quinta-feira, 21 de novembro de 2013
CUIDADOS DA MAMÂ
Já não se estava em guerra, o que tinha sido um alívio, daqueles dos muito
grandes. Ela findara, é certo, mas sentiam-se ainda sequelas suas. Entrara-se no
seu rescaldo, que atingiu ainda muitos. Aquela mesa era uma prova evidente de que
a carestia não se fora de todo, pelo menos nalguns cantos. Rondava por ali, com
pezinhos de lã, com ares de se querer perpetuar. E ora veja-se se não era
verdade. Pontificavam no cardápio três requintadas iguarias, quer dizer, alface,
feijão dito colonial e manteiga de banha de porco. Ganharia um prémio o fotógrafo
que tivesse registado, para a posteridade, a cara do anfitrião, deleitado com a
excelência dos acepipes. Todo ele eram sorrisos de triunfo, quando, ele próprio, se
encarregava do serviço, enchendo os pratos. Parecia estar a fornecer
ambrósia. Para muitos, noutras mesas, seria, mesmo, ambrósia. Mas para aqueles
moços, acabados de sair dos cuidados da mamã, aquilo não era mais do que ração de
encarcerados. Estranharam muito, de inicio, é um facto, mas bem depressa se tiveram
de resignar. Contribuíram para isso, um cágado que lhes ensinou a terem
paciência, e um papagaio que não se cansava de lhes desejar bom apetite.
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