sábado, 18 de abril de 2015

FELIZ PERSPECTIVA

Volta não volta, lá vinham eles com um desabafo de quem muito possuía e gostava de o mostrar. Mas não eram ricos, coitados. A sua maior riqueza, tirando a saúde, claro, de que não se podiam queixar, estava no recheio lá da casa. E assim, não se cansavam de o inventariar, valorizando-o devidamente. Porque algumas peças lhes pareciam de estilo, vá de as encarecer.
Eram milhares, tudo reunido. Não queriam acreditar, mas era verdade, confessavam, deliciados, como se estivessem comendo coisa gostosa. Compraziam-se em acrescentar pormenores, descrevendo as qualidades dos tarecos, exaltando-as.
Estava-se em tempo de forte inflacção, o que os obrigava a permanentes acertos. Exultavam com isso. Sem contrapartidas, viam a sua riqueza a crescer aceleradamente. Não pensavam noutra coisa, assim se pode dizer. As caras espelhavam a alegria que lhes ia nos interiores. Engordavam, nesta feliz perspectiva.

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