quarta-feira, 3 de junho de 2015

DIGNIDADE

Muito a velhota hesitou,frente ao expositor das carnes. Não procederam assim os que lá se detiveram,mesmo ali ao seu lado. Muito ela os olhara,admirada,talvez,da profusão de coisas que alguns levavam.Por fim,lá se decidiu. Era uma embalagem das mais pequenas,das mais baratas. Ainda a colocou no cesto,mas por pouco tempo. Feitas mais umas contas,aquilo iria esvaziar-lhe o cofre. Naquela manhã,meninas e meninos de bom coração distribuíam sacos à entrada do supermercado. Os artigos que recolhessem destinar-se-iam aos pobres declarados,aos pobres com rosto,aos que fazem das ruas e dos esconsos a sua habitação. Aquela velhota seria,muito provavelmente,excluída. Faria parte de um difuso conjunto que se envergonha de estender a mão à caridade. Sofrem a sua pobreza,calados,resignados. Uma ajuda tomá-la-iam como uma ofensa à sua dignidade. Ficarão estes lembrados, para sempre ,numa estátua que,um dia,alguém há-de conceber, a estátua do Pobre Desconhecido.

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