quinta-feira, 2 de julho de 2015
CUIDADOS DA MAMÃ
Já não se estava em guerra, o que tinha sido um alívio, daqueles dos muito grandes. Ela findara, é certo, mas sentiam-se ainda sequelas suas. Entrara-se no seu rescaldo, que atingiu ainda muitos. Aquela mesa era uma prova evidente de que a carestia não se fora de todo, pelo menos nalguns cantos. Rondava por ali, com pezinhos de lã, com ares de se querer perpetuar. E ora veja-se se não era verdade. Pontificavam no cardápio três requintadas iguarias, quer dizer, alface, feijão dito colonial e manteiga de banha de porco. Ganharia um prémio o fotógrafo que tivesse registado, para a posteridade, a cara do anfitrião, deleitado com a excelência dos acepipes. Todo ele eram sorrisos de triunfo, quando, ele próprio, se encarregava do serviço, enchendo os pratos. Parecia estar a fornecer ambrósia. Para muitos, noutras mesas, seria, mesmo, ambrósia. Mas para aqueles moços, acabados de sair dos cuidados da mamã, aquilo não era mais do que ração de encarcerados. Estranharam muito, de inicio, é um facto, mas bem depressa se tiveram de resignar. Contribuíram para isso, um cágado que lhes ensinou a terem paciência, e um papagaio que não se cansava de lhes desejar bom apetite.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário