado. Proferida metade destas palavras,o cavaleiro afastou rapidamente as mangas do capote e desfechou um bacamarte no peito do ferrador."
É assim que vem em Amor de Perdição,de Camilo. Um simples diálogo,ao natural,como se tivesse sido registado a uma esquina,em qualquer lugar. Em qualquer lugar,ontem,lá muito para trás,quem sabe se hoje ou amanhã. De arripiar.
De alguma maneira,faz ele lembrar, também, a fábula do lobo e do cordeiro,de La Fontaine. Se não foste tu,foi o teu pai.
Alguém terá de pagar. Uma triste sina.

A PAZ REINAVA

Na maré baixa,um arremedo de praia formava-se junto à muralha. As águas acastanhadas,pela vizinhança de um cano de esgoto,iam e vinham em ritmada ondulação. Ali devia haver comida para lautas refeições,o que atraía gaivotas,pombos e pardais. Eram as gaivotas,naturalmente,que pontificavam.
Chegava para todos,pelo que ali reinava a paz. As gaivotas ocupavam,claro,a linha da frente. Seguiam-se os pombos e lá para trás os pardais. Era,de facto,o mais ajustado,dadas as circunstâncias do lugar. O seu a seu dono.
As gaivotas procediam como se não gostassem de molhar os pezinhos. Recuavam,quando a onda vinha. Pareciam crianças ou adultos que receavam pô-los de molho. O certo é que sempre o faziam. De quando em quando,levantavam voo,para regressar de novo à nesga da areia,ocupando o seu lugar na dianteira. Dava para divertir.

domingo, 19 de abril de 2015

COMO UMA CRIANÇA

O velhote,com barba de dias, abeirara-se,de modo humilde. É aqui que mora o senhor Abel? Deve ser neste prédio,quase tenho a certeza. Acompanhei-o algumas vezes,pois já se não orientava bem. Há uns meses que deixou de aparecer. O que é que lhe terá acontecido? Faz-me muito falta,podem crer. Estou velho também e entendiamo-nos. Têm marchado quase todos os da minha geração. Ter-lhe ia sucedido o mesmo?
Fora ali,de facto, que residira o senhor Abel,mas já se tinha mudado para a morada definitiva. Tiveram pena do velhote,pois a verdade abalá-lo-ia. Esperaria por ele mais uns tempos. Entretanto,podia ser que lhe chegasse também o momento de partir,do qual estaria próximo. E não mais se ralaria. Até lá,viveria na ilusão de um dia voltar a reunir-se com o seu parceiro de conversas.
O senhor Abel estava mesmo a precisar de abalar. Varrera-se-lhe da cabeça muito do que tinha aprendido e em casa era vigiado como uma criança. O velhote não gostaria de saber como o seu amigo acabara,pelo que fora acertado não o revelar.

FORA DO TEMPO

Elas tinham vindo fora do tempo. Mas,talvez para mostrarem que eram tão capazes como as da arrancada,lá dos inícios,aproveitando o bom tempo que por ali andava,desataram a crescer de tal maneira que parecia irem pô-las a um canto.
Foi,porém,este assomo sol de pouca dura,como era de prever. A cor verde bem depressa empalideceu,a pele encheu-se de manchas escuras e de rugas,as margens secaram.
Tratava-se das folhas de rebentos basais de árvore frondosa,pujante. Estariam elas  ali a representar
 tudo quanto vem fora do tempo.

SEMPRE EM FRENTE

Boa tarde. Oiça lá,oh amigo,vai-se bem por aqui? O amigo,era um soldado que vinha de licença. Vai sim senhor. Se não se importa,pode levar-me,que eu vou para lá perto? Foram muitas as voltas que se deram,que o soldado quis dar noticia de si aos muitos amigos. Não houve canto que se não visitasse. E ele ali ao lado,a dar as precisas indicações. Volte à direita,depois à esquerda. Pronto,já cheguei. Agora,é sempre em frente.

A SUA RIQUEZA

Não teria casa e andaria com todos os seus teres,acondicionados em dois carrinhos de compras,por essas ruas e demais espaços públicos. Naquela manhã,coubera a vez a um parque,onde nunca teria vindo. Talvez por não ser plano e ele estivesse ainda em jejum,a sua cara era de grande esforço,como a de um condenado às galés. É que viera até ao seu topo. Mas estaria determinado e não houve canto que ele não esquadrinhasse. Onde mais se demorou foi em frente de um prédio de muitos andares,prestes a serem habitados,e de uma cruz metálica,a assinalar o local de uma futura igreja. Compreende-se que assim fosse. Não viveria nada mal num daqueles andares,com lindas vistas. Para isso,seria necessário um milagre,que ele estaria implorando em frente da cruz,benzendo-se demoradamente. À saída,esperava-o uma calçada íngreme. E lá a teve de trepar,vergado ao peso dos carrinhos com a sua riqueza.

MAR

Mar

sábado, 18 de abril de 2015

FELIZ PERSPECTIVA

Volta não volta, lá vinham eles com um desabafo de quem muito possuía e gostava de o mostrar. Mas não eram ricos, coitados. A sua maior riqueza, tirando a saúde, claro, de que não se podiam queixar, estava no recheio lá da casa. E assim, não se cansavam de o inventariar, valorizando-o devidamente. Porque algumas peças lhes pareciam de estilo, vá de as encarecer.
Eram milhares, tudo reunido. Não queriam acreditar, mas era verdade, confessavam, deliciados, como se estivessem comendo coisa gostosa. Compraziam-se em acrescentar pormenores, descrevendo as qualidades dos tarecos, exaltando-as.
Estava-se em tempo de forte inflacção, o que os obrigava a permanentes acertos. Exultavam com isso. Sem contrapartidas, viam a sua riqueza a crescer aceleradamente. Não pensavam noutra coisa, assim se pode dizer. As caras espelhavam a alegria que lhes ia nos interiores. Engordavam, nesta feliz perspectiva.

COMUNIDADE

"A força de uma comunidade mede-se pelo bem estar do mais débil".

UM HOMEM BOM

Estava ali uma herdade exemplar. Honra,pois,ao seu dono e aos que cuidavam dela. Não se via parcela mal aproveitada e as colheitas eram das melhores.
Havia,porém,um facto que muito intrigava. É que não se descortinava uma máquina,para além daquelas rudimentares. Tudo quanto se produzia provinha,apenas,do esforço de braços e de muares. Sabia-se,porém,que o dono era pessoa muito instruída e,mais do que isso,professor de máquinas agrícolas. Era caso para dizer,bem pregava frei Tomás.
E um dia,alguém,um tanto ou quanto atrevido,quis saber das razões para tão contraditório procedimento. Então você queria que eu mandasse para casa metade ou mais do pessoal? E depois o que seria deles?
São assim alguns homens. É o seu coração melhor do que a cabeça. Era este,pois,sem dúvida,um homem bom.

