sábado, 19 de dezembro de 2015

PASSARÕES

O moço já trazia a lição estudada. Até ali,viera de comboio,um comboio ronceiro,como eram quase todos os daquele recuado tempo,e,naquela altura,tinha ali uma barca à sua espera. Mas que barca e que ancoradouro,tão desconjuntados eram. Uma e outro davam mostras de não poderem resistir a um inverno mais rigoroso. Pelo menos,assim pensou. É que aquilo eram penedos por todo o lado. Só que ele não sabia o que veio a saber mais tarde. Aquele era um local abençoado,por ter ali atravessado uma santa.
Naquela noite de verão,uma noite calmosa que apenas as estrelas se encarregavam de alumiar, e um ou outro pirilampo,tudo correu como devia ser. Mesmo assim,só quando se viu na outra margem é que respirou melhor. A seguir,tinha pela frente um bom par de quilómetros,sempre a trepar. Mas ele era novo e as cigarras tiveram pena dele,acompanhando-o até ao topo.
Era a sua primeira grande aventura. Muitas outras se sucederam,algumas sem aviso prévio,
como que à queima-roupa. Mas há que estar preparado para tudo. Depois se verá. Em todas elas se notaram traços da primeira. Ele foram os transportes e as pernas,ele foram as ladeiras mais ou menos íngremes,ele foram as noites,algumas escuras como breu,ele foram as pedras e os pedregulhos.
Cigarras é que nem uma. Passarões é que não faltaram,o que não é bem a mesma coisa. Para compensar,teve,mais do que uma vez,anjos a ampará-lo,ou talvez um apenas,que os anjos sabem disfarçar-se.

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