quinta-feira, 17 de setembro de 2015

MISÉRIA

Um homem novo,mas de cabelo já grisalho,talvez das muitas ralações,levantara a tampa de um contentor de lixo e estivera uns tempos a pesquisá-lo,a inventariá-lo. Acabara por se decidir por dois sacos,que abriu,a confirmar o valor do achado. Valia a pena levar.
A testemunha involuntária dessa triste cena encontrava-se também ocupado com outro depósito,a caixa do correio,por detrás da porta de vidro da sua morada. Terminadas as pesquisas,os seus olhares cruzaram-se. E o que um viu foi ainda mais triste. A tristeza e a vergonha que se soltaram lá daqueles olhos,do homem novo, de cabelo grisalho. Parecia ter praticado uma feia acção.
Aquele homem estava a precisar de ajuda urgente. Mas que ajuda lhe poderia dar? Uma esmola? Uma pobre mezinha,que apenas ligeiramente o aliviaria. Ficaria,até,mais magoado. A vergonha que os seus olhos espelhavam era bem sinal de que estava consciente da sua situação triste,o que muito lhe havia de doer. Não teria gostado de ter sido visto naquela procura.
Seria melhor deixá-lo ir,desejando que,um dia,um dia próximo,desse com a cura,definitiva, da sua miséria.

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