UM USURÁRIO

Tanta coisa que parece condenada a não desaparecer. Aflitos e usurários são disto uma triste amostra. Pois é precisamente um usurário que aqui vai ter notícia. E isto, de uma maneira inesperada.
É que recebera uma educação que tinha como ponto de honra a sua viva reprovação. Não fora curso de um ano só,mas de muitos. Que diria o seu mestre se fosse possível ter disto conhecimento? Poupara-o o ter partido cedo desta vida. Que desilusão teria colhido.
O comboio estava para chegar,mas ainda houve tempo para uns momentos de conversa,ali, na plataforma apinhada. Olha quem é. Há anos que se não viam. O seu aspecto parecia indicar que a vida lhe correra de feição. Seria,certamente,fruto da educação recebida,do mestre que tivera.
Estou reformado,mas não inactivo. Empresto dinheiro a juro. É o que está a dar. E disse isto,naturalmente,sem a voz lhe tremer. E tivera ele como mestre alguém que procedera com ele inteiramente ao contrário. Nada exigira em troca do muito que lhe dera.
Não era para acreditar. Mas ele o confessara sem rebuço. É assim a vida. Há que estar preparado para tudo,mesmo para o absurdo.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

FOR TOILETS,MONEY MATTERS

India

ONE ARCTIC

Permafrost

TERRAÇO FLORIDO

A via era estreita e de mau piso. Não convinha,pois,olhar para os lados. Mas pouco se veria,que o eucaliptal era cerrado. De repente,tudo mudou,em atenção,certamente,a uma igrejinha.
O panorama atraía,extasiava. Estava-se mesmo em local sobranceiro ao Douro,que corria,pujante,ali a dois passos. Encostado à igrejinha,um cemitério,também maneirinho. Não se via uma campa rasa. Todos tinham tido direito a coisa melhor e a muitas flores. Aquilo não era um cemitério,era um jardim.
Em boa verdade,não podia ser de outra maneira. O largo rio estava ali a dois voos,nas verdes encostas alvejavam lugarejos,alguns barquinhos deslisavam mansamente e o da carreira cruzava a horas certas. Como é que haviam de estar os mortos,ali naquele terraço florido à beira do rio Douro,do rio do Vinho do Porto? Apetecer-lhes-ia tristezas? Não parece. E exigiriam.
Queremos aqui sempre flores. Esta vista pede festa,permanente. Passávamos aqui,quase a correr,sem horas,nem disposição para a disfrutar,que a vida exigente não nos dava descansos. Mas agora,não. Que maravilha. Pode dizer-se que foi uma pena não termos vindo para cá há mais tempo. O que perdemos. Isto é que é vida. Não desejamos outra coisa.

CAMISOLA INTERIOR

Era uma árvore bem ciente do seu papel. Despia, temporariamente,a camisa,quer dizer,as folhas,mas conservava a camisola interior,isto é,o manto de líquenes,que a revestia dos pés à cabeça.

OS AFILHADOS

Era o senhor muito rico e solteiro. Tratava-se,pois,de um alvo sujeito a grande procura. Acontecia,também,que não se lhe via interesse pelo casamento. Gostava de se sentir livre,de modo a poder dedicar-se ao que lhe desse na cabeça. E em boa verdade não parava. A sua figura quase metia dó,de tanta actividade em que se metia. Mas se casar não queria,significava isso que filhos não viria a ter. Não era,de facto,pessoa para os fazer por outra via. E assim,aquela enorme fortuna ficaria para os familiares. Mas nesses abundavam,também,os teres e haveres. Surgiram,então,candidatos especiais,os afilhados. Talvez uma parte do espólio rico lhes viesse parar às mãos. Nunca se vira tanto interessado numa colheita. Mas o que admirava era o senhor aceitar sempre mais um. Não se sabia se o fazia por gosto ou por mania de coleccionador. É que ele tinha várias,algumas de luxo. Acabou isso por se esclarecer. Aquilo não passava,afinal,de uma outra mania,só que de parcos gastos. Do que constou,os meninos e meninas não foram contemplados como desejavam,eles, ou os paizinhos. Também era o que estavam todos a pedir. Não se via logo que era uma coisa sem jeito? Um ou dois,vá que não vá,mas um monte deles cheirava a esturro.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

GREEN RESEARCH LABS : ZERO NET EMISSIONS FROM VENTER FACILITY

Venter Institute

CHINA : INFORM PUBLIC ON GM,DON'T CHEERLEAD

GM crops

ASIAN POLLUTION HITCHHIKES SOUTH

Asian pollution

SENSIBILIDADES

Havia ainda as sensibilidades,quer dizer,a sensibilidade de cada um,pelo que,em tal freguesia,a coisa nem atava,nem desatava

DE SACHOLAS NAS MÃOS

Então,vêm lá de Lisboa? Para eles,simples como eram,Lisboa devia ser lá para o cabo do mundo. Sim,viemos lá de muito perto. Então são capazes de ter visto por lá o nosso filho,o nosso único filho,que tanta falta nos faz,mas a tropa levou-o já há uns meses. Ainda tentámos que ele cá ficasse,mas foi o mesmo que nada. Deviam precisar muito lá dele,para assim nos deixar para aqui desamparados.Ali se encontravam aqueles dois,de sacholas nas mãos, a cuidar do seu batatal,já em flor. Ainda não eram muito velhos,mas aquela dura vida gastara-os,antes do tempo. O jeito que ele nos fazia se cá estivesse. Tenham mais um bocado de paciência,que o tempo passa depressa,e qualquer dia têm-no de volta. Deus o oiça,que fosse já amanhã,para podermos descansar mais um pouco,que há por aqui muito que fazer. Não temos só este pedacito,que o meu pai me deixou. Temos mais alguns,assim maneirinhos,mas é do que há por aqui,já devem ter reparado. Uns quintais ,a bem dizer,mas que nos dão muitas canseiras. Mas é a vida,o que se há-de fazer? Que o nosso rapaz venha depressa.

FLOR NA LAPELA

Dois amigos encontraram-se, num encontro aí de uma meia hora, pois tinham alguma coisa para contar, já que se não viam há uns bons tempos. Estavam razoavelmente bem de saúde, graves problemas não os apoquentava, pelo que falaram de coisas sem importância de maior,de coisas triviais.
Um falou do tempo, do que acabara de ler,ou de ouvir,coisas por assim dizer do lado de fora. O outro,não,falou de coisas bem lá de dentro,de dentro dele,pois então, que doutras não cuidava. Falou de si,mas dum si longínquo,dum si que ele não havia meio de esquecer,dum si vitorioso. Não calculas,aquilo foi um achado,e ainda estou para saber como tal coisa me aconteceu,mas ainda bem que aconteceu comigo,que com outro não tinha graça nenhuma.
Era uma história já conhecida do outro,e de outros mais,também,certamente,que ele não podia deixar de contar,que era assim que ele se sentia feliz,uma felicidade só lá muito lá dele,os outros que a procurassem,talvez viessem a dar com ela. Enfim,assim ele vivia,nada o apoquentando,
embalado por um si vitorioso,que o revestia,um si feliz,que ele bem mostrava na sua carita rosada,nos seus olhinhos muito vivos,num sorriso permanente,como uma flor na lapela.

A FLOR E A FRASE

Deviam ser umas quatro da tarde,tempo apropriado para dar um giro,depois de uma soneca reparadora. Seria o que ele estava fazendo. E a boa disposição era tanta,que levava na mão uma flor. Enquanto caminhava,repetia uma frase,em alto e bom som,frase um tanto provocatória,por um facto ocorrido na véspera.Era um cidadão que estaria gozando dos rendimentos de uma longa vida de aturado labor. Aparentemente,não se podia queixar muito,a atentar na elegante farpela desportiva que o protegia,desde os pés até à ponta dos cabelos,acondicionados por um boné azul e branco,à marinheiro.E qual era a frase,lançada aos quatro ventos, que ele não se cansava de repetir? A greve é o meu trabalho,a greve é o meu trabalho. Esta frase,vinda de alguém já permanentemente em férias,parecia algo deslocada. A indumentária,a flor e a frase compunham um quadro de elevada perplexidade.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

OS INADAPTADOS

Olha,aqui também há pobres. Coitado dele,ali sentado no chão da rua,a arranhar um violino,com um boné bem aberto,ali ao lado,para as moedas,que lá iam caindo,talvez num ritmo de que não estava gostando.
E aquele, a empurrar um carrinho de mão,meio desconjuntado,a abarrotar de trastes velhos? Coitado dele,também,que devia lá estar ainda em casa,que a neve estava caindo.
Parece impossível. Mas isto não são vidros,nas janelas. Isto são cartões,e já a romperem-se. Coitados deles,o frio que lá deve fazer dentro. Pois é,dizes bem. O pior é o resto.
E ali,naquela esquina,estão a ver? Uma menina,coitadinha,aí de uns dez anos,se tanto,mal vestidinha,a vender flores,ela que também era uma flor,de bonita que era,apsar de tudo.
Todos eles tinham um nome que os envolvia a todos. Eram os inadaptados,um lindo nome.

