Tinham uma mesa reservada,uma mesa grande,redonda,a de horizontes mais amplos. Ficava a um canto,junto à única janela,uma janela larga. Dali viam bem o que se passava na rua,frente ao mercado,e dali dominavam toda a vasta sala do restaurante. Se tivessem olhos de olhar para muito lá para trás no tempo,até poderiam ter visto a Mariana Alcoforado,a escrever as "Cartas de amor,enviadas do convento para Paris ao cavaleiro de Chamilly,e que,traduzidas em todas as línguas da Europa,fizeram do nome da pobre freira um dos mais gloriosos na história do amor".
Nunca estavam todos. Iam à vez,como se estivessem de prevenção. As caras eram sérias. Teriam receio de alguma cilada,que aquela era uma terra de muito poucos amigos. O olhar era distante. Também se fugia de os encarar. Eram sombras e como sombras se queriam passar os que com eles casualmente se cruzavam.
Ele era frequentador assíduo,só pelo quarto, da Pensão Coelho,ou Toca do Coelho,como alguns lhe chamavam. Pensão ou Toca,não era a casa,uma casa de luxos. Era a mais baratinha que havia por ali,em pleno centro histórico. Passava por lá gente de toda a espécie,tavez gente de desconfiar. Seria uma casa vigiada.
De qualquer modo,os quartos só permitiam conversas em surdina,pois separava-os,não cortinas,mas tabiques de escassos milímetros. Um espirro ouvia-se bem do outro lado. O ressonar,então,parecia que a madeira o fortificava. Lembrava uma trovoada que se estava abatendo ali mesmo. Para compensar,a casa de banho,a única,era um salão. Ecoavam os sons,quaisquer que eles fossem. Não daria muito trabalho esta Toca.
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