sábado, 2 de maio de 2015
DILÚVIO
Um passarinho procedia à higiene da manhã,enfiando,repetidamente, a cabecita na água límpida de uma poça minúscula. Após cada mergulho,sacudia-a com vigor,em jeito de claro regozijo.Ainda na véspera teria carpido. As árvores tinham perdido quase toda a folhagem e os seus habitantes,as muitas famílias de pássaros,sentiam-se desamparados. Um dilúvio passara por ali. Em viva chilreada,que mais parecia um coro de protestos,abandonavam os ramos despidos e procuravam abrigo em ressaltos das paredes dos prédios ou sobre os parapeitos das janelas. Seria,porém,muito fraca a protecção. A chuva desabava em catadupas,inundando a rua,desguarnecendo ainda mais os ramos,e escorria pels frontarias,encharcando tudo quanto estivesse exposto.O chilreio continuava,cheirando a grande mágoa. Aquela acolhedora rua fora a sua rica morada. Ali tinham namorado,casado,tido filhos,sonhado. Custava deixá-la,mas viam que tinha de ser, que tinham de ir em busca de outra,que aquela já não servia. Adeus, rua das nossas lembranças.
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