RESPONSE OF SEAFLOOR ECOSYSTEMS TO ABRUPT GLOBAL CLIMATE CHANGE

Seafloor

THE UNCERTAIN CLIMATE FOOTPRINT OF WETLANDS UNDER HUMAN PRESSURE

Wetlands

BALANCING WATER RESOURCE CONSERVATION AND FOOD SECURITY IN CHINA

Food security

LUGARES

É de fugir de dois lugares,ou seja,do primeiro e do último.

O ÓBVIO

Era o primeiro dia de ir receber a mesada a dobrar,uma fortuna. Teriam sonhado com ela e com o dia. Não seria,pois,de admirar que a quadra estivesse cheia. Quem deu mostras de não ter pensado nisso foi o cofre. E aconteceu o óbvio. Têm de vir cá segunda-feira,que hoje já não há mais,e hoje é sexta. As vezes que o disseram. Muito forte,ou insensível,deveria ser o coração de quem dizia não há mais,tenham paciência. Mas segunda,quando? Logo ao abrir da porta? Não garantimos. Talvez às dez,ou às onze,depende. E lá iam,resignados,que mais haviam de fazer?,para virem muito cedo,talvez antes da abertura,para serem os primeiros,não fosse o cofre,novamente,esvaziar-se. O dinheiro estava certo,é certo,mas enquanto não o tivessem na mão não descansariam,que o seguro morreu de velho. E tudo isto com gente a ver e a ouvir,não de uma maneira virtual,mas real. Quanto sofre um pobre.

NEM ESTÔMAGO,NEM CORAÇÃO

Dava jeito aquele biscate,pois sempre eram uns cobres a somar a outros cobres. Tratava-se de fazer de advogado de defesa de gente apanhada com a boca na botija. Podiam recorrer os infractores,ou assim julgados,na esperança de apanhar uma pena mais leve ou mesmo serem mandados em paz,para ganharem juízo.
E era aqui que ele entrava. Mas como provar que farinha de trigo não ficara convivendo com farinha de milho,que no leite não se tinha dissolvido carbonato de sódio,que óleo de amendoim não marcava presença em azeite de primeira,que vinho branco não fora convertido em tinto,como por milagre,isto,só para referir algumas maldades?
Uma valente carga de trabalhos,de aflições,de risos amarelos,e sabe-se lá mais o quê. Lá conseguiu,porém, atenuar os castigos e até um perdão.
Mas ele,coitado,não tinha estômago,nem coração, para suportar uma coisa daquelas. Teve,assim,de desistir,dar baixa,com muita mágoa,está-se mesmo a ver porquê.

O ÚLTIMO ENCONTRO

Era um santo homem. Talvez por isso,cedo desta vida de enganos se despediu. Para não mais esquecer alguns dos seus passos no caminho de que tanto gostava. Para não mais esquecer aquele encontro,ali numa esquina,onde uma tabuleta pendia.
Parecia impossível que o negócio não estivesse a ir de vento em popa,ali,onde o vinho era rei e senhor. Pois não ia,pelos vistos. O que eu lhe agradecia se conseguisse que melhores dias eu viesse a ter. É para já. E o bom do santo imediatamente se dispôs a dar uma ajudinha.
E para não mais esquecer,sobretudo, aquele último encontro,tão inesperado,ali num banco rodeado de árvores frondosas e de silêncio,apenas cortado pelas conversas dos pássaros. Era capaz de se entender com eles,à semelhança do outro,o de Assis.

BOMBO DE FESTA

Desgraças que estão sempre a acontecer quando se é o que se não pode deixar de ser. Fatalidade? Talvez sim,talvez não. Mas prossiga-se. Ele vivia apenas do seu humilde trabalho,numa época de apertar o cinto ainda mais do que era costume. E ele era muito,mesmo muito acanhado,se calhar por a calvice ter vindo para ficar,bem cedo,ainda mal deixara a juventude. Assim,desde muito cedo ,também,não largava o chapéu,para a encobrir. E os tempos em que lhe coubera andar por cá eram ainda muito atrasados.
Estava ele,pois,feito para vir a ser um rico bombo de festa,se acaso tivesse a pouca sorte de se cruzar com alguém que só gostasse de festejos. E quem havia de ser esse alguém? Pois foi precisamente o seu especialíssimo patrão. Ainda o pouparia se ele não tivesse mais nada,além de não ter cabelo. O azar foi esse,um azar dos grandes. É que a sua cultura ultrapassava,de longe,a do seu lindo patrão. E uma coisa destas o patrão não perdoava. Então,não querem lá ver,este pelintra,que de mim depende,a pretender saber mais do que eu? O atrevido,e não se sabe mais o quê. Mas eu vou-te mostrar que comigo não se brinca. E aproveitava todos os pretextos para o reduzir a pó.
E o pobre lastimava-se,quase chorava,junto dos amigos. Mas que mal lhe fiz eu? Sim,que mal? Ainda se não cumprisse,se mandriasse,ainda se compreende. Mas tenho o trabalho em dia,sou assíduo,o primeiro a chegar,e muitas vezes o último a sair. O que mais quer ele? Qualquer dia despede-me,é o mais certo,e, depois,o que é que vou fazer? Sem padrinhos,fico para aí desempregado,e eu que não tenho mais nada a que me agarrar.
Tanto se lastimou,tanto viu a sua vida sem saídas,que acabou por adoecer de doença ruim. A sua pobre cabeça não suportou tanto amesquinhar,tanto se sentir um nada,que uma leve aragem empurraria para a valeta.

terça-feira, 14 de abril de 2015

QUEM OFERECE MAIS

Há quem veja a vida como um negócio,não de compra e venda,mas de quem oferece mais.

A CHUVA ESTAVA CAINDO

A chuva estava caindo e o vento brincava com ela. Ora a deixava cair mansamente,ora pegava nela,atirando-a em bandas largas de aguaceiro. Lucravam os mananciais,lucravam as fontes.
Nos rios,desaguavam novos rios. Os caudais engrossavam,o oxigénio renovava-se,os peixes respiravam melhor. As sementes entumesciam. Era o fim do seu sono e a germinação começara.
Completado o tempo,os campos vestiram-se de verde e o gado alegrou-se,rindo-se os olhos e também os do lavrador,do pastor,do cão de guarda. Os filhotes mexeram-se mais nos ventres das mães. Qualquer dia veriam a luz do sol ou da lua,ou do dia simplesmente. E teriam comida,e engordariam.
A natureza adquirira a cara de sempre e um outro ciclo iniciara-se. Depois de incontáveis outros. Tudo ou quase tudo à margem da colaboração do homem. Ele, quase como mero expectador de um espectáculo quase de graça. Ele põe a sua parte,é verdade,mas uma parte muito pequenina,diante da grandeza,do imenso número de acções que se passam fora dos seus cuidados.
O prodígio da chuva. O prodígio do Sol. O prodígio da renovação. O prodígio do crescimento,do desenvolvimento,da maturação. O mundo de uma célula,vegetal ou animal. O infinitamente pequeno a trabalhar sem descanso num enquadramento químico e físico de maravilha.
A chuva estava caindo...

