sábado, 27 de maio de 2017

PEIXE GRAÚDO

Ai os velhinhos,ai os doentinhos. Cairam,hoje,dois na rede. Ia-se a rede rompendo. Era peixe graúdo. Ele ia a andar muito devagarinho,como que temeroso. Estaria para fazer alguma viagem. Levava uma mala, pequenina,tal qual ele,levava gabardina,levava dois chapéus,um,na cabeça,e o outro,para a chuva,que andava a rondar,levava-se a ele. Então,já lhe vai custando? É desta humidade,que não nos larga a porta. A mim também me vai acontecendo o mesmo e devo ser mais novo. Ora se era. Ele já contava noventa e sete. Devia estar com pressa para apanhar o transporte,talvez o comboio. O outro,fazia bicha,por causa da senha para o passe. Mais dois dias,e lá acabava o mês. Este,só contava cinquenta e sete. Muito magrinho,muito amarelinho. Apoiava-se em duas canadianas. Fora a malvada de uma doença,uma doença ruim,muito rara. Quer passar à frente? Não era preciso,podia esperar. Sabe,passo a maior parte do tempo sentado. Está reformado? Sim,é o que me vale.

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