Aquele quadro não lhe sai da memória. De vez em quando,lá lhe surge,demorando-se. É um velho com ar modesto,de chapéu na cabeça,ligeiramente curvado e de mãos atrás das costas,especado diante de um prédio de muitos andares.
Em que estaria a pensar aquele velho? Via-se que estava admirado com a altura,com a beleza da construção. Nunca teria visto um assim. Teria vindo lá de uma atrasada terra. Que rico prédio,sim senhor,diria ele com os seus botões. Quem me dera que fosse meu,que era sinal de que a vida me tinha corrido de feição. Mas para aqui estou,depois de grandes e continuadas canseiras,quase de bolsos vazios.
Muito deve ter trabalhado o dono deste prédio. Mas eu também fiz o mesmo,nem umas férias gozei,e o resultado é o que se vê. E mais devem saber que eu nunca trapacei,fiz sempre jogo limpo,e ,sempre que pude ,dei uma ajuda a este e àquele. Deveria ter tido melhor sorte aquele velho.
Quantas vezes mais ele se terá detido em frente de outros prédios como aquele,admirando-os e refletindo? Passaria em revista os passos da sua longa e esforçada vida e procuraria descobrir onde errara ou onde faltara uma mão amiga que o amparasse,que o ajudasse,como ele fizera com alguns. E culparia o destino,o mau signo,mas consolar-se-ia,sabendo que nunca prejudicara quem quer que fosse. Disso teria a certeza,o mesmo não sucedendo,talvez,com tantos donos de tantos prédios de todos os tamanhos.
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