A PROMESSA

Era dia de procissão da Senhora da Bonança,a protectora dos pescadores daquela terra. A Senhora estava para chegar ali ao porto de abrigo. Às vezes,demorava. Nunca se sabia. Dependia de muita coisa, e do mar. Uma multidão A esperava,devota uma,curiosa outra,como acontecera sempre,desde há muitos anos.
Sentada em sítio estratégico,porventura o preferido,estava uma velhota toda de negro vestida. Então,vem aqui muitas vezes? Todos os anos,ainda que esteja muito achacada. Foi essa a promessa. Muitos favores Lhe devo.
A música que atroava os ares e que não havia meio de se calar,para regalo,talvez,da maioria,emudeceu,à chegada da Senhora. O mesmo aconteceu a um feirante que não se cansava de repetir o seu disco. Uma oportunidade daquelas não mais a apanhariam. Por uma simples nota,não levariam apenas uma peça,mas uma dúzia.

UMA DIVINDADE

Finalmente. Um ar de grande felicidade envolvia-o. Teria vindo em peregrinação,cumprindo,talvez,uma promessa ou,mais propriamente,um sério,um sagrado dever. O santuário ali estava,pressionando. Parecia ter tardado. Como em êxtase,logo à entrada,quedou-se, respeitosamente,de cabeça inclinada,por momentos. Depois,sem hesitar,dirigiu-se directamente,como que atraído,ao túmulo do Gama,postando-se muito hirto junto de seus pés,mais uma vez de cabeça pendida. Pousando levemente a mão direita na pedra fria,assim esteve todo o tempo da visita. Abandonara o numeroso grupo em que viera integrado. Os outros,incluindo a mulher,lhe contariam o que tinham visto,que era muito e rico. Nada mais lhe interessara,a não ser velar os restos de alguém,que, pela vez primeira, abrira uma porta nunca franqueada. Estaria convicto de que sem esse prodígio não teria chegado tão cedo a certas paragens. E estar-lhe-ia para sempre agradecido. Quem sabe, até, se não o consideraria como uma divindade. E estar ali ao pé dela era do que mais gostaria.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

TINTEIRO DE VIDRO

Por aquele andar,um dia, ainda se dava ali uma tragédia. Não se deu,mas esteve lá muito perto. Era uma sala ampla,com um anel de secretárias para os trabalhadores. Seriam uns seis,naquela altura. Todos jovens. Estava a sala passando por um mau bocado. Trabalho não vinha e eles cheios de vontade para fazer coisas. O ambiente era,pois,sem exagero,de cortar à faca.Dois deles,sentados frente a frente,não se perdiam de amores um pelo o outro,vá-se lá saber porquê. Feitios. De vez em quando,por razões de pouca monta,lá quase explodiam. E certa manhã,talvez por ter acordado muito mal disposto,um deles, pegou num tinteiro de vidro,cúbico,pesado,de arestas afiadas,e atirou-o,com ganas,ao inimigo. Não acertou no alvo,simplesmente porque ele já lá não estava. Silêncio, de túmulo. Frio,de morte. Espanto,de incredulidade. Como fora possível? Continuaria a sê-lo, pois os ingredientes tinham cara de permanecer. Um dos outros,talvez o mais novo,muito amedrontado,tomou logo ali uma decisão. Tinha de sair daquele barco, e sem muita demora. Conseguiu. Mas outros barcos,algo parecidos,o esperavam.

AO RELENTO

No verão,aquela casa seria um belo poiso para um merecido descanso. De lá,via-se o rio,ali a dois passos,correndo entre choupos e salgueiros,naquela altura nuzinhos. Ouvia-se o fragor da corrente,que o caudal ia abundande,da muita chuva.
Estava um frio de rachar naquela manhã,muito cedo,de dezembro. Uma névoa densa,alimentada pela torrente,colaborava. O carro,que já acusara ,na véspera, algum mal-estar,esquecera-se das suas funções,talvez vingança por o terem deixado ali ao relento,com um tempo assim. Não se fazia uma coisa destas,sobretudo com quem já tinha uma idade avançada. E agora? Empurrá-lo,nem pensar,que ele dormira no fundo de uma ladeira íngreme.
Ali muito perto,mesmo em frente,estava uma vacaria. Chegavam ruídos de vozes e das vaquinhas. Não eram elas que acabariam com aflições de tal natureza. Quando muito,dariam algum alimento para aquecer,que era,alás,bem-vindo. Ter-se-ia de bater a outra porta. Esta abriu-se,mas muito lá para mais tarde. Há que ter paciência,esperando pela disponibilidade de cada um. Chegado o seu tempo,apresentou-se um tractor,que cumpriu a sua obrigação.
Podia ter sido pior. No dia anterior,enquanto se tratava do estômago,uma rôsca moída deixara sair todo o óleo do motor. Mas estava-se com muita sorte,pois não fora em sítio escondido,como ja acontecera noutras ocasiões. Coisas que acontecem a quem anda à chuva.
 

O REI

Parecia ter ele o rei na barriga e estaria convencido de que não haveria outro.

À BOLEIA

Para atravessar aquela ponte,até os miúdos tinham de pagar. Cabia-lhes meio tostão. Não era muito,mas uma fortuna para eles. No sentido de compensarem,de algum modo,o forte rombo nas magras carteiras,procuravam ir à boleia. Sempre aparecia uma alma caridosa.
Havia preferências,claro. O ideal era uma alma de automóvel. Mas quando não aparecia ou não estava para isso,lá tinham de ir de carroça ou de camioneta de carga. Quanto às carroças,
tinham, também,os seus gostos. Daquelas puxadas por parelhas de mulas,só em último recurso. É que o diabo das mulas não perdiam a mania de andar em ângulo quase recto,como que zangadas,expulsando-se. Mas com cavalos,nem sempre se ia sossegado.
Alguns perdiam a cabeça,ao olharem ou sentirem as águas a correrem lá por baixo,e era um monte de trabalhos. O condutor,coitado,era obrigado a descer e ir à pata,a seu lado,segurando as rédeas com firmeza. Os miúdos,coitados deles,também,nestes transes,ficavam muito tristes,pois lá tinham de fazer uso das pernas.
Em camioneta de carga,só junto à cabina. É que a ponte era de travessas de madeira mal unidas. E assim,indo atrás,a um salto mais exagerado,arriscavam-se,na descida,a já não encontrarem transporte.

MUITOS PERIGOS

Pobres mães,sempre raladas com os seus filhinhos,mesmo quando eles cresceram muito,quando já são homens,ou mulheres. E como mudam os tempos,como mudam as vontades,que até parece não ter havido outros tempos.
Estava ela,a pobre mãe,muito chorosa,à porta da escola,manhã muito cedo. Nem teria dormido,
coitada dela. E quando entrava um,ou dois,os que calhassem,que era hora de começarem as aulas,ela perguntava,muito preocupada,se tinham visto o seu filho,o seu filho que não lhe tinha
aparecido em casa,naquela noite,pela primeira vez.
Nunca lhe tinha feito isso,e ele devia saber que ela estaria muito ralada. O que lhe teria sucedido,que havia por lá muitos perigos,o que lhe teria acontecido?
Lá procuraram confortá-la o melhor que puderam. Não se rale,minha senhora,que ele deve ter ficado em casa dalgum colega,que há muito que estudar,pois estamos em época de exames,ele deve ter-lhe dito. Vá para casa,não se apoquente mais,que ele há-de lhe lá aparecer.

domingo, 12 de abril de 2015

UMA DESGRAÇA

Estava um frio de rachar e o estômago reclamava,desesperado. Teria de ser mesmo ali. Pois é. Só que não era o estômago a pagar. A conta iria ser puxada,mas podia ser que incluisse uma compensação. E foi o que aconteceu. Há horas de sorte.
Na mesa ao lado ,veio sentar-se uma figura pública,acompanhada da mulher. Tratava-se de uma personalidade de palavra fácil,tanto na falada, como na escrita. Pois ali não abriu bico,assim se pode dizer,e isso porque um amigo que o viera visitar não deixou. As coisas que o senhor sabia,de cá e de lá. Ainda que algumas fossem escaldantes,e talvez por isso,a sua voz não era de segredos. Parecia estar interessado em que toda a sala o ouvisse. A esposa do visitado,de vez em quando,metia a colherada,mas sem jeito nenhum. Queria mostrar que estava bem informada,mas saía-se quase sempre mal. Uma desgraça. Apsar das arremetidas frustradas,não desistia,para desespero,certamente, do consorte.
Não interessa aqui revelar a sabedoria do amigo,nem a ignorância da mulher. O que interessa é dizer do espanto ao ver que figura tão desenvolta a opinar publicamente,ali,naquela mesa e ocasião,guardasse um mutismo quase absoluto. Até se perdoa à esposa as observações infelizes,talvez envergonhada do comportamento do marido. Teria sido do frio?
Do que se ouvira,uma coisa vale a pena revelar. É que certa guerra só fora possível devido ao dinheiro proveniente de diamantes e de droga. O que não era muito para admirar. Quase todas as guerras,senão todas,têm suportes assim.

