"Ninguém morre de véspera". Pois não. Começamos a morrer muito antes da véspera. Vai-se morrendo aos poucochinhos,enquanto se vai vivendo. Morre-se em si,nas esperanças que se vão,nas desilusões que se colhem,nas negações que se proferem,nas mentiras que se soltam,na verdade que tarda em se alcançar. Morre-se para os outros que nos ignoram,que nos desprezam,que nos esquecem,que nos maltratam,que nos enganam,que nos atraiçoam. Morre-se na tristeza que nos assola,nas lágrimas que se vertem,nos soluços que nos embargam,nos gritos que não lançamos. Morre-se mesmo quando sonhamos.
"Ninguém morre sozinho" É como um chamar de atenção imperioso,com ressonâncias planetárias,talvez cósmicas,universais. É na morte que nos igualamos. É ela um outro ponto de encontro,o último, irremediável. É ali que,finalmente,nos reconhecemos,quando,após tanto tempo,recuzámos até ver-nos,quanto mais abraçar-nos.
O homem,o "cadáver adiado que procria". Assim foi concebido,sem para ali ter-se metido prego ou estopa. Outras coisas pode fazer,tantas que ele ainda não sabe quais ou até onde pode ir. Talvez uma lhe seja imposta,que é o de morrer em paz com tudo e com todos.
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