segunda-feira, 20 de abril de 2015

SACOS DE MILHO

O velhote,na sua simplicidade,era um confiado. Nascera assim e não havia nada a fazer. Nele não havia manha ou vaidade,apenas uma incontida necessidade de dar conta das suas muitas façanhas dos tempo áureos da sua juventude e de mais uns anos para lá dela.
Aquilo era um contar e recontar. Acompanhara a actuação de grandes figuras públicas,contactando,até,casualmente,com uma ou outra,o que lhe dera,como se via,uma enorme satisfação. O prazer que sentia em as nomear,quase insinuando ter havido ali alguma intimidade. Alguns dos seus amigos tinham- se metido em actos temerários,em que ele não interviera,pela sua natureza pacífica. Praticara alguns desportos,mas bem depressa se desinteressara,talvez por ser muito impetuoso,muito irrequieto. O que mais o entusiasmara fora a festa brava,mas os encontrões que levara fizeram-no desistir.
Intercedera,em dada altura,por algumas famílias em apuros. A sua seriedade e algum prestígio que obtivera permitiram-lhe desempenhar o papel de advogado de defesa ganhador. Nunca se esquecera desta proeza.Talvez isso o tivesse levado a pugnar muito mais tarde pelo futuro de alguém que o via muito negro,sem saídas. O caso pedia um muito bom advogado e ele lembrou-se de bater à porta de um dos seus velhos tempos,dos tais com quem tivera alguma intimidade.
Largos anos tinham passado,e o senhor teria perdido a eficácia de outrora. Adquirira,até,hábitos caseiros,rodeando-se de aves diversas. O caso não teve o desenlace desejado,mas as aves foram contempladas com avantajados sacos de milho,artigo de muito difícil obtenção naquela época. Apanhou,por isso,o velhote uma grande decepção,que permaneceu durante muito tempo. Teria sido pouco o milho.

Sem comentários:

Enviar um comentário