É O QUE ME VALE

A senhora,já de oitenta anos,merecia um elogio. E foi o que se fez. É que acabara de facilitar a vida a alguns de menos idade. Tem aí uma cabecinha de invejar. Tomaram-na muitos,velhos e novos.
Pois é. O pior é o que me espera lá em casa. O meu marido está taralhouco,sem dizer coisa com coisa. Só me atrapalha a vida. Mas a minha desgraça não se fica por aqui,embora esta já me chegasse.
Vejam lá os trabalhos em que estou metida. Para além do velho,ainda tenho a meu cargo um filho de cinquenta anos que endoidou de todo. Não sei porque Deus me destinou este fardo.
O que é que se havia de dizer ,perante desdita tamanha,para a confortar? Um ainda se atreveu. Para a compensar,Deus deu-lhe tino e vigor para dar conta de tais trabalhos. É o que me vale.

NOSSA DESGRAÇA

A tristeza da velhota metia dó. Então,o que lhe aconteceu,minha senhora,para estar assim? Veja lá a desgraça que nos caiu em cima,a mim e a mais duas,que têm também aqui os seus quartinhos. Vivíamos aqui muito sossegadas,já lá vão uns bons anos,então não é que passámos a ter mães solteiras como vizinhas? Os rapazes não lhes largam as portas. Vejam lá a nossa desgraça.

DESGRAÇA COMUM

Andava cada um para seu lado. Um dia,uma desgraça comum os juntou.

sábado, 11 de abril de 2015

STUDY OUTLINES THREAT OF OCEAN ACIDIFICATION TO COASTAL COMMUNITIES IN U.S.

Ocean acidification

BRINGING OCEAN ACIDIFICATION TO THE CLIMATE CHANGE AGENDA

Climate change

HOW WILL OCEAN ACIDIFICATION IMPACT MARINE LIFE ?

Ocean acidification

O RISCO

Quantas vezes se pisará o risco por a isso se ser obrigado.

E AGORA?

Só faltavam três perfis para examinar e o morro estava ali muito próximo. Lá se viam os embondeiros, sempre presentes,a deixarem a sua marca inconfundível,fazendo débil sombra,que as folhas ainda estavam recolhidas. A vegetação à sua volta era baixa e seca,ao contrário da do vale,em que dois trabalhadores se encontravam. Dum lado e doutro,uma muralha alta e verde,que ali a terra não tinha sede.
De súbito,uma restolhada já conhecida. As pacaças tinham acordado,talvez avisadas pelas avezinhas que cuidavam da sua higiene e da sua segurança. Tinham de velar por elas,senão lá se iam aqueles festins de carraças gordinhas. Não sabiam que daqueles dois não lhes viria mal algum,pois não traziam arma capaz de as molestar.
E agora? Agora,era fugir. E foi o que fizeram,cada conjunto para seu lado,que o respeito era mútuo. No caso delas,do homem nunca fiando. Elas devem ter voltado a descansar junto de outro embondeiro. E eles,ora eles,foram acabar a tarefa que tinham interrompido,a sua obrigação. De resto,não estavam ali para outra coisa.

RASTO DE DESAMPARO

Vinha toda de negro vestida. Mas numa senhora de muitos anos não era isso de estranhar. Trazia na mão a caderneta da Caixa e queria actualizá-la,só que não sabia como o fazer,talvez por ter deixado os óculos em casa. Teve,pois,de pedir ajuda ao primeiro que lhe apareceu. Quem é que recusaria ou,até,estaria disposto a enganá-la,tal o seu desprotegido,confiante,submisso ar?
Enquanto a operação decorria,lá foi informando que o marido lhe morrera há anos e,pior do que isso,perdera ,recentemente, o seu único filho. Veja o senhor a minha desgraça.
Pode dizer-me quanto está aí? Era uma quantia de quase nada,à volta de quarenta euros. Dois dias antes,tinha havido um depósito de cinco euros e dezassete cêntimos.
Parecia esperar mais. Na página,viam-se sombras de registos na anterior. Quis saber o que era.
Desfez-se em agradecimentos,pegou em dois saquitos e lá foi,deixando atrás de si,bem fundo,um rasto de desamparo.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

SYNTHETIC BIOLOGISTS SEEK STANDARDS FOR NASCENT FIELD

Synthetic biologists

BACTERIA WARM UP PERMAFROST

Permafrost

THE EUROPEAN UNION FACES A FRESH BATTLE OVER NEX-GENERATION PLANT-BREEDING TECHNIQUES

European Union

UM JOGO

É de inventar um jogo em que todos ganhem.

ESPLENDOR E REALIDADE

Quem não se apiedaria à vista daquele quadro,de há muitos anos? Estaria ali deslocado,um tanto escondido,no meio de tanto fascínio.
Uma velhinha contava as escassas moedas que lhe restavam. A consternação que vinha de toda a sua figura. Não se lhe viam lágrimas,talvez porque as não tivesse já,tantas teria vertido ao longo da sua longa vida. Acompanhava-a a netinha,de ar não menos triste.
Por detrás,quase a tocar-lhes,uma montra exibia,provocadoramente,o seu magnífico recheio,umas ricas peças de carne,de vermelho vivo. Bom jeito lhes faria uma pequena fracção de qualquer delas. Mas como obtê-la? O seu dinheiro não dava para tal luxo e assim, nada feito.
A avozinha havia de recontar uma e mais vezes,talvez na esperança de algum milagre. E chegaria sempre à mesma conclusão. Aquilo não era para elas,estava destinado a outras bocas.
Mas porque diabo o teriam ali posto? Já era vontade de estragar a festa de todo aquele esplendor. Seria a realidade da época e havia que a respeitar.

FAZ DE CONTA

Aquelas estradas de macadame foram,durante largo tempo,o ganha-pão de muita gente,em certa época do ano. Acontecia que ,tirando os períodos das sementeiras,das mondas e das colheitas,uma grande parte do pessoal das redondezas ficava para ali sem ter em que se ocupar. E assim,findas as ceifas,começava a empreitada da sua reparação.Não havia lugar para todos,mas sempre dava para alguns. Nunca se sabia a quem calhava. Era uma espécie de lotaria. Mas ainda bem que as autoridades tinham essa lembrança.O conserto era feito sem cuidados de maior. Uma espécie de faz de conta. Assim,logo que vinha o tempo das chuvas,as mazelas antigas eclodiam. Até parecia que havia um acordo entre todos. O que era preciso é que as coisas voltassem ao que era antes. Quem não gostava nada disto eram certas famílias,talvez os mais assíduos utilizadores. Aqueles crivos de todas as malhas davam-lhes muitos trabalhos,pois,de vez em quando,lá se ia um eixo das suas carripanas. Felizmente que no termo das jornadas lá os esperava uma feira,onde se ressarciam dos avultados prejuízos.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

YES,AFRICA WILL FEED ITSELF WITHIN THE NEXT 15 YEARS

Africa

IDE'S ISRAEL SEAWATER RO DESALINATION PLANT SETS WORLD RECORD FOR WATER PRODUCTION

Seawater desalination

LARGEST SEAWATER DESALINATION TO OPEN NEXT YEAR

Seawater desalination

NÃO SE PODE TER TUDO

Está a ver isto? Não é um rico invento? Sim,já o conhecia,mais um,a somar-se a muitos outros. Pena é que não apareça o da fraternidade. Sabe,não se pode ter tudo.

