Ele ia a andar muito devagarinho,como que temeroso. Estaria para fazer alguma viagem. Levava uma mala, pequenina,tal qual ele,levava gabardina,levava dois chapéus,um,na cabeça,e o outro,para a chuva,que andava a rondar,levava-se a ele.
Então,já lhe vai custando? É desta humidade,que não nos larga a porta. A mim também me vai acontecendo o mesmo e devo ser mais novo. Ora se era. Ele já contava noventa e sete. Devia estar com pressa para apanhar o transporte,talvez o comboio.
O outro,fazia bicha,por causa da senha para o passe. Mais dois dias,e lá acabava o mês. Este,só contava cinquenta e sete. Muito magrinho,muito amarelinho. Apoiava-se em duas canadianas. Fora a malvada de uma doença,uma doença ruim,muito rara. Quer passar à frente? Não era preciso,podia esperar. Sabe,passo a maior parte do tempo sentado. Está reformado? Sim,é o que me vale.
Ainda há quem vaticine,ainda há quem queira que o Estado-Providência se suma. Para quê? Para se voltar ao passado,ao passado da mão estendida,das bichas à porta deste ou daquele? Só de quem se sente seguro para sempre,o que não abona muito a seu favor. Sabe-se lá o que acontece amanhã,ou melhor,no próximo segundo?
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