quarta-feira, 25 de março de 2015

A ESTAÇÃO DO ENTRONCAMENTO

Era no verão,por altura dos Santos Populares. Seria bom que o povo tomasse contacto com a arte. E vai daí,fizeram uma exposição ao ar livre,num recinto convidativo,com árvores,com canteiros,num jardim. A um canto,arte abstracta,noutro canto,afastado,arte figurativa.E aconteceu,com frequência,o que era de esperar. Olhem para aquilo. Isto também eu pintava. Borradas,é o que tal coisa é. O meu filho,que anda na escola primária,podia ter aqui os seus desenhos. São muito melhores do que todos estes. Não têm jeito para fazer quadros que a gente entenda,depois,é o que se vê. Tanto tempo,tanta tinta,para sairem coisas destas. Olha a estação do Entroncamento. Era uma tela de grandes dimensões. Até parece que estamos lá. O homem sabe disto. E empurravam-se,todos queriam ficar bem ao pé,para não perderem nada. Sim senhor,isto é que arte. Pensam que a gente não consegue distinguir,mas estão muito enganados. Vejam lá como está tudo no seu lugar. O homem sabe do ofício. As plataformas,os comboios,os passageiros,os vendedores de pevides e de tremoços. E as cores?,cores de um rico dia de sol. Este comprava eu,se tivesse dinheiro. Ficava bem lá na sala. Agora, os outros,lá de trás,nem dados. Que diriam os parentes e os amigos se os vissem lá na sala? Que estávamos malucos de todo.

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