O MALANDRO

Os nenúfares tinham-se encarregado de atapetar a superfície daquela ampla lagoa. O enfeltrado era denso e só muito perto da margem é que a água se revelava. Algumas avezinhas saltitavam de uma folha para outra. O silêncio era rei. À volta,cactos-candelabro faziam sentinela. Ao longe,cortinas de papiros,com os seus penachos,lembravam cabeças tontas,desmazeladas. Era aquela imensidão a morada de famílias de crocodilos. A sua vida seria uma rotina se não tivessem peles. É que elas despertavam a cobiça de alguns. Ainda um deles se confessara uns dias antes. Então,quem lhe pôs o joelho nesse estado? Fora uma sorte. Por um triz,não estava ele,naquela altura,a contar o que lhe sucedera. O malandro ainda respirava. Uma noite inteira a verter sangue e ainda estava vivo. Quando o puxara,julgando que estivesse já morto,como lhe acontecera de outras vezes,o malandro ainda tivera forças para lhe deitar o dente. Não desistira. Apenas passara a ser mais cauteloso. Eram uma tentação aquelas ricas peles.

ESPANTO

Ora ali estava um escrito de há uns dias sobre um assunto que muito o interessava. E começou a lê-lo. Qual não foi o seu espanto,quando deu com frases inteirinhas muito suas conhecidas,por as ter elaborado tempos antes.Isso dera-lhe um trabalhão dos diabos,já que tivera de consultar uma apreciável série de textos de além fronteiras. Podia o outro ter feito o mesmo caminho e o resultado fora idêntico. Há coisas estranhas que acontecem e esta parecia ser uma delas.Passado algum tempo,estava ele a preparar-se para subir a um estrado,quando a máquina de projecção de diapositivos deixou de cumprir a sua obrigação. E agora,se eram dispositivos que ele iria usar? O remédio estava em alterar a prestação,o que foi,sem regateios,concedido.E o que lhe havia de ocorrer? Nem mais nem menos do que a matéria das tais frases. Foi uma coisa espontânea,sem segundas intenções.Então,não é que a ver e a ouvir estava o do tal escrito? O que é que ele havia de ter pensado? Ai o maroto,que está a repetir o que eu já escrevi.

UM GNEISSE

Eram sete da tarde,de um dia tórrido de verão. Na frente,o portão fechado de quinta murada. Queria-se entrar. Vieram os cães,veio o porteiro,veio quem mais mandava.
A esta hora? Tinha de ser,pois era mister abrir covas,aqui e ali,em terra dura,que o sol apertara.
Era isso certo,que bem se sabia,e muito mais quem a enxada manejava. A quinta agradecia,para outros ficarem a conhecê-la melhor lá nos fundos,que era dos fundos que grande parte do alimento saía para,sobretudo, vinha e olival,as suas culturas nobres. Por lá se andou,sondando aqui e ali,por todo o resto da tarde,não sendo necessário a ela voltar por ser muito uniforme o que lá por baixo havia,um granito xistóide,mais propriamente,um gneisse.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

WHICH NEW TECHNIQUE WILL HELP PLANTS SURVIVE WITH LESS WATER ?

With less water

WORLD DAY TO COMBAT DESERTIFICATION AND DROUGHT 2015

Desertification and drought

UNCCD - UNITED NATIONS CONVENTION TO COMBAT DESERTIFICATION

Desertification

PERSONALIDADE

Ter,ou não ter,modela,de algum modo,a personalidade.

TERREIRO À NOITE

Estava-se ali bem à noite,naquele vasto terreiro,junto à estátua do rei. Nos seus tempos,não seria muito diferente,tendo-lhe custado muito,talvez,deixá-lo. Haveria, também,em redor,caça em abundância,que lhe entreteria os ócios. A daquela altura não teria comparação com a desse recuado tempo,mas,mesmo assim,não era nada para desprezar,como indicavam as numerosas famílias de coelhos,em íntima convivência com montes de carraças,em tapada próxima,coelhos que pouco fugiam à vista de estranhos. A maioria continuava lá na sua vida,sem se refugiarem nas suas tocas de fortes alicerces,pela profusão de pedregulhos.
Como a vida não é só trabalhar, os domingos,e menos os sábados,porque, às vezes,era-se obrigado a fazer uns biscates, eram aproveitados,em apreciável parte,para coscuvilhar as muitas relíquias da terra,o palácio,os conventos,as igrejas,o castelo. Esse bisbilhotar foi muito facilitado,usando a muleta do Guia de Portugal,de Raúl Proença. Não era só o terreiro a ser contemplado à noite. Também se passava por certa esplanada,onde se ouviam histórias de férias de sonho,em praias mediterrânicas,e de tardes de glória em praças de toiros. Há assinalar,ainda,para quebrar a monotonia dos pratos lá da pensão,as passagens esporádicas por um antro de gente esfomeada,onde pontificava a dobrada com feijão.

A AUTORIDADE

Naquele tempo e naquela região,a bolota era muito cobiçada,sobretudo uma mais doce,em primeiro lugar,pelos porcos,que os havia,em grandes varas,que a peste suína não se tinha ainda instalado,e,depois, pelas gentes,que,às vezes,passsavam mal. Não admirava,pois,que os montados fossem bem guardados.
Uma manhã,estava ele no trabalho do costume. O ajudante avisa. Os guardas vêm aí. Eram dois,a cavalo. Chegam. Os cavalos relincham. O que estão aqui a fazer? A voz é ríspida,as caras são duras,os olhares, de poucos amigos,talvez das instruções. A vida estava difícil. Tinham de cumprir ordens,não fosse haver denúncia de brandura,e,assim,lá se iria o emprego certo. Não se lhes responde. Apenas se aponta para o jipe,meio escondido por detrás de um chaparro.
Lá foram para a sua vida. Nem um pedimos desculpa. Nem um adeus. Nem um passem bem. Era a autoridade.

terça-feira, 7 de abril de 2015

CLIMATE CHANGE MAKES DROUGHTS IN AUSTRALIA WORSE

Climate change

WESTERN AUSTRALIA - TEDERA,DROUGHT TOLERANT PERENNIAL PASTURE LEGUME,TO BE PROFILED AT DANDARAGAN FIELD DAY

Tedera

NEW GENETICALLY MODIFIED PLANTS HAVE BETTER DROUGHT TOLERANCE

Drought tolerancege

AO MESMO

Não havia por onde escolher,pois ia tudo dar ao mesmo.

NUTRIDA SEREIA

Era uma terra de pescadores e estava em festa. Aquele dia,era um muito especial. De tarde,havia a tradicional procissão,e há noite,orquestra sinfónica.Mas havia, também, uma feira ruidosa. Os ares andavam cheios de sons estridentes de música escolhida,daquela de bater o pé. Podia ela lá faltar. Sem ela,seria uma pobre feira. Mas à passagem da procissão,pela qual tinham um grande respeito,os sons emudeceram,bem como os pregões das mais variadas coisas,outra marca essencial.Ao contrário do que sucedera com a procissão,quando a orquetra actuou,talvez por ser dentro de casa, a música estridente e os pregões não se calaram. Alguém de fora,vaticinaria sala às moscas. Pois muito se enganaria. A sala rebentava pelas costuras,tendo de ficar muita gente de pé ou no chão.Aplausos não foram regateados e algumas vezes,até,com direito a repetição. E no final,lá apareceram dois ramos de flores,tendo sido um deles entregue por uma moça que mais parecia uma nutrida sereia daquele mar.

