O senhor José,naquela altura,andava mais tranquilo,podia dizer-se,até, que estava a viver a melhor fase da sua já longa vida. Durante muitos anos,tudo o que fizera,melhor ou pior,deixara-o insatisfeito,angustiado mesmo. Ele não sabia o que era. Se continuasse assim,como parecia que assim viesse a suceder, o melhor seria fazer as malas e abalar definitivamente lá para onde se não regressa.Um dia,inesperadamente,e com muita admiração sua,descobriu que tinha jeito para fazer pequenas construções,usando pauzinhos de fósforo. Arranjou um canto lá no seu quarto e lá passava horas fabricando.As coisas que saíam das suas velhas mãos ,só visto. Eram casas de diversos tamanhos e feitios, eram barcos,grandes e pequenos,eram figuras de pessoas e de animais,eram carrinhos de muitos modelos,modernos e antigos,e até cenas do dia a dia. Ainda não tinha acabado uma peça,e já estava imaginando outra,num frenesim,como que impelido sabia ele lá porque força.Aquilo,pode dizer-se,quase se assemelhava a um vício. Chegava a levantar-se de noite,para iniciar ou mesmo fazer nova obra. Daí a razão de ter escolhido o canto lá do quarto,se não arriscava-se a perder a nova ideia.Divertia-se,era o que também se podia dizer,um divertimento claramente inofensivo,assim todos fossem. Chegava-se a admirar do seu engenho. Como era aquilo possível,se ele nunca tinha dado conta? O que poderia ter feito se tivesse começado mais cedo? Era capaz,até,de ter havido evolução,quem sabe? Teria tentado outros materiais,como o barro,a pedra,o metal. Talvez até tivesse experimentado a pintura.As pessoas têm muitas capacidades escondidas. O que é preciso é pegar numa ponta,mesmo a brincar. Depois,sem se querer,como que comandado, o novelo desata a desenrolar-se ,e é um nunca mais parar. Será capaz,até,de se ir desenrolando até à hora da partida,como tem sucedido a alguns,daqueles de se lhe tirar o chapéu.
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