sexta-feira, 22 de novembro de 2013
QUEM VÊ CARAS...
Era um homem de meia idade. A sua cara não inspirava simpatia. Teria contribuído
para isso uma ou outra palavra grosseira que se lhe ouvira. Naquela
altura, esperava um transporte. Tinha junto de si uma cadeira de rodas, onde se
sentava uma mulher sem uma das pernas. Quando o eléctrico chegou os seus
potentes braços facilmente deram conta do recado, içando cadeira e ocupante. Feito
isto, sem ligar aos protestos de alguém que se estava sentindo muito incomodado
com tal vizinhança, tratou de sentar a companheira num dos bancos.
Imperturbável, veio desmanchar, com presteza, a cadeira, ficando na plataforma até
vagar o lugar ao lado da mulher. E então, aconteceu o inesperado. Aquela cara, que
parecia trancada, abriu-se em largos , meigos sorrisos. Aqueles olhos, que
pareciam turvos, ficaram límpidos, brilhantes. A ternura dele comovia. É bem certo
que quem vê caras não vê corações.
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