ENCANTAMENTO

Estava um fim de tarde ameno de Setembro. Pequenos bandos de gaivotas dispersavam-se no areal extenso. Um ou outro casal de velhos passeava no empedrado fronteiro. O bulício de Agosto era já uma lembrança. Apetecia ficar ali,a sentir a aragem levemente fresca e a respirar o ar fortemente iodado. Ao longe,surge uma figura magra,sobraçando um livro,de mãos nos bolsos. Aproxima-se serenamente,pausadamente. No rosto,esboça-se um sorriso,talvez de encantamento. Era uma figura pública,simpática,respeitada. Dirige-se à esplanada. Senta-se e pousa o livro na mesa. Fica de perfil. Os seus olhos fitam-se no horizonte. Quase não se mexia. O livro jazia esquecido,na sua frente. Que pensamentos ocupariam aquela cabeça?,pródiga em opiniões,carregadas de saber,despidas de qualquer assomo de autoridade. Era aquele,afinal,o cenário que mais se quadrava com ele. A tranquilidade envolvente,o quase silêncio do céu e da terra,o esperguiçar manso das ondas,o azul em frente e acima. E ele ali sentado,sem dialogar,mas comunicando secretamente.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

UPCOMING EVENTS IN THE RENEWABLE ENERGY INDUSTRY

Renewable energy

IS THE SUN RISING ON AN AFRICAN SOLAR REVOLUTION ?

Solar revolution

GERMANY SETS VERY HIGH BAR FOR FRACKING

Fracking

SOMBRA

Um,ou uma,que tenha ido desta para melhor,já não faz sombra.

UM GRANDE SARILHO

Estava casado há já quarenta e quatro anos,que se completavam precisamente naquele dia. E ele,mais uma vez,se esquecera. Fora a nora que o lembrara. Mas ainda ia a tempo de comprar um ramo de flores para oferecer à sua velha companheira.
Mas como não me havia de esquecer,se ando para aqui atafulhado de preocupações? A casa,sempre a mesma,precisou de obras urgentes e fui eu quem as teve de pagar. Foi um grande rombo,como deve calcular. Depois,o meu filho,que tem um curso superior,ganha uma miséria. É a mulher que o tem de ajudar,porque eu pouco posso. Ela é professora e anda a ver se arranja colocação,mas o horário que lhe dão não serve,por causa da criança. Vai ter que esgravatar por outro lado. Tem de ser.
Enfim,um grande sarilho,como vê. É sempre a mesma coisa. Estão os pobres cada vez mais pobres,sentenciou,e lá foi,a correr,comprar um ramo de flores no supermercado,lá ao pé da porta.

DE INVEJAR

Um dia,o senhor António desabafou. Andava há tempo para o fazer,mas não se atrevera.Você já reparou bem no estado em que anda? O calçado é uma vergonha e a roupa vai pela mesma. Hoje está toda enlameada,mas já a tenho visto coberta de poeira. Depois,anda para aqui a pé,dum lado para outro,porque doutra maneira não pode ser.
Tenho pensado muito,mas não há meio de entender porque é que não tirou outro curso,como o de médico ou de leis. Os que conheço lá da terra levam uma muito melhor vida. Ora se levam. Você pode gostar muito do que anda fazendo,mas olhe que não lhe gabo o gosto. Então não era melhor ser doutor delegado,como o de lá da vila,que tem um lugar marcado lá no cinema e anda vestido que nem um fidalgo?
Não me diga que não é outra coisa. Eu cá não tirava o seu curso. Tantas letras,tanto aturar professores,tantos exames,e,depois,para quê? Para andar aqui feito labrego,com sua licença,quase como eu. É certo que há uma grande diferença,mas a vida do doutor delegado ou do doutor médico,isso é que são vidas,de invejar.

domingo, 5 de abril de 2015

ALGERIA AIMS FOR 13.5 GW OF SOLAR POWER BY 2030

Solar power

CROWDSOURCING FUNDS WILL PUT SOLAR PANELS ON EVERY SCHOOL ROOF

Solar panels

CALIFORNIA DROUGHT : GOVERNOR TELLS CLIMATE-CHANGE DENIERS TO WAKE UP

Climate change

EM BELEZA

Restava-lhe uma meia dúzia de tostões. E apeteceu-lhe gastá-los numa extravagância. Quer dizer,acabou em beleza.

O SEU MEIO

Sentir-se-iam bem ali,naquele barracão de chão térreo,em plena lezíria,ele,mulher e filhos. Ali viviam em quase toda a roda do ano. Quando a água punha aquilo tudo de molho,iam refugiar-se numa bela casa,com todos os apetrechos,ali perto. Mas logo que as coisas voltavam ao que era dantes,lá marchavam de novo para o seu meio,recomeçando a viver.
Era o barracão um vasto espaço limitado por madeira e coberto de telha vã. A um canto,viam-se quatro compartimentos toscos,onde dormiam e cozinhavam. Tudo o resto era armazém dos artigos mais diversos.
Davam logo notícia,a meio da quadra,montes de melancia,de melão e de tomate,em particular deste,pelos odores de adiantada fermentação. Ao lado e nos fundos,lá se guardava toda a espécie de aparelhagem e de material agricola,desde tractores a produtos fitossanitários,e desde rações para gado a gasóleo.
Com um recheio assim,esta família era muito visitada. Chegavam ao ponto de quererem também ali permanecerem,dormindo,até,e disputando os víveres que por lá se viam. E eram ratos e ratazanas,e eram moscas,moscardos,formigas de todos os tamanhos,multidões,assim se podia dizer. Mas era disto que todos gostavam.

SEM VOLTAR PARA TRÁS

Teria sido ali que nascera o da volta ao mundo. Não a completara, é certo, mas isso em nada diminuíra o seu enorme feito. Naquelas encostas bravias, em que se inspirara para tal empresa? Talvez as tivesse descido um dia e fosse cativado pela água que corria no estreito vale . Onde é que ela iria parar? E ter-se-ia posto a descê-lo, impaciente, gozando aquela frescura. No final da jornada, ficara preso ao mar imenso e dele se enamorara. Porventura fora ali que se interrogara. Poderia  dali sair e ali regressar sem voltar para trás?
Naquele lugar, muito mais tarde, via-se por ali muita vinha , grande parte em socalcos. Mas no seu tempo? Talvez alguma vinha também, não assim ordenada, mas certamente muito mato, onde se esconderiam bichos.  Estaria farto o moço da paisagem onde viera ao mundo.  E isso o levara a fazer pequenas e grandes viagens, e, finalmente, a grandiosa, que seria a penúltima, pois a última, a maior, foi a que todos fazem,sem uma única excepção.

TECH INDUSTRY DOMINATES LIST OF TOP 25 HIGHEST PAYING JOBS IN DEMAND

Tech industry

THESE ARE THE TOP 10 IN-DEMAND JOBS OF 2015

Jobs

sexta-feira, 3 de abril de 2015

À PROVA

Se ele fosse rico,seria uns mãos largas,como se lhe ouvia. Era caso para o pôr à prova.

