sábado, 19 de dezembro de 2015
PARECIA VOAR
Toda a gente sabe,ou devia saber,que se não deve mandriar,que se deve fazer pela vida,que a vida está lá à espera,muito nervosa,para ser vivida. E era o que aquela senhora estaria fazendo. Já não era nova,longe disso. Teria aí uns cinquenta ou sessenta anos,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Toda ela se vestia de negro,de negro mais negro,da cabeça aos pés.Não se sabe o que ela teria vendido. Apenas se ouviu o que ela disse a alguém que lhe teria ficado com uma parte da sua mercadoria,o resto da qual,que ainda era muito,estava envolvido num pano,também negro,de negro mais negro,a servir de saco.Eu nunca mais esquecerei a senhora dona Maria e a dona Maria também não se irá esquecer de mim nunca mais. Pouco mais tempo ela ali se demorou,pois tinha lá, à sua espera,outras donas,Marias ou não. A pressa que ela levava,rua fora,ligeiramente a subir,merecia ter ficado registada. Parecia voar.
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