domingo, 15 de março de 2015

NA PRIMEIRA LINHA

Estava um pai de família, aflito,por não saber dar conta do recado. Tinha a casa cheia de batata,de milho ,de fruta,de vinho,do que quer que fosse para a boca,mas não havia meio de lhe aparecer alguém disposto a levar-lhe uma boa parte,de modo que valesse a pena. Esperava um ror de tempo,mas,por fim,não aguentava mais. Havia sempre alguém que estava à coca, na primeira linha. Pegava no telefone e avisava o homem das patacas. Olhe que há aqui vinha para vindimar. A cantilena era sempre a mesma. Apareça-lhe lá com um maço de notas, bem à vista, e ofereça-lhe dez. Aquilo valia vinte ou mais. Já sabe que depois não me esqueço de si. O que era que um pai de família,aflito,havia de fazer? Vender logo,claro. Andara meses a esforçar-se,sempre com o credo na boca,por causa das intempéries e das doenças,atolara-se em dívidas e depois era obrigado a entregar o produto do seu suor por uma mão quase cheia de nada. E ainda acabava por ficar em favor com o vizinho,por lhe ter arranjado comprador como não havia em mais parte alguma.

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