THE SHIPWRECK OF DON MANUEL DE SOUSA IN THE SPANISH THEATER

Shipwreck

SEUS VIZINHOS

Aquilo não fora um mero elogio,mas apenas um simples comentário. Um comentário do velho professor. Mas tão contente que ele ficara.
Estivera para ali a dizer umas coisas,uma boa meia hora,coisas do seu trabalho de meses. A função acabara e o velho professor,já a sala se tinha despejado,veio ter com ele.
Sabe,eu não percebi nada do que esteve para aí a expor. É uma matéria fora dos meus interesses. Mas uma coisa lhe posso afirmar. Você gosta do que faz. Vê-se,à légua. Valeu isto mais do que meia dúzia de palavras de conveniência.
O velho professor. A vida não lhe correra nada bem. E ali estava ele a ganhar para as sopas,que elas não caem do céu.As voltas que o mundo dá. Um amigo dera-lhe a mão.
A sensibilidade daquela alma. Vivia numa zona da cidade com muitas árvores e muitos pássaros. Pois levantava-se muito cedo para os ver partir para a sua faina. E ia para casa a correr,para assistir ao seu regresso. E contava isto como se os pássaros fossem da sua família. Eram,pelo menos,seus vizinhos.

AQUELA PLACA

Seria aquilo fruto de uma lenda,de um mero desejo,talvez de uma prosápia. Mas lá estava,bem visível,aquela placa,em casa de humilde praça. Ali vivera o épico.
A ser verdade,não teria escolhido melhor poiso, a dois passos do seu amado rio. A qualquer momento,em caso de ter ,mais uma vez,de fugir,as ninfas estariam lá,à sua espera, para o esconder. E, ou iria rio acima,ou rio abaixo,consoante a banda do perigo,por elas guiado. Mas para quê fugir,se ele se levava consigo?

WITH FIRST NATIONWIDE FRACKING LAW,GERMANY APPROACHES A BAN

Fracking

IS THERE ANY FUTURE FOR FRACKING IN BRITAIN ?

Fraching

quinta-feira, 2 de abril de 2015

WORLD DAY TO COMBACT DESERTIFICATION AND DROUGHT 2015

Desertification and drought

AFRICA PROGRESS REPORT 2014

Africa

CORRIA DEZEMBRO

De pé,em grupos ou isolados,alguns jovens esperavam,naquela manhã gélida,que alguém da empresa aparecesse. Tinham respondido a um anúncio. As caras mostravam-se apreensivas. Nem todos,provavelmente,seriam atendidos. Quem ficaria de fora?
Lembrava isto as "praças" de tempos atrás. O largo da terra enchia-se de braços de todos os vigores. Os mais velhos ficavam um tanto à parte,já desiludidos. Mas,às vezes,podia calhar,por isso ali estavam também.
Chegavam os capatazes. Os rostos coloriam-se e os corações apertavam-se. Era grande a expectativa. Estava em causa o pão das mulheres e dos filhos,para não falar de outras necessidades. Mas a boca merecia mais cuidados.
E o apontar começava. Tu,Manel,tu,Chico,tu,Tónio. E outro Manel,outro Chico,outro Tónio lá ficavam,quantas vezes, a ver navios. O merceeiro teria de ter paciência,que o diabo nem sempre andava por ali. Um dia pagariam,que eles não eram de ficar a dever,nem lhes conviria.
Os jovens,afinal,estavam cheios de sorte. Corria Dezembro,o mês das festas,grandes e pequenas. Não havia braços que chegassem. Pena era,como é uso dizer-se,que o Natal não fosse todos os dias.

COISA ÉPICA

Hoje será muito diferente,com certeza,mas naquela noite de um frio de dezembro,há uns bons sessenta anos,a passagem por uma urgência de hospital foi assim.Declarara-se uma apendicite que pedia internamento imediato. Mas para se poder deitar na cama que o esperava,em enfermaria de larga concorrência,não foi coisa fácil. Pode dizer-se,até,sem grande exagero,que foi coisa épica.Para começar,teve de se sujeitar aos cuidados do fígaro. Se não fosse uma nota de vinte,naquele tempo era dinheiro,teria apanhado com a máquina zero. Mas havia mais etapas a vencer. Dali,pasou,sob escolta,não lhe apetecesse fugir,à secção da higiene corporal. Una tina de mármore,que mais parecia um sarcófago,estava preparada. O ar da sala,de pé direito dos antigos,era gelado e a água imitava-o. Seria constipação certa. Lá foi providencial outra nota de vinte. Ia já preparado.Estava quase lá,mas tinha ainda de mudar de farpela. Nunca se vira metido numa camisa daquelas. Parecia a de um presidiário. Mas não havia outra. Finalmente,a tão sonhada cama. O que é lá isso? Esse fio não pode estar aí. Por vezes,dá-lhes para o apertar demasiado. O que lhe valeu foi a intervenção de uma menina enfermeira que se condoeu. Deixe lá o rapaz ficar com o fio. Eu responsabilizo-me. Pôde, então, descansar e rezar com a cruz entre os dedos.

PARA NADA

"Neste mundo conturbado,quem tem muito dinheiro,por mais inepto que seja,tem talento e préstimos para tudo;quem não tem dinheiro,por mais talento que tenha,não presta para nada."

Padre António Vieira (1608 - 1697) DaWeb:www.ronaud.com

É, afinal,o muito tens,muito vales,nada tens,nada vales. Vieira viveu no século XVII. Pelos vistos,a coisa não muda. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

IN THE TROPICS PHOSPHORUS IS OFTEN THE MOST LIMITING PLANT NUTRIENT

Phosphorus

PHOSPHATE RESERVES AND RESOURCES

Phosphate

UMA VEZ

Com tanta encruzilhada,pode ser que se acerte,pelo menos,uma vez.

O CANTO DO CISNE

Dali,só para a sucata. Dera ainda um ar de sua graça,mas fora como o canto do cisne. Estivera a despedir-se desta trabalhosa e tormentosa vida,que para ele se contara por algumas centenas de milhar de quilómetros,pelos mais diversos pisos. Naquela altura,apenas havia uma coisa a fazer e que era esperar por reboque.
Era de noite,daquelas noites que só os pirilampos alumiam. Era,também,das que as cigarras muito gostam,pelo que o concerto não teve pausas. Seria,igualmente,para animar aquele velório,que parecia ter de prolongar-se por algumas horas. Quando já se tinham resignado a aguardar ali a luz do dia,eis que surge ao longe uma luz que talvez trouxesse a salvação.
Aquilo era gente rija,sem medo de assaltos. O aspecto do cadáver não abonava muito,efectivamente,a favor dos familiares. Pararam e saíram logo,sem reservas. Então,o que há? Isso vai já resolver-se. Foi só atar uma corda,das grossas. Não assistiram ao enterro,pois foram disso dispensados,atendendo aos cuidados que tinham posto no transporte do falecido.

RESPEITADOR

Coitada dela,confiara. E ficou com um filho nos braços. O fulano abalara e não mais dera notícias. O menino fizera-se um rapazinho muito precoce e muito atrevido. Ela por ali se arrastava,ajudando os pais no governo da pensão. De natureza convivente,sentava-se em qualquer mesa para uns momentos de conversa. Mostrava,porém,naquela altura,uma certa predilecção por dois jovens,talvez devido à cortesia e seriedade com que a tratavam. O infeliz passo já la ia há muito,mas a mancha persistia aos olhos da gente da terra. E o que é que havia de acontecer? Um dos jovens ficara retido no quarto,afastado da pensão,por motivo de saúde,incapaz,portanto,de ir pelas sopas. E ela fez questão de as levar. Quase caiu o Carmo e a Trindade. A dona da casa tentou barrar-lhe a entrada,pois não admitia poucas vergonhas. Acabou por ceder,mas com a condição de a porta do quarto ficar escancarada. O comportamento dos jovens trazia os restantes comensais muito intrigados,vindo a catalogá-los. E um dia,convenceram o miúdo a um atrevimento dos seus. Irrompendo na sala,dirige-se aos moços,sentados numa mesa à parte,mimoseando-os,repetidamente,com uma expressão muito em voga . Peixinhos do mar,peixinhos do mar. A que se pode estar sujeito,quando se procura ser respeitador.